Por: Luiz Mallet
Mais uma vez os mestres do black metal contemporâneo voltaram ao Rio de Janeiro: os noruegueses do Mayhem estiveram no Estado da Guanabara para mais uma perna da turnê que executa na íntegra o clássico “De Mysteriis Dom Sathanas” (1994). O registro é o primeiro da banda e teve um atraso no cronograma de lançamento em detrimento dos eventos que o cercam: O suicídio do vocalista Per “Dead” Ohlin e o assassinato do guitarrista Oystein “Euronymous” Aarseth pelas mãos de Varg Vikernes, integrante do Burzum. Sua musicalidade e todo o cenário criado ao redor do disco – e de toda a cena norueguesa à época – transformam o trabalho num dos maiores e mais influentes álbuns do estilo e do metal extremo em geral de todos os tempos.
Resumida toda a atmosfera envolvida, a ansiedade dos presentes se faz válida. As bandas Svatan, 7 Peles e Enterro tiveram a missão de abrir a cerimônia e preparar o público para o que viria a seguir. Masm claramente, qualquer tentativa é em vão, pois quando o quinteto entra no palco e começa a execução de “Funeral Fog” (que abre o álbum), o som impecavelmente trabalhado à perfeição e a qualidade da execução impressionam. A trinca inicial se encerra com “Freezing Moon” (um dos maiores clássicos da música extrema) e “Cursed in Eternity”.
O escrete norueguês é composto na data de hoje por Atilla Csihar (vocal), Hellhammer (bateria), Necrobutcher (baixo) e Teloch e Ghul (guitarras. Ou seja, apenas dois dos presentes – Csihar e Hellhammer – tocaram no antológico álbum, mas os que estão envolvidos atualmente com o projeto entendem perfeitamente toda a aura e importância que uma apresentação dessas proporciona e necessita. Músicas como “Life Eternal”, e seu riff particular de baixo em algumas sessões, e “From the Dark Past”, com as guitarras bem presentes, mostram o compromisso dos “novos” integrantes.
A banda se apresenta sob muita fumaça, corpse paint e trajes mórbidos, mas Csihar se faz valer de todo o alcance de sua voz, além de uma intepretação ímpar, para garantir que a imersão seja completa. Por todo o set, o vocalista vai do vocal limpo ao mais rasgado com maestria, sempre acompanhando de muitos efeitos de eco, reverb e delay para deixar tudo mais condizente. “From the Dark Past”, “Buried By Time and Dust” e “De Mysteriis Dom Sathanas” (que encerra o set regular do álbum) demonstram todo esse potencial.
A segunda parte do show é como se fosse outro. Os integrantes retornam ao palco sem maquiagem, trajes e capuz (inclusive Necrobutcher se apresenta no melhor estilo Garoto do Rio, sem camisa e com boné de aba reta virada para trás) e executam mais algumas músicas icônicas de uma banda igualmente grandiosa. Petardos como “Deathcrush” e “Pure Fucking Armaggedon” (do EP “Deathcrush”, de 1987) e “To Daimonion, Part I” (de “Grand Declaration of War”, 2000) são tocados para delírio do público, elevando ainda mais o calor da apresentação e terminando o concerto de forma magistral.
Apesar de ter retornado ao Rio de Janeiro na mesma turnê, o Mayhem entregou um show diferente do que foi feito na primeira passagem e fez com que valesse o dinheiro investido pelos fãs para garantir o ingresso, ainda mais num momento em que o país está em evidência na rota dos shows internacionais de peso. Apesar de quase 25 anos passados, “De Mysteriis Dom Sathanas” ainda entrega uma musicalidade ao vivo que impressiona, e é fácil entender por que o disco influenciou todo um estilo musical, além de extrapolá-lo. Os noruegueses garantem uma entrega musical e performática de primeira qualidade e de intensidade inegável. Se você não viu nenhuma das duas passagens pelo Brasil, caso tenha a terceira, não deixe de constatar o porquê de a banda ser uma das maiores do metal extremo. Hoje e sempre.
Set list
- Funeral Fog
- Freezing Moon
- Cursed in Eternity
- Pagan Fears
- Life Eternal
- From the Dark Past
- Buried By Time and Dust
- De Mysteriis Dom Sathanas
Intervalo
- Deathcrush
- Psywar
- To Daimonion, Part I
- Carnage
- Pure Fucking Armageddon