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MEGADETH: “Countdown to Extinction” completa 28 anos hoje; Saiba toda a história deste clássico

A tarefa de superar uma obra prima do quilate de Rust in Peace (1990) não era das mais fáceis para o Megadeth. E a pressão era ainda maior pelo fato de que entre seus quatro primeiros álbuns, Peace Sells… But Who’s Buying? (1986) também era apontado como um clássico do thrash metal – Killing is My Business… And Business is Good! (1985) e So Far, So Good… So What! (1988) completavam a discografia. A vantagem para o Megadeth é que a formação que gravou Rust in Peace foi mantida, assim sendo, Dave Mustaine (vocal e guitarra) e David Ellefson (baixo) ainda dispunham dos também talentosos Nick Menza, baterista de pegada visceral, e Marty Friedman, guitarrista de estilo exótico, que desde os tempos de Cacophony, sua banda anterior, já esbanjava genialidade.

Para Mustaine, algo que lhe motivou a compor um álbum que levasse o Megadeth a outro nível de reconhecimento, era o fato de que o Metallica estava se tornando mais popular do que nunca com o sucesso de seu homônimo álbum – popularmente chamado de “Black Album” -, e isso instigava ainda mais a sua sede de vingança por ter sido expulso antes mesmo de sua ex-banda gravar o debut Kill ‘Em All (1983). Além disso, as mudanças drásticas que estavam acontecendo na gravadora Capitol Records e na gestão do Megadeth, além do histórico de drogas e álcool quase o arruinaram. Para se ter uma ideia, no dia 18 de abril de 1990, Dave Mustaine foi preso após o relatório do toxicologista apontar a presença de oito diferentes tipos de drogas em seu corpo: heroína, cocaína, crack, maconha e quatro espécies de anfetaminas. Ele já havia tentado se reabilitar nove vezes, mas no dia 20 de abril iniciou um novo tratamento, que terminou em 18 de maio do mesmo ano. “Finalmente aprendi que heroína e Dave não se misturam… A não ser que eu queira sete palmos de terra na cara”, declarou o líder do Megadeth.

Dave Mustaine | Foto Martyn Goodacre

“Tivemos que cancelar uma turnê porque eu estava totalmente fora de controle de tanto tomar Valium. Sabe, a minha mulher não gostava de sentir o cheiro de álcool em mim, mas eu não queria ser derrotado por algo tão simples como cheiro de álcool. Então fui atrás de diazepam. Tomei uma grande quantidade e tive uma overdose, meu coração parou. Não foi uma experiência de quase morte, foi morte mesmo. Tudo do que me lembro foi de ter ido até Phoenix, ter dirigido até um lugarzinho chamado Wickenburg e me deitar. Não vi nenhuma luz ou túnel, nada disso. O hospital chegou a telefonar para a minha esposa para informar que eu tinha morrido. Depois disso, comecei a melhorar a minha vida e arrumar as coisas, mas acabei voltando para o tratamento mais duas vezes antes de largar o vício”, revelou Mustaine, em entrevista publicada no livro Barulho Infernal – A História Definitiva do Heavy Metal.

Com Ellefson não foi diferente: “Consegui me livrar das drogas um ano antes disso, mas foi a coisa mais difícil. Falei: “Porra, não sei se quero voltar a encostar no meu baixo”. Aquilo era assustador, porque era tudo o que eu tinha – minha droga e minha música. Felizmente, todo mundo voltou à ativa e continuei fazendo discos. Tivemos mais segundas chances do que qualquer outra banda que eu conheço. Temos muito mais do que sete vidas”, disse o baixista no mesmo livro.

Mustaine complementa: “Meu maior problema era que eu tinha todo aquele sucesso, mas minha vida não era muito satisfatória. Eu tinha muita insegurança. Sofria com a solidão e com a raiva, sofria porque não tinha algo que queria ou sofria porque tinha medo de não conseguir manter algo que eu tinha. Tentei todo o lance de busca religiosa e achei aquilo precário. Aí entrei num lance de gurus e xamãs filipinos que usavam a imposição de mãos para curar, o que deixou um vazio ainda maior em mim. Depois voltei a frequentar a igreja e fui com ouvidos renovados. Passei a prestar atenção nas coisas que se aplicavam à minha vida em vez das coisas com as quais eu tinha algum problema. Minha vida começou a melhorar. Atribuo a isso 100% ao fato de ter finalmente encontrado Deus em minha vida”, afirmou.

Com as coisas voltando à normalidade, e a feliz notícia de que a esposa de Mustaine estava grávida de seu primeiro filho, o Megadeth finalmente voltou ao estúdio, especificamente no dia 6 de janeiro de 1992, para gravar seu quinto álbum, Countdown to Extinction. Para auxiliá-lo na produção no Enterprise Studios, localizado em Burbank, Mustaine contou com o renomado Max Norman, que cuidou da mixagem de Rust in Peace e trabalhou nos clássicos álbuns Blizzard of Ozz e Diary of a Madman, de Ozzy Osbourne. Mustaine se preparou muito para co-produzir o álbum, tomando aulas de Engenharia Acústica para poder dominar o palavreado dos técnicos e saber o que é necessário entender para poder transmitir o que se quer. A produção acabou tendo um resultado primoroso, já que o álbum dispôs de muita tecnologia de ponta para a época.

Megadeth 1992: Marty Friedman, Dave Mustaine, Nick Menza e David Ellefson

Um bom sinal de que as coisas fluíam muito bem, era não só o fato de a banda estar limpa, mas, pela primeira vez em sua história, todos os integrantes estavam contribuindo para as composições. “A razão para que as músicas tenham ficado tão boas, é que as escrevemos todos juntos”, declarou Ellefson. Marty Friedman complementou na mesma entrevista: “Nós juntamos no estúdio as melhores ideias; o melhor riff era guardado como um arquivo para Dave Mustaine trabalhar mais tarde em outra música, utilizando-a ou não, ou para substituir outra parte… Isto foi como uma bola de neve – um de nós começava e todos terminavam gradativamente, como aconteceu na música Captive Honour”. Foi Menza, por exemplo, quem deu o título do álbum, a partir de um artigo que leu na revista Time. Ele também escreveu a maior parte da letra da faixa-título, uma acusação aberta àquele tipo feio de “esportista”, o tipo que gosta de caçar animais confinados.

O saudoso Nick Menza foi o autor do título “Countdown to Extinction” | Foto: Mick Hutson/Redferns

Aliás, o título Countdown to Extinction (Contagem Regressiva para a Extinção) vinha à calhar, já que em 1992 o mundo resolveu levar mais à sério a questão do meio ambiente. Tanto que no Rio de Janeiro aconteceu a histórica ECO ’92, em que a Conferência das Nações Unidas discutiu o meio ambiente e seu desenvolvimento. Mustaine comentou à respeito do tema: “Todos sabemos que o mundo que conhecemos está morrendo aos poucos. Os pássaros, os animais, as árvores, tudo está morrendo. A atmosfera está poluída, envenenada. Se ninguém fizer nada, nós todos vamos morrer, é preciso que comecemos logo a fazer alguma coisa”, profetizou. E ele dizia fazer sua parte em relação aos cuidados com o meio ambiente: “Procuro sempre comprar coisas mais saudáveis, que não gerem dejetos agressivos à natureza. Na verdade, os cuidados que tomo não são muitos. Quando eu e minha mulher vamos ao supermercado, eles nos perguntam se queremos sacolas de papel ou de plástico. Sempre pego as de papel, pois o papel é reciclável”.

De modo geral, havia declarações políticas por todo o álbum: Architecture of Aggression, por exemplo, é sobre a Guerra do Golfo e Saddam Husseim; Skin O My Teeth aborda o vício de Mustaine, bem com Sweating Bullets, onde ele fala de paranoia e de sua batalha com seu eu interior; Ashes in Your Mouth e Symphony of Destruction relatam os efeitos da guerra; Mustaine, que sempre criticou a política militar internacional, deu sua visão de mundo naqueles dias: “Acho que as pessoas estão tendo mais consciência das coisas, vendo que essa corrida armamentista não leva a nada, é só mais uma maneira de acabar com o mundo. Acho que a tendência é de se lutar para diminuir isso, mas vai ser difícil, pois há muitos interesses financeiros envolvidos”.

Clipe de Symphony of Destruction, single de maior sucesso do álbum se tornou um dos maiores hits da história do Megadeth:

Uma música bastante curiosa é Captive Honour, que trata da brutalidade nas prisões. Há um ‘breakdown’ nessa composição, com ‘spoken words’ simulando um julgamento em um tribunal. Várias vozes surgem nessa parte. Elas pertencem à Jeff Jampol (Presidente do júri), Mark Parra (juiz), ao próprio Nick Menza, que interpreta o condenado, e Raymond White, seu colega de cela. E quem são esses convidados em Countdown to Extinction? Jeff Jampol era presidente da Jam Inc. e ex-empresário de bandas como The Doors e Janis Joplin; Mark Parra era o ex-instrutor de artes marciais de Dave Mustaine; E Raymond White era um advogado americano.

Outra letra de destaque é a da emocional Foreclosure of a Dream, que fala sobre o levante econômico nos Estados Unidos. Essa música inclui um famoso pedaço de discurso (“read my lips” – leia meus lábios) do presidente George H. W. Bush. Tal música surgiu da frustração de Ellefson com a ‘Reagonomics’ (política econômica promovida pelo ex-presidente Ronald Reagan, que antecipava medidas que depois seriam chamadas de neoliberais), quando a fazenda de sua família no Minnesota foi embargada judicialmente. Na ocasião, Mustaine emprestou dez mil dólares ao baixista para ajudar a manter a fazenda em pé, o que não ajudou a relação de ambos quando no futuro as coisas ficaram complicadas entre eles. As duas letras mais leves são a de Psychotron, sobre Deathlok, personagem da Marvel Comics, e High Speed Dirt, que fala de paraquedismo.

Countdown to Extintion foi lançado no dia 14 de julho de 1992, contando com apoio absoluto da gravadora Capitol Records, que injetou muito dinheiro, acreditando na força do álbum. Nada menos do que cinco videoclipes foram produzidos e ajudaram a alavancar o sucesso do álbum: Skin O My Teeth, Symphony of Destruction, Foreclosure of a Dream, Sweating Bullets e High Speed Dirt. Os fãs mais old school se assustaram com a sonoridade do álbum. O Megadeth estava se distanciando do thrash metal complexo dos quatro álbuns anteriores e passando a investir em músicas mais diretas, com menos transições e um maior apelo comercial. “Não acho que somos uma banda de thrash metal. Atualmente fazemos um heavy mais pesado, especialmente com nosso novo material, que apresenta muito mais solos de guitarra”, dizia Marty Friedman. De qualquer forma, pela primeira vez na história, um álbum do Megadeth chegava ao 2° lugar da Billboard. Mustaine ficou super empolgado com a notícia assim que recebeu o telefonema, porém segundos depois a frustração bateu quando soube que quem estava no topo era o cantor country Billy Ray Cyrus, com seu álbum Some Gave All.

“Juro por Deus que essa é a principal coisa que me lembro desse verão de 1992: a maior realização do Megadeth sendo derrotada. Achy Breaky Heart (single do álbum de Billy Ray) tocava em todas as partes (sei porque minha esposa adora country) e o disco que gerou esse single infeliz também estava por todas as partes. Some Gave All debutou como número um nas paradas pop e ainda estava lá quando Countdown to Extinction foi lançado um mês e meio depois. Parecia para mim que teria sido suficiente para Billy Ray Cyrus dominar as paradas country, mas o cara tinha obviamente a missão de dominar o mundo da música”, relembrou Mustaine em sua biografia Mustaine – Memórias do Heavy Metal.

Dave Mustaine estava reclamando de barriga cheia, afinal, nunca o Megadeth havia gozado de tanto prestígio e sucesso, e isso ele mesmo assume: “Com Countdown to Extinction, o Megadeth passou de uma banda modinha a uma verdadeira superbanda. O disco vendeu meio milhão de cópias (Disco de Ouro) bem rápido, depois um milhão (Disco de Platina) e continuou vendendo. De repente, éramos influentes num nível que nunca tínhamos conhecido antes. Uma grande turnê foi planejada. A imprensa de rock se ajoelhou perante a banda. Dinheiro estava vindo por todos os lados. Eu tinha a carreira que sempre sonhara e uma família maravilhosa”.

Algo que sempre despertou a curiosidade dos fãs é a arte da capa de Countdown to Extinction, criada pelo artista canadense Hugh Syme (Rush), que mostra um idoso aprisionado, sem roupas e agonizando. Mustaine, que deu liberdade para Syme desenvolver a arte da maneira que quisesse, explicou: “É apenas a visão de um artista de como será o sobrevivente de um desastre na Terra. Eu nem sei quem ele é!”. Na época, muitos comparavam o senhor que aparece na capa, com o do clipe de The Unforgiven do Metallica, porém Mustaine tratou de desmistificar qualquer tipo de concorrência: “Não existe nenhum tipo de competição, mesmo porque o Metallica e o Megadeth são bandas totalmente diferentes”.

Com Countdown to Extinction, o Megadeth atingia naquele momento o ápice de sua carreira. A crítica se ajoelhou perante a banda, como dito pelo próprio Mustaine. Segundo a revista Spin descreveu, Countdown… “é apenas o melhor álbum de thrash metal já feito, embora os puristas possam achá-lo um pouco polido e fácil de engolir”. O Reflex elogiou a sonoridade definindo-a como “impressionantemente limpa, aerodinâmica e afiada, repleta de riffs matadores”, além de elogiar o polêmico vocal de Mustaine, dizendo que ele “nunca pareceu mais confiante, verbal e vocalmente”. Em 2017, a revista Rolling Stone classificou o álbum em 33° na lista dos “100 Maiores Álbuns de Metal de Todos os Tempos”

Em 1993, Countdown to Extinction foi nomeado para “Melhor Performance de Metal” do Grammy Awards. A faixa título ganhou o Humane Society’s Genesis Award pela sensibilização quanto às questões dos direitos dos animais. Em 2012, o Megadeth tocou Countdown to Extinction na íntegra em uma turnê comemorativa de 20 anos do lançamento do álbum. No ano seguinte, a banda lançou o CD, DVD e Blu-Ray Countdown to Extinction: Live. Perguntado sobre se Countdown to Extinctiou venceu o teste do tempo, Mustaine disse: “Acho que é oportuno e atemporal ao mesmo tempo, e penso que essa é uma das coisas mais difíceis para um músico”. Se a tarefa de atingir o nível de álbuns como Peace Sells… But Who’s Buying? e Rust in Peace parecia difícil, o Megadeth a tirou de letra e com Countdown to Extinction garantiu mais um clássico para a história do heavy metal.

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