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NICKELBACK – 03 de outubro de 2019, São Paulo/SP

Antes de fechar a última noite do “Rock in Rio”, o Nickelback foi a penúltima atração da ‘concert series’ do festival “Itaipava de Som a Sol”, que começou com shows de Weezer, Dave Matthews Band e Seal, respectivamente, e que se encerrou no dia seguinte à sua apresentação, com o grupo de dance-pop/hip hop Black Eyed Peas. Formado em 1995 em Hanna, minúscula cidade agrícola e petroleira localizada no centro-leste de Alberta, no Canadá, o Nickelback conquistou seu espaço no mainstream, tendo vendido mais de 50 milhões de discos. Com nove álbuns de estúdio na bagagem, sendo Feed the Machine, de 2017, o mais recente, o grupo, que hoje é formado pelos irmãos Chad Kroeger (vocal e guitarra) e Mike Kroeger (baixo), mais Ryan Peake (guitarra, violão, piano e vocal) e Daniel Adair (bateria – 3 Doors Down, Martone), continua conquistando muitos fãs com sua amalgama sonora de pop rock, rock alternativo e pós-grunge. Por outro lado, o Nickelback desde sempre é alvo constante de críticas e gozações. Exemplo maior foi já ter sido taxado de “a banda mais odiada do mundo”. O maior apuro foi ser escorraçado do palco no “Festival Ilha do Ermal”, em Portugal, no ano de 2002. Sinceramente? Certas críticas negativas em relação à banda soam exageradas, muitas vezes por despeito. Existem, sim, músicas pasteurizadas nos discos do Nickelback, diria até que algumas são puro pastiche, entretanto, há outras tantas bem bacanas, que funcionam muito bem ao vivo. Foi o que observei no recente show em São Paulo, e que você lê a seguir.

De volta à cidade, seis anos após estrear abrindo para o Bon Jovi no estádio do Morumbi, o Nickelback realizou no Ginásio Ibirapuera o primeiro show só seu no país. E arrastou um bom público para o “templo” que, há 30 anos, entrou para a história por ter sido palco dos shows de estreia do Motörhead e (alguns meses depois) do Metallica em São Paulo. Apesar de ainda estar divulgando Feed the Machine, dele Chad, Mike, Ryan e Daniel só tocaram a música homônima, com a qual abriram o show. E eles foram recebidos de maneira bastante calorosa e eufórica pelos fãs. Exceto pelos dois primeiros álbuns, Curb (1996) e The State (1998), todos os outros foram revisitados. No início da apresentação, foi difícil lidar com a péssima acústica do local, que além de deixar tudo soando abafado, reverberava em demasia. Não digo que a situação melhorou no decorrer, o que acontece é que os ouvidos apenas se acostumaram. Em uma música ou outra, aconteceu também algumas microfonias.

O primeiro ponto alto do set veio com o single Photograph, de All the Right Reasons (2005). Com o clipe rolando simultaneamente no telão, o público, constituído em sua maioria por mulheres, acompanhou a banda, cantando em uníssono a balada de seu quinto álbum. Falando em Photograph, curiosamente, com a banda já no Brasil, a música foi alvo de polêmica nos Estados Unidos, devido à uma postagem do controverso Donald Trump, que foi removida pelo Twitter por quebra de direitos autorais. O presidente americano havia mencionado trecho da letra, escrevendo “Look at this photograph” num vídeo com imagens do ex-vice Joe Biden, no intuito de provocar o candidato democrata. No repertório, o Nickelback encaixou até Hero, tema que Chad Kroeger escreveu à parte da banda, em parceria com Josey Scott, vocalista do Saliva, para a trilha do filme “Spider-Man” (2002). E, entre temas pesados e baladas, não faltaram hits: Far Away, Figure You Out, Lullaby, Someday, When We Stand Together, Rockstar, This Afternoon, Million Miles An Hour… Uma das mais legais foi a explosiva Animals, do álbum All the Right Reasons (2005), que considero uma das melhores da carreira do Nickelback. Uma que senti falta foi Too Bad, do bem sucedido Silver Side Up (2001).

O Nickelback fez um show altamente energético, contando, em alguns momentos, com o auxílio do guitarrista adicional Timmy Dawson. Chad, até hoje lembrado por ser o ex-marido da cantora pop Avril Lavigne, é um cara bastante comunicativo e bem humorado, que muitas vezes tem no igualmente simpático Peake, que também tocou violão, guitarra acústica e piano, um bom reforço vocal. No entanto, o mais visceral da banda é Daniel Adair. Trajado com sua velha camiseta do álbum Ride the Lightning do Metallica, o batera mostrou muita precisão e pegada. Estranho mesmo eram os exageros cometidos por fãs da banda, que demonstravam seu amor de maneiras não muito convencionais em um show de rock – haja vista que o Nickelback atrai entusiastas de diversos e distintos gêneros musicais. Em meio a gritos histéricos, havia quem passasse o tempo todo chorando, principalmente nas baladas. Próximo ao palco, fãs seguravam cartazes escritos em inglês: ‘caras, nós amamos vocês!’. Pensa que parou por aí? Em Lullaby teve até pedido de casamento na arquibancada, enquanto que em Rockstar duas irmãs gêmeas foram convidadas à cantar com a banda. Mas elas ficaram empolgadas até demais e se embaraçaram com a letra.

Encerrando a primeira parte do set, veio a mais aguardada da noite: o mega hit How You Remind Me, música que colocou o Nickelback no mapa, quando lançada em 2001, no mencionado Silver Side Up. O sucesso dela é tamanho, que nos Estados Unidos foi a música de rock mais vendida em sua década. Na volta do bis, vieram outros dois grandes hits: Gotta Be Somebody e a pesada e contagiante Burn it to the Ground, ambas do álbum Dark Horse, de 2008. Você pode até não gostar do som do Nickelback e achar um exagero da Billboard tê-lo elegido em 2009 como a melhor banda de hard rock da década, porém um grupo que já tocou para mais de oito milhões de pagantes fora de seu país, incluindo uma turnê britânica com dez datas esgotadas, e ainda por cima foi imprescindível para manter o caixa da gravadora Roadrunner em dia, o que a  ajudou a financiar lançamentos de bandas que muitos de nós curtimos, como Machine Head, Opeth, Megadeth, Dream Theater e Killswitch Engage, merece, no mínimo, não ser mais escrachado como sendo “a pior banda do mundo”.

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