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MORTTICIA: HEAVY METAL TRADICIONAL, NARRATIVAS ATUAIS

Foto: Wargods Press
Por Thiago Prata

 

Há dois anos, a banda gaúcha Mortticia lançava o EP A Light in the Black (2020), fruto da dedicação e da evolução acumuladas em uma década de estrada, até então, e que reproduz seis ótimas músicas de heavy metal. Agora, o grupo formado em Alegrete e radicado em Porto Alegre visa novas conquistas nos cenários nacional e internacional. Contando com Lucas Fialho Zawacki (vocal), Vicente Telles e Lúcio Brenner (guitarras), Guilherme Wiersbicki (baixo) e Anderson Dias (bateria) em sua formação, a banda está em processo de composição de novo material, enquanto segue divulgando o mais recente trabalho. Confira mais nesta entrevista com Lucas e Guilherme.

 

Dois anos separam o EP Existence/Resistance de A Light in the Black. Qual o maior aprendizado durante esse período e o que foi feito de diferente para o resultado final presente no play mais recente?

Guilherme Wiersbicki: Nós buscamos em ALITB uma produção mais profissional; o trabalho de pré-produção foi intenso. Ficamos muito tempo no estúdio passando várias vezes os takes, fizemos uma de pós-produção legal com as mixagens, e tudo isso elevou o nível das músicas para um patamar muito melhor do que nós tínhamos conseguido fazer na demo.

 

Falando de Existence/Resistance: ouvindo o registro hoje, qual o sentimento que emana de vocês? Como vocês definiriam esse EP?

Lucas Fialho Zawacki: É um sentimento misto entre nostalgia, porque gostamos muito das canções que ali se encontram, e um descontentamento com a qualidade e falta de experiência que estão apresentadas ali. Gostamos do resultado bruto que está ali, mas a gravação, alguns elementos do arranjo e a performance vocal estão aquém do que achamos possível entregar hoje.

Três faixas dele, Violence, Hear My Words e Life is On (One Flower), ganharam nova roupagem, com uma produção melhor e uma riqueza maior de detalhes que fizeram a diferença. Como se deu a decisão de regravá-las e dar a elas uma dinâmica diferente?

Lucas: Nós sentimos que as canções eram boas demais para não ganharem novas versões, em que seriam executadas e produzidas numa qualidade mais alta. Nós amamos muito essas músicas, e seria triste deixá-las para trás sem uma nova roupagem. Regravá-las nos ajudou a entender o real potencial que elas tinham e achamos que o resultado fala por si só.

 

Um comentário interessante feito no YouTube é de que Life is On lembra Amorphis. Vocês concordam com isso? O Amorphis chega a ser uma influência ou inspiração à Mortticia? E quais seriam suas principais influências?

Lucas: Na realidade não dá para dizer que Amorphis seja uma influência da banda, mas devemos ter influências comuns com eles. Buscamos a base do nosso som naquele heavy metal que se estabeleceu na década de 80 (Iron Maiden, Judas Priest, Queensrÿche, Black Sabbath), mas estamos sempre incorporando influências mais modernas e elementos de rock/metal progressivo. Coisas como mudanças de tempo, sintetizadores, orquestração etc…

 

Ela, inclusive, tem um solo de baixo bem interessante e que combinou muito bem com a proposta desta composição…

Guilherme: Os solos de baixos são uma assinatura da banda, sou influenciado por baixistas como Cliff Burton, Billy Sheehan e até John Entwistle. Eu adoro fazer melodias, usar notas agudas, distorção e inventar solos. Mas essa é uma parte do meu estilo de tocar; a outra está bem centrada na parte rítmica pulsante, que é baseada no Steve Harris e em figuras como Geezer Butler, Duff McKagan, Luís Mariutti e Felipe Andreoli, que tem uma pegada de mão direita fora de série.

 

Hear My Words chama atenção, não apenas pelo instrumental, como pela letra que fala sobre os impactos que um sistema autoritário tem sobre as pessoas, a partir de uma história fictícia. Como é para a banda dissertar sobre este tipo de tema?

Lucas: A maioria das nossas letras busca mesclar uma mensagem de cunho social, filosófico ou político com um conto ou história para que a narrativa ilustre o argumento, seja a moral da história. Em Hear My Words contamos sobre uma insurreição popular fictícia, onde um povo nega a convocação para uma guerra e prefere construir sua própria sociedade alternativa. Quem gosta da narrativa pode ficar com isso, quem consegue pegar a moral por trás leva da letra algo mais.

 

Além dessas três músicas, temos também Limiar, Dialetik e Ocean of Change, que possuem outras nuances. A primeira é um cartão de visitas de alto nível e minha preferida do álbum. Como foi o processo de composição dela? E qual o significado por trás da letra?

Lucas: Limiar é a última que compomos para o EP, e a ideia foi criar uma canção mais direta para ser a abertura. Nós pegamos riffs e letras que já tínhamos e tentamos adicionar o mínimo de partes para deixá-la bem compacta. A letra fala sobre um momento de ruptura para uma pessoa. Ela está frustrada com o vazio da sua vida e com sua visão materialista do mundo. No refrão repete: ‘tudo está à venda’. Em vez de acabar numa nota ruim, a mensagem que passamos é que este é o momento de construir algo novo e dizer: ‘mas eu não estou à venda’.

 

Dialetik é uma curta, mas rica, instrumental de menos de três minutos de duração, e Ocean of Change, com seus quase oito minutos, encerra o álbum. O curioso é que ouvindo essas duas, achei que se completavam, como se fosse uma só. E reouvindo o disco, tive a impressão de que todas as faixas se conectam de alguma forma, como se fosse uma história, mesmo não sendo.

Lucas: Então passamos bem nossa mensagem, é exatamente essa a ideia. Dialektik é uma colagem de vários riffs e instrumentais do álbum, junto com algumas ideias originais que visam criar uma pausa e um resumo do todo antes da faixa final. Ocean of Change representa uma síntese do conteúdo do álbum, falando sobre o acúmulo de movimentos individuais, como gotas, que no limite criam um oceano de mudanças. Se começamos com Limiar, uma ruptura individual, acabamos com Ocean, que representa uma mudança estrutural.

 

Vocês contaram com o auxílio de Iuri Sanson e Renato Osorio, dois ex-membros do Hibria. Qual o grande mérito dessa dupla para o resultado apresentado em A Light in the Black?

Guilherme: Já éramos muito fãs de Hibria, então essa parceria foi especial. O Iuri se envolveu desde a pré-produção e fez um ótimo trabalho junto com o Lucas para refinar as linhas vocais e gravar o melhor resultado possível. O Renato entrou no final, depois que havíamos desistido do produtor anterior. Buscamos ele por conta do seu excelente currículo produzindo bandas locais. Trabalhar com o Renato foi um grande processo de aprendizagem, ele passou um pente fino nas músicas e nos ajudou a melhorar em vários sentidos.

O que a Mortticia está preparando para 2022 e 2023?

Guilherme: Estamos fazendo a divulgação do ALITB, lançamos materiais audiovisuais e queremos lançar novos produtos de merchandising. Fechamos uma parceria com a gravadora Pest Records para a distribuição do CD na Europa e temos cópias também à venda aqui no Brasil. Além disso, estamos lançando uma versão de colecionador em fita K7 do ALITB que vem junto com pôsteres, adesivos e patches. Também estamos produzindo um sucessor do EP. Temos uma lista de composições em diferentes estágios de finalização. Quem gostou dos temas de ALITB com certeza vai curtir o novo EP. Temos feito lives com as bandas amigas e com quem trabalhou conosco no EP para trocar ideias e divulgar nossos trabalhos. Há uma safra de bandas muito boa no Rio Grande do Sul e temos sorte de estar próximos delas. Muita coisa boa tem sido lançada na cena gaúcha, e estamos nos apresentando ao vivo e buscando parcerias com todos esses artistas.

 

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