É natural que quase todas as pessoas quando começam a ouvir música pesada é por referência direta de pesos pesados do estilo como Black Sabbath, Motörhead, Iron Maiden, Slayer e Metallica. Passada essa fase embrionária (ou de empolgação), você começa a definir o seu gosto pessoal e consequentemente descobrindo novas bandas. Porém, há alguns fatores que nos faz remar contra essa maré, como o hábito de ler revistas especializadas e fanzines, que dessa forma acaba abrindo o leque musical e consequentemente, descobrindo novas bandas. Com esse que escreve essas linhas aconteceu mais ou menos isso. Dessa forma, acabei conhecendo a cena Death/Thrash nacional, da qual acabei adotando muitas bandas de cabeceira, como o Genocídio e MX, que se apresentaram nesta sexta-feira de temperatura agradável no SESC Belenzinho.
O evento que faz parte do “Música Extrema”, espaço destinado a bandas de Noise, Death e Grind, contou com um ótimo público que conferiu com muita devoção as duas apresentações. Para quem conhece os eventos do SESC, tem noção de que os horários são seguidos à risca e aqui não foi diferente, quando às 21h35 o Genocídio iniciou seu set. Murillo Leite (guitarra e vocal), Rafael Orsi (guitarra), Wanderley Perna (baixo) e João Gobo (bateria) podem ser chamados de vanguardistas, por terem transformado sua música, que no início de carreira bebia em fontes como Bathory, Venom e Motörhead, para uma sonoridade que transita entre o Death, Doom, Gótico e Metal Tradicional.
Porém, essa apresentação do quarteto foi diferente das últimas que acompanhei. Talvez pelo fato de se apresentarem “em casa” (o grupo é da Zona Leste), estavam com sangue nos olhos e a faca nos dentes, fazendo um show mais visceral, como pudemos conferir em “Kill Brazil” e “Numbness Sunshine”. Mas os fãs que curtem as melodias soturnas praticadas pelo grupo não saíram decepcionados, graças as guitarras hipnotizantes e melancólicas de “Thou Shalt Not Decry”, do ótimo “The Clan”, de 2010. Claro que os clássicos “Uproar”, “The Grave” e “Come to the Sabbath” (Mercyful Fate) não ficaram de fora e apesar de curto, o show agradou os presentes.
Após um curtíssimo intervalo, que pegou muita gente de surpresa, os acordes de “Dead World” ecoavam e o que se via eram muitos correndo para o palco e presenciar a selvageria sonora provocada pelo MX, que atualmente conta com Alexandre Morto (baixo, guitarra e vocal), Décio Jr. (guitarra), Alexandre Dumbo (guitarra, baixo) e Alexandre da Cunha (bateria e vocal). Para este que escreve essas linhas se tratou de algo mágico, pois ainda não tinha visto o som dos caras ao vivo e após ficou a impressão de porque levei mais de duas décadas para realizar esse sonho.
Voltando ao show, o que se ouviu foram petardos de seu mais recente trabalho, “Re-Lapse” (2014), que é composto de regravações dos clássicos “Simoniacal” (1988) e “Mental Slavery” (1989), que saciou o desejo dos fãs. Desejo que era respondido com satisfação, graças as rodas que eram formadas ao som de clássicos como “Mental Slavery”, “Fighting For the Bastards” e o hit dos caras, “Dirty Bitch”. Vale citar que a energia é o jogo de vocais é algo único que mostra momentos que vão além do Thrash, indo para o Death, Hardcore e Crossover.
Porém, a noite ainda reservou um momento especial, com as duas bandas no palco levando “Ace of Spades”. clássico do Motörhead, que com certeza deixaria tio Lemmy satisfeito, mostrando que o seu legado continua vivo pelos cantos desse planeta.
Um evento em que todos fizeram a sua parte, desde a casa que ofereceu toda a estrutura para que as bandas pudessem brilhar, público, que bradou cada música executada e (claro) shows matadores.