Nascido em Bethesda (EUA) em 2005, eles já despontavam como um dos grandes nomes da nova geração do metalcore/djent em seu álbum de estreia, Periphery, de 2010. Porém, embora donos de um público fiel e empolgado, ainda demoraria nove anos e mais uma série de álbuns bem sucedidos para que estes norte-americanos estreassem no Brasil. Enfim, a data estava marcada para o início deste mês de junho, e era só esperar até o momento certo para presenciar a perícia técnica e a habilidade musical de uma das bandas mais inventivas do cenário. A cidade escolhida para receber esta estreia (e até o momento única performance) do Periphery no Brasil não poderia ser outra, então mais uma vez os paulistanos tinham uma ótima chance de se divertir ao som de boa música.
Não havia espaço para frustrações. O show prometia ser breve (a banda não costuma ultrapassar uma hora e meia de apresentação) e sem complicações, já que sem uma banda de abertura, não haveria a tradicional perda de tempo na desmontagem de equipamento e demais ‘perrengues’ que volta e meia ainda acontecem nessas situações. Assim, quase que pontualmente, a banda apareceu para saldar o público que reagiu empolgado, com a emoção aumentando ainda mais de nível com a execução de The Bad Thing, a primeira de Juggernaut: Omega (2015) a aparecer na noite. Com seu riff pesado e recheado de muito groove, a música conseguiu fazer com que muitos da plateia abandonassem as reservas e começassem a pular enfurecidamente, enquanto alguns gritavam cada verso da letra, e outros, bem, outros simplesmente filmassem com seu celular sem agitar e nem cantar. Cada um curte como prefere, certo?
Remain Indoors (Periphery III: Select Difficulty, 2016) veio em seguida, e se não conseguiu repetir a acolhida da anterior, também não fez feio, especialmente nas passagens em que os guitarristas Mark Holcomb e Jake Bowen (sim, o ‘sobrinho do homi’) interagem com seus instrumentos. Outro que chama atenção a todo momento é o vocalista, Spencer Sotelo. Dono de um timbre vocal bastante reconhecível, ele aposta ainda em uma performance mais firme do que enérgica (ele não é um Scott Vogel, se você me entende), o que de certa forma comanda a reação de boa parte dos fãs. Foi mais ou menos isso que presenciamos assim que Garden In The Bones começou a ser tocada. Com uma movimentação discreta e performance vocal irretocável, Sotelo comandou as ações da plateia, ao passo que o ritmo mais concentrado e contido da música evidenciava a performance do baterista Matt Halpern, que ia mais e mais chamando a atenção com sua performance segura.
A execução dessa primeira música do novo álbum (Periphery IV: Hail Stan, lançado este ano) não trouxe consigo aquela ‘acalmada’ do público, como é até costumeiro acontecer. Muito pelo contrário, já que ela pareceu preparar o terreno para a intensa, rápida e quebrada Graveless, a segunda e última de Juggernaut: Omega a dar as caras nesta primeira passagem da banda por São Paulo. Com um Misha Mansoor ainda mais inspirado que o habitual (que solo é esse, rapaz?) o grupo seguiu adiante em alta rotação, e sem dar espaço para respirar, The Way The News Goes (com linhas instrumentais que ora passeiam pelo jazz e ora focam no progressivo puro) e a incrível Marigold vieram em sequência, mas na ordem inversa do que acontece em Periphery III: Select Difficulty. Sim, funcionou muito bem!
Com o tempo começando a ficar escasso, Mile Zero colocou Periphery II: This Time It’s Personal (2012) no jogo, ao mesmo tempo que preparou um terreno fértil para a execução de mais uma das canções do novo álbum, a já muito bem conhecida Blood Eagle. A icônica Icarus Lives acabou sendo a única representante do álbum de estreia, mas convenhamos, parece ter sido a mais celebrada de todo o repertório, tamanha era a euforia dos fãs. Programada para fechar a apresentação, a belíssima Lune também foi um destaque a parte, e ganhou uma cara ainda mais especial por conta de gerar aquele inevitável clima de ‘quando veremos esses caras de novo por aqui?’. Uma apresentação incrível, uma estreia mais do que digna, e uma bela lembrança para o resto de nossas vidas.