A história de vida e a carreira do eterno ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di’Anno, é bastante controversa e repleta de altos e baixos. A começar pela sua vida pessoal marcada pelo pouco cuidado com a saúde própria, aliás, um dos fatores pela saída do Iron Maiden e também casos como fraude no sistema de fundo de garantia em 2011, culminando em sua prisão, fato recorrente já que em 1991 ele também havia sido preso por porte ilegal de armas e drogas.
Desde o meteórico sucesso com a “donzela de ferro” nos álbuns Iron Maiden e Killers até projetos como Gogmagog e as bandas Killers e Battlezone, além, é claro, de discos interessantes como o Nomad o músico sempre se viu com um dilema. Os produtores de eventos em todo o mundo nunca se interessaram em divulgar seus trabalhos e por isso o vocalista ficou estigmatizado como um ex-integrante que vivia à custa das composições de sua antiga banda.
Cansado de tudo isso, Paul Di’Anno resolveu que este ano faria sua última turnê mundial. Ao todo, a turnê do vocalista conta com 12 datas no Brasil, organizada pela Abstratti Produtora, sendo uma das mais importantes a realizada no Carioca Club, em São Paulo, a 7 de abril. O evento teve a abertura da banda tributo ao Iron Maiden, Children of the Beast, que tocou mais faixas da fase Bruce Dickinson como Fear of the Dark e Run to the Hills.
Após o show da Children of the Beast, os gaúchos do Scelerata fizeram sua apresentação de divulgação do álbum The Sniper, um dos melhores discos nacionais lançados em 2012, que foi o foco da banda no evento. Com Vinícius Guazzelli na guitarra – Edson Aires, que entrou no lugar de Renato Osorio, não pôde realizar a tour -, o grupou toco as excelentes Rising Sun, In My Blood, Breaking the Chains e Must Be Dreaming (que teve a participação especial de Andi Deris no disco). O vocalista Fabio Juan cantou muito bem, inclusive fez todos os agudos sem desafinar em nenhum momento. O grupo ainda mostrou uma excelente versão para Master of Puppets (Metallica) e faixas mais antigas como Leave Me Alone e Holy Fire.
Após uma breve introdução, a banda Scelerata (exceto o vocalista Fabio Juan), que acompanhou Paul Di’Anno nessa turnê e o vocalista começaram o show com os clássicos do Iron Maiden, Sanctuary e Purgatory, ambas tocadas com mais velocidade e peso. Paul se manteve no centro do palco o tempo todo e pouco se movimentava, mas sua voz estava intacta no começo da apresentação. “Esse é o meu Iron Maiden de verdade caro Bruce Dickinson”, disse Paul antes de anunciar Wrathchild, faixa do disco Killers. Prowler, uma das músicas mais legais do primeiro disco da donzela de ferro ganhou uma interpretação diferente no show e foi um dos destaques.
A excelente Marshall Lockjaw da banda Killers mostrou que a carreira solo do vocalista foi pouco divulgada e por isso ele ficou conhecido mundialmente como um dos primeiros vocalistas do Iron Maiden. “Os produtores não querem que eu toque minhas próprias músicas, apenas que seja uma banda tributo”, reclamou Di’Anno durante todo o show. As críticas ácidas do músico fazem sentido já que o público mais vibrava com as faixas do grupo inglês do que com as de sua carreira.
Outros exemplos de boas composições dele ficaram por conta de clássicos do Killers, como The Beast Arises e Children of Madness, faixas bem pesadas e que se mostram atuais até hoje. Outro destaque foi para a emocionante versão de Remember Tomorrow, que foi dedicada ao falecido baterista Clive Burr, morto recentemente. “No dia em que meu irmão Clive Burr morreu estava vindo para o Brasil e não pude ir ao funeral e isso doeu tanto em mim, sinto sua falta meu grande amigo”, disse o vocalista antes de executar a música.
A primeira parte do evento ainda teve as pesadas Faith Healer (cover de The Sensational Alex Harvey Band) e A Song for You do Killers, e Genghis Khan, Charlotte the Harlot, Killers e Phantom of the Opera do Maiden. Um detalhe é que por conta da saúde, Paul Di’Anno tossia e mostrava cansaço ao longo do show e por isso acredito que ele queira apenas descansar e ficar com a família após a turnê. Por fim, após o bis duas das mais clássicas do Iron Maiden, Transylvania e Running Free.
Para muitas pessoas esta turnê foi puro caça níquel e para alguns foi uma oportunidade de ver pela última vez Paul Di’Anno cantar suas músicas no Iron Maiden. Todos têm o direito de parar com dignidade e agora só nos resta esperar que as pessoas e o público parem de viver um pouco no passado e busquem escutar outro material da carreira dos artistas e não somente aquela música ou disco que fez sucesso no mundo todo.
Set List:
Sanctuary
Purgatory
Wrathchild
Prowler
Marshall Lockjaw
Murders in the Rue Morgue
The Beast Arises
Children of Madness
Remember Tomorrow
Faith Healer
A Song for You
Genghis Khan
Charlotte the Harlot
Killers
Phantom of the Opera
Transylvania
Running Free