MONSTERS OF ROCK: JUDAS PRIEST

19 de abril de 2025 - Allianz Parque, São Paulo (SP)

 

Por Leandro Nogueira Coppi

Fotos: Andre Santos

Para muita gente, embora o Judas Priest tenha sido escalado como coheadliner da edição de 30 anos do Monsters of Rock, a banda era, na prática, o nome mais aguardado do festival. Aliás, o grupo britânico, que considero a verdadeira personificação do heavy metal, já há bastante tempo é presença constante nos festivais realizados no Brasil. Essa história começou em 1991, com a estreia do Judas no país durante a segunda edição do “Rock in Rio”, pela turnê do álbum Painkiller. Desde então, já participou do “Solid Rock”, do “Knotfest Brasil”, do “Arena Rock” e também do próprio “Monsters of Rock”, onde tocou pela primeira vez há dez anos.

Cada passagem marcou não apenas a consolidação do Judas Priest como um dos nomes mais respeitados entre os fãs brasileiros de música pesada, mas também reforçou a sensação de proximidade entre a banda e o público daqui. A edição de 2025 do festival não foi exceção: mais do que um show, o que se viu no Allianz Parque foi uma celebração de décadas de história compartilhada.

A última visita do Judas Priest ao Brasil aconteceu em 2022, durante a turnê que comemorava os 50 anos de carreira da banda. Depois disso, o grupo lançou Invincible Shield (2024), um álbum tão visceral quanto seu antecessor, Firepower, de 2018. Falando por mim, a expectativa para ouvir ao vivo algumas músicas desse novo trabalho era grande – ainda mais ao ver a enorme bandeira que surgiu no centro do palco, exibindo os títulos das faixas do álbum. Nós, que estávamos na sala de imprensa, e aqueles que tinham ido buscar algo para beber, comer ou ido ao banheiro, fomos surpreendidos 15 minutos antes do horário anunciado para o show do Judas Priest. Quando a introdução começou a rolar, tivemos que nos apressar para não perdermos o início do show.

Após a clássica War Pigs dos compatriotas do Black Sabbath tocar no som mecânico e incendiar o público, a intro que abre Invincible Shield começou a soar. Em seguida, a bandeira caiu, revelando Rob Halford, Richie Faulkner, Andy Sneap e Ian Hill “amontoados” à frente do práticavel da bateria de Scott Travis, já executando Panic Attack, faixa de abertura do novo disco. Em poucos segundos, a linha de frente da banda se espalhou pelo palco, enquanto Halford – vestido com um sobretudo totalmente prateado e usando óculos modelo aviador – roubava todas as atenções.

Desde o início, pelo menos de onde eu estava, aquele parecia ser o show com a melhor qualidade de som do festival. O baixo de Ian Hill, que normalmente soa mais discreto, estava roncando de forma poderosa, evidenciando a cozinha sólida que ele forma há décadas com o “trator” Scott Travis. A iluminação também estava muito bonita, um espetáculo à parte. Sem perder tempo, ao final de Panic Attack, o Judas emendou o primeiro clássico da noite, You’ve Got Another Thing Comin’, com Halford já sem óculos e agora usando uma jaqueta com adereços ao invés do sobretudo metálico.

Depois disso, foi de arrepiar ver Rob Halford caminhando imponente pela rampa, com sua imagem projetada em close no telão. Bastou ele avançar em silêncio para ser ovacionado por todo o Allianz Parque. De lá, ele perguntou se todos estavam bem e anunciou a veloz – como o título sugere – Rapid Fire. Também do clássico British Steel, álbum que em 2025 completa 45 anos, o público foi arrebatado por um dos maiores hinos do heavy metal: Breaking the Law. Sem dar trégua, o Judas Priest manteve o ritmo intenso e emendou outra pedrada das antigas: Riding on the Wind, retirada de outra pérola do seu catálogo, o álbum Screaming For Vengeance, de 1982.

Na sequência, foi de gelar a espinha quando, no som mecânico, começou uma introdução de teclado que a maioria reconheceu de imediato: era Love Bites. Porém uma das músicas que mais curti no show foi Devil’s Child, também de Screaming For Vengeance. Nessa que tem uma pegada bem AC/DC, Halford soltou seus agudos sem dó.

Aos 73 anos, Rob Halford – um dos vocalistas mais queridos pela comunidade headbanger no planeta -, continua cantando muito bem. Claro que sua voz já não tem a mesma força de antigamente, mas a experiência faz com que ele saiba remodelar as notas e extensões que ele sente que não irá alcançar ao vivo. Ainda assim, em vários momentos, se sai muito bem ao arriscar seus famosos agudos, como foi o caso em Devil’s Child.

Outra das novas que apareceu no setlist foi Crown of Horns, e, nela, o som da caixa de Scott Travis estava tão alto no início que parecia explodir. Aproveitando a deixa, Richie Faulkner – já completamente recuperado da cirurgia cardíaca de emergência a que precisou se submeter depois de passar mal em um show do Judas Priest em 26 de setembro de 2021 -, brilhou no solo dessa música, assim como em várias outras.

Não é à toa que, recentemente, Ian Hill afirmou que o guitarrista é a razão de o Judas Priest ainda estar ativo. Enquanto o agora cabeludo Andy Sneap, conhecido como um produtor de alto nível (ele assina, inclusive, os últimos trabalhos do Judas nessa função), mantém uma postura mais discreta no palco, embora já bastante adaptado à banda, Faulkner brilha nos solos e esbanja presença de palco e carisma com o público. Mesmo ele sendo bem mais jovem do que Halford e Hill, Faulkner parece estar há décadas no Priest. De modo geral, ele e Sneap entregam um trabalho louvável ao vivo, com a graça de não sofrerem pressão por substituir os lendários Glenn Tipton (que ainda trabalha com a banda nos bastidores, mesmo sofrendo de Mal de Parkinson) e K.K. Downing.

Em Sinner, a chuva apertou sobre o público, mas, felizmente, não afetou a performance da banda nem a qualidade do som. Uma das mais empolgantes ao vivo veio na sequência: Turbo Lover. Curioso como essa música, assim como o álbum Turbo (1986), passou pelo teste do tempo. Na época, muitos fãs do Judas Priest torceram o nariz tanto para a faixa quanto para o disco, que foi criticado pelo excesso de sintetizadores e pela estética comercial. Hoje em dia, porém, é comum encontrar pessoas que se declaram fãs desse trabalho – em tempo: a ideia inicial para Turbo era que ele fosse um álbum duplo, chamado Twin Turbos.

Depois dessa, Rob Halford disse ao público paulistano que a banda sentiu saudades e ressaltou: “O Judas Priest está fazendo heavy metal por 50 anos!” (Na verdade, 56, considerando que o grupo foi fundado em 1969). Ele também destacou que eles não poderiam ter essa vida sem os fãs: “Vocês nos deram essa vida no heavy metal”. E agradeceu: “Obrigado por essa bonita comunidade no heavy metal, São Paulo, Brasil!”. Na sequência, lembrou: “São muitos álbuns, de Rocka Rolla a Invincible Shield”. Esse foi o gancho para a banda apresentar a faixa-título de seu mais recente álbum.

Dando prosseguimento, Faulkner e Sneap fizeram aquela clássica introdução de guitarras gêmeas que, com apenas uma palhetada, já deixa claro: Victim of Changes. A faixa é do Sad Wings of Desnity, segundo álbum de estúdio do Judas Priest, lançado em 1976 – um disco que mudou para sempre a vida de um jovem chamado Dave Mustaine, que, inspirado por ele, decidiu seguir o caminho de tocar guitarra em uma banda de heavy metal. O resto é história… 

Depois disso, à maneira de Freddie Mercury, Rob Halford incitou o público a participar de um momento de call and response – mas, sejamos honestos? Foi bem chato. Aliás, é raro esse tipo de interação realmente ficar legal num show. Felizmente, logo em seguida a banda mandou o cover de Green Manalishi (with the Two Prong Crown).

Na sequência, Scott Travis pegou seu microfone para agradecer ao público pela recepção calorosa e perguntou o que todos gostariam de ouvir. Claro, se era ele quem perguntava, a resposta só poderia ser uma. Todos queriam ouvir aquela música para a qual Travis criou uma das introduções de bateria mais insanas, famosas e cativantes da história do heavy metal, a faixa que remete ao seu primeiro álbum com o Judas Priest e que marcou uma virada para a banda baseada em um som ainda mais pesado: Painkiller.

Por alguns instantes, a banda desapareceu do palco, mas logo a cruz em forma de diapasão do Judas Priest desceu e o quinteto retornou para o bis, que começou com Hellion/The Electric Eye, de Screaming For Vengeance. Após essa, foi Halford quem sumiu do palco, para então fazer seu conhecido retorno triunfante, com quepe na cabeça e chicote na boca, montado em uma poderosa e deliciosamente barulhenta Harley Davidson. Era hora de Hell Bent for Leather!

Na despedida, Rob Halford apareceu com seu sobretudo jeans, forrado de patches de muitas bandas de metal – algo que fazia a gente olhar com atenção para o telão, tentando identificar todos os logos bordados na sua vestimenta. O show se encerrou com o rock and roll de Living After Midnight, e foi uma festa à parte: todo mundo cantou em alto e bom som. Ao final, Halford, Hill, Travis, Faulkner e Sneap se dirigiram até a rampa para se despedir do público. Jogaram baquetas e palhetas e se retiraram, enquanto o telão cravava: “The Priest will be back”. Cruzemos os dedos, porque nunca é demais assistir a um show desse verdadeiro monstro do rock!

O que dizer? Embora não tenha havido nenhuma menção a Les Binks, ex-baterista do Judas Priest que faleceu dias antes do show no Monsters of Rock, mais uma vez presenciamos um show épico do grupo. Felizmente, apesar da idade avançada de alguns de seus integrantes, a energia e vitalidade da banda em São Paulo demonstraram que eles ainda têm muito a oferecer aos fãs. Para quem já está ansioso pelo próximo capítulo dessa história, o Priest está preparando um novo álbum de estúdio, previsto para 2026, prometendo mais uma dose do metal pesado que os consagrou ao longo de mais de cinco décadas. 

Judas Priest setlist:
Panic Attack
You’ve Got Another Thing Comin’
Rapid Fire
Breaking the Law
Riding on the Wind
Love Bites
Devil’s Child
Crown of Horns
Sinner
Turbo Lover
Invincible Shield
Victim of Changes (Tipton)
The Green Manalishi (with the Two Prong Crown)
Painkiller

Bis:
The Hellion
Electric Eye
Hell Bent For Leather
Living After Midnight

 

Confira a cobertura dos outros shows do Monsters of Rock

Scorpions | Europe | Savatage (em breve) | Queensrÿche (em breve) | Opeth (em breve) | Stratovarius 

 

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