Paul Gilbert sempre teve muitos seguidores no Brasil e isso justifica o fato de na noite da última terça-feira, 31 de janeiro, o Carioca Club ter recebido um bom público. Mesmo com a forte chuva que caia sobre São Paulo, os fãs compareceram para prestigiar ele e os músicos que completam o seu power trio: o baixista Pete Griffin (Zappa Plays Zappa, Steve Vai, Terry Bozzio, Chick Corea, Eric Johnson, Stanley Clarke, Mike Portnoy, Dethklok) e o baterista austríaco Thomas Lung (Glenn Hughes, Tina Turner, Robbie Williams, Kelly Clarkson, Mick Jones, John Wetton). Em retorno ao país após o ótimo show realizado pelo Mr. Big em fevereiro de 2015 ao lado do Winger, dessa vez Paul Gilbert trazia ao público brasileiro a “I Can Destroy World Tour 2017”, que promove seu mais recente álbum solo, “I Can Destroy” (2015). Além de São Paulo, a turnê passou também por Brasília (28/01), Belo Horizonte (29/01) e Campinas (01/02).
Ainda que seja bastante conhecido por seus trabalhos com o Racer X e, principalmente com o Mr. Big, com o qual conquistou prestígio e sucesso mundial, o fato de Paul Gilbert ter feito parte daquela leva de guitarristas descobertos pelo lendário Mike Varney, dono da gravadora Shrapnel, que investia pesado em virtuoses do instrumento nos anos 80, lhe garantiu ‘know-how’ suficiente para até hoje ser idolatrado e considerado como um dos grandes ‘guitar heroes’ da história. Inúmeros guitarristas ao redor do globo o mencionam como influência. Não é de se estranhar, afinal, com apenas cinco anos de idade ele já arranhava seus primeiros acordes e, aos 15, o prodígio Gilbert era cogitado para fazer parte da banda solo do ‘madman’ Ozzy Osbourne.
Antes do show o público estava bastante comportado, talvez até porque no som mecânico (que apresentava muitas falhas durante as trocas das músicas) estavam rolando baladas de Guns N’Roses, Creedence Clearwater Revival, Scorpions e outros, mas foi só o Paul Gilbert Trio invadir o palco, pontualmente às 22h00, que todos se empolgaram.
A eletrizante abertura veio com um medley chamado “Massive Medley” que, como era de se supor, seria longo, mas muitos nem imaginavam que duraria, acredite, exatos 45 minutos de execução instrumental! Nesse extenso início de set foram tocados diversos trechos de músicas da carreira solo de Gilbert, além de clássicos do Racer-X e do Mr. Big – em alguns deles, como em “Green-Tinted Sixties Mind”, por exemplo, a plateia cantava a letra em alto e bom som, arrancando sorrisos de Gilbert. Haja preparo físico para segurar, ininterruptamente, uma sequência musical tão demorada! Falando em físico, se a Copa São Paulo de Futebol Junior de 2017 trouxe um episódio de um jogador que adulterou documentos para diminuir a sua idade, alguém deveria investigar se Paul Gilbert também não está dando “gato”, só que de maneira inversa. Ele realmente não aparenta estar com 50 anos de idade.
Na primeira pausa, “P.G.” – como é chamado pelo seu colega de Mr. Big, o vocalista Eric Martin – cumprimentou o público arriscando-se em português, apresentou a banda e assumiu os vocais na trinca do álbum “I Can Destroy”, que veio a seguir com a divertidíssima “Everybody Use Your Goddamn Turn Signal” (confira o videoclipe em animação no YouTube), o blues “Blues Just Saving My Life” e a ‘grooveada’ “One Woman Too Many”.
Vale dizer que Gilbert é dono de uma coleção admirável de guitarras, mas veio munido apenas de três, sendo elas as suas conhecidas Ibanez modelos PGM, Fireman e PGMM31 – essa última ficava o tempo todo fixada no palco. Com elas, o guitarrista ia debulhando suas mais variadas técnicas, inclusive de velocidade, mas também mostrava simplicidade em algumas composições pop e comerciais de sua carreira solo, a qual ele passeia por diversos estilos musicais – ele também não deixou de “brincar” com sua máquina furadeira em algumas músicas. Seus músicos também se destacavam com grande desempenho, não apenas em seus solos individuais, mas também durante toda a apresentação. Griffin mandava muito bem no baixo, mas também nos vocais de apoio. Por sua vez, Lang mostrou que como baterista, além de ser muito técnico, possui uma pegada absurda – não à toa, ele foi um dos testados para assumir a vaga deixada por Mike Portnoy no Dream Theater.
De maneira geral, o show arrancou reações diferentes da plateia. Havia músicas que deixavam as pessoas realmente eufóricas, já outras, principalmente em que a ‘fritação’ era exagerada, todos ficavam estáticos, alguns apenas prestando atenção e outros entediados mesmo. Ainda que grande parte do set tenha sido dedicada ao novo álbum “I Can Destroy”, os álbuns “Alligator Farm” (2000), “Space Chip One” (2005) e “Vibrato” (2012), não foram esquecidos, já que as músicas “Better Chords”, “SVT” e “Enemies (In Jail)” – antes dessa a banda ameaçou tocar “Back in Black” (AC/DC) –, respectivamente, também foram tocadas.
Ainda houve tempo para o cover de “Little Wing” (Jimi Hendrix). Pena que muitos não puderam ficar para conferir, já que tiveram que se retirar do local devido ao horário. Aliás, marcar um show longo desses para um horário tão tarde, foi um erro tremendo, tendo em vista que em dia de semana o transporte público encerra mais cedo as suas atividades. De qualquer forma, foram duas horas de uma apresentação onde a qualidade de som esteve muito boa durante todo o tempo e, como de costume, contou com muito carisma de “Pablo Gilberto” (quem é fá de Mr. Big lembra quando ele mostrava seu nome escrito dessa maneira na parte de trás do ‘shape’ de uma de suas antigas guitarras), que em vários momentos soltou algumas palavras em português, demonstrando estar feliz por tocar mais uma vez para o público brasileiro.
Massive Medley
– Racer X: Street Lethal / Into The Night / Blowing Up The Radio / Scarified
– Mr. Big: Take A Walk / Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song) / Green-Tinted Sixties Mind / Nothing But Love / A Little To Lose
– Solo: Bliss / I Like Rock / Get Out Of My Yard / Three E’s For Edward / Haydn Symphony N° 88 / Silence Followed By A Defeaning Roar
Everybody Use Your Goddamn Turn Signal
Blues Just Saving My Life
One Woman Too Many
Enemies (In Jail)
– Solo de baixo de Pete Griffin
I Can Destroy
Woman Stop
Better Chords
– Solo de bateria de Thomas Lang
Technical Difficulties (Cover do Racer X)
I Am Not The One (Who Wants To Be With You)
Adventure And Trouble
Little Wing (Cover de Jimi Hendrix)
SVT