O Megadeth encerrou a passagem brasileira da turnê de divulgação do mais recente trabalho, “Dystopia”, no dia 18 de agosto, quinta-feira, em Curitiba. O local da apresentação foi o Spazio Van, que não chegou a lotar, mas contou com uma boa quantidade de pessoas. A noite ainda contou com abertura da banda paulistana Republica. Obviamente, a boa repercussão obtida com “Dystopia”, a tão falada entrada de Kiko Loureiro para a trupe, além da chegada do ex-Soilwork Dirk Verbeuren na bateria, deixaram as expectativas para o show ainda maiores. E, acredite, quem compareceu entendeu por que o Megadeth continua sendo considerado um dos maiores nomes do gênero, e que essa formação e material fortaleceu ainda mais o grupo.
Aquecendo os presentes, diversos clássicos de AC/DC, Dio, Van Halen e Accept foram executados no som ambiente até que, por volta das 20h15, as luzes se apagaram e ecoou pela casa “Redemption Day”, interpretada por Johnny Cash. Esta serviu como ‘intro’ para a banda Republica, que iniciou o set com “Black Wings” e, sem pausa, seguiu com “Time to Pay”. Ao final dessa, o vocalista Leo Belling saudou a plateia e agradeceu a todos pela paciência, falando que “é Metal nacional feito com muito carinho”. Os guitarristas Luiz Fernando Vieira e Jorge Marinhas trocaram suas guitarras e o grupo prosseguiu com “The Maze”. Com esses três sons foi possível ter noção da pegada da banda, um Stoner meio anos 90, com influências de coisas mais recentes, e refrãos grudentos, reforçado pelos backing vocals dos dois guitarristas. Merece menção também as boas levadas realizadas pelo baterista Mike Maeda (o que foi visto em “The Maze”, por exemplo), sem falar da boa presença de palco de Leo Belling e do baixista Marco Vieira, que conseguiram cativar o público. Afora isso, a potência da voz de Leo é algo que se nota com muita facilidade.
A Republica aproveitou para executar algumas músicas que estarão no próximo trabalho de estúdio, o quarto, como “Stand Your Ground”, “Endless Pain” e “Death for Life”. Antes da saideira, Leo apresentou os músicos, agradeceu novamente a plateia, e também as produções do Megadeth e Spazio Van. O show se encerrou com “El Diablo”, na qual a iluminação ficou predominante vermelha. No começo dessa ocorreu um problema com a guitarra de Luiz, que logo pegou outra e continuou sem maiores percalços. Uma boa apresentação, que durou exatos quarenta minutos, tempo suficiente para agradar a galera, que aplaudiu e interagiu com a banda durante todo o show. Importante ressaltar que o som estava muito bom, tudo bem audível e claro. No final, eles tiraram aquela tradicional foto com o público, jogaram palhetas e baquetas. Como ressalva, fica uma crítica ao possível excesso de efeitos wah-wah durante diversos solos de guitarra.
Restava aguardar a preparação do palco para o Megadeth, coisa que o público fez com muito entusiasmo. Cada vez que alguma peça do palco era destampada, como a bateria e os telões, ouviram-se berros e gritos de Megadeth, em um momento até mesmo gritos de Kiko. Finalmente, às 21h37, começou a tocar “Prince of Darkness”, usada como ‘intro’ para a entrada do Megadeth. Os telões então foram ligados (o palco possuía cinco, um grande, atrás, bem ao centro, e quatro menores mais a frente, dois no lado esquerdo, e dois no lado direito), e no momento que estes exibiram imagem de chamas e o nome do grupo no telão do centro, ocorreram umas “explosões” de fumaça, com os músicos adentrando o palco. E o início não poderia ser mais arrebatador com “Hangar 18”. Ali já se tinha noção de todo o “poder de fogo” dos caras e de como seria um espetáculo intenso, como percebido no trecho final dela. Dave Mustaine e Kiko Loureiro se movimentaram pelo palco, com Kiko realizando a maior parte dos solos, enquanto os telões criam efeitos “frenéticos”. Começando assim ficou fácil ganhar a plateia e abrir com um dos principais clássicos realmente pareceu ser a escolha mais sensata.
Sem muita pausa veio a nova “The Threat Is Real”, em que David Ellefson e Kiko fazem backing vocals. Após esta, Mustaine cumprimentou o público com um “good evening Curitiba”, e falou (em inglês) que tocariam músicas novas e antigas, apresentando “Tornado of Souls”. Bastou o riff inicial para o público quase que literalmente estremecer o local em um dos grandes momentos da noite. Ótima performance, grande “quebradeira” de Dirk Verbeuren, um belo solo de Kiko mais para o final, e ainda fortalecida pelas imagens do telão, que variavam entre o que parecia animações dentro de um tornado e relâmpagos.
A grandiosa estrutura do palco merece destaque. Os cinco telões, que exibiram imagens e efeitos velozes (vários “frames por segundo”, por assim dizer), iluminação bem ajustada – em alguns momentos tão veloz quanto as imagens nos telões –, e mesmo a estrutura como um todo é bem interessante, com a bateria de Dirk num elevado consideravelmente alto. Imagino que não seja um espetáculo recomendado para quem sofre de labirintite, vertigem, ou algo relacionado a isso, pois pense só no efeito que essa combinação de imagens, luzes e som veloz pode causar. A banda prosseguiu com “Poisonous Shadows”, dando uma acalmada nos ânimos com um andamento mais cadenciado, com direito a teclados pré-gravados, e um solo de Kiko bem característico. No trecho final, pareceu ter sido utilizado um efeito de eco na voz de Mustaine.
Em seguida, “Wake Up Dead”, na qual Mustaine realiza os solos, anda de uma ponta a outra do palco, e sem pausa emendam “In My Darkest Hour”, que ficou sem a introdução contida na versão original do álbum “So Far, So Good… So What!”, começando direto no riff, contando com uma iluminação predominantemente azul escuro. No final, foi exibida uma imagem no telão de duas mãos segurando o planeta Terra, um dos poucos momentos onde foi exibida uma imagem por vários segundos de forma estática. Em ambas houve trechos onde Dirk detonou no bumbo duplo.
A noite seguiu com “Conquer or Die!”, totalmente focada em Kiko, que fez a ‘intro’ ao violão. O público aproveitou esse trecho para gritar de forma intensa o nome do guitarrista. Na sequência, Mustaine fez as honras dizendo “bass guitar, David Ellefson”, dando a deixa para a ‘intro’ de “Fatal Illusion”, faixa de “Dystopia” que melhor funcionou ao vivo, principalmente na parte que se tem o som do aparelho de monitoramento de sinais vitais em diante. Neste momento, ocorreram mais efeitos com fumaça e o telão exibiu aquele “risquinho” mostrado nesse tipo de aparelho.
“She-Wolf” foi mais uma daquelas que bastou Mustaine executar o começo do riff inicial para causar grande comoção nos presentes. E como esse som funciona bem ao vivo, com o refrão potencializado com os backing vocals de David e Kiko. Como não poderia deixar de ser, em meio a diversas imagens nos telões, várias de lobos. A qualidade do som durante toda a apresentação estava muito boa, sendo possível perceber as várias nuances dos instrumentos, tal como na bateria “metralhadora” de Verbeuren. Inclusive Mustaine cantou trechos de diversas músicas nos microfones de David e Kiko, o que de certa forma é um tanto inusitado, e a qualidade da voz estava igual ao do microfone principal.
Então veio uma dobradinha de “Rust in Peace”, ainda que não na mesma ordem do disco. “Dawn Patrol”, apenas com Dirk e David no palco, com os vocais pré-gravados, obviamente focada no baixo, e “Poison Was the Cure”, com todos no palco, composta de muito peso e velocidade. A “brincadeira” prosseguiu com “Sweating Bullets”, na qual foi exibido no telão fotos antigas de perfil mostrando diversos rostos. Nessa foi possível perceber mais um trabalho de guitarras interessantíssimo realizado por Mustaine e Kiko. Então, apenas com estes dois no palco, Kiko tocou as primeiras notas de “A Tout Le Monde”, e Mustaine então perguntou se o público a conhecia, pedindo para ajudarem-no a cantar. Claro que ele foi atendido e seguiu cantando boa parte da canção no microfone de Ellefson, que usou o microfone do centro do palco para fazer o vocal de apoio no refrão. Um grande momento da apresentação e talvez a música que tenha ficado mais diferente da versão de estúdio.
Sem pausa para respirar, emendaram com “Trust”, que contou com efeitos pré-gravados e umas animações bem peculiares, como a de um olho espiando por uma fechadura de porta. Na sequência, o show acaba “esfriando” um pouco, com dois sons de “Dystopia”. Primeiro, “Post American World”, anunciada por Mustaine como uma música que muitas pessoas não entenderam, complementando com ele estendendo os braços e dizendo “eu não dou a mínima”. Em seguida, a faixa-título “Dystopia” – realmente não entendi qual era a intenção do grupo ali. Ao vivo parece ainda mais um ‘remake genérico’ de “Hangar 18”, com a mesma estrutura, final com solos muito semelhantes, inclusive usaram praticamente o mesmo efeito de fumaça da abertura. Assim fica difícil não associar com o clássico do “Rust in Peace”.
O espetáculo chegava à reta final, mas ainda restavam algumas das músicas mais aclamadas, começando por “Symphony of Destruction” que, como de praxe, teve a plateia interagindo ao cantar “Megadeth” por cima do riff. Depois, Ellefson iniciou a grande linha de baixo de “Peace Sells”, causando ainda mais comoção nos presentes. O ápice da apresentação e que contou com uma participação especial da mascote do grupo. Vic Rattlehead adentrou ao palco no trecho final, andando e fazendo gestos enquanto Mustaine cantava o trecho ‘Peace sells, but who’s buying?’.
O grupo se retirou após uma hora e vinte minutos de intensa performance. Mal se passou tempo suficiente para que o público gritasse “Megadeth” e “Mustaine”, e eles retornaram para encerrar “Holy Wars… The Punishment Due”. Mustaine trocou de guitarra, usando uma decorada com a arte da capa de “Rust in Peace”. Não é necessário dizer que bastou o riff inicial para o local ir abaixo. Nesse momento, se formaram ‘moshs’ maiores na plateia. No finalzinho, Mustaine apresentou a banda, com Kiko sendo o mais aclamado. O grande espetáculo chegava ao fim e o telão do centro exibiu a palavra ‘obrigado’ em diversos idiomas. Ao som de “Silent Scorn” nos PAs, os quatro chegaram à frente do palco para se despedir do público – atiraram palhetas, baquetas e as munhequeiras personalizadas com o nome do grupo que usaram. Após muitos aplausos eles deixam o palco e as luzes se acendem, enquanto “My Way” na versão de Sid Vicious, tocava ao fundo, dando um clima de final de filme de Scorsese. Uma bela noite.
Muitos podem ter estranhado o fato de Kiko Loureiro não ter falado com o público em nenhum momento, visto que apenas Mustaine se comunicou verbalmente. A propósito, ele usou dois modelos de guitarra durante a apresentação, provavelmente as mesmas que utilizava no Angra. Cabe ainda uma crítica ao Spazio Van, pois tiveram a coragem de fazer a pista premium muito maior que a pista comum, ocupando bem mais que metade do espaço, capaz de beirar dois terços, o que não me soa nada “premium”. Sem falar que ela não lotou por completo, então quem assistiu da pista comum ficou ainda mais longe que o necessário. Resta torcer para essa bizarrice não virar lugar comum. Mustaine postou um tweet agradecendo o público brasileiro pelos maravilhosos shows que tiveram por aqui, e disse que Curitiba foi o que teve o público mais barulhento.
Setlist – Republica:
Black Wings
Time to Pay
The Maze
Stand Your Ground
Life Goes On
Endless Pain
Death for Life
El Diablo
Setlist – Megadeth:
Hangar 18
The Threat Is Real
Tornado of Souls
Poisonous Shadows
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
Conquer or Die!
Fatal Illusion
She-Wolf
Dawn Patrol
Poison Was the Cure
Sweating Bullets
A Tout Le Monde
Trust
Post American World
Dystopia
Symphony of Destruction
Peace Sells
Holy Wars… The Punishment Due