Por Rodolfo Bragantini
Fotos: Daniel Croce
Como geralmente acontece com atrações escaladas para grandes eventos, três nomes que se apresentaram no Summer Breeze Brasil, em São Paulo, Mr. Big, Sebastian Bach e Dino Jelusick, deram uma esticada e passaram juntas pelo Rio de Janeiro, e tocaram no último dia 28 de abril no Vivo Rio. Assim, os roqueiros que não foram ao festival alemão em São Paulo puderam ter um gostinho do que aconteceu por lá.
Infelizmente, a assessoria do Vivo Rio e a produtora contratante não informou a imprensa que a banda Jelusick, liderada pelo talentosíssimo Dino Jelusick, iria se apresentar. Com isso, muitos repórteres e fotógrafos não chegaram a tempo de assistir ao show da banda solo do vocalista croata.
Pontualmente às 21h, as cortinas se abrem e Sebastian Bach e banda entraram no palco atacando com a música What Do I Got to Lose?. Ainda que esse seja um single recente, boa parte do público já estava com o refrão na ponta da língua. Bach é um dos ícones do hard rock que explodiram no final dos anos 1980 e ele está em carreira solo desde sua saída do Skid Row, ocorrida em 1996. Sua voz já não é a mesma, falta fôlego em parte do show, mas ele segura a onda e leva bem a sua apresentação com carisma, um repertório onde não faltam hits de sua ex-banda e uma tentativa de falar em português. Apesar da pronúncia não muito boa, mesmo lendo a cola escrita em uma folha de papel, em dado momento o público até achou legal e engraçado. Deu até para ouvir algumas risadas quando ele pegou a folha…
Logo após a abertura, Bach e sua banda formada por Brent Woods (guitarra), Clay Eubank (baixo) e Andy Sanesi (bateria), mandaram uma sequência de cinco músicas do Skid Row – Big Guns, Sweet Little Sister, Here I Am, 18 and Life e Piece of Me. Nada mais do que o esperado. Animado, o público cantava acompanhando o frontman, que em alguns momentos das músicas, nas quais cantava em tons mais altos, deixava para os fãs completarem.
Após as canções de sua ex-banda, Bach canta Everybody Bleeds, outra das novas. Logo depois, vem mais uma do Skid Row, Slave to the Grind. Nessa, Bach brinca fazendo a platéia repetir seus ‘vocalizes’ em coro. Nesse momento, algum problema que pareceu ser com o amplificador do guitarrista, fez com que o cantor apresentasse Andy Sanesi, que puxou um solo de bateria. Foi o tempo suficiente para resolver o problema e a banda completa retornar para a programação normal.
Depois de mais duas canções do Skid Row, Sebastian puxa Rio de Janeiro, de Barry White, à capela. Sanesi entra na brincadeira e o cantor brinca com o público, que a cada intervalo gritava “Tião, Tião, Tião”. Logo depois, ele lembra os seus 56 anos e rebatiza a música American Metalhead, do Painmuseum, para Brazilian Metalhead.
A sequência final do show começa com Monkey Business e ainda tem a trilha incidental do clássico Tom Sawyer, do Rush. Depois de executar Wasted Time – também à capela -, em que deixou as partes mais altas para a platéia cantar, Bach anuncia I Remember You. Nessa, ele recordou nomes de músicos que já partiram, como Eddie Van Halen, Taylor Hawkins (Foo Fighters), Joey Ramone (Ramones) e Neil Peart (Rush). Para encerrar, ele e banda tocaram a esperada Youth Gone Wild. Apesar de não ter mais o mesmo fôlego dos tempos de Skid Row, Sebastian Bach usou seu carisma para entregar um bom show ao público do Vivo Rio e deixou a platéia aquecida para o show do Mr. Big.
Chegada a grande hora da entrada do headliner da noite, o Mr. Big entra no palco trazendo a sua turnê de despedida, a “The Big Finish”. Formada pelas lendas Eric Martin (voz), Paul Gilbert (guitarra) e Billy Sheehan, dessa vez a banda veio apoiada pelo baterista Nick D’Virgilio (Big Big Train, Spock’s Beard), que assumiu o lugar de Matt Starr, substituto do original Pat Torpey, falecido em 2018 por complicações causadas pela doença de Parkinson. O show já começou lá em cima, com Addicted to That Rush mostrando o que viria dali em diante, muito virtuosismo da dupla Gilbert e Sheehan, e um hard rock da pesada com ótimas canções. Na sequência vieram Take Cover e Price You Gotta Pay.
A partir da quarta música, Daddy, Brother, Lover, Little Boy (a que Gilbert e Sheehan solam com furadeiras) em diante, a banda executa, na íntegra, o álbum Lean Into It, de 1991. As onze músicas tocadas na sequência encerram com o hit To Be with You, acompanhada em coro pelo público. Aproveitando o clima acústico, o quarteto toca Wild World, sucesso de Cat Stevens, regravado no álbum seguinte do Mr. Big, Bump Ahead, de 1993.
Não poderiam faltar os solos individuais de baixo e de guitarra, afinal de contas, Billy Sheehan e Paul Gilbert figuram entre os melhores da história do rock. E não foi nada muito extenso, foi na medida para não cansar os fãs. Depois do solo de baixo vem, na sequência, Shy Boy, de David Lee Roth, e 30 Days in the Hole, da banda britânica Humble Pie.
O Mr. Big é impecável, bem ensaiado, não erra. Nas palavras de Nuno Bettencourt, guitarrista do Extreme (taí outra banda que precisa retornar logo ao Brasil), “Paul Gilbert é um alienígena, não erra nunca”. Sábias palavras, o cara é bom mesmo, frita na guitarra quando necessário e é melódico com os dedos ou com slide. Isso sem falar do acompanhamento, e ele faz tudo com muito bom gosto. Já Billy Sheehan usa e abusa do seu virtuosismo, faz bends – coisa que não é comum entre os baixistas – e, em parte do show, usa um baixo “double neck” com a precisão de sempre.
Eric Martin é sempre comunicativo, porém atua sem enrolação. Seus vocais ainda estão em dia e muito afinado. Claro, seus 63 anos não permitem um alcance vocal como o de antes, mas ele se adapta muito bem. Martin até brincou reclamando da sua coluna, provocando risadas do público. Quanto ao experiente, Nick D’Virgilio, ele foi firme e seguro na bateria, além de ter ido muito bem nos backing vocais. Além disso, ainda foi bem como guitarrista. Isso aconteceu na tradicional troca de instrumentos, com Eric no baixo, Sheehan no vocal, D’Virgilio na guitarra e Gilbert na bateria, quando tocaram Good Lovin’, do The Olympics. Em particular sobre Gilbert, como se já não bastasse ser um dos melhores guitarristas de rock do planeta, também toca bateria muito bem.
Para encerrar, o clássico da banda The Who, Baba O’ Riley, com Paul Gilbert fazendo a parte dos teclados na guitarra. O Mr. Big entregou um grande show para um público muito caloroso e participativo. Eric Martin não poupou elogios aos fãs, “melhor público de rock’n’roll de todos os tempos”. Público esse que retribuiu o carinho com seus aplausos, gritos e coros acompanhando as músicas. Será que essa é mesmo a turnê de despedida?
Mr. Big – setlist:
1- Addicted to That Rush
2- Take Cover
3- Price You Gotta Pay
4- Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)
5- Alive and Kickin’
6- Green-Tinted Sixties Mind
7- CDFF-Lucky This Time
8- Voodoo Kiss
9- Never Say Never
10- Just Take My Heart
11- My Kinda Woman
12- A Little Too Loose
13- Road to Ruin
14- To Be With You
15- Wild World
16- Solo guitarra
17- Colorado Bulldog
18- Solo baixo
19- Shy Boy
20- 30 Days in the Hole
21- Good Lovin’
22- Baba O’Riley
Sebastian Bach – setlist:
1- What Do I Got to Lose?
2- Big Guns
3- Sweet Little Sister
4- Here I Am
5- 18 and Life
6- Piece of Me
7- Everybody Bleeds
8- Slave to the Grind
9- Rattlesnake Shake
10- The Threat
11- American Metalhead
12- Monkey Business + Tom Sawyer
13- Wasted Time
14- I Remember You
15- Youth Gone Wild
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