Por Marcelo Gomes
Fotos: Leonardo Benaci
A volta do Machine Head ao Brasil depois de oito anos causou um grande alvoroço entre os fãs. A turnê latino-americana do álbum “Of Kingdom And Crown” (2022), chamada “An Evening With Machine Head”, passou pelo México, Costa Rica, Venezuela, Chile, Argentina e finalizando com três datas no Brasil, sendo a última no dia 29 de outubro em São Paulo. Mesmo com um domingo chuvoso, o público paulista lotou o Tokio Marine Hall em uma noite que ainda contou com a participação especial do Project46.
Anunciado de última hora, a participação especial do Project46 na noite aconteceu devido a um pedido do próprio Robb Flynn. Sendo assim, Vini Castellari (guitarra), Jean Patton (guitarra), Baffo Neto (baixo) e Betto Cardoso (bateria) subiram ao palco do Tokio Marine Hall “tacando o foda-se,” como o vocalista Caio Macbeserra costuma dizer. Abriram com “Terra De Ninguém,” já chegando com os dois pés no peito. O “metal soco na cara” dos caras não deixou ninguém ficar parado. A primeira roda da noite veio a seguir com “Violência Gratuita,” mostrando que eles não estavam para brincadeira. A boa recepção continuou em “Capa De Jornal.”
Músicas como “Dor,” “Rédeas,” “Pânico” e “Corre” também estiveram presentes no set, mas foi com “Pode Pá,” já considerada um clássico da banda, que confirmou a força da banda quando Caio pediu para que todos abaixassem e se levantassem ao seu comando. O momento que já é uma tradição consagrou a apresentação da banda. “Acorda Pra Vida” foi a última, e com quase 1 hora de show, o Project46 conseguiu traduzir com excelência a brutalidade em forma de música. É simplesmente insano a presença que os caras têm no palco.
Com 15 minutos de atraso e com a casa tomada, às 20h45, o Machine Head iniciou a apresentação com “Imperium.” O guitarrista e vocalista Robb Flynn, que esteve recentemente em São Paulo fazendo ações promocionais, dessa vez estava acompanhado por Waclaw Kieltyka (guitarra), Jared MacEachern (baixo) e Matt Alston (bateria). Se a apresentação solo de Robb já foi legal, o resultado com a banda, um baita palco, som excelente e participação incrível dos fãs, foi devastador. Ao final, ele saudou São Paulo e lançou uma cerveja para a galera antes de colocar todo mundo para bater cabeça em “Ten Ton Hammer”.
Para “Choke On The Ashes Of Your Hate”, Robb pediu a maior roda da noite, prontamente atendido, as pistas (premium/comum) do Tokio Marine pareciam um verdadeiro inferno na terra. Acompanhado por palmas, tocaram “Now We Die”, que teve seu refrão cantado intensamente em mais uma demonstração da devoção dos fãs. Praticamente sem interrupções, vieram “The Blood, The Sweat, The Tears”, “Unhallowed”, “None But My Own” e “Take My Scars”, mostrando uma grande variedade de elementos nas músicas, destacando as habilidades de cada um, especialmente dos “novatos” Waclaw e Matt que ocuparam muito bem suas funções. A partir daí, os gritos de “Machine Fucking Head” vieram com força.
Para cada música, uma cerveja, e assim o carismático Flynn ia levando o show repleto de clássicos. Mais uma ótima sequência repleta de petardos da banda, como “Locust”, “Is There Anybody Out There?” e “No Gods, No Masters”, que foram recebidas com muito entusiasmo. A atuação da banda estava sensacional e sua precisão ficava evidente a cada música.
No cover que veio a seguir, Robb deu quatro possibilidades: Metallica – “Whiplash,” Iron Maiden – “Hallowed Be Thy Name,” Slayer – “Seasons In The Abyss” e Blink-182 – “All The Small Things”. Numa verdadeira enquete ao vivo, o público ficou dividido entre Maiden e Slayer. Para “trollar” a galera, eles tocaram Blink-182, que teve uma grande reprovação. Interromperam logo no início para, aí sim, executar uma versão fantástica de “Seasons In The Abyss,” na qual obviamente foi mais aclamada. De um clássico Slayer para outro do Machine Head, resgatam a pesada “Old”, de “Burn My Eyes” (1994).
Após “Aesthetics Of Hate,” que foi dedicada aos saudosos Vinnie Paul e Dimebag Darrell, eternos integrantes do Pantera, a banda sai de cena dando espaço para Waclaw apresentar suas habilidades na guitarra. Senti bastante influência de Randy Rhoads e Zakk Wylde no estilo, mas o destaque foi quando puxou o riff de “Refuse/Resist”, do Sepultura, o que levantou a galera. Flynn volta ao palco munido de seu violão, mas antes de apresentar a próxima, não poupou elogios à banda brasileira, dizendo ser parte do DNA do Machine Head e responsável pela primeira vinda dos americanos ao Brasil. O público respondeu gritando “Sepultura”, mas o legal de tudo isso foi que Paulo Xisto estava lá para testemunhar essa bela homenagem.
Voltando ao set, em “Darkness Within,” Flynn pediu para que ninguém filmasse e que vivessem o momento. A maioria respeitou o pedido, proporcionando uma experiência única e um final emocionante, na qual todos cantaram a melodia que encerra a música por quase 2 minutos, acompanhados apenas pelas palmas que marcavam o ritmo, num dos momentos de maior conexão entre banda e público. A banda parecia incansável e continuou dando aos fãs o que eles queriam, isto é, mais músicas. Passeando pelo seu catálogo, vieram as espetaculares “Catharsis”, “Bulldozer” e “From This Day”, para delírio da multidão.
À medida que o show ia chegando ao fim, a banda presenteou os fãs com um de seus maiores clássicos, “Davidian”. A satisfação estava estampada no rosto de cada um que batia cabeça e fazia mosh no que parecia uma catarse coletiva. Sob muitos aplausos, retornam para o bis e se despedem com uma versão estendida da poderosa “Halo”.
O show do Machine Head foi uma experiência intensa e inesquecível. Com quase 2h30 de apresentação marcada por uma performance poderosa, eles deram uma aula com um heavy metal moderno, e a reação do público foi a prova que suas músicas resistiram ao teste do tempo. Se você é fã de metal e tiver a oportunidade de vê-los, não perca, pois será uma noite que certamente ficará marcada por muito tempo.
Project46 – setlist:
01) Terra De Ninguém
02) Violência Gratuita
03) Capa De Jornal
04) Dor
05) Rédeas
06) Pânico
07) Corre
08) Erro + 55
09) Pode Pá / Foda-se
10) Acorda Pra Vida
Machine Head – setlist:
01) Imperium
02) Ten Ton Hammer
03) Choke On The Ashes Of Your Hate
04) Now We Die
05) The Blood, The Sweat, The Tears
06) Unhallowed
07) None But My One
08) Take My Scars
09) Locust
10) Is There Anybody Out There ?
11) No Gods, No Masters
12) Seasons In The Abyss (Slayer)
13) Old
14) Aesthetics Of Hate
15) Darkness Within
16) Catharsis
17) Bulldozer
18) From This Day
19) Davidian
20) Halo