LYNYRD SKYNYRD – São Paulo (SP)

Espaço Unimed – 22 de setembro de 2023

Por Antonio Carlos Monteiro

Fotos: Belmilson dos Santos

Pra começar, vamos colocar as coisas nos seus devidos lugares. Assim que foi anunciado que o Lynyrd Skynyrd viria ao Brasil pela segunda vez (a primeira foi em 2011, no festival SWU) começaram as reclamações nas redes sociais. Primeiro, porque foi a até então única apresentação, em meio a atrações sertanejas num rodeio no interior de São Paulo. Depois, quando agendada uma apresentação em São Paulo apenas da banda, na véspera do show no rodeio, os comentários passaram a ser do tipo “não vou ver banda cover”, referindo-se ao fato de o único remanescente da formação clássica, o guitarrista Gary Rossington, ter falecido em março último aos 71 anos.

Pois então, vamos por partes. Primeiro de tudo, a ideia de comparecer a um rodeio não agrada nem um pouco a este redator. Mas a ligação do Lynyrd com o country sempre foi latente, então não haveria problema algum para a banda. E este mesmo rodeio (em Jaguariúna) já trouxe, em edições anteriores, nomes como Kansas, Chuck Berry e Creedence Clearwater Revisited. Ou seja, até aí, zero novidade.

Sobre a “banda cover”, o comentário beira o ridículo, já que o Lynyrd é um dos grupos que mais mortes enfrentou na história do rock – são quinze no total, contando com os três que faleceram no fatídico acidente aéreo de 1977 (o vocalista Ronnie Van Zant, o guitarrista Steve Gaines e a irmã dele, a backing vocal Cassie Gaines). Pra se ter uma ideia, de todos os músicos que gravaram os dois primeiros álbuns da banda, (Pronounced ‘Lĕh-‘nérd ‘Skin-‘nérd) (1973) e Second Helping (1974), nenhum permanece vivo… Ou seja, eram reclamações vãs, vindas de quem tem como prioridade na vida justamente isso: reclamar.

Ainda bem que alguns milhares de pessoas pensaram diferente e preferiram ir ao Espaço Unimed saudar o grupo que comemorava cinquenta anos de seu primeiro lançamento. Aliás, quase inacreditável que um grupo desse porte e com tanta história estivesse vindo apenas pela segunda vez ao país – outra apresentação chegou a ser agendada para dezembro de 2017, mas o diagnóstico de uma grave doença em uma das filhas do vocalista Johnny Van Zant acabou cancelando o show.

Observando a multidão antes do início do show, dava pra perceber um grande ecletismo. Desde uma galera (a maioria, com certeza) que acompanha o grupo desde seus primórdios, passando por muitos jovens e até crianças que apareciam paramentados com camisetas do Lynyrd e as letras na ponta da língua, como se veria logo em seguida.

Pouco depois das 22h, hora marcada para o show, as luzes se apagaram e começou o tema de abertura (aliás, que maravilha que o profissionalismo chegou por aqui e acabaram aqueles atrasos imensos antes dos shows). E o tema de abertura surpreendeu: Thunderstuck, do AC/DC, rolava enquanto o telão mostrava um jovem numa loja escolhendo um vinil do Lynyrd. A partir daí, o rock comeu solto por quase duas horas!

Se Working for MCA abriu o show mostrando alguns problemas de som (rapidamente corrigidos), ao mesmo tempo deu pra sacar que a noite prometia, já que a banda mostrou a que veio logo nos primeiros acordes. Keith Christopher (baixo) e Michael Cartellone (bateria) fazem uma cozinha entrosadíssima, dando o peso e o groove que a música do Lynyrd exige. Peter Keys é mais um pianista do que tecladista, o que faz toda a diferença, e consegue ser perfomático mesmo sentado ao instrumento. Johnny Van Zant continua um vocalista correto, que não inventa e nem tenta fazer mais do que sabe, e é um excepcional intérprete, além de esbanjar simpatia – em 2011, tive a oportunidade de entrevistá-lo minutos antes do show e ele de fato é um sujeito sensacional.

Mas não tem jeito, o destaque vai mesmo para os três guitarristas. Rickey Medlocke (que foi baterista da banda no início dos anos 70), Mark Matejka e Damon Johnson (que substituiu Gary Rossington) dão um show de entrosamento e de como usar uma guitarra em prol da música. Não tem malabarismo, virtuosismo desnecessário, nem firulas estridentes e entediantes. As guitarras estão ali para oferecer timbres perfeitos, riffs grudentos e solos que parecem feitos para se cantar juntos de tão melodiosos. Pra quem não sabe, é pra isso que a guitarra foi feita.

O show teve apenas um tema mais recente: Skynyrd Nation, segunda do seltlist, é de God & Guns, penúltimo disco do septeto, lançado em 2009. No mais, temas lá dos primórdios é que acabaram prevalecendo. Tanto que em seguida viram várias dos anos 70: What’s Your Name, a conhecidíssima That Smell e I Know a Little são de Street Survivors (1977), enquanto que Whiskey Rock-a-Roller (que aproveitou o título para fazer no telão uma bela divulgação do uísque produzido pela banda) e Saturday Night Special saíram no terceiro trabalho, Nuthin’ Fancy, de 1975, ao passo que The Ballad of Curtis Low vem de Second Helping. E todas cantadas da primeira à última palavra pela audiência.

Na balada Tuesday Gone, do primeiro álbum, acontece uma belíssima homenagem a Gary Rossington, que surge no telão em imagens de várias fases de sua trajetória.

Na sequência, o momento mais inesperado da noite. Johnny viu um fã segurando um cartaz em que pedia para cantar com a banda. O vocalista resolveu arriscar e chamou o sujeito para o palco. Era Nando Fernandes, conhecido vocalista do hard e do heavy brasileiro, atualmente à frente da banda Sinistra. Emocionadíssimo (“eu divulgo o Lynyrd aqui no Brasil desde 1976!”, bradou ao microfone), Nando dividiu vocais com Johnny em Simple Man e claramente surpreendeu o vocalista do Lynyrd, que não parou de dar demonstrações de aprovação à perfomance do brasileiro. Depois de encerrada sua participação, acabei encontrando com Nando na pista: “Eu trouxe um cartaz pedindo pro Johnny me chamar pra cantar com ele e deu certo!!”, falou, aos prantos. Momento inesquecível para ele.

Passado o momento surpresa, Gimme Three Steps, do primeiro disco, e Call Me the Breeze, tema de JJ Cale que está em Second Helping, deram sequência ao show, cuja primeira parte acabou em seguida, com outro tema do segundo trabalho da banda e certamente seu maior sucesso: Sweet Home Alabama, que causou um verdadeiro frenesi no Espaço Unimed. São aquelas coisas que só a música proporciona a você: você já ouviu aquela canção um milhão de vezes, sabe que ela vai ser executada, mas não deixa de se emocionar assim que ouve suas primeiras notas.

Depois de um intervalo rápido, lá estava a banda de volta para tocar a última da noite, a não menos famosa (e nem menos bela) Free Bird (pra quem não sabe, enquanto aqui a galera grita “toca Raul!” nos shows, lá nos EUA o grito é “toca Free Bird!!!”). Nessa música acontece um pouco de tudo. Na segunda estrofe, Johnny coloca o chapéu que era de seu irmão Ronnie sobre o microfone, sai de cena e a voz passa a ser a do vocalista original, cuja imagem aparece no telão interpretando a música. No final, como todo mundo que não morou em Marte nos últimos quarenta anos sabe, a canção ganha em peso e velocidade e as três guitarras se revezam num dos mais instigantes solos da história do rock. Final memorável para um show idem.

No dia seguinte, o Lynyrd Skynyrd se apresentou no tal rodeio e, pelo que foi possível acompanhar pela TV, já que o show foi transmitido ao vivo, tocou diante de uma galera que ganhou a frente do palco dos fãs de sertanejo e saudou a banda como ela merece. Muito justo.

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