Não deixa de ser curioso que a situação econômica ruim do Brasil esteja caminhando lado a lado com a quantidade de shows no país. Mesmo o Rio de Janeiro, um palco de altos e baixos no quesito público, tem vivido um período bem fértil, e a temporada em setembro foi aberta com a dobradinha europeia Primal Fear e Luca Turilli’s Rhapsody no Circo Voador, com abertura do Monstractor, quarteto do Sul Fluminense do estado. E Christian Klein (baixo e vocal), Diego Monsterman e Egberto Pujoi (guitarras) e Demetrios Maia (bateria) mostraram como a diversidade de estilos no Heavy Metal é saudável num mesmo evento.
O Thrash Metal do quarteto, puxado pelo vocal bem agressivo de Klein e os dedos afiadíssimos de Monsterman, proporcionou os momentos mais pesados daquela noite de quinta-feira, pena que para um público ainda muito tímido na famosa lona da Lapa – não que a expectativa fosse de casa lotada, mas começar o show pontualmente às 20h é um risco calculado até que as pessoas entendam que respeitar o horário é o melhor para todos. E quem chegou mais cedo presenciou petardos como “Immortal Blood” e “Brazilian Roswell”, do álbum “Recycling Thrash” (2015). Não conhece? Deveria. O peso do Monstractor é agradável aos ouvidos.
Em seguida foi a vez do Luca Turilli’s Rhapsody, e… Bem, tomando emprestada a definição de um bom amigo, é difícil aguentar um som tão perfumado. Lembro-me de quando ouvi “Legendary Tales” (1997) pela primeira vez, quando o disco foi lançado no Brasil. Em determinado momento, mencionei que a primeira música era longa demais, e o lojista amigo respondeu dizendo que o CD já estava na quinta música. Ou seja, soava tudo muito parecido. Enfim, na separação, Alex Staropoli pôde ir em direção a algo mais pesado, ainda que exageradamente pomposo, porque Luca Turilli ficou com a perfumaria. Não que os fãs deem a mínima para o que estou falando…
De fato, não dá para negar a qualidade técnica dos músicos que acompanham Turilli, um guitarrista que não diz muita coisa. Tem mão esquerda, mas onde está a direita? Enfim, quem rouba a cena é mesmo o ótimo vocalista Alessandro Conti, que completa o trabalho com uma boa presença de palco – Dominique Leurquin (guitarra), Patrice Guers (baixo) e Alex Landenburg (bateria) completam a formação e dão conta do recado sem uma nota fora. Mais uma vez, não que os fãs deem a mínima para o que estou falando, porque, já em número bem razoável na pista, eles vibraram com cada segundo das músicas, até mesmo com os ‘samplers’. E como há ‘samplers’!
O grupo italiano ignorou completamente o primeiro álbum lançado sob a atual alcunha, “Ascending To Infinity” (2012), e mandou três músicas do mais recente, “Prometheus: Symphonia Ignis Divinus” (2015), todas muito bem recebidas. E entre solos de guitarra, baixo e bateria – e foi divertido ver Landenburg enfiar o trecho mais famoso de “A Song Of Ice And Fire”, tema de “Game Of Thrones”, em seu solo –, músicas do Rhapsody e do Rhapsody Of Fire (claro, de quando Turilli ainda fazia parte da banda) que levaram os fãs à loucura. A seção final da apresentação, com “Dawn Of Victory” e “Emerald Sword”, botou a casa abaixo.
E houve que saiu de casa apenas para ver a primeira atração internacional. Sim, teve gente que foi embora antes de a introdução “Countdown To Insanity” anunciar que o Primal Fear estava pronto para entrar no palco. O que posso dizer? Lamento, sem dúvida. Quem ficou assistiu a um belo show de Heavy Metal. E de Heavy Metal mesmo, sem frescuras, mas com mitos riffs de guitarra (e muitos riffs ótimos), solos em dobradinha e um vocal poderoso. Ok, tudo com uma parruda influência de Judas Priest, mas e daí? Veja bem, influência do Judas Priest. Conhece? Heavy Metal, meu amigo. Heavy Metal bruto e, principalmente, clássico.
Ralf Scheepers (vocal), Tom Naumann e Alex Beyrodt (guitarras), Mat Sinner (baixo) e Francesco Jovino (bateria) passaram por cima sem dó nem piedade. E sabe o que é mais legal? Privilegiaram o novo álbum, “Rulebreaker” (2016), metendo nada menos que cinco músicas num set de 14. Da bela balada “The Sky Is Burning” ao hino instantâneo “In Metal We Trust”, a cadenciada faixa-título e a excelente “The End Is Near” (um show à parte de Scheepers) ainda conseguiram se destacar.
E com outros dez discos no catálogo, a banda alemã ainda conseguiu passear por outros sete. Entrou matando a pau com “Final Embrace”, de “Jaws Of Death” (1999); arregaçou com “Angel In Fire”, de “Nuclear Fire” (2001), que cedeu ainda a faixa-título; colocou os fãs de punhos para o alto em “When Death Comes Knocking”, de “Delivering The Black” (2014); os fez cantar em alto e bom som “Metal Is Forever”, de “Devil’s Ground” (2004); e surpreendeu ao abrir o bis com “Rollercoaster”, de “Seven Seals” (2005).
Simpáticos, Scheepers e Sinner comandavam o público com facilidade, mas eram muito bem escorados. Naumann e Beyrodt formam uma daquelas duplas com selo metálico de qualidade, enquanto Jovino é um monstro atrás do kit de bateria – não bastasse a pegada, tem um estilo empolgante de tocar. E não, eu não me esqueci de “Primal Fear”, o álbum de estreia lançado em 1998. “Chainbreaker” (lembre-se da importância de um baita riff de guitarra no Rock) foi obviamente muito bem recebida, enquanto o desfecho até surpreendente com “Running In The Dust” (lembra-se da importância de um baita riff de guitarra no Rock? Pois é) coroou uma apresentação que foi uma ode ao Heavy Metal. Simples assim, só que nós gostamos muito disso, certo?
Set list Primal Fear
1. Final Embrace
2. In Metal We Trust
3. Angel In Black
4. Rulebreaker
5. Sign Of Fear
6. The Sky Is Burning
7. Nuclear Fire
8. Angels Of Mercy
9. The End Is Near
10. When Death Comes Knocking
11. Chainbreaker
12. Metal Is Forever
Bis
13. Rollercoaster
14. Running In The Dust
Set list Primal Fear
1. Final Embrace
2. In Metal We Trust
3. Angel In Black
4. Rulebreaker
5. Sign Of Fear
6. The Sky Is Burning
7. Nuclear Fire
8. Angels Of Mercy
9. The End Is Near
10. When Death Comes Knocking
11. Chainbreaker
12. Metal Is Forever
Bis
13. Rollercoaster
14. Running In The Dust