Assim como ocorreu em edições anteriores do “Peso Brasil” com shows de lançamentos de álbuns do Necromancia, Goatlove e Skinlepsy, desta vez a honra coube ao Dusty Old Fingers. O grupo de Campinas (SP) esteve pela primeira vez na capital paulista, no último dia 14 de julho, para promover o recém-lançado disco de estreia, “The Man Who Died Everyday”. Na ocasião, tocou ao lado do Tomada e Cracker Blues, mostrando a diversidades do projeto criado por Ricardo Batalha (Roadie Crew) em parceria com o Manifesto Bar – a edição anterior tinha sido com Genocidio, Nervochaos e Descrated Sphere. Infelizmente, como vem ocorrendo em muitos eventos destinados a grupos autorais brasileiros, a presença de público foi bem abaixo do esperado. Mesmo assim, mantendo a tradição do “Peso Brasil”, todos os shows foram ótimos e com um som muito bem equalizado.
Por volta das 19h30, o primeiro a entrar no palco foi justamente o Dusty Old Fingers, que iniciou o show com “Everything That I Want”. Mostrando total desenvoltura e tocando com um som límpido, o grupo mostrou todos os seus predicados, em um show que obviamente contentou fãs dos Rolling Stones. O disco de estreia, lançado no “Peso Brasil” é uma ópera-rock bem construída e corente que se baseia na ascensão e queda de Brian Jones, fundador e primeiro guitarrista dos Stones.
Com o Rock’n’Roll pulsando nas veias, o vocalista e guitarrista Fabiano Negri comandou as ações, seguindo o show com a já conhecida “Blond hair, Baby Face”. Ao seu lado na linha de frente estavam Tony Monteiro (guitarra), Marcelo Diniz (teclados) e as backing vocals Nara e Sheila. A potente ‘cozinha’, com Joni Leite (baixo e harmônica) e Rick Machado (bateria e percussão), segurou firme durante toda a performance, que seguiu com “Librae Solidi Denarii”. Tony Monteiro e Fabiano Negri se comunicaram frequentemente com os presentes, apresentando e explicando o conteúdo das músicas, que ora contam com mais suingue, com o groove rolando solto em “The World At My Feet”, e em outras trazendo à tona um Rock mais cru, como “Lost Eyes”.
Negri solou com propriedade e fez um bom uso do wah-wah, enquanto a gaita de Joni veio junto com o forte tempero ‘bluesy’ de “Shadow Of Myself”. A ponta de psicodelia pôs ponto final ao show com “The Man Who Died Everyday”, que contou com a participação especial do maestro Paulo Gazzaneo no teclado. “Foi uma honra participar do Peso Brasil 5. O público foi bastante participativo e curtiu muito as músicas do nosso disco. Ótimo, também, dividir o palco com grandes bandas e grandes amigos como Tomada e Cracker Blues. Esse show marcou nossa estreia em São Paulo (que é minha terra e também do baixista Joni Leite), então pudemos reencontrar e mostrar nosso trabalho para vários amigos que não víamos há tempos. Em resumo, foi uma noitada perfeita!”, declarou Tony Monteiro, que brevemente estará de volta à estrada com a banda. “Temos alguns shows confirmados no interior de São Paulo (incluindo um no aclamado Delta Blues Bar de Campinas, que acontecerá no dia 28 de setembro) e estamos começando a trabalhar na gravação do nosso primeiro clipe oficial para a música ‘Lost Eyes'”, revelou.
Sem muita demora para troca, a banda paulistana Tomada provou o vigor desta sua nova formação, com Ricardo Alpendre (vocal), Pepe Bueno (baixo), Vagner Nascimento (guitarra), Paulo Navarro (bateria) e Mateus Schanoski (teclado). Com um som que fez jus a esta edição do “Peso Brasil”, o Rock rolou solto, com músicas que remetem aos pioneiros grupos setentistas do Brasil, como O Peso, Made In Brazil e A Bolha. Tocando faixas de seus três álbuns, o grupo iniciou o show com a acelerada “Blá Blá Blá, Blá Blá Blá” e “99 Centavos”, faixas do mais recente de estúdio, “O Inevitável” (2011).
O set seguiu com a conhecida versão de “Terno Branco” emendada com “No Turning Back”. Depois foi a vez de “(Quero ter) uma música forte”, faixa de abertura de “O Inevitável”. Sabe-se lá de onde tiram tantas texturas para suas músicas, mas é fato que o Tomada faz um Rock cheio de nuances, seja de Rock’n’Roll, Blues, Psicodélico, Prog ou Hard, mas tudo com um tempero bem brasileiro. É aquele típico Rock anos 70 em pleno 2013. E assim foram mandando ver com “Luzes”, “À sombra do trem” e a rocker “Minha Diva”. E como diz o título da música seguinte, “Doses Depois”, lá estava o pessoal batendo o pé, balançando a cabeça e um casal dançando Rock and Roll como se fazia nos anos 50 e 60 bem no meio da pista. Então, como em um passe de mágica, o agito deu lugar ao som mais melancólico e psicodélico de “Ela não tem medo”, conhecida por seu videoclipe.
O Rock básico se encarregou de agitar o final com “Billy, o esquisito” e “Catarina”, esta última uma das mais legais da banda e também conhecida por seu videoclipe. Podia não ter ninguém vendo que o Tomada faria do mesmo jeito, tudo em nome do Rock and Roll e com a máxima voltagem. O grupo agora se prepara para o lançamento de seu primeiro DVD/documentário “XII – Sons, Estradas e Estórias na Terra do Rock Tupiniquim”. “Puta projeto legal! Sempre um projeto onde tem bandas que estão na ativa fazendo som próprio é foda. Isso é a realidade atual da cena e, afora isso, é ‘ducaralho’ trocar ideia com músicos que estão produzindo”, comentou Pepe Bueno.
Com novos ajustes e troca de palco sem demora, eis que o Rock/Blues e Southern marginal do Cracker Blues tomou conta do “Peso”. Ninguém fica comportado vendo o Cracker, que havia feito o lançamento de seu segundo disco no festival mineiro “Roça’n’Roll”, realizado um mês antes. Dotado de enorme experiência, visual condizente com a proposta e muita malícia, o show teve início com “Lágrima para Ernest Borgnine” e “Caveira Chicana”. Por sinal, não era novidade o grupo ter tocado em um mesmo evento com o Tomada, já que certa vez ambos dividiram o palco do Centro Cultural São Paulo em 2011. Então veio a levada contagiante da ‘cozinha’ com Paulo Krüger (baixo) e Jeferson Gaucho (bateria) em “Bolero Maldito”, que em certo momento diz “minha vida é um maldito bolero de churrascaria”.
Sob comando de Paulo Coruja, tendo a gaita e as guitarras de Marcelo “Marceleza Bottleneck” Vera caminhando em perfeita harmonia, foi a vez de “Tinhoso”, tendo o reforço sempre presente da vocalista Paula Febbe, que também se encarrega de percussão. Outra que coube bem ao contexto foi “Canto Obscuro de um Bar”, seguida por “Jaula Enferrujada”, “Whisky Cabrón” e a conhecia pelo clipe “Que o Diabo lhe Carregue”. “Velha Tatuagem”, hit do primeiro álbum, e “Blues do Inimigo” foram as últimas de um “Peso Brasil” que teve um gosto amargo para este domingo de Rock em São Paulo. Até quando esperar o público comparecer a eventos como esse?