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MUTILATOR – Retorno de uma lenda, EP novo em 2019 e biografia em livro

Baixista e um dos fundadores da banda mineira de thrash metal Mutilator, Ricardo Neves recebeu a equipe da Roadie Crew em sua casa em Belo Horizonte para falar sobre o retorno do grupo, após um longo hiato, agora como um quinteto. E o papo rendeu! Entre os assuntos, a nova formação, a regravação de um clássico, a previsão de um novo EP para 2019, além da possibilidade de um livro sobre a história desta instituição que gravou pérolas como Immortal Force (1987) e Into the Strange (1988). Além disso, ele conta sobre sua homenagem ao mestre Lemmy Kilmister.

Em 2018, o Mutilator voltou às atividades e a fazer shows, além de regravar a clássica Nuclear Holocaust, presente na icônica coletânea Warfare Noise (1986). Nos fale como seu deu esse retorno com uma formação reformulada.

Ricardo Neves – O Mutilator tem 32 anos de estrada. E a gente estava parado há um longo período. A banda deixou de existir mais ou menos em 1990. A volta foi motivada pelo Igor Arruda, um amigo que tem um programa na internet chamado E Aí Cara, no qual ele entrevista muitas bandas nacionais ou gringas, como Exodus, Korzus, Ratos de Porão, The Mist, Chakal… Bandas que estão na ativa ou estão paradas. Ele entrevistou meu irmão, o Rodrigo Neves (baterista), e eu, quando o Mutilator ainda estava parado, uns quatro anos atrás. E esta entrevista com o Mutilator teve mais visualizações que muita banda gringa, como Exodus e Destruction. Em 2018, o programa fez quatro anos de existência, e o Igor chegou bem motivado para nos convidar a fazer uma reunião do Mutilator. Aí chamei um grande amigo meu de infância, o Kiko Ianni, que, para mim, é atualmente o melhor guitarrista em Belo Horizonte, o Igor, guitarrista do Ex Machina, e o Rodrigo F., vocalista do Holocausto. Fizemos um show no Mister Rock (casa de show em Belo Horizonte). E, após o show, meu irmão e eu decidimos continuar. O Igor e o Rodrigo F. voltaram para suas bandas. Então, continuamos eu, o Rodrigo (Neves) e o Kiko. Convidamos então o Luiz Sepulchral, do Sepulchral Voice, para a outra guitarra, e conseguimos um vocalista muito foda, o Delei, que foi de uma banda chamada Ignorance para os vocais (formação que regravou Nuclear Holocaust).

De onde veio a ideia de regravar essa histórica faixa?

Ricardo Neves – A gente começou a pensar no repertório para 2019, pois já temos shows agendados. Mas não queríamos passar em branco em 2018, sem gravar alguma coisa. Então gravamos novamente essa faixa que está na Warfare Noise, que, para muitos, é a melhor coletânea de metal de todos os tempos. E a música é clássica, o público metal a curte muito. Demos uma nova roupagem a ela, diferente da versão de 1986. Ficou bem brutal e mantendo a essência do Mutilator.

Realmente, ela tem algo moderno, mas mantendo a aura old school. Qual a receita para isso, de manter o legado e fazer algo moderno?

Ricardo Neves – Trabalhamos muito na introdução dela, nos solos de guitarra e, na música em si, fizemos algumas mudanças. Com alguns arranjos diferentes e dois bons guitarristas, ficou uma roupagem mais moderna, porém, mantendo aquela agressividade das bandas dos anos 80.

A cozinha é a mesma de sempre, com você no baixo e seu irmão Rodrigo na bateria. Nota-se que o entrosamento segue intacto, mesmo após o hiato do Mutilator. Você concorda?

Ricardo Neves – Sim, vem desde sempre. Estou com 49 anos, e o Rodrigo, com 52. Desde menino ouvimos música e começamos a ouvir metal e rock em 1982 mais ou menos. Na época, a gente comprava disco na extinta loja Cotec Discos, que ficava dentro da Escola de Engenharia da UFMG, uma das poucas em Belo Horizonte. E também na Woodstock, em São Paulo, do lendário Walcir (Chalas). Quando eu e Rodrigo éramos meninos, ouvíamos AC/DC, Black Sabbath, Uriah Heep, Saxon, Def Leppard, Iron Maiden, Kiss… Depois veio o Venom, a primeira banda extrema que ouvimos, e a thrash, com Metallica, Voivod, Slayer, Excited… Sempre tivemos o mesmo gosto musical. E montar uma banda juntos era questão de tempo. Tivemos a primeira fase do Mutilator, que foi muito legal, passamos por esse hiato, praticamente 28 anos parado, e estamos de volta.

O que você achou do vocal do Delei em relação à versão clássica de Nuclear Holocaust? Parece mais brutal ao meu ver.

Ricardo Neves – Sim, mais brutal mesmo. E a diferença maior é que o Delei faz um vocal brutal que é bem próximo do Max (Cavalera), o timbre dele lembra muito ao do Max. Nos anos 80, a gente fazia tudo muito na raça. E agora a gente tem um vocal agressivo e com técnica vocal. O Delei chegou a fazer aula de canto. Ele tem agressividade, mas, no ensaio, consegue cantar coisas que não têm nada a ver com vocal gutural. Tem potencial de vocal muito grande.

Como tem sido os ensaios, já pensando nas datas para 2019?

Ricardo Neves – Ensaiamos bastante em 2018. É normal que agora neste mês de dezembro (a entrevista foi realizada em dezembro de 2018) a gente dê uma paradinha, uma descansada necessária. Mas todo mundo está treinando em casa também, e a gente troca ideia WhatsApp. No dia 2 de janeiro (2019) voltaremos aos ensaios. Temos músicas novas também. O Kiko é um grande compositor, tem muita facilidade nisso, é professor de música, tem experiência vasta no flamenco, no jazz e já produziu músicas de muito renome. O Kiko cuida dessa parte de composição. E eu gosto muito de escrever as letras. Temos bastante material. Vamos lançar um EP em 2019, com a ideia bem formatada de cinco músicas novas e a regravação de mais um clássico dos anos 80.

E qual seria esse clássico. Seria do Immortal Force (1987)?

Ricardo Neves – Do Immortal ou da Warfare Noise. Tem músicas legais que foram gravadas em demo tape, como a Believers Of Hell, música que a galera gosta pra caramba. Estamos pensando qual vamos regravar.

O Mutilator então está voltando com força total. Esta decisão de lançar um EP seria um ‘aperitivo’ ou por que realmente é um formato em voga?

Ricardo Neves – Para ser sincero, como eu e Rodrigo começamos a ouvir rock e metal no começo dos anos 80, sempre colecionamos vinil. E era muito comum as bandas lançarem EP. Quando saiu o Maiden Japan (1981), do Iron Maiden, achamos que os EPs iriam pegar no Brasil. Mas só que aqui um EP era lançado com o mesmo preço de um LP. Acabou que outros EPs não foram lançados no Brasil. O EP é bem cultuado na cena metal, muita banda clássica lançou EP, como o Metallica, o Slayer com Haunting the Chapel (1984), o Destruction com Sentence of Death(1984). Pensamos realmente nessa tradição do EP, que é uma coisa muito legal. Hoje, sai muito EP nos EUA e na Europa. Uma coisa bem old school e significativa para a gente.

As cinco novas faixas estão prontas?

Ricardo Neves – Sim, sim. Já vínhamos tocando algo delas nos ensaios. Agora, tiramos essas férias de um mês, mas a partir de janeiro vamos entrar com elas nos ensaios mesmo.

Como está o direcionamento delas? Andamento veloz, paradinhas thrash clássicas…?

Ricardo Neves – Tem isso tudo. Acho que o pessoal vai ter uma surpresa muito agradável. Está muito pesado, muito agressivo, mas mais bem tocado e muito mais bem elaborado do que as faixas dos anos 80. Até porque a gente era jovem demais, havia a falta de experiência, tinha muita coisa feita bem na paixão. Hoje há a preocupação de ser mais profissional, de compor usando metrônomo, por exemplo, tudo bem produzido. Queremos fazer algo bem legal nas pré-produções. Poderíamos gravar quase tudo com qualidade grande na casa do Kiko, por exemplo. Ele tem um home studio. Queremos chegar em janeiro a ponto de as músicas estarem já pré-produzidas.

E teria uma data específica para lançar esse EP?

Ricardo Neves – Não temos ainda. Estamos negociando com selo europeu. Entrei em contato com muitos selos nacionais, que também têm interesse. Se a gente conseguir lançar por um selo nacional seria legal, até para acompanhar mais de perto.

Como você analisa a cena metal em Minas Gerais e no Brasil? E de que forma está inserido o Mutilator?

Ricardo Neves – A cena mudou muito da nossa época até os dias de hoje. Até mesmo pela chegada da internet no Brasil. Vejo muitas pessoas que preferem ficar no conforto de casa e acompanhar tudo pela internet e não vão aos shows. Acho fundamental ir aos shows para fortalecer a cena. Eu acompanho a cena atual, tem muita banda nova legal. Acho que elas seguraram muito bem a bandeira do metal. E por outro lado, fico muito feliz de ver as antigas aí na ativa, como Chakal, o Mutilator voltando, o Overdose voltou, o Witchhammer está na ativa há um bom tempo, o Sagrado Inferno voltou. E muitas bandas nacionais lendárias estão aí também, como MX, o Vodu voltou, No Rio, temos o Taurus, o Azul Limão voltou… Acho que a cena tem muito a crescer, muita banda nova e as dos anos 80 voltando à atividade. É uma cena muito rica.

O que você tem ouvido ultimamente? Alguma coisa acaba te influenciando?

Ricardo Neves – Ouço tudo. Sempre ouço as bandas clássicas, que citei anteriormente. Nunca paro de ouvir AC/DC, Kiss, Sabbath… Mas gosto de coisas como Rush e Dream Theater também. Tenho uma cabeça muito aberta para a música e ouço metal em todas as vertentes.

O que você acha que faltou para o metal mineiro ter ainda mais repercussão do que teve e não ter ficado ‘restrito’ internacionalmente ao Sepultura e também ao Sarcófago e ao Overdose em determinados momentos?

Ricardo Neves – Na minha concepção, acho que todas as bandas daqui são muito legais. Mas tirando as bandas antigas que fizeram turnês mundiais, falando a nível nacional, como Sepultura e Angra, acho que houve uma perda de força nesse sentido no final dos anos 80 e no começo dos anos 90. Muitos colegas pararam com as bandas para trabalhar e estudar, porque a cena não dava um retorno financeiro. Acho que o sucesso de Sepultura e Angra é merecido, eles insistiram e conheceram de perto o profissionalismo mesmo. Os caras são profissionais em todos os âmbitos. Mas com a internet e o acesso a informações, as bandas que voltaram estão mais maduras. Antigamente, a gente ia muito na sorte para tocar no interior de São Paulo ou Brasil afora, sem saber o que iríamos encontrar em questão de aparelhagem etc. Era um tiro no escuro. Hoje, todas as bandas estão voltando com mais profissionalismo e acesso a informações.

Pode surgir um livro sobre o Mutilator, certo?

Ricardo Neves – Tem um cara que é muito fã do Mutilator e se tornou um amigo, o Luiz Flavio, que tem perfil no Instagram chamado MG Metal. Ele gosta muito das bandas mineiras dos anos 80. E a que ele mais curte é o Mutilator. Ele está escrevendo o livro, já veio aqui em casa para colher informações inclusive. Está batalhando muito para finalizar o livro, mas precisa de apoio, aquela coisa toda. A gente espera que ele finalize. Quando ele veio e me apresentou o projeto, achei muito bacana. Chegou a entrevistar o Rodrigo e eu, foi na Cogumelo, na (loja) Túnel do Rock, conversou com pessoas que iam aos nossos ensaios nos anos 80… Está pegando o máximo de depoimento para desenvolver esse trabalho.

Por fim, uma curiosidade, conte-nos a história do nome do seu gato de estimação, o Lemmy.

Ricardo Neves – Sempre fui grande fã de Motörhead. Tenho tattoo em homenagem à banda. Em casa, a gente sempre foi criado rodeado de muito bicho. Nosso contato na infância, porém, era com cachorros. O Rodrigo foi o primeiro que adotou um gato, anos atrás. Fui crescendo também com essa vontade de adotar um gato. Um cunhado do Rodrigo tem um casal de gato, e a fêmea estava grávida. Aí o Rodrigo me perguntou se eu tinha interesse em um gato da cria. Aí escolhi um e o chamei de Lemmy Kilmister. Já tem mais de um ano de idade, é super carinhoso e muito legal (risos).

Muito obrigado pela entrevista, Ricardo. Sucesso sempre!

Ricardo Neves – Muito obrigado a você e ao pessoal da ROADIE CREW. Legal que falamos muito sobre o momento da banda e o futuro, não apenas do passado (risos). Legal demais. Valeu pela força. E esperem que o Mutilator voltou.

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