A noite fria de um domingo típico de maio parecia propícia a um concerto de Heavy Metal, especialmente pelo caráter do pacote que reuniu MX, The Black Coffins e Hellsakura. O Hangar 110 recebeu um público não numeroso, mas com fãs fieis e frequentes nos concertos de bandas brasileiras – não aquela grande massa que comparece aos grandes concertos de Iron Maiden e Metallica.
Pouco antes das 19h, o público se preparava para entrar, pois a noite fria não permitiu a permanência por muito tempo fora da casa. Para a alegria de todos, o evento começou com uma pontualidade quase que britânica, às 19h02, com abertura da paulistana The Black Coffins. Formada em 2011 e atualmente contando com Vakka (vocal), J.Martin (guitarra), A.Beer (baixo) e M. Rabello (bateria), a banda executou seu Death Metal/Crust com uma leve influência em Sick of it All e Madball. Alternando faixas de seus registros – “Burial Bleeed” (Split, 2011), “Dead Sky Sepulcre” (2012) e “Graveyard Incantation” (EP, 2013) –, os músicos mostraram extrema competência em seu som, que estava com ótima qualidade. Assim, foram mandando pauladas como “Dead Sky Burial”, “Chambers of Eternal Sleep”, “The Day the Sky Exploted” e “Become the Vulture/The last Spectral Convoy” para banger nenhum botar defeito.
Além da harmonia entre os vocais e os instrumentos, vale destacar a ‘cozinha’, com um trabalho bem pesado e coeso de baixo/bateria dando personalidade única ao som. Outro fato notável foi o prazer que a banda demonstrou por estar no palco – o vocalista Vakka esforçava-se ao máximo com a preocupação de seu vocal estar sendo bem ouvido. Assim, os fã de Death Metal seguiram curtindo músicas como “A World of Plagues”, “Transition Compulsory”, “Doomlords and Conquerors” e “To The Universal Throne”, todas tocadas quase sem intervalos. Mostrando grande profissionalismo, o grupo encerrou o show pouco antes das 20h com “Hate ’96”.
Àquela altura o público já era mais numeroso e, durante os poucos minutos que restavam para a entrada do Hellsakura no palco, pôde aproveitar o tempo para adquirir o material gentilmente assinado pelos integrantes do The Black Coffins. As luzes se apagaram aproximadamente às 20h12 e uma introdução no palco anunciou a entrada do Hellsakura, formado em 2007 e que conta com Napalm (baixo), Doneedah (guitarrra), Cherry (vocal e guitarra) e Denis Okuma (bateria), que substituiu Pichu Ferraz. Após a entrada impactante veio “Orgasmabomb”, última do excelente CD “Blood To Water”. Os músicos entraram com tudo, o peso nas duas guitarras eram nitidamente sentidos, as músicas diretas e com uma pegada bem Hard ao estilo Girlschool, Runaways, mas com um vocal bem rasgado e com uma personalidade própria. Com uma presença de palco impressionante, Cherry seguiu comandando com “MPO”, “Leave My Skull”, “Distorted Mirror” e “Bombs Away”.
Após “Death Row” e “Crown of Fire”, “Hate” foi o ponto alto da apresentação, seguida por “Very Dark Sunday”, “Quem é você” e “My Motorhead”, compondo um set com músicas rápidas e diretas para ninguém botar defeito. Como se já não bastasse, a surpresa veio quando o vocalista Gepeto do Ação Direta e o baixista Dick Siebert do Korzus subiram ao palco e executaram a música “Correria” (Korzus), cantada por todos os presentes e que fechou o set de aproximadamente 45 minutos em alta.
A noite, que havia deixado de ser fria há muito tempo com os shows de abertura, ficou bem quente por volta das 21h, com a casa mais cheia e todos no aguardo do MX, uma das lendas do nosso Thrash Metal. O encontro de gerações, com bangers da velha guarda – típicos oitentistas frequentadores da Woodstock Discos – ao lado de fãs da nova geração na casa dos 20 anos de idade, comprova a longevidade do Metal.
Formado em 1985 na cidade de Santo André, localizada na região do ABC paulista, o grupo promoveu seu retorno oficial à ativa em 2011 e hoje conta com Alexandre Cunha (vocal e bateria), Décio Jr. e Alexandre Dumbo (guitarras) e Alexandre “Morto” Favoretto (baixo e vocal), músicos que estavam a postos e bem preparados para realizar seu primeiro show completo em São Paulo.
Com uma belíssima introdução, o quarteto entrou com tudo com “Mental Slavery”, levando o público a banguear as suas cabeças freneticamente com a fúria de Alexandre nos vocais e na bateria. O set seguiu com “No Violence”, na qual Décio, Dumbo e Morto instigaram o público que, por sua vez, nem parecia se importar com a segunda-feira que estaria por vir. Impiedosamente vieram “Torment” e “The Guf”, ambas de “Again…” (1997), mas é óbvio que a plateia foi ao delírio com a clássica “Fighting for the Bastards” do clássico “Simoniacal” (1988). Dali em diante o público não parou mais de agitar e cantou com a banda o refrão e respondendo sempre com “Bastards!”. A qualidade de som estava perfeita e foi então que bateu o orgulho de ser brasileiro não pelo futebol, mas pelo nosso Metal.
O show seguiu com “Criminous Command”, mais uma de “Again…”, e “Behind His Glasses”, de “Mental Slavery” (1989), em que Alexandre Cunha questionou o público: “Alguém usa óculos aqui? Então vamos quebrar tudo!” Como se tudo aquilo não bastasse, veio o cover de “Metal Church”, do álbum de estreia do Metal Church que, coincidentemente, visitou o Brasil pela primeira vez este ano. A execução da música deixou claro as influências do MX, já que os riffs das guitarras estavam iguais e o saudoso David Wayne, lá do céu, com certeza estava aplaudindo!
“I’ll be Alive”, de “Mental Slavery”, teve Morto fazendo os vocais principais. Em todo instante, a banda agitava para a abertura de uma roda, o que não ocorreu mas, em compensação, cabeças bangueando e berros exaltados não faltaram na noite. Assim, o show prosseguiu com duas de “Simoniacal” – “Dead World” e “Dark Dream” – e “I’ll Bring You With Me”, de “Mental Slavery”. Na sequência vieram mais dois grandes covers que mostrando mais uma vez as influências do MX, com “Metal Command” do Exodus e a mais que merecida homenagem a Jeff Hanneman (Slayer) com “Angel of Death”.
A banda fez um agradado para o seu fiel público distribuindo camisetas, mas os fãs ainda não tinham se dado por satisfeitos e clamavam pelas músicas “Jason” e “Dirty Bitch”. E estas foram exatamente as duas últimas do set, que vieram para derrubar a casa – claro, na execução de “Jason” não faltou a máscara do personagem Jason Voorhees, de “Sexta-Feira 13”.
O show terminou exatamente às 22h30, com a banda saindo sob aplausos mais do que merecidos. Após a apresentação, os músicos distribuíram baquetas, palhetas e muita simpatia. Assim, o público pôde ir para casa tranquilo e com uma única certeza: o Heavy Metal aqui em nosso país ainda vai muito longe.