O Hard Rock dos anos 1980 – ou “Hair Metal”, para alguns – proveu um dos capítulos mais bem sucedidos e significativos dentro da história do Rock’n’Roll, conquistando fãs por todo o mundo e alcançando o outro lado do arco-íris. Mesmo nas décadas seguintes, independentemente de não ter o mesmo respaldo de outrora por parte da mídia e nem as bandas contarem com o empenho das gravadoras que investiam nelas quando vendiam seus “milhõezinhos” de cópias e se tornavam referência, o estilo não foi esquecido.
Hoje, distantes do pote de ouro, as bandas tentam se manter ativas por suas próprias pernas, como é o caso do L.A. Guns que, assim como muitas outras, foi uma das bandas que não desembarcaram no Brasil no auge, tendo que vir para cá de forma “retalhada” pois, em mais uma daquelas famosas disputas judiciais que vem acontecendo no Heavy Metal nos últimos anos, o grupo se dividiu em dois. Uma das partes, contando apenas com o guitarrista Tracii Guns, passou pelo país em duas oportunidades: 2008 e 2010 – nessa última, contando com o vocalista Jizzy Pearl (Love/Hate e Ratt), que fez parte da banda no início do novo século, antes da dissolução, em substituição justamente de Phil Lewis que, pela primeira vez, pôde finalmente satisfazer a vontade dos fãs brasileiros em uma apresentação única no país.
A abertura do show, realizado no dia 8 de fevereiro no Manifesto Bar (SP), ficou por conta de um tributo ao Guns N’Roses, Night Lights. Faltando poucos minutos para as 21h, com um público não mais do que razoável, o londrino Phil Lewis subiu ao palco e logo de cara revisitou o primeiro e homônimo álbum do L.A. Guns, com a explosiva “Sex Action”. Apesar de seus recém-completados 57 anos de vida, o ‘frontman’ apresenta boa forma física e vocal e foi acompanhado por um trio local, formado pelos irmãos Ricardo e Rodrigo Flausino (baixista e guitarrista, respectivamente), além do baterista Olavo Oliveira.
Apesar de ter lançado dois álbuns solos em sua carreira e ter passado pelas bandas Filthy Lucre, Thormé, New Torpedos, Liberators e a lendária Girl – ao lado do guitarrista Phil Collen do Def Leppard –, Lewis montou um repertório baseado apenas na discografia do L.A. Guns, mais precisamente nos três primeiros álbuns: “L.A. Guns” (1988), “Cocked & Loaded” (1989) – ambos Disco de Ouro nos Estados Unidos –, e “Hollywood Vampires” (1991). Além de uma ou outra de outros álbuns.
Na sequência vieram os hits “Never Enough” e “I Wanna Be Your Man” e então Phil fez a primeira pausa para poder falar rapidamente com a platéia, pedindo para que todos fizessem barulho para saudar a “fantástica” banda que o acompanhava, e então se apresentou: “Eu sou do L.A. Guns!” – antes de tocarem a densa “Over The Edge”. De fato, o trio formado para esse show, parecia muito bem ensaiado, já que mostrou muita competência e entrosamento, executando cada canção com o máximo de fidelidade ao que foi gravado originalmente.
Phil tocou guitarra base em muitas músicas e parecia empolgado com a reação da platéia, que cantava cada canção a plenos pulmões. Para alegria total dos presentes, mais hits foram despejados: “No Mercy”, “Electric Gypsy” e “Kiss My Love Goodbye” (essa última com uma influência descarada de Aerosmith). Demonstrando bastante simpatia e carisma, Phil Lewis brincou com a platéia: “É minha primeira vez em Portugal. Não, não… no Brasil! Desculpem-me. Eu confundi porque o idioma de vocês é o português!”.
Era chegada a hora de apresentar material do último disco do L.A. Guns, “Holywood Forever” (2012), e novamente brincou: “Essa música é sobre uma aranha, uma grande aranha. Mas não uma comum, mas “aquela” que vocês estão pensando”. Assim foi apresentada, “Aranã Negra (Black Spider)”. Um Blues Rock muito divertido, cantado em espanhol e que tem um videoclipe bem bacana. Por se tratar de ser música nova, teria passado despercebida pelo público, não fosse seu refrão empolgante.
Mas empolgação mesmo se viu quando a banda tocou “Rip And Tear” de “Cocked & Loaded”, a última mais pesada do set já que perto do fim, apresentaram “Beautiful” do álbum “Man In The Moon” (2001). Sem direito a bis, Phil se despediu de todos dizendo: “Estou muito longe de casa, mas com uma banda fantástica e um público incrível” e assim finalizou sua primeira passagem pelo país em um clima romântico proporcionado por “The Ballad Of Jayne”.
Foi um show curto, mas que satisfez cada fã que ali estava. A qualidade do som se manteve perfeita em toda a apresentação e os músicos foram muito bem escolhidos, sendo que o destaque foi o exímio guitarrista Rodrigo Flausino (Hatematter / Solo). Faltaram músicas como “Bitch Is Back” e “Crystal Eyes”, mas o fato de ter focado seu repertório apenas em músicas de sua banda principal fez com que ninguém saísse decepcionado com Phil Lewis. Ele nunca foi um vocalista reconhecido por sua voz em si, já que canta de forma simples, sem esbanjar técnicas e firulas, mas é um frontman de atitude e que mostra muita simpatia, tanto que no final do show ainda recebeu a todos no Manifesto Bar para fotos e autógrafos.
Tomara que não demore a voltar, mas que dessa vez seja com a banda completa. E quem sabe as desavenças não sejam resolvidas e Tracii Guns possa vir junto, já que recentemente ambos voltaram a se encontrar, em um palco, no show beneficente anual de fim de ano chamado “Toys For Tots”, realizado pela banda Sin City Sinners. Fica a esperança do baterista Steve Riley dar o braço a torcer e aceitar o retorno de Tracii, ao seu lado e ao de Phil Lewis.