Poucos do resto do país sabem, mas Goiânia é um lugar onde shows de Heavy Metal e do bom e velho Rock’n’Roll não são tão comuns, apesar de termos tido presenças ilustres do Megadeth, U.D.O., Death Angel e, mais recentemente, Black Label Society. Sendo assim, foi com entusiasmo que o público rocker de Goiânia recebeu a notícia da realização da celebração ao Manowar, que atualmente está promovendo o álbum “The Lord Of Steel”. A primeira vez que ocorreu a “Manowar Night” no país foi em 2003 em São Paulo e o evento agora chegou à sua quinta edição. A produtora Under Metal, do incansável guerreiro batalhador Adriano Reis Alves, formou parceria juntamente com o fã clube oficial do Manowar no país, Manowar Brazilian Soldiers Of Death e, de quebra, recebeu apoio do próprio Manowar e de sua gravadora, a Magic Circle Music.
Dias antes da festa houve um encontro comemorativo exclusivo para que os fãs e alguns convidados pudessem conferir o novo álbum da banda norte-americana. Já no sábado (14) as bilheterias do local estavam cheias de headbangers e apaixonados pelo Manowar, dando a certeza de que o evento seria memorável e especial para todos os envolvidos. O ingresso dava direito a kits especiais, contendo canecas, camisetas, etc.
Os shows estavam marcados para começar às 16h, mas próximo das 18h a primeira banda subiu ao palco do Sol Music Hall. O Godheim, que faz um Viking/Folk Metal bem cru e direto, com influências de Black Metal Sinfônico, entrou em ação. O destaque vai para o vocalista Eric Z, que tem um gogó de fazer inveja. Até então o público estava tímido e a coisa iria agitar mesmo no decorrer do evento, que seguiu com o Sunroad (foto abaixo), já tradicional na cena goiana. Liderada pelo incansável baterista Fred Mika, a banda fez um show curto, tocando sons de seus álbuns “Long Gone” e “Arena of Aliens”. Preparando seu quinto trabalho oficial, o Sunroad fez um set divertido e ainda contou com a participação ilustre deste que vos escreve cantando o clássico “Rock You Like A Hurricane” do Scorpions.
Após este show veio a banda cristã local Rising Cross, que apresentou um Metal Melódico clichê e bem monótono, para ser franco. Agradando realmente somente seus próprios fãs, foi uma oportunidade para tomar uma cerveja entrevistar alguns músicos. Então subiu ao palco a Skulls On Fire (foto abaixo), que surpreendeu com um show energético, com excelente presença de palco e com direito até a pirotecnia. Apesar de ser notável a evolução constante desta banda, que faz uma mistura de Sepultura antigo com Pantera e Death Metal de bandas como Death, Obituary e Torture Squad, eles demonstraram, acima de tudo, garra. Ainda assim, falta um melhor direcionamento no material, mas com um bom produtor e mais tempo ralando na estrada eles certamente irão amadurecer.
Já o Mortuário, que existe desde 1986, mostrou sua nova fase, abraçando o Hardcore e Crossover com letras em português muito bem sacadas e cheias de ironia e sarcasmo, com temas como, bebida, farra e outras coisas pitorescas. Sem muita enrolação depois subiu ao palco outra banda local, Monster Bus, que fez um show baseado em seu material próprio e alguns clássicos da banda alemã Accept. O destaque vai para o vocalista Waller Chaves, que agita muito sabe como soube manter a plateia sob seu controle.
Logo após o Monster Bus veio o Spiritual Carnage, umas das bandas mais antigas da cena e que fez um show bem interessante. Esta foi a primeira vez que os vi tocando apenas com um guitarrista, já que Alexandre Greco deixou o grupo recentemente. Assim que acabou o show da Spiritual veio diretamente de Brasília o Up The Irons que, obviamente, executou covers do Iron Maiden. Destaque para o raçudo vocalista Gabriel Mosna, que possui uma boa técnica vocal.
Depois, finalmente era chegada a hora de uma das presenças mais ilustres daquela noite, com o retorno do Dark Avenger, vindo diretamente de Brasília depois de anos hibernado. Assim que o belo, impactante e enorme backdrop surgiu no palco todos já constataram que seria uma apresentação inesquecível. A banda formada por Mário Linhares, considerado um dos melhores vocalistas do país, subiu ao palco do Sol Music Hall com uma formação imponente. Hugo Castro, Marcus Valls e Ian Lucena Bemolator nas guitarras, Gustavo Magalhães (baixo, Red Old Snake) e o ótimo baterista Daniel Morcardini (Coral de Espíritos). A banda simplesmente destruiu tudo no palco desde a abertura com a música “Unleash Hell”, do EP “X Dark Years”. O grupo continuou desfilado seus clássicos, com Mário tendo toda a audiência em suas mãos.
Apesar de ser bastante tarde da noite, todos que ficaram não se arrependeram e testemunharam uma banda totalmente profissional, com excelente presença de palco e incrível técnica individual. Não há como citar aqui destaques, mas tenho que reconhecer que fiquei surpreso quando em certo momento do show Mario comentou alguns fatos ocorridos entre ele e a banda goiana Heaven’s Guardian, que ele próprio fez parte. E, por sinal, todos que fizeram parte da banda na fase com Mario Linhares coincidentemente estavam presentes no evento: os guitarristas Luíz Maurício e Ericsson Marin, o baixista Murilo Ramos e o baterista Paulo “Paulera” Martins. Assim, acredito que eles também foram pegos de surpresa pela inesperada homenagem que Mário prestou a eles pois, há aproximadamente cinco anos, esta formação do Heaven’s Guardian estava abrindo para o Megadeth neste mesmo local.
O Dark Avenger realmente parecia se divertir em cima do palco e ainda mandou um cover para o clássico do Manowar que batiza a banda, “Dark Avenger”, do emblemático álbum “Battle Hymns”. O set foi encerrado com a não menos soberba “Armageddon”, do primeiro álbum.
No intervalos dos shows rolaram alguns lances pitorescos e que nunca podem deixar de faltar numa festa do Manowar. Coisa como, ‘Grito ao estilo Eric Adams’, ou beijo de casais ao estilo Joy Demaio, Manowar Tattoo e claro as ‘Miss Manowar’, para alegria geral. O encerramento do evento, na fria madrugada em Goiânia ocorreu com o Kings Of Steel, formada pelo excepcional vocalista Cleber Krichinak, o excelente baixista Alex DiArce, o técnico guitarrista Evandro Moraes, o competente baterista Marcelo Petri e o exímio tecladista Carlos Favalli.
O show contou com clássicos eternos, como “Manowar”, “Battle Hymn” mas, além do set list mortal, ainda presentearam os ‘Manowarriors’ presentes com duas músicas de “The Lord Of Steel”, com a própria faixa título e a inusitada “El Gringo”. Quase de manhã, a incrível apresentação se encerrou com “The Crown and the Ring (Lament of the Kings)”, de “Kings Of Metal” (1988).
Como nota negativa só espero que em um próximo evento ou dividam melhor a quantidade das bandas que irão participar ou pensem seriamente em diminuir um pouco a quantidade das participantes. Apesar de alguns contratempos, o evento foi um sucesso e deixou um saldo muito positivo para a cena Rock/Metal de Goiânia. E que venham logo outros eventos tão importantes quanto este para mostrar que o Heavy Metal não está somente nos grandes pólos do país.