Por Rogério SM
Fotos: André Santos
Quarenta e cinco anos de estrada não é para qualquer um. A lendária banda holandesa de heavy metal Picture voltou ao Brasil para comemorar suas mais de quatro décadas de trajetória musical em uma noite de pura energia e nostalgia, na qual os fãs brasileiros receberam com empolgação única os pioneiros do metal holandês, que se apresentaram com a mesma fúria e paixão que os destacaram no início de carreira. Com um setlist repleto de clássicos, a banda entregou um espetáculo que se tornou um verdadeiro tributo ao heavy metal tradicional, com muitos riffs marcantes, solos explosivos e vocais poderosos.
A plateia, que compareceu em bom número em um domingo de frio, foi aquecida pelo metal de primeira dos paulistanos do Just Heroes. Logo nas primeiras notas de Vital Signs, nova música do grupo, ficou claro que a banda era a escolha certa para a noite. Petardos como Survivor of Hate, Angels Deserves to Die e Horsepower deram o tom da qualidade e peso do grupo, que ainda emocionou os presentes com versões afiadas de Rapid Fire, do Judas Priest, e Metal Warriors, do Manowar. “Para nós, tocar com o Picture foi incrível. Foi uma aula de heavy metal; os caras são um verdadeiro exemplo. Tivemos uma ótima conexão com o público, o que tornou tudo ainda mais especial”, disse Flavio Souza Jr., guitarrista do Just Heroes.
Assim, o Picture estava pronto para encerrar a noite de domingo com 100% de aproveitamento. Logo nas primeiras notas de Griffons Guard the Gold, do álbum Eternal Dark (1983), a energia do público encontrou a da banda em uma sinergia contagiante. A música, que resgata toda a agressividade do metal oitentista, foi um dos primeiros momentos a incendiar o local, com fãs acompanhando cada verso em um coro uníssono e entusiasmado.
O vocalista Peter Strykes, ex-Vandenberg e 1st Avenue, com sua voz potente e expressiva, dominava a atenção a cada verso, incentivando o público a viver cada refrão, mostrando ser um substituto à altura de seus antecessores, especialmente o celebrado Pete Lovell. Message from Hell foi outro grande momento, levando os fãs a um frenesi. Com seu tom energético e letras que dialogam com o imaginário do metal clássico, a música – retirada do álbum Diamond Dreamer (1982) – foi recebida como uma joia rara pelos presentes. Strykes demonstrou total domínio do palco, mantendo o público conectado e entusiasmado a todo instante.
Em seguida, Blown Away, do disco Wings (2019), trouxe uma atmosfera diferente, carregada de intensidade e dramaticidade, cativando a plateia e mostrando o poder das canções mais recentes do quinteto. Ao lado de Strykes, os guitarristas Len Ruygrok, substituindo o fundador Jan Bechtum (que ainda se recupera de uma cirurgia na mão), e Appie de Gelder, na banda desde 2016, ofereceram solos virtuosos e riffs precisos, alinhando talento com técnica impecável. Cada nota distorcida era uma explosão de energia para o público.
Line of Life, também de Wings, emocionou o público ao mostrar que o Picture ainda carrega a tocha do metal tradicional. E foi com Nighttiger, do clássico álbum de estreia Heavy Metal Ears (1981), que o público foi levado a uma viagem nostálgica. Com sua melodia envolvente e solos afiados, o hino foi um dos momentos mais marcantes do show, com o público entoando o refrão a cada solicitação de Strykes. Já na icônica Diamond Dreamer, o baterista Laurens “Bakkie” Bakker brilhou, mantendo uma pegada precisa e explosiva, elevando a noite a um novo nível de intensidade e mostrando por que é considerado uma das forças motrizes da banda.
Outro ponto alto da noite foi You’re All Alone, com sua letra forte e ritmo acelerado, que mais uma vez colocou o público para cantar junto, fazendo todos os presentes erguerem os punhos. E, claro, a emblemática Eternal Dark, do álbum homônimo, entregou um dos momentos mais aguardados da noite, com um coro em plenos pulmões da plateia. A canção, que transcende gerações, reafirma seu lugar como um hino absoluto do metal.
O baixista Rinus Vreugdenhill sustentava tudo com uma força incrível. Em músicas como The Blade, de Eternal Dark, e Bombers, do debut, ele era um espetáculo à parte, interagindo com o público e trazendo um peso único às canções. Sua interação com a plateia foi especialmente empolgante em The Hangman, que resultou em gritos e aplausos intensos dos presentes.
Entre os inúmeros clássicos da noite, Heavy Metal Ears soou como uma explosão de energia, hipnotizando todos com seu riff irresistível. A música, do álbum homônimo, é um verdadeiro hino de celebração ao estilo e foi recebida com entusiasmo e vibração. Em seguida, Unemployed, do mesmo disco, manteve a casa animada em uma versão impecável.
Nesse momento, foi a vez de Lady Lightning, de Diamond Dreamer, que acabou sendo um dos ápices do set. Com um instrumental vibrante e riff perfeito, o clássico levou os fãs à loucura e fez até os mais contidos se soltarem, servindo também para Strykes apresentar a banda. Após uma despedida breve para uma saudação, logo o grupo estava de volta aos instrumentos para encerrar de vez com Make You Burn, de Eternal Dark, deixando no ar uma atmosfera de celebração genuína.
Foi uma noite memorável para os presentes, em um show que celebrou o verdadeiro espírito do heavy metal. Para os fãs brasileiros, foi mais uma noite histórica e um lembrete poderoso de que o metal clássico vive intensamente nas mãos desses veteranos. Como disse Strykes, “até o ano que vem”. Estaremos esperando para mais uma aula.
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Just Heroes – setlist:
- Intro
- Vital Signs
- Survivor of Hate
- Hurts Like Fire
- You Will Never Heal
- Rapid Fire (cover do Judas Priest)
- Forever in My Heart
- Metal Warriors (cover do Manowar)
- Angels Deserve to Live
- Heroes
- Horsepower
Picture – setlist:
- Griffons Guard the Gold
- Message From Hell
- Blown Away
- Line of Life
- Nighttiger
- Diamond Dreamer
- Eternal Dark
- You’re All Alone
- The Blade
- Bombers
- The Hangman
- Heavy Metal Ears
- Unemployed
- Lady Lightning
- Make You Burn