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NIGHTWISH

A história da mais famosa banda de Rock da Finlândia é longa e bem conhecida. Mas em 2015 o Nightwish lançou Endless Forms Most Beautiful, seu primeiro disco com a nova vocalista, Floor Jansen. Depois de anos tendo à frente uma diva da Ópera e depois, durante um curto período, uma cantora com orientação mais Pop, o líder e tecladista Tuomas Holopainen trouxe uma verdadeira vocalista de Metal para a banda. O resultado é que a dinamarquesa inseriu uma muito bem-vinda dose de agressividade ao repertório e tirou das águas turvas uma nau que, verdade seja dita, vinha navegando sem rumo nos últimos tempos. O novo disco acabou sendo relançado em formato duplo, contendo um DVD com vasto material inédito, incluindo várias músicas gravadas ao vivo e que mostram uma banda no auge da forma. Pouco antes de um show da turnê americana que o Nightwish fez no início de 2016, tive oportunidade de conversar com Floor sobre Rock e sobre até ciência e evolução (N.T.: a entrevista ocorreu em fevereiro).

Na sua mais recente tour, vocês fizeram um ‘meet and greet’ com os fãs antes de cada show. Como têm sido esses encontros? Afinal, os fãs do Nightwish são muito passionais.
Floor Jansen:
 Têm sido sensacionais! Na verdade, não fazemos isso em todos os lugares porque nem sempre é possível. Na Europa e na América do Sul, por exemplo, não deu. Mas é sempre uma experiência maravilhosa porque muitas vezes você acaba ficando forçosamente longe dos fãs. Em alguns momentos, é realmente impossível chegar mais perto do público. E, por outro lado, não é sempre que estou feliz com um monte de gente gritando por mim logo após tomar um banho e só querer entrar no ônibus. Então, essa é uma excelente solução para que tenhamos um tempo para conhecer e conversar com nossos fãs. Nós curtimos nos encontrar com eles, só não queremos que outras pessoas decidam quando isso deve acontecer (risos). E esse também é uma ótima oportunidade para ouvir o que as pessoas pensam e dar a eles a chance de externar isso. É algo muito legal de se fazer, enfim.

Vocês estão na estrada há um ano, desde que o disco saiu. Hoje você está prestes a fazer seu primeiro show na cidade de Nova York. Principalmente por se tratar de uma cidade com essa, dá uma ansiedade extra?
Floor:
 Sim, não tem como negar. Então, estar aqui no início de uma turnê é algo realmente importante. E uma cidade grande como Nova York naturalmente atrai mais atenção da mídia, então você acaba ficando no centro das atenções e acaba tendo que acompanhar tudo que é dito a respeito na mídia. Acaba sendo uma noite muito importante. Em todo início de turnê acaba sendo necessário fazer um ou outro ajuste no show, principalmente na parte técnica, já que ainda não há uma rotina estabelecida. Só que, como você lembrou, estamos há um ano, então essa rotina está mais do que clara para todos. Resumindo tudo isso: sim, o fato de estarmos em Nova York faz dessa noite algo muito especial (risos).

Vocês relançaram o novo disco numa edição especial limitada que inclui um DVD ao vivo. Achei essa versão perfeita, já que pra mim essa atual formação realmente brilha ao vivo. O que você pode me falar sobre esse DVD?
Floor:
 Olha, pra ser honesta com você, eu não sei muito sobre isso. Nós estamos cada dia num lugar, fazendo sempre coisas diferentes… Acho que cada foi gravada em um show diferente, mas não saberia identificar uma a uma. Desculpe… (risos)

Tudo bem, mas, deixe-me insistir, essa atual formação do Nightwish é realmente muito forte no palco. Vocês lançaram essa reedição de Endless Forms Most Beautiful para provar isso?
Floor:
 Muito obrigada! E, sim, a ideia era exatamente essa!

Como você disse, vários shows dessa turnê foram filmados. Há um novo DVD ao vivo vindo por aí?
Floor: 
Sim, muitos shows foram gravados e nós estamos trabalhando num novo DVD com muitas imagens dessa turnê. Nossa ideia é mostrar vários locais diferentes em que tocamos. Como ontem, em que tocamos em Nova Jersey num lugar realmente pequeno. É o contrário do que aconteceu na parte europeia da tour, que teve uma atmosfera completamente diferente. Os enormes festivais de verão são algo normal para os europeus, mas nós acabamos descobrindo que o mundo é um lugar realmente grande… Então, queremos mostrar tudo isso às pessoas, queremos que eles vejam como são os shows nos lugares que elas não têm oportunidade de conhecer. Em Vancouver, por exemplo, era outra atmosfera. Tocamos lá no último verão (N.T.: do hemisfério norte) e foi um show em estádio. Ou seja, cada lugar é uma situação diferente e tem sua própria magia. Um lugar pequeno não significa que seja um lugar ruim para se tocar.

O último DVD de vocês, Showtime, Storytime (2013), traz um grande show ao vivo, com pirotecnia e o Nightwish tocando para oitenta mil pessoas no ‘Wacken Open Air’. É um grande contraste com esse show em Nova Jersey, em que havia 2.500 pessoas na plateia.
Floor:
 É sempre legal fazer um show desses, com pirotecnia e tudo mais, mas num lugar pequeno isso não é nada seguro. O lado bom de um local assim é que a gente fica mais perto do público e pode ter uma interação muito maior com os fãs. Num grande festival, diante de uma multidão, bem, é apenas uma multidão. Você consegue ver alguns rostos, mas pouco além disso. Quando você toca num lugar menor você praticamente vê todo mundo, o que gera um tipo de energia totalmente diferente – e eu gosto muito disso. De todo mondo, independente de tudo isso e do que você consegue ou não consegue levar para o palco, o que dá o clima do show é a música. Acho que o mais desafiador nisso tudo é provar que você pode conseguir isso independente dos extras que consegue levar ao palco. Não são eles que fazem o show, eles auxiliam nisso, mas são apenas extras. A ideia é sempre fazer um excelente show. O resto é resto. E num local pequeno há um desafio a mais, já que temos menos espaço para nos movimentar. Porém, como eu já disse, é muito mais fácil interagir com os fãs.

Eu vi recentemente a apresentação de vocês no ‘Rock In Rio’ e foi um show fantástico.
Floor: 
Sim, foi muito bom mesmo. Quando nós tocamos lá, já tínhamos participado de alguns festivais europeus, mas é totalmente diferente ticar no Brasil. Os fãs brasileiros são muito barulhentos! E havia muita mídia lá também, era um verdadeiro circo. Eu adorei, foi tudo sensacional. O público brasileiro é realmente o melhor!

Vamos falar um pouco sobre Endless Forms Most Beautiful. Imaginareum (N.T.: disco anterior da banda, lançado em 2011) fala de sonhos e lembranças, já o novo disco trata sobre ciência. É isso?
Floor: 
Acho que não dá para definir em uma palavra sobre o que ele fala. A ciência foi, sem dúvida, a inspiração parta ima série de músicas, mas não de todas elas. É sobre ciência e sobre a ciência por trás da evolução, das teorias da evolução e do esplendor do nosso mundo. É sobre isso que as músicas mais longas falam. Sobre a evolução do nosso planeta, os 4,6 bilhões de anos desde sua criação. Muita coisa aconteceu nesse tempo todo, então é preciso fazer uma música longa para falar a respeito (risos). Não é um disco sobre ciência em si, não tratamos de assuntos científicos, mas sem dúvida foi uma inspiração para as letras.

A despeito do que as letras falem, você acredita que é importante que o público as interprete e façam essa conexão com o significado por trás delas, como seria nesse caso com a ciência e a evolução? Ou está tudo bem se as pessoas ouvirem o disco, curtirem a música e não derem a mínima para o que elas dizem?
Floor:
 Eu acho que a emoção por trás da música é o mais importante. Há uma mensagem, caso você queira escutá-la. Nós não estamos aqui para ficar pedindo as coisas. O principal tema desse disco pode até ofender algumas pessoas, já que a evolução vai contra o que algumas igrejas pregam, já que acreditam que a Terra foi criada por deus em sete dias. Músicas como Weak Fantasy e Yours Is An Empty Hope certamente não são positivas sobre as religiões e acho que é a primeira vez que tratamos disso. Tuomas escreveu as letras e ele teve essa ideia. Nós conversamos muito sobre isso durante o processo de composição do disco. Não tive a menor dificuldade em aceirar esse enfoque, essa visão é muito próxima daquela em que acredito. Acho muito importante refletir a respeito disso tudo, mas se você prefere apenas curtir a música e fazer a sua viagem por conta própria, tudo bem. Essa vai ser a sua forma de se envolver naquilo que fizemos. Mas tem gente que aparece no ‘meet and greet’ com livros de Darwin ou com ‘The Greatest Show On Earth’ (N.T.: livro do biólogo britânico Richard Dawkins e que trata da evolução biológica). É muito comum pedirem para autografarmos esse livro. Por outro lado, a música Edema Ruh é sobre um grupo errante de músicos e artistas chamado Edema Ruh, que é retratado no livro ‘The Name Of The Wind’ (O Nome do Vento’ em português), de Patrick Rothfuss. E muita gente também traz esse livro para assinarmos. Então, você pode encarar esse trabalho da forma que você quiser (risos).

Essas duas músicas, Weak Fantasy e Yours Is An Empty Hope, talvez tenham as letras mais polêmicas da história do Nightwish e musicalmente são dois temas bem pesados para a tradição da banda. Essas duas coisas juntas permitem concluir que Endless Forms Most Beautiful é o disco mais pesado da história do Nightwish. Você concorda com isso?
Floor: 
Não sei, porque o disco também tem temas como Elan e My Walden, que são praticamente o oposto disso que você falou. Acredito que o disco seja pesado de uma forma diferente. Não é Black Metal! (risos) Mas acredito que a banda já tenha flertado com um lado mais pesado e obscuro antes. Só não sei se o todo desse disco soa mais pesado do que aquilo que a banda fez antes – mas provavelmente sim.

Pois é, se você olhar para o passado do Nightwish, parece que a sonoridade vem constantemente se expandindo mas, ao mesmo tempo, se tornando pesado e obscuro, como você salientou. Isso seria uma evolução natural?
Floor: 
Sim. Eu acredito que toda evolução nesta banda aconteceu de forma natural, nunca foi nada planejado. Eu sei que Tuomas, por exemplo, começa a trabalhar com uma história em sua cabeça e o que sair, saiu… Nunca há nada como: ‘Ah, agora vamos fazer um disco mais pesado.’ Ele apenas flui naturalmente.

A despeito de o disco ter momentos pesados e outros mais calmos, o trabalho como um todo acaba tendo uma enorme coesão. De onde vem isso? Seria pelo fato de vocês terem passado muito tempo ensaiando juntos?
Floor: 
Sim, isso nunca aconteceu no passado. Acredito que o fato de termos a banda toda reunida ensaiando e trabalhando nas músicas levou o trabalho a algo além do som orquestral de sempre. E acredito que foi porque nos trancamos juntos no estúdio. Mas, repito, foi tudo completamente natural, não houve nada planejado. Planejamos fazer os ensaios, mas a forma como eles aconteceram e o resultado deles foi uma surpresa para nós. Foi algo muito positivo. E provou que podemos trabalhar como uma equipe.

Esse foi seu primeiro disco com o Nightwish e nele há alguns vocais operísticos. Vocês já chegaram a considerar usar mais vocais nesse estilo, já que você pode gravá-los com facilidade?
Floor: 
Eu fiz o que era preciso fazer. Vou falar mais uma vez: foi uma evolução natural. É possível fazer isso, o que não significa que teremos que fazer isso sempre. Se as músicas pedirem por isso, assim será feito.

O disco também traz a faixa The Greatest Show On Earth, que é a maior já gravada pela banda com 24 minutes. Mas, pelo que sei, originalmente ela era ainda maior, com 35 ou quarenta minutos. Essa versão chegou a ser gravada?
Floor: 
Não, isso aconteceu quando Tuomas ainda estava no processo de composição. Depois disso ele reduziu para 24 minutos… (risos)

Parece que as coisas vem funcionando muito bem desde que você entrou para o Nightwish, em 2012. Você chegou a ser cotada para o posto na época de Dark Passion Play (2007)?
Floor: 
Não, não… Naquela época eu ainda cantava no After Forever e eles não iriam chamar alguém de uma banda que estava na ativa.

Agora o Nightwish está numa fase intensa de trabalho, com datas agendadas até agosto.
Floor:
 Sim, começamos em abril do ano passado e vamos até mais da metade deste. Há poucos lugares a que não fomos ou que não iremos.

Eu sei que é muito prematuro falar sobre um novo disco, mas há um plano para quando o ciclo de Endless Forms Most Beautiful acabar e vocês começarem a trabalhar no próximo álbum? Talvez no ano que vem?
Floor: 
Nossa intenção é tirar 2017 de folga. Vai ser o primeiro ano sabático da banda em duas décadas de atividades. Isso é algo em que os caras vêm pensando há tempos e agora, com tudo dando certo com o disco e na turnê, é o momento certo de se fazer uma pausa.

É certeza que vocês merecem! Mas você vai passar o ano descansando ou pretende fazer algo com sua outra banda, o Revamp?
Floor: 
Verdade, eu venho fazendo turnês e gravando discos sem parada há alguns anos… Então, imagino que eu vou gostar muito de ficar sem fazer nada! E nós já temos alguns planos em mente, mas que eu ainda não posso divulgar.

Para o Nightwish você quer dizer?
Floor: 
Sim. Então, quando a máquina parar de funcionar após essa turnê, imagino que não vou querer pensar em gravação ou estrada. Mas, na verdade, eu estou com algumas ideias na cabeça… Quando chegar mais perto do momento de parar eu resolvo. Ainda não cheguei a uma conclusão… (risos)

Antes de encerrar, os fãs gostariam de saber como está Jukka (Nevalainen, baterista do Nightwish que teve que se afastar da banda por conta de sérios problemas com insônia).
Floor: 
Ele vai indo bem. Se ele não precisa sair em turnê, tudo vai bem. É uma doença terrível e que não se sabe o que causa nem quando vai aparecer. Ou seja, o futuro é muito incerto. Mas é muito bom poder dizer que ele está bem. Ele sente falta da gente, de excursionar, dos fãs, mas está numa boa condição.

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