Por Ricardo Batalha
Fotos: Jake Owens
A marcha do Manowar não teve início em uma paisagem desolada e montanhosa como se fosse um épico de ação… Os fundadores bárbaros Eric Adams (vocal) e Joey DeMaio (baixo), agora ao lado de Michael Angelo Batio (guitarra) e Dave Chedrick (bateria), voltaram ao Brasil para uma apresentação única no Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas). Como parte de “Crushing the Enemies of Metal Anniversary Tour ’22/’23” e um palco suntuoso repleto de blackdrops e iluminação especial, os cavaleiros saíram em busca de seu exército após a última batalha, ocorrida no festival Monsters of Rock de 2015.
Os seguidores bárbaros, com gritos de guerra, conclamaram seus heróis em “March of the Heroes Into Valhalla”. Então, eis que a ordem de cavaleiros lendários chega com seu hino, “Manowar”. Após o clássico do reino épico de “Battle Hymns” (1982), a faixa-título de “Kings of Metal” (1988) coloca na mesa os valores da honra, coragem e lealdade que, para o Manowar, são supremos. Hoje em dia sobrou só a lenda do passado de ser “a banda mais barulhenta do mundo” e constar no Livro Guinness dos Recordes, já que atualmente o Manowar prima por uma qualidade sonora audível e sem exageros para os tímpanos de seus séquitos.
Então, com suas armaduras reluzentes e seu exército de cavaleiros, seguem defendendo seu reino com “Fighting the World”, do homônimo de 1987, que também trouxe “Holy War”. Para a glória cavalgamos, pelo sangue dos reis… Assim, os gritos de sangue de Eric Adams e dos seguidores antecipam “Imortal”, composição épica e tradicional do EP mais recente, “Highlights from the Revenge of Odysseus” (2022). Todos saudaram a vitória imortal e seguiram na mesma toada com “Call to Arms”, de “Warriors of the World” (2002). Depois veio a emocionante “Heart of Steel”, com o mestre Eric Adams em mais uma interpretação de gala.
A artilharia foi reforçada com uma bateria vermelha extra, que foi colocada na frente do palco e alimentou a curiosidade dos fãs até a chegada da cadenciada e marcada “Warriors of the World United”. Esta parte especial será a mais diferente de todas as datas da “Crushing the Enemies of Metal Anniversary Tour ’22/’23” pois, para a surpresa e orgulho, ao lado de Joey DeMaio estavam os brasileiros Marcus Castellani (bateria) e Evandro “E.V.” Martel (guitarra), que mais recentemente integraram o Manowar por um tempo, além do vocalista Cleber Krichinak (Attractha). O trio fez parte do Kings of Steel, banda-tributo que chegou a abrir três shows do Manowar no Brasil em 2010. A união dos guerreiros bárbaros se mostrou ainda mais empolgante com a chegada de Eric Adams e Michael Angelo Batio para a segunda parte da execução.
“Havia um incômodo muito grande em mim, sentimento de que a história não havia sido concluída como deveria. Hoje esse incômodo foi substituído por satisfação de missão cumprida. Tocar em casa para tantos fãs assíduos e, principalmente, para o meu filho e minha família foi o maior feito que posso imaginar como baterista do Manowar”, comentou Marcus Castellani. “Histórias são escritas a todo momento, mas somente quando há dedicação e paixão que as ótimas histórias são lembradas e comentadas. Agradeço a todos pelo carinho e respeito que sempre recebi. Como sempre digo, eu tinha um sonho quando criança e hoje tenho a realidade como baterista”, acrescentou o músico, que hoje integra as bandas The Giant Void e Just Heroes.
Após o momento especial, houve o duelo entre o renomado shredder Michael Angelo Batio e DeMaio, que desde “William’s Tale” (Gioachino Rossini) costuma mostrar seu talento individual. Vale ressaltar que, além da velocidade e precisão nos solos, Batio é famoso pelo uso de guitarras de dois braços e pela técnica de tapping “MAB Over-Under”. De fato, ele se encaixou bem e combina muito mais com o true metal do Manowar que um entulho como o Nitro, grupo com o qual gravou dois discos. DeMaio fez questão de frisar, após supostamente notar a baixa na qualidade de som, que o Manowar prima pela excelência sonora, na performance e busca oferecer o melhor show.
Seguindo para a explosão de coros no vale dos reis veio “Hail and Kill”, clássico de “Kings of Metal”, seguida pela faixa-título do EP de 2002, “The Dawn of Battle”. Depois vieram as aceleradas e épicas “King of Kings”, de “Gods of War” (2007); “The Power”, de “Louder Than Hell” (1996); e “Fight Until We Die”, de “Warriors of the World” (2002).
Juntos novamente, todos os ‘brothers of metal’ ouviram atentamente o tradicional, e sempre esperado, chamado discurso de Joey DeMaio que faz questão de pronunciar palavras na língua de cada país que o Manowar se apresenta. No Brasil, onde o grupo se apresentou pela primeira vez em 1996, não é diferente. Mais ainda agora, depois de não só ter brasileiros em sua equipe, mas dois músicos que passaram por suas fileiras. Ele até mandou um “trouxas” referindo-se a quem não gosta de metal. Além disso, em cada frase de impacto ou questionamento, os seguidores vinham com a resposta “vai se foder”. “Se você não gosta de São Paulo”…. “Vai se foder”; “Se você não gosta do Brasil”…. “Vai se foder”; “Se você não gosta de heavy metal”…. “Vai se foder”; “Se você não gosta do Manowar”…. “Vai se foder”.
Dentre as baixas de guerra nesta batalha, como negativa de credenciamento de fotógrafo e o merchandising oficial só podendo ser adquirido com dinheiro vivo, risca-se com lâmina afiada o fato de os telões não terem sido usados durante o show por determinação da produção da banda. No entanto, os telões foram acionados para uma longa homenagem ao brasileiro Manoel Cristiano de Arruda, que há tempos trabalha com o Manowar e estava completando 42 anos de idade. A maioria dos presentes não entendeu nada a extensa celebração com clima de pregação religiosa, como se Manoel Manowar fosse Deus. Após puxar também um “happy birthday” saiu o anticlímax e voltou a empolgação com “Battle Hymn”, tocada em uma versão com freio de mão puxado e que a deixou mais pesada. Ainda assim, todos os guerreiros e irmãos, dos mais novatos aos veteranos, saudaram o hino máximo.
Com as mãos simulando espadas empunhadas bem alto, faltava pouco para a vitória final na noite quente de sábado… Se para a batalha cavalgamos, chegamos orgulhosos e agitados com a energética “Black Wind, Fire and Steel”, de “Fighting the World” (1987). No final, os heróis alcançaram Valhalla, sendo recebidos pelos deuses como verdadeiros guerreiros imortais. Os bravos seguidores saíram de cabeça erguida de mais uma batalha ao som de “Army of the Dead, Part II”. Luzes acesas, sorrisos nos rostos e mais histórias de guerra para contar. Até a próxima, guerreiro, sempre lutando pelo metal!
Setlist:
Manowar
Kings of Metal
Fighting the World
Holy War
Immortal
Call to Arms
Heart of Steel
Warriors of the World United
Hail and Kill
The Dawn of Battle
King of Kings
The Power
Fight Until We Die
Battle Hymn
Black Wind, Fire and Steel