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MONSTERS OF ROCK

Festival é antes de tudo uma celebração. Não é apenas um show (ou vários), mas uma oportunidade de participar de um evento que transcende uma simples apresentação musical. E nesse sentido (e nos demais, também), o festival “Monsters Of Rock”, realizado em São Paulo no último final de semana de abril, cumpriu plenamente seu papel. Na edição de junho da ROADIE CREW você confere a cobertura completa e detalhada do festival, mas damos aqui uma adiantada no que de melhor aconteceu nesses dois dias de celebração ao Rock e ao Metal.

Sábado

Coube ao De La Tierra dar início aos trabalhos, sob o sol inclemente do outono paulistano. Ainda com um público reduzido, a nova banda de Andreas Kisser. Contando ainda com os argentinos Andrés Giménez (vocal e guitarra, ex-A.N.I.M.A.L.) e Sr. Flavio (baixo, Los Fabulosos Cadillacs), além do excelente baterista mexicano Alejandro González (Maná), a banda não precisou de muito esforço para conquistar a galera, principalmente quando Andreas assumiu o microfone para interpretar “Polícia”, dos Titãs.

Na sequência, um dos momentos mais esperados do festival. O Primal Fear faria sua estreia em terras brasileiras com seu novo baterista, Aquiles Priester. O volume do som da batera já indicava quem seria o destaque da tarde e ninguém saiu de lá decepcionado. Aquiles botou o som da banda “pra frente”, que fez um show correto – apesar da insistência de Ralf Scheepers em alcançar alguns agudos impossíveis para ele.

O momento mais desanimado do festival veio a seguir com o Nu Metal do Coal Chamber. Pouca gente se animou com o som cheio de detalhes eletrônicos da banda e rolou aquele momento de “compra uma cerveja-faz xixi-consulta o celular”.

Do inferno ao céu – ou o contrário, sem preferirem. Quem veio a seguir foi uma das revelações dos últimos anos, o Rival Sons confirmou sua competência para quem já o conhecia e impressionou quem ouvia a banda pela primeira vez. O som setentista da banda teve como destaques absolutos a competência vocal de Jay Buchanan e o bom gosto nos timbres e solos de Scott Holliday. Uma banda que veio para ficar.

E aí fomos de novo do céu ao inferno – ou o contrário… O Black Veil Brideschegou repleto de expectativa, mas decepcionou. O som Glam com vocal gutural não agradou a galera, especialmente a galera que estava no “gargarejo”, esperando o Motörhead. Foi o que bastou para começarem a rolar alguns xingamentos e o vocalista Andy Biersack ter a genial ideia de devolver os insultos e começar a bater boca com a galera. Foi o suficiente para o que restava de clima ir por água a baixo, fazendo a banda até abandonar o palco por alguns minutos. Nada como jogar no lixo a chance de sair por cima, não é mesmo?

A grande frustração do “Monsters Of Rock” estava reservada para o momento seguinte. Quando todo mundo esperava ansioso por Lemmy e seu Motörhead (a “enquete das camisetas” presentes colocava a banda atrás apenas de Ozzy), um representante da produção subiu ao palco para avisar que Lemmy havia passado mal e não poderia se apresentar. E anunciou uma jam entre os dois outros músicos do grupo (o guitarrista Phil Campbell e o baterista Mikkey Dee) com a galera do Sepultura – Andreas, Derrick Green (vocal) e Paulo Jr. (baixo). Foram só três músicas – “Orgasmatron” (que o Sepultura já havia gravado em “Arise”, de 1991), “Ace Of Spades” e “Overkill”, além de uma jam comandada pelo excepcional Mikkey Dee. Aliás, essa foi a noite dos grandes bateristas. Alejandro, Aquiles, Mikkey e Tommy Cufletos (Ozzy), que ainda tocaria, mostraram com quantas baquetadas se impulsiona uma banda de Rock.

Mas antes da atração principal era a vez do Judas Priest, única banda a se apresentar nos dois dias do festival e que no sábado, por conta do problema com o Motörhead, faria uma apresentação mais longa do que originalmente previsto. E foi um show pra ninguém botar defeito. Mesmo quem não era fã da banda ficou embasbacado com a competência em cena dos sessentões, especialmente de Rob Halford, que, mesmo se valendo de muito reverb, alcançou agudos inimagináveis e mostrou presença de palco irrepreensível.

Foi a deixa perfeita para a grande atração da noite: Ozzy Osbourne. E se o guitarrista Gus G. fez sentir saudades de Zakk Wylde por sua postura e pegadas burocráticas, o resto da banda – Blasko (baixo), Adam Wakeman (teclado) e Cufletos (bateria) – mostrou competência de sobra. Ozzy, todo mundo sabe, não é mais o mesmo. De fôlego até que ele está bem, mas desafinou além do esperado (dizem que está com perda auditiva severa, o que explicaria isso). Mas… quem liga? O cara é antes de tudo um ‘entertainer” e foi assim que se postou o tempo todo. Dividindo repertório entre hits de sua carreira solo e do Black Sabbath, Ozzy parecia criança no parque de diversões com uma mangueira que jogava água e espuma na galera. Foi um final digno para uma maratona que chegava à sua metade.

Domingo

O sol continuava trabalhando a plena carga quando o Dr. Pheabes, primeira banda do domingo e única brasileira do cast, entrou em cena. Trata-se de um grupo competente e que fez um show comum. Destaque para a dançarina de ‘pole dance’ que a banda levou ao palco e que se apresentou num poste que ameaçava cair a qualquer momento.

Quem estava a fim de dar boas risadas, satisfez-se a seguir. O Steel Panther, com suas letras irônicas, piadas cênicas e muitos palavrões em português, fez um dos melhores shows do festival, com direito a garotas pinçadas da plateia para “pagar peitinho” no palco.

Da piada para a seriedade. Yngwie Malmsteen entrou em cena na sequência para fazer aquilo que se espera dele: mostrar toda a apuradíssima técnica que o consagrou. Mesclando temas instrumentais e com vocal (divididos entre ele e o tecladista Nick Marino), Malmsteen fez a alegria de seus fãs, encerrando com Purple Haze, de um de seus ídolos, Jimi Hendrix.

Foi muito saudada a entrada em cena do Unisonic. Com a galera gritando a todo momento o nome do vocalista Michael Kiske, a banda não decepcionou, mostrando com extrema competência músicas de seus dois discos. Kiske, alcançando agudos impossíveis, e Kai Hansen (guitarra) saíram de cena ovacionados.

E se o negócio era “Rock pra valer”, o Accept deu continuidade ao festival com grande dignidade. A trupe comandada pelo guitarrista Wolf Hoffmann entrou em cena sem outra preocupação a não ser a de mostrar o Heavy Metal que a consagrou. Mark Tornillo caiu tão bem nos vocais que muita gente nem se lembra que ele substituiu alguém como Udo Dirkschneider e a banda continua entregando aquele som direto e muito bem trabalhado de sempre – temperado pelos solos cortantes e certeiros de Hoffmann.

Já o Manowar pode ser acusado de tudo, menos de decepcionar os fãs. Os caras fizeram em cena tudo o que têm direito, incluindo discurso irado em português bem decorado de Joey DeMaio e cordas de baixo sendo arrebentadas no final do show (cordas naturalmente preparadas, já que ninguém quebra uma corda de baixo com as mãos). Entre uma presepada e outra, houve espaço para um bom repertório, que destacou a segurança e o alcance do vocalista Eric Adams.

A volta do Judas Priest, dessa vez com um show mais curto que o da véspera, mostrou que o peso das apresentações afetou Halford, que se mostrou com fôlego bem reduzido. Mesmo assim, a banda não deixou por menos e fez a festa dos fãs mais uma vez.

Coube ao Kiss a honra de fechar a maratona. E foi o espetáculo de sempre. Repertório recheado de clássicos, voos de Gene e Paul, muitos gritos de “São Paulo, you are the number one!”, sangue e fogo sendo cuspidos e pirotecnias em profusão marcaram a apresentação da banda, que num palco consegue levar até um cadáver ao delírio. Pena que a voz de Paul ficou em algum lugar dos últimos dez anos. Ele até tentou se virar passando algumas linhas mais altas para o batera Eric Singer, mas quando não tinha jeito, como em “Love Gun” e, principalmente, “I Was Made For Loving You”, ficou claro que ele não é nem sombra do excelente cantor que um dia foi. Sorte que a galera pareceu não se importar muito e cantou/agitou/dançou durante todo o show.

No geral, o balanço da edição 2015 do “Monsters Of Rock” foi mais que positivo. Muita coisa ainda pode melhorar em termos de infraestrutura, por exemplo, mas a pontualidade seguida à risca praticamente até o final e, sobretudo, a qualidade das atrações musicais acabaram fazendo desse um evento memorável.

Não perca a cobertura completa na edição de junho da revista ROADIE CREW.

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