São Paulo recebeu o aguardado projeto “Metal Voices”, que também passou por outras cidades sul-americanas, no último domingo (25). Infelizmente, devido a questões burocráticas em relação ao visto de trabalho, o vocalista norte-americano Rob Rock não pôde se apresentar no palco do Manifesto Bar. Por outro lado, a ex ‘frontwoman’ do Chastain, Leather Leone, que já havia visitado o Brasil em 2014, estava de volta, junto com Tim “Ripper” Owens (Charred Walls Of The Damned, ex-Judas Priest, Iced Earth, Yngwie Malmsteen, Hail! Beyond Fear e Winter’s Bane), que sempre passa pelo nosso país.
Quem ficou incumbido de abrir a noite foi o desconhecido e novato grupo italiano Siska – que, aliás, muitos não entenderam o motivo de sua escalação. Oriundo da cidade de Vicenza, o power trio formado por Thomas Libero (vocal e baixo), Mattia Siska (guitarra) e Cristiano Dal Cortivo (bateria) subiu ao palco às 19h45, apresentando um Hard’n’Heavy simples e bastante sem sal. O simpático e comunicativo Libero até mostrava linhas vocais interessantes, inclusive em certos refrãos, como o de “My Own Cage”, mas o problema era que, além de as músicas não serem muito cativantes, a banda mostrava não estar tão entrosada, já que, principalmente na finalização de algumas delas, cometia escorregadas.
Outra questão negativa era o fato de que, apesar da boa performance em cena, o guitarrista Mattia Siska despejava riffs e solos muito exagerados, algo que lembrou bastante o Nitro, grupo do vocalista e ex-marido de Lita Ford, Jim Gillette, e também do excêntrico guitarrista Michael Angelo Batio, que eram campões em exageros. No fim das contas, em trinta e cinco minutos de set, que foi encerrado com uma versão para a clássica “Rockin’ In The Free World” (Neil Young), o Siska conquistou grande parte do público mais pela questão do carisma do que pelo som, propriamente dito. Ao final, os jovens e animados integrantes conversaram com a ROADIE CREW, nos presentearam com uma cópia de “Dreams And Resurrections” – material não oficial em edição feita apenas para a América do Sul e que reúne todas as suas músicas, já que ainda não lançaram o ‘debut’ – e eles nos falaram que amaram tudo sobre o Brasil – exceto o nosso café.
A vocalista americana Leather Leone entrou em ação logo após o set dos italianos. Sem muita conversa e com a energia de uma adolescente, a veterana iniciou o show com “Ruler Of The Wasteland”, faixa título de um disco do Chastain lançado há trinta anos. Emendando com “Paradise”, Leather e os músicos brasileiros Daemon Ross (guitarra, Mistrust, ex-Imago Mortis, Painside, Prophecy), Thiago Velasquez (baixo, Lionheart, Painside, Statik Majik, Paul Di’Anno) e Braulio Drumond (bateria, Avec Tristesse, Incognosci, ex-Syren, Unearthly), que a acompanharam nesta turnê sul-americana, esbanjaram vigor em uma performance tipicamente Metal – com muito ‘headbanging’. A vocalista, que sempre se inspirou no saudoso Ronnie James Dio, tem uma voz potente. Não perdeu o tom em nenhum momento do show, que seguiu com a recente “We Bleed Metal”, sem antes Leather saudar Ronnie James Dio e até apontar para um quadro gigante exposto na “galeria dos imortais” do Manifesto Bar com um desenho de Dio e Lemmy.
Revivendo mais momentos da carreira com o Chastain, vieram “Chains Of Love”, do álbum “The Voice Of The Cult” (1988); “Black Knight”, que abre o disco de estreia, “Mystery Of Illusion” (1985); e “Angel Of Mercy”, mais uma de “Ruler Of The Wasteland” e em que Leather expôs bem toda a sua técnica e versatilidade vocal. Após apresentar os músicos de apoio, que tocaram o tempo todo agitando muito, Leone até questionou os presentes perguntando se os fãs tinham algum pedido de música. Como a gritaria foi geral, ela seguiu com “Evil Awaits Us” e “I Am Sin”, que integram o álbum “Surrender To No One” (Chastain, 2013).
Então veio a faixa-título do disco solo de Leone, “Shock Waves” (1989), música composta por Mark ‘the Shark’ Shelton, vocalista e guitarrista do Manilla Road. A parte final do set se iniciou com a recente “All Hail The King”, primeira música divulgada de “We Bleed Metal” (2015), e “All Your Neon”, outra do disco solo e composta em co-autoria com Pat O’Brien (Cannibal Corpse). O encerramento veio com “For Those Who Dare”, faixa-título do álbum homônimo de 1990; a acelerada “The Voice Of The Cult”; do álbum de 1988; e a pesada “The 7th Of Never”, do disco de mesmo nome lançado pelo Chastain em 1987. “Se o Metal está no sangue, invariavelmente ele nos unirá de alguma forma”, afirmou Leather certa vez à ROADIE CREW. De fato, seus fãs têm o Metal correndo nas veias e muitos deles foram atendidos pela vocalista após o show. Com simpatia, ela permaneceu um bom tempo no andar inferior do Manifesto distribuindo autógrafos e tirando fotos.
A atração principal era mesmo Tim “Ripper” Owens e ele pegou muita gente de surpresa quando entrou no palco acompanhado apenas do guitarrista brasileiro Kiko Shred, que estava sentado empunhando um violão. Grande parte do público não sabia que a primeira parte do set seria acústica – muitos ficaram descontentes com isso e até acabaram saindo do Manifesto antes da coisa pegar fogo. A abertura se deu com uma dobradinha do Judas Priest, a primeira delas sendo “Metal Gods” – imortalizada na voz de Rob Halford, mas que sempre caiu muito bem na de Owens – e a segunda, “Hell Is Home”, do álbum “Demolition” (2001). Ao final da primeira, o vocalista reclamou do ‘delay’ que estava ouvindo de sua voz e sem saber como traduzir isso para o português, pediu que a plateia avisasse o técnico de som para que o problema do “atraso” no retorno fosse corrigido.
Mais Judas veio na sequência, ou melhor, dois covers – “Diamonds And Rust” e “Green-Manalishi (With The Two Prong Crown)” –, que ficaram famosos através da banda britânica, mas que, originalmente, foram gravados por Joan Baez e Fleetwood Mac, respectivamente. Com o mesmo carisma de sempre, “Ripper” Owens ia falando com o público nos intervalos das músicas e provando a cada execução acústica o “tamanho” de sua voz. De seu álbum solo, “Play The Game” (2009), que na época contou com vários convidados de peso, o vocalista mandou “To Live Again”, antecedendo a balada “When The Eagle Cries”, que foi a única de seus tempos de Iced Earth (gravada em 2004 no álbum “Glorious Burden”) que ele tocou. A dobradinha final dessa primeira parte do set veio com o hino “United” (Judas Priest) e “Rainbow In The Dark”, que homenageou o baixinho Ronnie James Dio – para a alegria de Leather Leone, que curtia o show no camarote.
Rapidamente, os outros músicos brasileiros que completavam a banda de apoio de Owens e que já havia lhe acompanhado por aqui em 2015, ou seja, Vulcano (guitarra, Hellish War), Will Costa (baixo, The Goths e Higher) e Lucas Tagliarini Miranda (bateria, Slippery), entraram mandando ver pesado com uma trinca do Judas Priest com nada menos que “Painkiller”, “Burn In Hell” (de “Jugulator”) e “Breaking The Law”. Esse começo foi de tirar o fôlego, menos o de Owens! Para quem estava sentindo falta de algo do homônimo álbum que ele gravou em 2006 com o Beyond Fear, foi tocada “Save Me”, antes de o vocalista “incendiar” o Manifesto Bar com “War Pigs” (Black Sabbath).
Após “Electric Eye”, outro dos grandes clássicos do Judas com Halford, foi a vez de o ‘frontman’ assumir a guitarra de Kiko Shred, arriscar “Highway To Hell” (AC/DC), mas seguir em frente com o instrumento mesmo apenas em “Living After Midnight” (Judas Priest), em que cantou, fez os riffs junto com Vulcano e se virou no solo. Próximo do final do show, Owens comentou que a próxima, “One On One”, era uma das preferidas dele em “Demolition”. O cover de “Territory” do Sepultura surpreendeu e deu números finais a mais uma apresentação de Tim “Ripper” Owens na terra da garoa. Foi interessante ouvir sua voz de maneira mais clara na parte acústica do show, mas não tem como não sentir falta de ouvir clássicos como “Metal Gods” e “United” sendo tocados da maneira que todos gostam: plugados na tomada e com os amplis roncando!
TIM “RIPPER” OWENS – Setlist:
(Set acústico)
Metal Gods (Judas Priest)
Hell Is Home (Judas Priest)
Diamonds And Rust (Joan Baez)
Green-Manalishi (With The Two Prong Crown) (Fleetwood Mac)
To Live Again
When The Eagle Cries (Iced Earth)
United (Judas Priest)
Rainbow In The Dark (Dio)
(Set elétrico)
Painkiller (Judas Priest)
Burn In Hell (Judas Priest)
Breaking The Law (Judas Priest)
Save Me (Beyond Fear)
War Pigs (Black Sabbath)
The Hellion / Electric-Eye (Judas Priest)
Living After Midnight (Judas Priest)
One On One (Judas Priest)
Territory (Sepultura)
LEATHER LEONE – Setlist:
Ruler Of The Wasteland (Chastain)
Paradise (Chastain)
We Bleed Metal (Chastain)
Chains Of Love (Chastain)
Black Knight (Chastain)
Angel Of Mercy (Chastain)
Evil Awaits Us (Chastain)
I Am Sin (Chastain)
Shockwaves
All Hail The King (Chastain)
All Your Neon
For Those Who Dare (Chastain)
The Voice Of The Cult (Chastain)
The 7th Of Never (Chastain)
Nothing Left To Say
Waiting Now
No One
Sally
My Own Cage
Heart Of Gold
Rockin’ In The Free World (Neil Young)