MARILLION

“A better way of life”. Em tradução livre, umamaneira melhor de viver a vida.A autopropagandado Marillion não é enganosa, sejamos sinceros, porque o fã recebe, em estúdio ou ao vivo, exatamente aquiloque está comprando: tirando uma derrapada aqui e outra ali, algo absolutamente normal numa história que começou em 1979, o trabalho do quinteto inglês é de uma excelência ímpar. Os brasileiros tiveram a oportunidade de saboreá-lo pela terceira vez em cinco anos, cabendo aos cariocas comparecerem em número bem razoável ao Vivo Rio numa noite de sábado com cara de outono (finalmente, diga-se).

Com apenas sete minutos de atraso, Steve Hogarth (vocal e ocasionais teclados e guitarra), Steve Rothery (guitarra), Pete Trewavas (baixo), Mark Kelly (teclados) e Ian Mosley (bateria) saíram do De Lorean de Emmett Brown para entrar no palco, porquefoi com a quase épica e totalmente progressiva “The King Of Sunset Town”, faixa de abertura do então recém-lançado “Seasons End” (1989), que a banda começou a sua primeira passagem pelo Brasil, no “Hollywood Rock” de 1990. Vinte e sete anos depois, uma constatação óbvia, porém necessária: viúvas de Fish, a fila andou. E andou faz muito, muito tempo.

Se é difícil entender a baboseira de que o Marillion só prestou até 1988 – veja bem, 1988! –, é impossível acreditar que alguém em sã consciência mantenha postura tão obtusa após ouvir Hogarth cantar, após vê-lo em cena. Como desprezar a excelente “Power” e seu refrão de primeira linha? Ou a bela “You’re Gone”? Ou o acento mais Pop e contagiante de “Cover My Eyes (Pain And Heaven)”? De “Sounds That Can’t Be Made” (2012) a “Holidays In Eden” (1991) com uma passagem por “Marbles” (2004), uma viagem no tempo da era Hogarth que terminou com o público gritando o nome do grupo ao fim de “Hooks In You”, um Hard Rock de respeito presente em “Seasons End”.

A irresistível sequência acendeu mesmo os ânimos de uma plateia que, no geral, foi bipolar. Ares contemplativos se misturavam com certa letargia antes de darem lugar a rompantes de êxtase. A maravilhosa “Sugar Mice” foi de arrancar lágrimas, mas alguns se mantiveram insensíveis e assim continuaram em “Afraid Of Sunrise”. “Man Of A Thousand Faces” jogou o brilho dos holofotes para Kelly, responsável pelo perfeito solo de piano emmais uma das joias do Marillion com seu “novo” vocalista. Os fãs agradeceram fazendo o coro da parte final depois que os instrumentos haviam silenciado.

“Esta foi a primeira música que nós escrevemos depois que entrei na banda”, anunciou Hogarth. Foi a deixa para “Easter”. Defina perfeição. Agora multiplique por dois, porque não bastasse ser uma das músicas mais bonitas que você pode ouvir, ela ainda tem um solo feito sob a bênção dos deuses que fizeram de Rothery um guitarrista soberbo, de extremo bom gosto. Terminada a última nota, aplausos gerais para um dos fundadores do Marillion.

Já havia ficado claro que a banda havia feito um setlist para não correr riscos, então “Kayleigh” – “uma música sobre arrependimento”, disse Hogarth sobre a letra escrita por seu antecessor – apenas cumpriu tabela. Obviamente, foi ovacionada e, assim como em 2012, no mesmo Vivo Rio, teve de ser acompanhada por “Lavender”, que não estava no repertório. Se há quatro anos os cinco músicos foram surpreendidos pelas fãs cantando ‘a cappella’, por isso deram sequência, desta vez viram um público preparado com cartazes para que a tocassem. Não foi emocionante como da primeira vez, mas funcionou.

“Sounds That Can’t Be Made” acabou destoando, mas não por sua qualidade. Irritado com algum problema técnico (provavelmente no retorno) que já havia feito a banda errar na transição de uma das mudanças de tempo – “This is a fucking disaster!” (precisa de tradução?) –, Hogarth interrompeu tudo para que o show continuasse com a bela (como esse adjetivo é comum às músicas dos ingleses) “Afraid Of Sunlight”.

O gigantesco telão no fundo do palco desde o início era uma atração à parte, ilustrando as canções com cenas que casavam com o momento, ganhou um contorno emocional em “King”, dedicada a Prince, que falecera nove dias antes. Entre os homenageados em vídeo estavam músicos –Jimi Hendrix, John Lennon, Elvis Presley, Lemmy, Dimebag Darrell, Phil Lynott e Keith Moon, entre vários outros – e atores – Robin Williams, Philip Seymour Hoffman, Heath Ledger (este na pele do genial Coringa que interpretou em “Batman: Cavaleiro das Trevas”)… –,com algum espaço para o humor britânico, pois só isso explicaria as inclusões de Mike Tyson e Britney Spears.

Uns (muito) mais, outros (bem) menos, todos receberam aplausos no ato final antes do primeiro bis, que teve na ótima “The Invisible Man” mais um caminho para Hogarth, de paletó, terno e gravata, exercitar seu lado teatral no telão e no palco. Presente e passado se juntaram no segundo e derradeiro bis, com o hit “Beautiful”, a quarta música de “Afraid Of Sunlight” (1995) no repertório, e o clássico “Garden Party”, da estreia com “Script For A Jester’s Tear” (1983). Da beleza (sim, de novo) e letra ingênua da primeira ao alto astral da segunda, um ‘encore’ alto nível para fechar duas horas de uma apresentação que pode não ter mudado a vida de ninguém, mas fez valer com louvor a paixão pela música. Mais uma vez.

Setlist
1. The King Of Sunset Town
2. Power
3. You’re Gone
4. Cover My Eyes (Pain And Heaven)
5. Hooks In You
6. Sugar Mice
7. Afraid Of Sunrise
8. Man Of A Thousand Faces
9. Easter
10. Kayleigh
11. Lavender
12. Sounds That Can’t Be Made
13. Afraid Of Sunlight
14. King
15. The Invisible Man
16. Beautiful
17. Garden Party

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