Conhecido por ser um guitarrista de senso melódico impressionante e com um currículo invejável, Steve Smyth passou por bandas lendárias como Testament, Nevermore, Vicious Rumors, Iced Earth e outras mais. Em sua própria banda, One Machine, o músico tem tido a chance de mostrar bem mais do seu talento, através de composições pesadas, técnicas, modernas e bastante melodiosas. Nessa entrevista para a ROADIE CREW, Smyth conta um pouco mais sobre sua banda, que segue divulgando o segundo álbum, The Final Cull.
Comecemos pelo nome da banda. Embora One Machine dê margem a várias interpretações, existe um significado real por trás. Explique.
Steve Smyth: O nome é baseado em um ideal futurista, que sugere que o mundo inteiro será ultrapassado por uma máquina de pensamento digital singular, que engloba o homem em um coletivo consciente. A ideia é que a máquina seja benevolente, controlada pelo homem, e vai ajudar o mundo a “melhorar”. Se você me perguntar sobre o que penso a respeito, é algo assustador! Escolhemos dar uma olhada no lado mais sombrio desse ideal em nossa música e em nossas letras e é isso o que a One Machine representa.
Todos os músicos que estão, ou que um dia estiveram na One Machine, têm um currículo bastante extenso, que inclui bandas de vários gêneros da música pesada. Quando o grupo foi formado, qual era o conceito musical que vocês tinham em mente para ele?
Steve: Realmente, eu queria uma banda onde todos pudessem arrebentar através de seus instrumentos ou vozes, mas que também fossem compositores sólidos, que soubessem escrever, tocar e viver pela música. Daí então procurei encontrar os melhores músicos possíveis que eu conhecia e que estivessem disponíveis para trabalhar comigo em uma banda real. Primeiro tentei nos Estados Unidos e depois quando me estabeleci aqui no Reino Unido e na Europa. Eu sabia com quem iria entrar em contato e o restante fui trabalhando ao longo do tempo.
Do line up que gravou o debut The Distortion of Lies and the Overdriven Truth (2014) para o novo, consideráveis mudanças aconteceram, sendo que apenas você e o também guitarrista Jamie Hunt permanecem. O que aconteceu em apenas um ano de diferença entre os dois álbuns?
Steve: Tivemos alguns membros ao longo do caminho, percebemos que o negócio mudou e eles tiveram famílias e outras coisas. Eles não podiam continuar no nível em que queremos para a One Machine. Estamos com fome de escrever músicas arrebatadoras e sair em turnê pra tocá-las o máximo que pudermos, para o máximo de pessoas que quiserem nos ouvir. Nem todo mundo ao longo do caminho compartilhou dos mesmos pensamentos que nós, ou então eles tinham outros motivos por trás para estarem na banda. Ninguém foi demitido, eles que escolheram sair. Como resultado, acabamos ficando mais fortes.
Apesar das diferenças entre eles, o ex-vocalista Mikkel Sandager e o atual, Chris Hawkins, têm em comum o fato de cantarem de modo agressivo, mas, ao mesmo tempo, de maneira melodiosa. Essa combinação é algo necessário para a música do One Machine?
Steve: Esse é o som que eu sempre ouvi na minha cabeça e é assim que eu queria que a One Machine soasse, então tivemos que ter pessoas que fossem versáteis para isso.
Como bônus para as edições em digipack e em vinil de The Final Cull vocês gravaram uma versão para Computer God, uma das melhores músicas do Black Sabbath, da fase com Ronnie James Dio. Por que optaram por ela?
Steve: Ronnie é, provavelmente, o meu vocalista favorito de todos os tempos. Eu sempre quis fazer essa música em praticamente todas as bandas em que estive. E nós tínhamos o vocalista certo em Chris para poder gravá-la. Concordo que é uma das melhores músicas da época do Dio. Esse álbum é um dos menos reconhecidos pelos fãs, mas acontece que é um dos meus favoritos daquela era do Sabbath.
No primeiro álbum você se responsabilizou sozinho pela produção, mas dessa vez teve ao seu lado o renomado Tue Madsen (Moonspell, Poisonblack, The Haunted, Vader, etc). Por que decidiu ter outra pessoa contigo na produção e por que a escolha por Madsen?
Steve: Escolhi produzir o debut porque eu tinha uma imagem clara do que éramos após estabelecer nosso som. Eu também sempre quis trabalhar com Roy Z mixando e masterizando um álbum, e o debut foi o momento certo para tal, as agendas permitiram. Tue também estava em mente para o álbum de estreia, mas os horários não batiam. Ele trabalhou em The Final Cull e, dada a sua história de produção, bem como suas mixagens matadoras, pedimos a ele para produzir os vocais para este álbum. Escolhi Tue para este papel porque eu queria os ouvidos de alguém de fora para o álbum, para ajudar a orientar Chris (Hawkins), para termos certeza sobre a nossa visão e de que o som permaneceu inalterado apesar da mudança de vocalista. Também gravamos as partes básicas ao vivo em outro estúdio, chamado Death Island, com o proprietário Marco Angioni. Tue entrou e montou o estúdio conosco e também supervisionou o primeiro dia de gravação, o que foi ótimo. A maneira que eu prefiro para uma banda gravar também é ao vivo. Chris foi criado na sala de controle e desse jeito temos feito muito, em uma quantidade rápida de tempo.
Em The Final Cull existem músicas mais velozes e agressivas do que em The Distortion of Lies and the Overdriven Truth, mas também há algumas mais arrastadas. Quais outras diferenças você aponta entre os álbuns?
Steve: O fato de termos novos membros, obviamente faz diferença no som. Mas, como fui o principal compositor e produtor, a banda conseguiu preservar seu som. A maneira como nos aproximamos no debut foi diferente da do novo. Dada a distância e orçamento, em nosso debut não conseguimos gravar juntos. Eu tinha ideias sólidas para nove músicas e trabalhei com Jamie Hunt em algumas ideias que ele tinha para elas e em outra que ele também escreveu. Fizemos o novo, em grande parte, através de compartilhamento de arquivos por e-mail e eu produzi tudo de longe, garantindo que cada tomada fosse o melhor absoluto que cada integrante poderia dar. Para The Final Cull tivemos cinco músicas terminadas e outras quatro em vários estágios. Fizemos a pré-produção por uma semana em um estúdio em Londres e terminamos o resto em outro. Tocamos ao vivo no estúdio, gravando como escrevemos, trabalhando umas duas músicas por dia, em uma média de dez dias, até termos o álbum pronto. Tudo foi feito ao vivo, tomadas completas, e fizemos assim até termos tudo pronto.Geralmente, em dois ou três ‘takes’ tudo ficava sólido. Acho que há mais profundidade em The Final Cull. É mais orgânica a forma como ele foi abordado. Uma vez que estivemos juntos por cerca de um mês, entre pré-produção e finalização do álbum, acho que pudemos nos entender melhor, em nível musical e pessoal. Houve estresse para fazer isso tudo em tempo e dentro do orçamento, mas foi divertido. Queremos gravar o próximo álbum dessa maneira.
Algum recado que queira deixar aos headbangers brasileiros?
Steve: Fãs do Brasil, fiquem atentos ao One Machine. A máquina continuará caminhando e nós iremos tocar pra vocês assim que pudermos!