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ANATHEMA

Custou ao público paulista acreditar. Após vir à capital paulista em 2006 e ser impedido de se apresentar por problemas documentais da casa de shows e após ter novo anúncio de vinda cancelado, já em 2011, muitos faziam piadas nesta tarde de domingo, em frente ao Carioca Club, de que só acreditaria que o show aconteceria depois que ele tivesse acabado. Entre cervejas, piadas e desconfiança, muita fila cercava os arredores da casa de shows. Distraída, a maior parte dos fãs nem mesmo viu a banda sair da casa para a van, passando por todos, após passagem de som.

Apesar do horário passado à imprensa estar de acordo com o horário efetivo do início do show, a divulgação do evento ao público dizia “18h”, causando revolta em alguns que entraram cedo na casa e tomaram um chá de espera, mas que fora acalmada pelo som mecânico recheado de bandas como Katatonia e Opeth, nomes comuns aos fãs de Anathema.

Assim, às 20h20 os ingleses subiram em palco e deram início com as duas partes de “Untocheable”. Os sorrisos estavam estampados nos rostos de Daniel “Danny” Cavanagh (guitarra, teclados e voz), Vincent “Vinny” Cavanagh (voz e guitarra), Lee Douglas (voz), acompanhados dos músicos portugueses David Cardoso (bateria, Head Control System) e Tobel Lopes (baixo, Head Control System). Enquanto “Untocheable Part 1” pode ser tida como um dos momentos mais ‘up’ do Anathema, se é que esse termo cabe aqui, a “Part 2” mostra toda a introspecção da banda ao som de piano e com as interpretações vocais de Vincent, e principalmente de Lee causando arrepios gerais somados ao coral do próprio público que cantava o trecho: “I had to let you go. And find a way back home”.

O som estava perfeito, a casa estava lotada e as emoções já emanavam nos olhos de muitos que presenciavam este momento. Só faltava mesmo um lugar mais ambientado em termos de iluminação e talvez até com assentos, o que combinaria perfeitamente com o show, mas ninguém dava a mínima pra isso. Divisor de opiniões entre alguns fãs, o álbum “Weather Systems” (2012) seguiu preenchendo o set com “The Gathering of the Clouds” e “Lightning”, mais uma vez com destaque absoluto à cantora Lee Douglas. Vale citar que a banda vem se apresentando sem um tecladista oficial, tendo o instrumento apresentado por samplers ou por Danny, enquanto o atual tecladista da banda estava atrás de um kit de bateria de bumbo enorme. Sim, o lusitano é um multi-instrumentista e toca tão bem a bateria quanto o teclado, sem sofrer. Não recebemos qualquer informação oficial sobre a ausência do baixista Jamie Cavanagh e o do baterista John Douglas.

A sequência do set abordou o ótimo álbum “We’re Here Because We’re Here” com “Thin Air” e “Dreaming Light”, mais uma daquelas que causam emoções diversas aos ouvintes. As execuções da banda são impecáveis e o único “pecado” por assim dizer é o fato deles ignorarem completamente o passado Doom Metal tão apreciado pelos brasileiros. Aliás, mesmo em tempos de internet dominante do mundo atual, havia os desinformados esperando material antigo no set list, alguns já putos a essa altura do show e apesar de boa parte também sonhar com o mesmo, já não é segredo para ninguém que o Anathema deixou o Metal há anos, passando para o Rock Progressivo e hoje flertando até com uma sonoridade mais Pop, mesmo que sempre mantendo o clima introspectivo e os arranjos mais apurados. “Judgement” (1999) é com certeza o álbum que firmou o estilo atualmente tocado pela banda e aqui teria sua primeira representação com a música “Deep”, sem seu final tradicional, mas não menos interessante, seguida de “Emotional Winter” e “Wings of God”.

A essa altura já era notável que Vincent não era um grande comunicador da banda – talvez pela interpretação das letras deixarem o rapaz sempre mais introspectivo ou apenas por certa timidez, deixando esse intermédio entre público e palco com Danny, esse sim mais descontraído, e contando com o apoio do baixista Tobel que tem a vantagem da língua portuguesa.

É difícil descrever o ambiente de paz que reinava por todo o Carioca Club. A banda que já fora um dos nomes mais importantes de um dos estilos mais depressivos da música, hoje nos leva a um clima refletivo com suas músicas, alguns tristes, é bem verdade, mas belos e nenhum suicida e forçado.

“The Beginning and the End” mostra um show à parte da interpretação vocal de Vincent seguido pela guitarra “floydiana” de Daniel, com sua correia de bandeira americana (???). Em seguida, seria vez de Lee Douglas causar mais arrepios gerais com a faixa homônima do álbum “A Natural Desaster”. Impressionante como a moça se tornou parte imprescindível da música do Anathema desde este álbum, lançado em 2003.

Em “Closer”, Vincent deixa a frente do palco, coloca a guitarra de lado e assume o vocoder, instrumento que sintetiza a voz enquanto a pessoa canta, deixando-a como a de um robô. Apesar de ser uma música bem simples, até bobinha para muitos, é muito interessante ver essa execução ao vivo justamente por esse efeito vocal.

Com Vinny voltando ao centro do palco, a banda dá início a “Simple Mistake”, mas poucos segundos depois Danny interrompe a música e nota que uma moça passava mal bem à sua frente. Ele pede que gentilmente ela seja retirada da grade e levada para enfermaria, o que apesar do susto, deve ter dado à fã a alegria de estar com a banda em camarim logo menos, pois ao fim da música, eles entrariam rapidamente para uma pausa.

O encore seria o momento de grande emoção do show, não que até então não o tenha sido, mas aqui viria de fato o motivo de choro de muitos. A banda retornou com “Internal Landscapes” e logo após faria uma sequência daquele pode ser seu álbum mais importante. Enquanto “Judgement” foi o disco que fixou a mudança sonora da banda, “Alternative 4” (1998) foi o álbum precursor de sua fase progressiva tão influenciada por Pink Floyd. Assim, o disco fora bem representado com “Shroud of False”, “Lost Control”, “Inner Silence” e o momento ápice, aquele das lágrimas acima citadas: “One Last Goodbye”. Para que o amigo leitor que não é tão fã da banda entenda, essa música de 1999 foi feita pelos irmãos Cavanagh tratando da perda da mãe e de todos os sentimentos que envolvem quem fica com relação a quem parte. A honestidade do tema e a identificação geral, pois muito ali com certeza já perdera alguém importante em sua vida, faz desta música um momento extremamente forte nas apresentações da banda, principalmente para um público como o brasileiro que é tomado por sentimentos que afloram sem pudor algum. Assim, o que se via durante a execução da música eram lágrimas por toda lado, algumas mais discretas, outras gritantes, como a deste que voz escreve. Com o perdão do uso da primeira pessoa para a confissão, mas sempre ouvia essa música lembrando de um grande amigo perdido em um acidente de carro no passado e hoje me recordo de minha avó que deixou minha família recentemente. Ou seja, “One Last Goodbye” traz sentimentos que poderiam ser facilmente identificados por muitos ali e soa como um expurgo para a aflição de muitos corações presentes.

“Parisienne Moonlight” foi tocada por Danny com os vocais de Lee, mas muitos ainda sentiam a “ressaca” da música anterior. Passado o momento “chorão” da noite, era chegada a hora da banda reerguer o público para o final. Como fazer isso? “Fragile Dreams” é a resposta. Com direito a todos cantando, alguns até pulando, a música encerrou uma noite que pra muitos nunca ocorreria. Faltaram músicas? Óbvio que sim. Tanto da fase Doom quanto da fase Prog, pois apesar das duas horas de show, tudo passou muito rapidamente, mas era clara a satisfação de banda e público, principalmente o segundo, pois desta vez cada paulista ali presente voltou para casa com a frase que será dita por toda a vida: “Eu vi o Anathema.”
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