Faltando um dia para interar um mês da morte do incrível baterista Clive Burr, que fez seu nome na banda britânica Iron Maiden, um outro ex-membro se apresentou pela terceira vez em território goiano: Paul Di’Anno. Na noite que antecedeu a sua apresentação no Bolshoi Pub, o eterno ex-Donzela de Ferro Paul esteve prestigiando o show do Mad Max – relaxando, bebendo e fumando muito como um bom britânico que é. Curioso que me deparei com um senhor de barba enorme, todo cheio de tatuagens e alguns pircings, lembrando algum personagem saído do filme “Piratas do Caribe”. Ao me aproximar dele, que estava em uma mesa com a galera de sua banda que o acompanha já há algum tempo em suas turnês pelo país, os gaúchos do Scelerata, tratei de me identificar. Logo ele deu permissão de aproximação, demonstrando o carinho que nutre pela Roadie Crew.
O Paul que vi é hoje um senhor acima de 50 anos, que tem dificuldades de caminhar por ter sofrido muito com seu joelho, e que necessita do auxílio de uma bengala. Entretanto, a atitude punk e rebelde dos idos anos 70 ainda permanece. Muito simpático, deixou claro a falta e pesar que sente pela perda recente de seu amigo Clive Burr.
Na noite seguinte o que presenciei no pub foi algo totalmente o oposto da noite passada no show do Mad Max. A casa estava com um ótimo público e o clima também estava diferente. Velhos amigos e colegas de bandas passadas, bem como rockeiros ‘old school’ com suas camisetas do Iron ou mesmo carregando raríssimos vinis para que o velho Paul assinasse. A empolgação também era outra. Afinal, ao mesmo tempo em que havia alegria por rever Paul, um clima solene em respeito ao sentimento de perda de Clive Burr pairava no ar. Em todo caso, a empolgação teve início perto da meia noite, quando o Scelerata iniciou seu set de forma eletrizante.
O grupo gaúcho ainda divulga o aclamado álbum lançado ano passado “The Sniper”, que contou com participações ilustres de estrelas como Andy Deris do Helloween e do próprio Paul Di’Anno, além de ter sido produzido pelo renomado Charlie Bauerfeind (Blind Guardian, Angra, Viper, Hammerfall, Helloween, Rage, etc.). Assim que começou a intro “Money Painted Red”, a banda atacou com a poderosa “Rising Sun”, seguida por “In My Blood” e “Breaking The Chains” – todas de “The Sniper”. Em seguida, veio um cover bem executado para o clássico supremo do Metallica, “Master Of Puppets”.
Ao vivo o show é intenso e o mais novo membro, o guitarrista Vini Guazzelli, mostrou-se extremamente entrosado com a banda – Renato Osório decidiu se dedicar somente ao Hibria. O restante da banda também merece destaque, como o insano baixista Gustavo Strapazon, que domina bem o palco, além do extremamente técnico guitarrista Magnus Wichmann e do preciso baterista Francis Cassol. Quanto a voz de Fábio Juan, o que posso dizer é que ele tem um belo timbre, é muito seguro, tem uma ótima presença de palco e o fundamental: carisma.
O set continuou com o single “Enemy Within” (2008), seguida pela semibalada “Must be Dreaming” que, em estúdio, traz a participação de Andi Deris. Do primeiro álbum de 2006, a banda executou a poderosa pancadaria “Holy Fire” e encerrou o set com “Leave Me Alone”, de “Skeletons Domination” (2008). O Scelerata é um dos quem mantém vivo o Power Metal/Metal Melódico para deleite dos fãs desta linha do Metal.
Passado o impacto inicial, chegou o momento de Mr. Di’anno subir ao palco do Bolshoi. A expectativa era imensa entre os fãs. Muitos ainda não o tinham visto em ação e os já haviam conferido seus shows estavam ali para dizer seu adeus, já que esta é a última turnê de Paul.
Com um certo atraso, afinal, parece que houve algum problema técnico antes do show, Eis que a intro começa a rolar e logo Paul Di’Anno entrou detonando “Sanctuary”, seguida por “Purgatory”, “Wrathchild” e “Prowler”, todas fase Iron Maiden. Então, mandou “Marshall Lockjaw” e “The Beast Arises” ambas do ótimo álbum de estreia do Killers, “Murder One” de 1992. Depois, Di’Anno anunciou a faixa título do álbum “Children Of Madness” (1987) do Battlezone, um Hard Rock de responsa.
Sempre conversando e brincando com a plateia, houve alguns momentos hilários no show. Em um deles, um “louco” já conhecido de longas datas na cena local resolveu dar um daqueles agundos bem irritantes exatamente enquanto Paul discursava com os fãs. A reação de Paul foi muito engraçada: “Oh, isto deve de ser algum chamado de bicho… Não, não.. É alguém chamando ‘Bicha’, alguém está chamando ‘Bicha’!”. Assim que ele identificou o responsável pelo “gritinho”. Paul confrontou o jovem que, àquela altura, estava sem saber como reagir, dizendo: “OK, já que você fez isso, agora prove que é um fã meu e diga de quem você é realmente fã.” Paul então se aproximou do jovem que estava congelado ao meu lado e deu sua mão. No mesmo instante, o jovem a beijou reverenciando Paul. Como um bom Punk que ele é Paul recolheu sua mão dizendo…”Porra, beijo não…seu viadinho, comigo não!” E saiu resmungando, porém, rindo um bocado.
O show prosseguiu então agora somente com clássicos absolutos da “Donzela”, começando pela instrumental “Genghis Khan”, na qual a sua banda de apoio, Scelerata, simplesmente fez bonito. Depois foi a vez de “Remember Tomorrow”, em que Paul prestou sua homenagem ao ex-companheiro de “Donzela” Clive Burr. Um momento muito emocionante para todos os presentes.
Então foi a vez de três pedradas seguidas: “Charlotte The Harlot”, “Killers”, que enlouqueceu a plateia, e “Phantom Of The Opera”, com a execução perfeita de sua banda de apoio. Após mais uma instrumental, a emblemática “Transylvania”, Paul encerrou a apresentação com a arrasa quarteirão “Running Free”. Assim que deixou o palco, o público fez questão de não sair do lugar. Porém, ao vermos os amplificadores serem todos desligados, percebemos que enfim havia acabado. Abruptamente, com um “Thank You Goiânia”, Paul Di’anno – o eterno punk rebelde que fez sua história na banda mais bem sucedida do Heavy Metal mundial – se despedia de seus fãs em Goiânia.
Fiquei intrigado por ele ter limado de seu set a música “Murders In The Rue Morgue”. Seja como for, valeu muito a pena poder confefir de perto este homem emblemático e com imensa importância para o cenário Rock/Metal mundial. E jamais vou me esquecer do pedido que ele me fez: ”Silvio, lembre-se sempre de mim não como um astro do Rock ou uma celebridade ou merdas do tipo, mas como um ser humano que ama demais o seu belo país!” Por mais que falem mal deste senhor de mais de 50 anos, que mal consegue hoje caminhar e que se sacrifica para se manter em pé em um palco, ele é uma lenda, uma pessoa autêntica. Para sempre iremos lembrar do legado do eterno “Wrathchild”, o Senhor Paul Di’anno.