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NEIL TURBIN: CELEBRANDO OS 40 ANOS DE FISTFUL OF METAL NO BRASIL

Por Guilherme Spiazzi

Pela primeira vez no Brasil, o vocalista original do Anthrax, Neil Turbin prepara-se para comemorar os 40 anos do lançamento de Fistful of Metal, disco que revelou a banda para mundo. Nas apresentações marcadas para o dia 21 no Correria Music Bar em Vila Velha/ES; dia 22 no CDM Metal Fest em Campo do Meio/MG e dia 23 na Jai Club em São Paulo/SP, Turbin tocará o disco de estreia na íntegra, além de revisitar as suas composições do EP Armed And Dangerous e de Spreading The Disease, ambos lançados em 1985, já com Joey Belladonna no vocal. Conversamos com Turbin sobre a importância de Fistful of Metal para o metal e sobre esse momento único e especial que os fã brasileiros verão.

Como está a sua expectativa de comemorar algo tão especial e se apresentar pela primeira vez no Brasil?
Neil Turbin:
Estou muito empolgando com a oportunidade de poder tocar Fistful of Metal para os fãs brasileiros, de poder encontrar as pessoas cara a cara. Os fãs são o verdadeiro espírito e a essência do heavy metal. Música é vibração – é o que inspira a mim e as pessoas ao meu redor. É uma energia. É levantar as pessoas depois de uma semana cansativa de trabalhando. Há séculos a música é uma fonte de liberação e uma forma de você levantar as pessoas compartilhando algo. É como B.B. King falou para mim: “do meu coração para o seu coração”. É uma conexão entre o coração do artista e os corações do público. É vibração mutual que ressoa no tempo. Ter essa oportunidade de me conectar dessa maneira com os fãs brasileiros dessa maneira é o que me deixa empolgado.

Lançado há praticamente 40 anos, Fistful of Metal continua ressoando na cabeça dos fãs. O que faz isso ser possível?
Neil:
Quando estávamos trabalhando na ideia do álbum, tínhamos a visão do espírito do heavy metal. Era isso o que eu tinha na cabeça. Eu me perguntava o que representa esse espírito. Eu era jovem e vivia no subúrbio de Nova Iorque (EUA). Sou original do Brooklin, mas fui criado no Queens (N.R.: espécie de bairros da região metropolitana). Passando pela cidade dentro do transporte público eu via que aquele era um lugar difícil. Em certos aspectos, era como se retrata no filme Cidade de Deus, só que de forma espalhada e não concentrada (como nas favelas). Caminhar pelas ruas de cabelos longos e jaqueta de couro fazia de você um alvo. As gangues o agrediam só porque você tinha um determinado visual. Porque era diferente dos outros. Felizmente nós sobrevivemos a isso. Claro que com o tempo o país mudou, mas era isso. Enfim, entusiasmo é uma palavra que define o sentimento da época.

Essa é uma maneira interessante de celebrar os 40 anos da sua estreia. Existe alguma outra ideia de comemoração sendo discutida?
Neil:
Estou muito empolgado de fazer isso no Brasil. Eu acho que mais ninguém está celebrando isso. Mas tudo bem, pois nós estamos aqui. Se você perder algum dos shows, já era.


Acredito que os fãs brasileiros de Anthrax, e especialmente desse disco, sempre desejaram, mas jamais pensaram que seria possível vê-lo cantando essas músicas ao vivo.
Neil:
Exato. Vamos lembrar que eu escrevi várias daquelas músicas. Por que eu não poderia cantar músicas que eu escrevi? Eu cuido da minha vida e sigo a minha carreira sem olhar para o lado. Estou focado nisso. Nós tocaremos músicas que eu escrevi ao lado do Anthrax, além da minha carreira solo e do DeathRiders.

Como foi viver esse período de pleno início do metal ao lado da banda e porque você saiu logo na segunda semana da primeira turnê?
Neil:
Eu tinha 19 anos quando fizemos o disco, mas eu já conhecia alguns do caras desde os tempos de ensino médio. A vida na banda era um pouco diferente… Eu apenas não entendia os tipos de personalidade com quem eu estava me relacionando. Eu também não fazia ideia de que eu era um jovem das artes. Eu só queria ser o melhor que eu podia ser fazendo as coisas como um time. Eu não queria tentar comandar esse time ou algo assim. Por exemplo, fui para a Flórida com a minha família e trouxe camisetas de uma estação de rádio local de rock para eles. Depois, eu fiz aquelas mangas de cota de malha com fio de aço calibre 13 que pesavam cerca de 11kg cada. Eu tive que aprender como eram feitas as armaduras da época medieval para fazer aquilo. Mas eu fiz por mim. Você não queria ser metal? Isso é metal! Eu não queria ser o Metallica. Nunca quis isso. Acho que os outros caras queriam ser o Metallica, o Iron Maiden, o Judas Priest… Eu amava essas bandas, mas eu não queria ser eles. Para mim, era uma questão de ser original. Enfim, eu gastei centenas de horas fazendo diferentes adereços de cota de malha para cada um dos integrantes da banda. Há cerca de dez anos li uma entrevista em que eu fui acusado de tentar dizer como os caras deveria se vestir naquela época, quando na verdade eu apenas queria presenteá-los com algo que eu criei com as minhas próprias mãos. Algo semelhante aconteceu com relação a composição das músicas. Enfim… Eu percebi que na banda havia uma questão de controle. Não era sobre ser uma banda, mas de ter controle sobre o processo criativo. Eu achava que era para ser um trabalho em equipe, mas eu estava muito enganado. Eu não tinha interesses particulares, o meu negócio era tocar música. Eu queria ser parte do time. É por isso que eu não entendia por que eu era excluído das reuniões e das entrevistas. Quando você tem um grupo, a coisa deve se comportar como um time, mas havia todo o tipo de favoritismo. Eu tive que aguentar abuso verbal, psicológico e manipulações. A minha atitude era a de tocar a música que eu compus e as pessoas que viessem ver ou não. Era assim que eu pensava. Eu não estava lá para puxar o saco de ninguém. Mas não era disso que eles não gostavam… Eles estavam procurando por puxa sacos. Pra mim, ou trabalhamos como um time ou não trabalhamos. Atualmente eu penso exatamente da mesma forma. Durante os meus dois anos de Anthrax eu ensaiei, gravei demos, gravei um disco, fiz shows e não recebi absolutamente nada por isso. Fiz tudo de boa fé. Veja, não estou dizendo que não recebi royalties, mas eu não tenho um disco de platina por ter feito parte do “Big Four”. Tudo bem, eu sei que estou no Metal Hall of Fame – não estou aqui para ficar reclamando, mas teve gente que não compôs uma ou outra música em Fistful of Metal, mas o seu nome está lá como parte da composição. Inclusive, Howling Furies teve a minha contribuição, mas não me deram o crédito.

Como pretende abordar essas músicas ao vivo agora?
Neil:
Existe uma diferença entre nós e uma banda tributo ao Iron Maiden, que apenas reproduz as músicas. A forma como eu toco as músicas é bastante diferente de como o Anthrax ou uma banda tributo as tocaria. O lance é que éramos jovens quando fizemos aquelas músicas e eu acho que há coisas que poderiam ser melhoradas. Uma delas é a afinação de algumas canções. Veja, eu não tenho problema nenhum para cantar o original, mas às vezes a entonação e a vibração funcionam melhor meio tom abaixo, por exemplo. A mesma coisa vale para a velocidade da música. Tem umas que parece que vão se arrastando. Você não quer isso num show. Uma coisa que não fizemos quando o disco foi gravado foi buscar pelo tempo correto ou pela afinação mais adequada. Não estou acusando ninguém de nada. Apenas éramos jovens e sem experiência. Com o tempo, é claro que a banda foi evoluindo nesse aspecto. Buscar o melhor resultado é essencial para mim. Foi por isso que peguei as músicas e arranjei da minha maneira. Se você espera escutar nota por nota, assim como no álbum, isso não acontecerá. Isso seria chato. O que estamos fazendo é um meio termo entre uma porrada thrash e Hibria ou Racer X. Guitarras e bateria super-rápidas, baixo nervoso e vocais impulsionando o som. Acho que isso representa uma significante diferença para o som.


Você contará com uma banda de apoio aqui do Brasil. Como está sendo essa experiência de trabalhar a distância com músicos com os quais você nunca trabalhou?
Neil:
Formamos um time excelente e isso me deixa muito empolgado porque tocaremos essas músicas do jeito certo. Isso faz muita diferença. Serei acompanhado por uma banda fantástica com integrantes de outras ótimas bandas. Thales Statkevicius (guitarra, Hammathaz), Jaeder Menossi (guitarra, Interstellar Experience), Bill Martins (baixo, Hellish War) e Rafael Gonçalves (bateria, Brave) não formam uma banda de aluguel. Nós realmente nos comunicamos e estamos trabalhando juntos nessa. Os caras não estão apenas aprendendo uma versão antiga ou algo assim. Estamos fazendo algo empolgante.

Antes de encerrarmos, já que você citou o HIBRIA, eu gostaria de saber o que você conhece do nosso metal.
Neil:
Eu sou um verdadeiro fã de metal internacional desde a década de 1980 e faz muitos anos que sou fã do metal brasileiro. Eu conheci o Angra lá no início… O HIBRIA realmente chamou a minha atenção com Steel Lord on Wheels (Defying the Rules, 2004). Eu também adorava o Shaman… Quem não ama um cantor como o Andre Matos? Eu já era fã de Kiko Loureiro antes dele tocar com o Megadeth.

Foi uma ótima conversa, Neil. Aguardamos a sua chegada!
Neil:
Quero agradecer o time incrível da Som do Darma que está trabalhando para me levar para o seu país. É ótimo trabalhar com Eliton Tomasi e Susi dos Santos. Eles realmente estão trabalhando para promover a cena brasileira, assim como a Roadie Crew está contribuindo para manter o espírito do heavy metal vivo.

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