A terceira passagem do Megadeth pela capital gaúcha era aguardada com ansiedade pelos fãs. Afinal, muitos eram os motivos para isso. “Dystopia”, o mais recente trabalho do grupo norte-americano, foi muito bem recebido tanto pela crítica como pelo público, chegando a ser saudado como o melhor nos últimos anos, e, obviamente, o fato de Kiko Loureiro ser o novo guitarrista da trupe comandada por Dave Mustaine. Todos sabemos da qualidade e técnica do brasileiro e, apesar do excelente trabalho em estúdio, a pergunta era: como seria ao vivo? A resposta foi, sem nenhuma dúvida, extremamente positiva. Além disso, a saída de Chris Adler (Lamb of God) do posto de baterista e a entrada de Dirk Verbeuren (ex-Soilwork) também criava uma certa expectativa.
Um grande público compareceu ao Pepsi On Stage. Fato este comprovado nas imensas filas que se formaram antes da abertura dos portões. E conforme adentrava o local, era percebido que a estrutura que a banda apresentaria era excelente. E pra começar a “festa”, a banda escolhida pelo próprio Dave Mustaine para a abertura do show foi a gaúcha It’s All Red. Exatamente às 20h, conforme o cronograma apresentado pela produção, o grupo subiu ao palco ao som da introdução “Edify (When the Sun is Falling)” e emendou na paulada “All is Full of Red”, faixa do segundo trabalho, “The Natural Process of…” (2010).
Eu já havia assistido a banda na abertura para o Cavalera Conspiracy no palco do Opinião, mas, desta vez, logo de cara deu para perceber que a banda parecia bem mais à vontade tocando em um local maior e com uma responsabilidade também bem maior. Com “sangue nozóio”, o grupo mostrou músicas de seu mais recente álbum, “Lead By The Blind” (2015), com destaques para “Steps of Ancients Elephants” e “Integrate Forever”. E também para o cover de “Only”, uma das melhores músicas da fase John Bush no Anthrax. Uma banda bem entrosada com destaque para a dupla de guitarristas Juliano Ângelo e Rafael Siqueira que se revezam entre riffs e solos, enquanto a cozinha composta por Renato Siqueira (bateria) e Juliano Medina (baixo – que por uma lesão ocorrida no pé teve que tocar sentado), garante peso na medida certa. Já o vocalista Tom Zynski está mais solto no palco, se movimentando bem mais. Com seu Thrash Metal fortemente influenciado pelo momento atual, com o Metalcore à frente, o grupo foi muito mais que apenas um ‘opening act’, provando que o Heavy Metal no Rio Grande do Sul vai muito bem.
Depois do pequeno intervalo, passando um pouco das 21h, eis que ecoa pelos PAs “Prince of Darkness”, enquanto o Megadeth adentra o palco e começa o show com “Hangar 18”. Claro, como era esperado, o público foi à loucura com uma das melhores faixas do clássico “Rust in Peace” (1990), e as linhas de guitarra foram “cantadas” em uníssono pela plateia. Desde o início se pôde perceber que a presença de Kiko Loureiro não é meramente ilustrativa. Na sequência, “The Threat is Real”, primeira faixa do mais recente álbum a ser executada, mostrou que a escolha de Dirk Verbeuren foi acertada. O baterista deu um novo gás, com uma pegada precisa, o que casou perfeitamente com o trabalho de David Ellefson. Aliás, o baixista, parceiro de Mustaine há muitos anos, continua muito eficiente em seu instrumento. Após um simpático “Good Evening Porrrrrto Alegrrrrre”, Mustaine emendou o riff de “Tornado of Souls”, um dos melhores momentos do show. E não é pra menos. Todas as faixas de “Rust in Peace” foram muito saudadas pelo público – cabe lembrar que em 2010, o Megadeth tocou no mesmo Pepsi on Stage na turnê de comemoração dos 20 anos do referido álbum. Nessa faixa, Kiko imprimiu sua personalidade no solo de forma bastante clara. Se para muitos havia certo receio de que como o guitarrista se sairia ao tocar um estilo tão diferente daquele que o consagrou, aqui essa dúvida foi devidamente sanada.
Com um setlist bem diversificado que privilegiou, obviamente, o mais recente trabalho, Mustaine e cia. souberam mesclar todas as fases da carreira. Deixando de lado todos os trabalhos compreendidos entre 1999 e 2013, após mais uma do novo CD, “Poisonous Shadows”, a “velha guarda” foi presenteada com dois clássicos absolutos: “Wake Up Dead” e “In My Darkest Hour”, presentes, respectivamente, em “Peace Sells… But Who’s Buying” (1986) e “So Far… So Good… So What?” (1988). E elas mais uma vez, provaram que não apenas resistiram à passagem do tempo, como soam muito atuais. Mais uma vez, Kiko se destacou, seja pela eficiência nos solos como também pela presença de palco. Em seguida, mais “Dystopia”, com a instrumental “Conquer od Die!” e “Fatal Illusion”. Apesar de boas, as faixas deram certa amenizada nos ânimos que estavam exaltados.
“Post American World” e “Dystopia” vieram na sequência e, novamente, apesar da qualidade, deram certa esfriada na galera. Enquanto a primeira é mais intensa e pesada, a segunda tem uma veia mais atual, com uma sonoridade que se destaca pelo excelente trabalho das guitarras. Então, era hora do local vir abaixo. “Symphony of Destruction” transformou público e banda em um só, ainda mais quando os gritos de “Megadeth, Megadeth” ecoavam por todos os cantos – a música já rompeu as barreiras do clássico!
Após isso, Mustaine deu boa noite, mas todos sabiam que tinha mais. O grupo então retornou com um dos maiores clássicos do Metal: “Peace Sells”! Dessa vez, a mascote Vic Rattlehead entrou no palco e ficou ao lado de Kiko, enquanto Mustaine e Ellefson pareciam não acreditar na reação extremamente positiva do público. Então, um dos momentos mais aguardados do show era chegado. Se a expectativa criada pela execução de “Rattleahead”, presente em “Killing is My Business… And Business is Good!” (1985) não foi realizada, “Mechanix” veio para matar a sede do início da carreira do grupo. Tocada de forma mais rápida e com uma vontade extra por parte de Mustaine (por que será, né?), a música fez alguns fãs ‘old school’ se emocionarem. Mas o show se aproximava do fim e após mais um retorno ao palco, a banda executou seu maior clássico. “Holy Wars… The Punishment Due” sempre é uma aula. Se em 1990 essa música era uma aula de violência musical, hoje, 26 anos depois, ela continua fazendo a alegria dos fãs da música pesada. Um encerramento perfeito para uma apresentação perfeita.
Dave Mustaine pareceu mais “solto” nessa terceira passagem da banda por Porto Alegre. E cabe aqui um elogio á banda como um todo, pois trouxe um set completo, com produção de palco perfeita. Luz, som, imagem, tudo muito bem executado. Assim como o restante da banda, o guitarrista prometeu que o grupo volta na próxima turnê. Que não fique só na promessa e que possamos ter por aqui, o privilégio de assistir mais shows de uma das maiores bandas de Heavy Metal do mundo!
Setlist – It’s All Red:
Edify (When The Sun is Falling) (intro)
All is Full of Red
Killing a Dead Tree
Steps of Ancient Elephants
Lead By The Blind
Only (Anthrax cover)
Power To Let Power Go
Integrate Forever
Setlist – Megadeth:
Prince of Darkness (intro)
Hangar 18
The Threat is Real
Tornado of Souls
Poisonous Shadows
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
Conquer or Die!
Fatal Ilusion
She-Wolf
Dawn Patrol
Poison Was The Cure
Sweating Bullets
A Tout Le Mond
Trust
Post American World
Dystopia
Symphony of Destruction
Peace Sells
Mechanix
Holy Wars… The Punishment Due