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PHIL X: muito mais que apenas um ‘hired gun’

O fã o conhece como substituto de Richie Sambora no Bon Jovi ou por sua participação destacada no documentário “Hired Gun” (2016), que mostra a vida dos músicos contratados para um trabalho aqui, outro ali… E o canadense Theofilos Xenidis é isso, sim. Mas o guitarrista Phil X, que tem a sua própria banda – o Phil X & The Drills – é muito mais do que isso. Bem-humorado, ele falou da carreira num bate-papo cheio de histórias legais, mostrando não apenas por que é hoje o dono das seis cordas numa das maiores bandas do mundo, mas que é também um cara que, aos 53 anos, tem muito a ensinar sobre a carreira de músico e, claro, sobre guitarra. E é o que ele vai fazer antes e depois dos shows do Bon Jovi no Brasil (em São Paulo, dia 25; Curitiba, 27; e Rio de Janeiro, 29, no Palco Mundo do Rock in Rio): nos dias 24, no Manifesto Bar, em São Paulo, e 30, no Teatro Prudential, Rio de Janeiro, Phil X vai falar e tocar para quem quiser ouvir. E ao tirar por esta entrevista, vale muito a pena.

Vamos começar com duas perguntas bem simples: o que fez você querer ser guitarrista e músico? Quais foram suas influências?
Phil X: Meu pai costuma tocar música tradicional grega num bouzouki (N.R.: instrumento semelhante ao alaúde) quando eu era realmente muito jovem, e acredito que ele queria montar uma banda, na verdade, porque me colocou para tocar guitarra quando eu tinha 5 anos de idade (risos). Depois, ele me apresentou a Elvis Presley, pela TV, e foi assim que tudo começou. Enquanto eu crescia, minhas influências foram Van Halen, Black Sabbath, AC/DC, Led Zeppelin… Tudo bem comum àquela época. Tive a sorte de assistir ao Van Halen quatro vezes de 1980 a 1984, então foi com David Lee Roth, e isso mudou a minha vida. Eddie Van Halen não mudou apenas o mundo da guitarra por completo, ele fez isso com uma presença e uma energia raramente vistas até então.

E durante os anos 80 você teve o Sidinex/Flip City como sua primeira banda. Quais são as suas lembranças?
Phil X: Lembro-me das festas caseiras, então de conseguir gigs pagas e sempre, mas sempre tocar guitarra! Meus companheiros de banda, Scott Masterson e Kevin Gingrich, eram meus melhores amigos, e nós respirávamos música todos os dias. Quando finalmente encontramos um vocalista, Todd Farhood, fomos gravar um EP, Forever Young. Éramos apenas garotos com ilusões de grandeza. Embora o emprego de nossos pais a avós pagassem por essas ilusões, nós achávamos que era aquilo mesmo, que estávamos construindo nosso próprio caminho! Sem gravadora e sem marketing, as lojas de discos locais e as lojas dos colégios onde estudávamos estavam vendendo nosso EP. Hoje, eu simplesmente odeio o som de guitarra nele. Não sei onde estava com a cabeça quando escolhi aquele equipamento, mas eu também não tinha ideia de como as coisas eram feitas.

Aquele foi o melhor e mais prolífico período para o heavy metal e o hard rock. Claro, as coisas aconteciam com mais intensidade nos Estados Unidos, mas como foi para você viver tudo aquilo?
Phil X: Ser do Canadá tornou as coisas um tanto quanto difíceis. Tínhamos o Rush e o Triumph, mas havia várias bandas ótimas que não deram certo porque não conseguiram vingar nos EUA. Eu pensei em me mudar logo para lá, mas muitos músicos estavam fazendo isso e, com o tempo, acabaram sendo esquecidos ou conseguindo somente um emprego em alguma Guitar Center (N.R.: famosa cadeia de lojas de instrumentos musicais). Acredito que demorou muito, mas muito mesmo para as coisas acontecerem para mim, mas no fim tudo funcionou bem demais (risos).

Os anos 80 marcaram também a explosão de ‘shredders’, e a Shrapnel Records foi responsável por lançar nomes como Marty Friedman, Jason Becker, Richie Kotzen, Paul Gilbert, Tony MacAlpine e muitos outros. Como isso impactou o seu lado guitarrista?
Phil X: Foi uma época maravilhosa para a guitarra! Você achava que era um guitarrista sensacional, aí escutava Yngwie Malmsteen pela primeira vez e pensava: ‘Puta merda! Eu ainda tenho muito trabalho a fazer’ (risos). Eu tinha apenas 14 anos e estava aprendendo a tocar Eruption, do Eddie, mas sabia que tinha de desenvolver minha individualidade e personalidade na guitarra. Ser uma cópia não me levaria a lugar algum, então eu escutava todos aqueles músicas espetaculares e ia para casa praticar, mas praticar do meu jeito, não do jeito deles.

No início da década de 90, você tocou com Aldo Nova e depois entrou no Triumph, gravando um disco (N.R.: Edge of Excess, de 1993) e fazendo uma turnê. Como foi esse começo realmente profissional?
Phil X: Um grande baixista chamado Randy Coven (1960-2014) estava no bar do meu pai, tomando uma cerveja, e me viu fazendo uma jam. Ele disse ter ficado impressionado comigo, então perguntou se eu tinha interesse em algumas gigs. Em seguida, lá estava eu tocando com o Aldo Nova nos Estados Unidos, ou seja, finalmente vivendo o sonho. Cinco shows por semana, ônibus de turnê, hotéis e um salário! (risos) Foi um aprendizado e uma experiência incríveis! Abrimos para o Scorpions durante três semanas, o que foi incrivelmente divertido. Ao voltar para casa, eu estava absorvendo o que havia acontecido, e aí tudo parou. Não estava acontecendo mais nada até o dia em que o telefone tocou com o Gil Moore, (baterista e vocalista) do Triumph, na linha perguntando se eu poderia encontrá-lo. Cara, eu fiquei empolgadíssimo! Durante o encontro, ouvimos música e conversamos sobre eu ser o ‘novo cara’… Espera aí? O quê? O ‘novo cara’? Como é que isso poderia sequer dar certo? Mas Gil garantiu que ele e Mike Levine (baixo) tinham um plano que funcionaria perfeitamente. Tenho ótimas lembranças das gravações. As guitarras base foram finalizadas sem nenhuma dificuldade, com um tom incrível e partes matadoras, mas quando chegou a hora de gravar os solos eu percebi que meu estilo eram um pouco demais para o Triumph, então tive de me adaptar para encaixar na sonoridade da banda. Um amigo meu e também deles, Lawrence Falcomer, havia gravado alguns solos antes mesmo de eu ser efetivado, e os mantivemos porque a agenda era apertada. Estava tudo indo bem até a hora dos negócios. O disco foi lançado, mas a banda se desentendeu com a gravadora (N.R.: a Virgin, então subsidiária da PolyGram Records), que dispensou o Triumph e boom! Onze shows e estava tudo acabado. Eu sempre encontro com Gil para tomar um café quando vou a Mississauga, em Ontario, para visitar minha mãe, e até hoje ouço de fãs do Triumph o quanto eles adoram o Edge of Excess (N.R.: O álbum acabou sendo o último de estúdio do Triumph, que encerrou as atividades no mesmo ano para voltar em 2008, com a formação original, apenas para shows e discos ao vivo).

Você fez vários trabalhos como músico de estúdio ao longo dos anos, e eu gostaria de falar sobre três deles. O primeiro é com Alice Cooper, porque Brutal Planet (2000) é um dos meus álbuns favoritos dele, e foi uma surpresa saber que você o gravou. Mas exatamente quais músicas? E por que não rolou de sair em turnê com Alice?
Phil X: Essa foi uma experiência sensacional. Rob Zombie deu meu número de telefone para o Alice Cooper, que por sua vez o passou para o produtor Bob Marlette porque queria que eu participasse do disco. Recebi uma ligação do Bob, que nunca havia ouvido falar de mim, então apenas cumpriu a ordem do Alice e, a princípio, pensou que poderia passar apenas uma ou duas músicas para mim. Acontece que ele ficou tão impressionado que eu gravei nove faixas em apenas dois dias! Todos os sons esquisitos, como o tema de introdução e o solo de Brutal Planet, são meus. Foi uma oportunidade incrível para mostrar algumas das minhas ideias mais loucas (risos). Cara, eu usei até mesmo uma chave de fenda na corda mi, em cima do captador mais próximo do braço da guitarra, e a afinei para um tom que parecia que eu estava tocando uma nota ridiculamente alta! E foi algo que acertei em cheio (risos). Curiosamente, eu nunca havia encontrado Alice pessoalmente até o ano passado, quando tive a chance de dizer a ele: ‘É um prazer conhecê-lo. Sou Phil X, o cara que fez todos aqueles sons malucos no Brutal Planet’, e ele respondeu: ‘Sensacional! Bom me contou histórias insanas a seu respeito’ (risos).

E teve o seu trabalho com Rob Zombie, especialmente a trilha sonora do filme ‘House of 1000 Corpses’ (2003). Alguma história legal para compartilhar?
Phil X: Claro! Primeiramente, eu fazia parte da criação de toda aquela música legal para caramba, mas a única pessoa na sala que sabia exatamente para o que ela serviria era o Rob Zombie. Ele tem imagens na cabeça e ideias que não fazem necessariamente algum sentido, e o meu trabalho era fazer acontecer. Assistir ao filme posteriormente realmente jogou uma luz em cima de todo o projeto. Eu me diverti demais regravando Brick House (N.R.: o cover do Commodores que foi rebatizado como Brick House 2003 e contou com a participação de Lionel Richie e da rapper Trina), porque sempre adorei essa música. Depois disso, Rob um dia ligou e disse: ‘Ei, Phil, eu estou sem uma banda no momento e vou tocar Brick House com Lionel Richie no The Tonight Show with Jay Leno. Quer ser o guitarrista?’, e eu respondi: ‘Porra, é claro que sim!’. E aí veio o seguinte diálogo: ‘Mas tem uma pegadinha’, disse o Rob. ‘Hum, qual é a pegadinha?’, devolvi; ‘Você vai ter de tocar com uma maquiagem de zumbi’, ele respondeu; e eu falei ‘Isso não é uma pegadinha! Isso é maravilhoso!’ (risos).

Por último, como foi ajudar o saudoso Chris Cornell (1964-2017) a fazer uma versão rock de Long Gone (N.R.: no álbum Scream, de 2009)?
Phil X: Eu tive várias oportunidades de trabalhar com artistas supertalentosos, cresci ouvindo a música de muitos deles e por aí vai, mas Chris Cornell foi acima de qualquer coisa. Tocar guitarra enquanto ouvia sua voz saindo dos monitores foi a mais surreal de todas as experiências. Ele apareceu no estúdio quando eu estava gravando o solo, e eu não sabia como quebrar o gelo, e o que aconteceu… Bem, quando gravo um solo em estúdio eu ajo como se estive em cima do palco, porque para mim é como se estivesse fazendo um show. Eu realmente sinto o momento, então extraio o máximo que posso da guitarra. Depois do primeiro take, perguntei: ‘Como foi isso?’, e ele respondeu: ‘Ótimo, mas acho que você precisa de mais ganho’, no que eu disse de volta: ‘Não, como é que eu estava?’. Nós dois caímos na gargalhada. Sabe, eu não sou o tipo de cara que fica pedindo para tirar fotos com artistas no estúdio, mas me arrependo amargamente de não ter tirado uma foto com o Chris.

Como músico de estúdio, você foi de Kelly Clarson a Rob Zombie, mas qual momento de todos foi o mais marcante?
Phil X: É um trabalho incrível… Quer dizer, fazer uma música soar o melhor possível. É uma contribuição importante demais exatamente porque se trata de guitarra. Não importa se é pop, rock ou heavy metal, uma vez que a guitarra é sempre a força condutora, e é sempre maravilhoso quando o artista chega para você e fala ‘Ótimo trabalho. Nós adoramos’… E tenho outra história legal com Rob Zombie para contar. Estávamos gravando Blitzkrieg Bop para um tributo ao Ramones que ele estava produzindo (N.R.: We’re a Happy Family: A Tribute to Ramones, de 2003), e mais uma vez eu fiquei me sacudindo e indo à loucura enquanto tocava o solo. Quando acabou, olhei para o Rob, que disse: ‘Estou cansado só de ver você tocar’. Bom, você tinha que estar lá para ver o que rolou, mas foi um momento hilário (risos).

Apesar de todo esse currículo, ainda tem algum artista com quem você gostaria de compor e gravar? Ou algum guitarrista para participar de uma jam?
Phil X: Tenho enorme admiração por Dave Grohl. Sua história, sua música, seu estilo de tocar bateria, sua voz… Eu adoraria fazer algo com ele e, então, levar o Phil X & The Drills para abrir para o Foo Fighters ao redor do mundo. Como eu já tive oportunidade de fazer jams com a maioria dos meus heróis, fica difícil escolher alguém para futuras empreitadas, mas é claro que Jimmy Page e Jeff Beck estão na minha lista. E o Derek Trucks seria outro guitarrista para fazer uma jam insana.

Hoje você é o guitarrista de uma das maiores nomes do hard rock da história, substituindo um guitarrista de peso como Richie Sambora, que por décadas foi o parceiro do crime do Jon Bon Jovi. Depois de nove anos de relacionamento com a banda, incluindo um disco que vendeu muito bem, o The House is Not for Sale (2016), qual é o sentimento?
Phil X: Honestamente, parece que alcancei um status quase impossível, eu ainda não me sinto como se fosse um membro do Bon Jovi, apesar de meu rosto estar nas camisas de turnê (risos). Toco em estádios lotados ao redor do mundo e me pego pensando: ‘Que porra estou fazendo aqui?’. Em boa parte do tempo, sei que ralei muito para estar onde estou, e é isso que acontece quando você se dedicar por horas e horas, possui uma boa ética de trabalho e respeita a banda, a música e os fãs. Olha, o sentimento de ter contribuído um pouco no último álbum é ótimo, mas estou muito mais empolgado com o novo disco, que será lançado ano que vem, porque estou participando desde o começo de tudo. Estou vivendo um momento bastante excitante.

A propósito, o que o documentário ‘Hired Gun’ (2016) significou para a sua carreira? Afinal, não deixa de ser curioso que ele tenha sido lançado no mesmo ano em que você se tornou oficialmente um integrante do Bon Jovi…
Phil X: É estranho pensar dessa maneira, porque fui entrevistado para o filme em 2014, ou seja, dois anos antes de virar um membro oficial da banda. A dinâmica mudou um pouco desde então. Para mim, ‘Hired Gun’, que é um ótimo nome, representa um ‘por trás dos bastidores’, uma vez que mostra o que acontece e que muitas pessoas e fãs não têm ideia. Jovens músicos que querem explorar esse lado frequentemente perguntam para mim como é, o que é preciso fazer e como se chega lá, e o documentário dá um ótimo exemplo de tudo isso sob diversos ângulos. Fico feliz de ter participado do ‘Hired Gun’… E de ter dado um tom cômico a ele (risos).

Obrigado pelo papo, Phil. Espero vê-lo no Rio de Janeiro em breve, e o espaço final é todo seu.
Phil X: Não deixem de conferir o novo álbum do Phil X & The Drills, Stupid Good Lookings, Vol. 1 (2019), no iTunes, Spotify e também em lojas online. E vejo você no Rio!

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