Não foi a primeira vez que uma das maiores casas de espetáculos de Fortaleza, o Siará Hall, abriu seus portões para o público do Metal. Nomes icônicos do cenário mundial como Motörhead, Saxon, Dream Theater, Blind Guardian, Kreator e Exodus já fizeram suas honras no espaçoso ambiente. Na noite do dia 13 de agosto, os headbangers cearenses e de estados vizinhos puderam conferir mais uma atração grandiosa do Thrash Metal: Megadeth.
Pessoas vestidas com camisas do Project46 indicavam que o grupo possuía um bom número de fãs presentes, mas enquanto milhares de outras pessoas formavam uma fila que avançava pelo quarteirão do lado de fora, os que chegaram mais cedo puderam assistir a essa banda de abertura que fez um set curtíssimo e ainda teve que lidar com a péssima acústica do salão, que apesar de enorme e luxuoso, deixava o som difícil de se ouvir com clareza. Divulgando o novo álbum “Que Seja Feita A Nossa Vontade” (2014), o quinteto paulistano de Metalcore contou com o apoio do baixista Baffo Neto (Capadocia) no lugar de Rafael Yamada, que deixou a banda recentemente. A banda tocou “Erro +55”, uma das preferidas do CD, e depois deu a vez a canções do primeiro álbum “Doa A Quem Doer” (2011), “No Rastro Do Medo” e “Impunidade”. Um fato curioso é que alguém informou ao vocalista Caio MacBeserra que no “Nordeste não tinha Metal”, como o próprio comentou no palco. Inverdade absoluta constatada pela própria banda durante “Capa De Jornal” e “Atrás Das Linhas Inimigas”, com pessoas agitando o ‘mosh’ com rodas. Naquele momento ainda não tinha muita gente dentro da casa, mas quem já estava lá soube aproveitar. No entanto, o que veio depois da apresentação do grupo, serviu como uma bela resposta.
E essa resposta trouxe um dos maiores nomes do Thrash Metal mundial, o Megadeth. Com um “pequeno” atraso de quase meia hora, a banda de Dave Mustaine não fez nenhuma cerimônia antes de atacar os PAs com “Hangar 18”. Fãs mais apaixonados talvez nem se deram conta pelo sonho realizado daquele instante, mas as falhas na acústica do Siará Hall se tornaram um fantasma atormentador durante todo o show. Logo nesta primeira execução, não se conseguia ouvir a voz do líder Mustaine, mas o público compensava esse infortúnio acompanhando em coro partes dos riffs. O problema do volume baixo do microfone só melhorou durante “The Threat Is Real”, primeira do álbum “Dystopia” (2015). Até que algumas das músicas novas funcionaram bem e dava para ver que a banda sentia isso do palco.
Após a segunda execução, Mustaine falou pela primeira vez ao público que lotava a casa. Terminadas as saudações, fez todo mundo sentir a energia de um dos clássicos mais esperados, “Tornado Of Souls”, onde Kiko Loureiro foi alvejado com gritaria na hora do solo. Mas um dos momentos que também marcaram esse show, foi ver as imagens dos telões estremecerem junto com os bumbos de “Poisonous Shadows”, comandados pelo belga Dirk Verbeuren (Soilwork).
Depois da primeira saída da banda para o ‘backstage’, Mustaine retorna sozinho ao palco e chama o restante do grupo para tocar “Wake Up Dead” do “Peace Sells… But Who’s Buying?” (1986). A sessão velharia seguiu com “In My Darkest Hour” de “So Far, So Good… So What!” (1988), mas depois retornam ao álbum atual com a instrumental “Conquer Or Die!” e “Fatal Illusion” com David Ellefson mostrando como se faz ao vivo, o belo solo de baixo existente na faixa.
Após a segunda pausa no ‘backstage’, os músicos retornam para mais um momento de muita adrenalina com a primeira canção retirada do álbum “Cryptic Writings” (1997), “She-Wolf”. O interessante é que essa não seria uma das preferidas do set, mas foi a primeira a gerar ‘circle pits’ na apresentação dos norte-americanos pelo ‘front stage’, porém o “reino” de David Ellefson se consumou nessa parte do show, conduzindo a “grooveada” “Dawn Patrol”, que emendou com “Poison Was The Cure”, ambas do consagrado “Rust In Peace” (1990). O álbum “Countdown To Extinction” (1992) foi lembrado com a essencial “Sweating Bullets”, seguida pela quase balada, “A Tout Le Monde”, de “Youthanasia” (1994).
“Trust”, mais uma de “Cryptic Writings”, iniciou a terceira parte do show que trouxe a pesada, mas não impactante “Post American World” do “Dystopia”, que por sua vez abriu para a própria canção título do álbum de divulgação. Essa dobradinha deixou tudo meio morno, mas o Megadeth tinha cartas na manga, e uma delas funcionou como “dinamite” na forma de “Symphony Of Destruction”. A reação das pessoas foi imediata diante de um dos maiores hinos da banda. O coro “Megadeth! – Megadeth!” ecoou pela casa inteira enquanto a banda executava a obra.
Em um momento de empolgação, Ellefson ainda arriscou falar em um português enrolado, perguntando: “E aí, Fortaleza?” – claro que a multidão respondeu – foi quando seus companheiros começaram a tocar “Peace Sells” com direito a invasão do mascote da banda Vic Rattlehead ao palco. O personagem não perdeu tempo em insultar os presentes.
Estaria terminada aquela grande noite em Fortaleza, mas ainda havia tempo para o bis que traria “Mechanix” do ‘debut’ “Killing Is My Business… And Business Is Good!” (1985), segundo o que estava escrito no próprio ‘set list’ colado no palco, mas infelizmente não a tocaram, porém “Holy Wars… The Punishment Due” encerrou a primeira visita do Megadeth em solo cearense, com a plateia inteira cantando os trechos da música.
Como sempre, a hospitalidade fortalezense fez bonito em um show internacional. Mustaine, apesar de não ser um dos melhores ‘frontmen’, se viu muito à vontade, exibindo a bandeira brasileira entregue por um fã, sorridente e “falante”. Pena que o som horrível do lugar não possibilitou muita compreensão do que ele dizia, apenas coisas básicas como apresentação dos músicos e os muitos agradecimentos durante o show. Mas a falta maior mesmo foi da interatividade de Kiko Loureiro com os seus fãs, nem um “alôzinho” sequer foi dito, mas pelo menos na linguagem musical ele falou muito bem. Profissional de gabarito, um “monstro” no que sabe fazer. Que venha a próxima turnê.
Setlist – Project46:
Erro +55
No Rastro Do Medo
Impunidade
Capa De Jornal
Atrás Das Linhas Inimigas
Setlist – Megadeth:
Hangar 18
The Threat Is Real
Tornado Of Souls
Poisonous Shadows
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
Conquer Or Die!
Fatal Illusion
She-Wolf
Dawn Patrol
Poison Was The Cure
Sweating Bullets
A Tout Le Monde
Trust
Post American World
Dystopia
Symphony Of Destruction
Peace Sells
Holy Wars… The Punishment Due