Por Antonio Carlos Monteiro
Fotos: Roberto Sant’Anna
Sem dúvida alguma, o Lucifer é uma das bandas que vem mais fazendo sucesso ao emular o rock setentista e mesclar isso com elementos de outros gêneros – neste caso, o heavy metal é que caminha ombro a ombro com o chamado classic rock. Essa volta do rock clássico até já mereceu uma nova categorização, NWOCR, New Wave of Classic Rock, que vem ganhando não apenas adeptos, mas ótimas e surpreendentes bandas nos últimos anos.
O Brasil certamente se rendeu ao grupo liderado pelo casal Johanna Sadonis (vocal) e Nicke Andersson (bateria, Entombed, The Hellacopters), tanto que menos de dois anos de sua última passagem pelo Brasil (foi em dezembro de 2022) o grupo já estava de volta.
A programação da tarde/noite de um dia de eleição foi extensa, já que nada menos que cinco bandas se apresentaram antes da atração principal: Nightprowler, WeeDevil, Tantum, Pesta e Space Grease. Dessas, o maior destaque foi o Pesta, que mostrou um stoner/doom de altíssima qualidade e um vocalista muito acima da média, Thiago Cruz. Podem olhar com atenção pra essa banda porque certamente vai longe.
E mesmo com esse número de atrações, o Lucifer entrou em cena pontualmente no horário previsto – ponto para a produção, que correu risco ao colocar tanta gente pra abrir, mas mostrou competência ao fazer a coisa funcionar como deveria. Com um som impecável (alto e pesado, como deve ser), Johanna, Nicke, Martin Nordin (guitarra), Linus Björklund (guitarra) e Harald Göthblad (baixo) não demoraram pra mostrar a competência e o entrosamento que caracteriza a banda – a formação é a mesma desde 2019, o que garante uma performance de altíssima qualidade. Só que isso de nada adiantaria se os cinco não fossem muito talentosos e se o repertório não tivesse consistência. Como a resposta às duas questões é mais do que positiva, o que se viu foi mais uma belíssima apresentação diante de uma casa praticamente lotada por um público participativo e que berrava o nome da banda incessantemente.
Mais da metade do repertório foi o mesmo da apresentação de 2022, tendo como principais alterações a inclusão de seis temas do mais novo disco, Lucifer V (2024), que vieram praticamente num mesmo bloco: A Coffin Has No Silver Lining, Fallen Angel, At the Mortuary, The Dead Don’t Speak, Slow Dance in a Crypt e Maculate Heart, além de uma infelizmente curta mas excelente versão instrumental de I Want You (She’s So Heavy), tema de John Lennon que os Beatles gravaram em Abbey Road (1969) – e se a original chocou pelo peso na época, imagina o que virou na mão dessa banda!
Quem, já viu o quinteto nos palcos sabe: o Lucifer é um grupo do tipo “direto ao assunto”. O papo com o público se resume ao essencial, apesar de Johanna arriscar uns “obrigada” e se mostrar sinceramente feliz pela reação calorosa da plateia. Crucifix (I Burn for You) abriu o show e já mostrou uma banda afiada. A cozinha é soberba, mostrando peso, entrosamento, criatividade e segurança, enquanto os excelentes guitarristas alternam riffs e solos com maestria. Mas não adianta: a estrela da companhia é Johanna e nem poderia ser diferente. Afinação irrepreensível, presença de palco marcante e uma movimentação cênica única fazem com que você não despregue os olhos dela ao longo de todo o show.
Foi uma apresentação curta, mas que, até pelas poucas pausas para comunicação com a plateia, acabou permitindo que a banda desfilasse 15 temas, contemplado faixas de todos os discos à exceção do primeiro, Lucifer I (2015). Isso permitiu constatar, entre outras coisas, que o grupo mantém uma fidelidade quase canina ao estilo que o consagrou.
Acabou sendo um show à moda antiga, em que pirotecnias e afins dão lugar à boa música, executada com competência e garra. Como todo show devia ser, aliás.
