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ANGRA

O Angra sem Kiko Loureiro, que, você sabe, é o novo braço-direito de Dave Mustaine nas seis cordas do Megadeth. O Angra pela primeira vez no Rio de Janeiro com Marcelo Barbosa – descontemos o “Rock in Rio”, afinal, o festival foi apenas o momento de boas-vindas ao guitarrista do Almah, uma vez que Dee Snider acabou roubando o show. O Angra com a participação especial de Edu Falaschi, seu segundo ex-vocalista. A banda nunca precisou de tanto para garantir plateia na cidade. O próprio nome sempre foi suficiente, mas esses detalhes, de fato, atiçaram a curiosidades dos fãs que compareceram em bom número à Fundição Progresso numa noite de domingo. E não se arrependeram.

Em um palco bem ornamentado com as cores do álbum mais recente, “Secret Garden” (2014), Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) começaram mandando ver com duas novas recheadas por um clássico. E por mais que “Nothing To Say” tenha causado um merecido e justificável frenesi, foi legal ver (e ouvir) que “Newborn Me” e “Final Light” já caíram nas graças do público. O que não se pode dizer de uma das antigas: “Wings Of Reality” veio em seguida para uma recepção um pouco mais fria, mas talvez seja apenas implicância deste que vos escreve, uma vez que nunca tive muito apreço por “Fireworks” (1998).

Uma das maiores joias da discografia do Angra, a espetacular “Time” colocou o trem de volta aos trilhos, carregando com ela a recente “Storm Of Emotions” e as sempre bem-vindas “Waiting Silence” e “Make Believe”. E vale abrir parênteses: é gratificante reparar que Lione começa cada vez mais a ser ele mesmo nas músicas da era Andre Matos. Sim, é um material bem difícil de cantar, mas não há necessidade de fazer igual. O italiano é um vocalista de primeira linha, então não precisa sofrer para atingir tantas oitavas. Assim, “Make Believe” teve mais um bom motivo para estampar um sorriso no rosto de qualquer um. Ah, sim! E Barbosa, apesar de ainda meio tímido no lado direito do palco, mostrou no fim desta, especialmente, que o posto de Loureiro está em excelentes mãos. Tanto a direita quanto a esquerda. Fecha parênteses.

O clima voltou a dar uma esfriada em “Silent Call” na versão voz e violão apenas com Bittencourt – difícil apagar a impressão de que, com “Secret Garden”, ficou cristalino quem dá as cartas na banda. Para o bem e para o mal, pois o momento foi tão dispensável, até pela quebra da dinâmica com a arrumação do palco, que mesmo um solo de bateria teve mais apelo. Bom, mas seria realmente complicado tirar os olhos de Valverde, porque o garoto é mesmo um “monstrinho” com as baquetas. Mais do que isso, tem a técnica necessária para tocar o material gravado por Aquiles Priester sem deixar vários buracos – o que, convenhamos, é um baita desafio, principalmente nas músicas da obra-prima “Temple Of Shadows” (2004).

E assim foi feito. Com Edu Falaschi no palco – e Lione ainda “descansando” no backstage -, o Angra engatou “Angels And Demons” e “Spread Your Fire” (simplesmente arrasadora) antes e depois de “Heroes Of Sand”, respectivamente. Todas excelentes e com Falaschi, sempre muito falante, mostrando em seu material o ótimo vocalista que sempre foi (viu só o porquê da observação linhas acima?). A ideia de contar com o ex-integrante, o que ocorreu também em São Paulo, transformou-se num dos melhores momentos da noite, mas a partir daí não teve mesmo mais oscilação na apresentação. O pique foi sempre lá em cima, mesmo que muitos dos fãs presentes não tivessem escutado a versão da banda para “Synchronicity II”, clássico do The Police que entrou como bônus da versão europeia de “Secret Garden”. E a música, original do maravilhoso “Synchronicity” (1983), ficou mesmo ótima numa roupagem com a cara do Angra e a excelente interpretação de Lione.

O encerramento antes do bis se deu com “Holy Land”, a faixa-título de mais uma obra-prima do quinteto. Uma agradável surpresa, diga-se de passagem, que ganhou palavras de exaltação de Lione. É só imaginar o impacto que esse disco teve na comunidade Metal na Europa nos anos 90, principalmente no nicho em que o Angra estava inserido. Sem dúvida, coisa para deixar gringo de queixo caído. No retorno ao palco, as primeiras notas de “Unfinished Allegro” trouxeram uma agradável lembrança: até então, ninguém havia pedido “Carry On”. Felizmente, aqueles dias em que, com 15 minutos de show, um grupo de malas ficava gritando o nome da música viraram passado.

Ok, trata-se de um clássico, mas o Angra não é apenas uma música. O que explica “Carry On” hoje servir de ponte para “Nova Era”, a canção que marcou o renascimento do grupo após a debandada de três de seus integrantes, especialmente a saída de Andre Matos, uma daquelas perdas quase sempre irreparáveis. E “Nova Era” trouxe de volta Falaschi, desta vez dividindo o microfone com Lione – à exceção de “Pegazus Fantasy”, a musiquinha da animação “Cavaleiros do Zodíaco” que, sim, os fãs pediram em uníssono e cantaram palavra por palavra. “Rebirth” foi um caso de beleza à parte com Falaschi e Lione lado a lado, e “The Number Of The Beast” fechou a noite com a pista da Fundição Progresso em êxtase. Apesar de que, bem, poderia ser qualquer outra coisa da própria Donzela que o efeito seria o mesmo. É o que acontece quando se mexe com religião.

Setlist:
1. Newborn Me
2. Nothing To Say
3. Final Light
4. Wings Of Reality
5. Time
6. Storm Of Emotions
7. Waiting Silence
8. Make Believe
9. Silent Call (voz e violão c/ Rafael Bittencourt)
10. Bruno Valverde Solo
11. Angels And Demons (c/ Edu Falaschi)
12. Heroes Of Sand (c/ Edu Falaschi)
13. Spread Your Fire (c/ Edu Falaschi)
14. Synchronicity II
15. Holy Land
Bis
16. Unfinished Allegro
17. Carry On/Nova Era (c/ Edu Falaschi)
18. Pegazus Fantasy (c/ Edu Falaschi)
19. Rebirth (c/ Edu Falaschi)
20. The Number Of The Beast (c/ Edu Falaschi)

 

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