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BLACK SABBATH

“What is this that stands before me?”… A primeira frase de “Black Sabbath”, a música, nunca soou tão profética quanto na noite de 13 de outubro, um domingo que nem de longe lembrou a industrial e cinzenta Birmingham, cidade natal da banda que mudou a vida dos 35 mil fiéis que lotaram a Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro. Sim, não fosse o Black Sabbath, a música que todos nós amamos seria diferente. Talvez até mesmo não fôssemos tão apaixonados pelo som que emana de uma guitarra. Sim, Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler são a pedra fundamental do Heavy Metal, e o que testemunhamos foi uma aula dada pelos primeiros e verdadeiros mestres.

O dever jornalístico deveria impedir uma resenha cheia de adjetivos, com tamanha exaltação. Mas este mesmo dever jornalístico virou pó quando soou a sirene anunciando “War Pigs”. E não foi apenas pelo fato de que era o Black Sabbath, mas sim pelo fato de que era um Black Sabbath fazendo magistralmente aquilo que faz de melhor: um show espetacular com músicas não menos espetaculares. Era a história viva, muito bem viva à frente de fãs boquiabertos, marmanjos chorando de emoção. A antecipação ao êxtase começou, aliás, começou com o palco às escuras, pano escuro à frente, e Ozzy interagindo com a plateia. O “olê, olê, olê” foi prontamente atendido pelo público, e a partir daí a brincadeira foi a seguinte: o Madman pedia, o público obedecia. Simples assim.

Só não foi assim no coro de “War Pigs”, pois o vocalista nem precisou se dar ao trabalho. Os fãs pareciam esperar pelo momento, assim como para gritar “Oh, Lord yeah!”. Eram mais de 40 anos presos na garganta, e poder começar o show com um dos maiores clássicos da história do Metal é coisa para poucos. Como é para poucos hipnotizar o público mesmo deixando fora pérolas como “Sweet Leaf”, “Sympton of the Universe”, “Sabbath Bloody Sabbath” (compreensível, pois o tom original do vocal é alto demais para um Ozzy com mais de 60 anos), “The Wizard” e “Electric Funeral”, entre outras, para incluir canções do novo álbum e mais algumas raridades.

Tudo ali era absolutamente genuíno. De um Ozzy muito bem fisicamente e com a garganta em dia (uma desafinada aqui e outra acolá já fazem parte do charme) ao som de baixo deliciosamente “gorduroso” de Geezer, caindo na mágica que Iommi extrai das seis cordas. “Into the Void” foi a síntese de tudo isso. O abraço afetuoso do vocalista nos companheiros mostrava uma banda guiada por um dos vários magistrais riffs do guitarrista canhoto que escreveu o livro “Você quer tocar Heavy Metal? Então aprenda com o criador”. Uma guitarra que vale por mil, responsável direto pelo assombroso peso que saía das caixas de som – e faça-se o devido registro: o som estava cristalino como poucas vezes se pode ouvir na Apoteose.

A seguir, duas do álbum “Vol. 4” (1972): “Under the Sun/Every Day Comes and Goes” e, principalmente, “Snowblind” mantiveram pista e arquibancada em transe até a chegada da primeira de “13”, “Age of Reason”. Se uma música nova é, como alguns costumam dizer, a hora de os fãs irem comprar uma cerveja ou dar um pulo no banheiro, não foi exatamente isso o que aconteceu. Sim, havia quem não conhecesse, mas havia muito mais quem soubesse cantar ao menos o refrão. No entanto, a reverência era absoluta, afinal, após 35 anos a formação (quase) original do Black Sabbath lançou um disco não apenas bem-sucedido comercialmente, o que poderia facilmente ser explicado com a força do nome, mas também um dos melhores discos do ano, senão o melhor.

“What is this that stands before me?”. O barulho de chuva, trovões e sino anunciava que era a hora de os primeiros acordes da história do Heavy Metal tomarem o lugar de assalto, e é preciso dizer com todas as letras: aquelas três notas iniciais e infernais despejadas por Iommi foram o momento mais sublime de uma noite que ainda não havia chegado ao clímax. Sim, para o Black Sabbath, a banda, isso é possível, como é possível para o guitarrista se agigantar diante de um tratamento de linfoma, subir ao palco e fazer o show da vida de muita gente. Com o perdão da sinceridade: em “Black Sabbath” foi impossível conter as lágrimas.

“Behind the Wall of Sleep” foi uma abre de luxo, e coloca luxo nisso, para Geezer brilhar intensamente antes de colocar a Apoteose abaixo com o seu riff de “N.I.B.”, que transformou a pista, sob o comando de Ozzy, num verdadeiro pula-pula. E valeu até morcego de brinquedo jogado no palco e pego por Ozzy, que se divertiu ao repetir o ritual de 31 anos atrás: colocou o bichinho na boca e fez graça, mas desta vez sem a necessidade de tomar algumas doses de vacina antirrábica. A excelente “End of the Beginning”, mais uma de “13”, arrebanhou mais vozes do que “Age of Reason”, mostrando que músicas de trabalho ou que abrem um disco são escolhidas para, vejam só, serem músicas de trabalho ou abrir um disco. Se até então os olhos e ouvidos estavam basicamente voltados a Ozzy, Iommi e Geezer, o baterista Tommy Clufetos soube aguardar a sua vez para mostrar que merece ser o titular das baquetas. Não há dúvida de que tudo seria ainda mais emocionante se Bill Ward estivesse sentado no banquinho, mas não adianta ficar remoendo polêmica.

Confesso que tinha muitas dúvidas em relação a Clufetos, principalmente depois de vê-lo em ação com Ozzy. Era muita presepada e pouca inspiração, mas é preciso dar a mão à palmatória. O cara mandou muito bem. Não bastasse o visual que remete a um Bill Ward dos primórdios do Black Sabbath, ele conseguiu até roubar a cena em “Fairies Wear Boots” e, é claro, em “Rat Salad”, preparada para um solo correto e necessário para que os patrões recobrassem o fôlego – e se a verdade dói, é preciso admitir que o batera original não tem condições físicas para aguentar o tranco. Se até Ozzy, depois de muito disse me disse, jogou a toalha, quem somos nós para bater o pé e teimar?

E foi com o pé direito – literalmente, no bumbo – que Clufetos puxou mais uma das músicas seminais do Rock Pesado. Punhos para o alto, 35 mil vozes “cantando” mais um antológico riff de Tony Iommi. Primeira canção de “13” que todos puderam ouvir, “God is Dead?” foi muito bem recebida, o que se aplica também a ótima “Dirty Women”, do injustiçado “Technical Ecstasy” (1976) – única música antiga fora dos quatro primeiros discos, esta é uma daquelas que poderiam facilmente estar em “Master of Reality” (1971). Ozzy, que havia enaltecido as “mulheres sujas” (“Gosto delas, e elas são boas para nós”) e vez ou outra brincava imitando um cuco (“Eu sou louco e gosto de ser louco“), mostrou que o fim estava próximo ao anunciar “Children of the Grave”. E vamos chover no molhado: mais um clássico, mais um capítulo de como se fazer Heavy Metal. A guitarra de Iommi e o baixo de Geezer formavam uma parede sonora arrebatadora, e o vocalista não se fez de rogado ao pedir que todos pulassem. E todos pularam. O fim – leia-se bis – veio com o hino Paranoid, e com ele vieram o clímax e a catarse após quase duas horas de pura magia. E as 35 mil vozes se transformaram em 35 mil largos sorrisos. Foi o show do ano. Foi o culto do século.

Antes da luz, o Megadeth
A cartilha manda colocar as coisas em ordem, mas não havia como não começar pelo fim, pelo melhor. A tarefa do Megadeth era das mais árduas: abrir para o Black Sabbath de Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler. Ou seja, o máximo que dá para fazer é entreter a plateia da melhor maneira possível, e Dave Mustaine e cia. cumpriram seu papel com louvor. Mais do que isso, apagaram a má impressão deixada na última passagem pelo Rio de Janeiro, em 2008, quando a banda ainda divulgava o álbum “United Abomination” (2007) e não havia entrado na onda das turnês para tocar um disco clássico de cabo a rabo.

À época, insatisfeito com o som muito ruim, Mustaine interrompeu o show algumas vezes ate se irritar o suficiente para, após apenas 75 minutos, dar boa noite e sair do palco. Desta vez, no entanto, o guitarrista e vocalista era só sorrisos, e sua banda fez uma apresentação impecável em apenas uma hora – claro, o som estava bom, ainda mais para uma banda de abertura, o local estava lotado e o Megadeth escrevia parte da história. Além disso, o repertório também ajudou. A única representante do novo trabalho, o mediano “Super Collider” (2013), foi escolhida a dedo: “Kingmaker” é uma daquelas faixas arrasa-quarteirão – e vamos abrir o livro das coincidências: acompanhe a sua melodia vocal e cante “Children of the Grave” em cima. Viu?

E par a mostrar que não estava para brincadeira, o grupo começou com uma trinca para levantar defunto: “Hangar 18”, “Wake Up Dead” e “In My Darkest Hour”. Sem sair de cima, veio uma das favoritas dos fãs, “Sweating Bullets”. Coisa para garantir os três pontos antes da metade do primeiro tempo, mas nada colocar o regulamento embaixo do braço. Além de deixar alguns pescoços doloridos, a maravilhosa Tornado of Souls mostrou que Chris Broderick é, de fato, o melhor guitarrista do Megadeth depois de Marty Friedman. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer do apenas esforçado Shawn Drover. Bom baterista, não resta dúvida, mas muito aquém do antigo material do grupo. Chega a ser curioso ver que é o dono do posto por mais tempo – seu cafezinho deve ter mesmo caído no gosto do chefão.

Mas estavam lá David Ellefson e sua presença de palco ímpar, um Mustaine realmente animado (é sempre bom ressaltar) que ia de um lado ao outro do palco a todo instante, um Broderick completamente à vontade. E mais clássicos para fechar a noite: “She-Wolf”, “Symphony of Destruction” (e o famoso coro “Megadé”), “Peace Sells” e “Holy Wars… The Punishment Due”. Resumo da ópera: quando falamos de Megadeth, falamos de uma das melhores e mais importantes bandas do Heavy Metal. Mustaine tem papel marcante na criação de um estilo, o Thrash Metal, e bastam as condições necessárias para que tenhamos um belíssimo show, afinal, sobram talento e grandes músicas.

Set list Black Sabbath
1. War Pigs
2. Into the Void
3. Under the Sun/Every Day Comes and Goes
4. Snowblind
5. Age of Reason
6. Black Sabbath
7. Behind the Wall of Sleep
8. N.I.B.
9. End of the Beginning
10. Fairies Wear Boots
11. Rat Salad
12. Iron Man
13. God is Dead?
14. Dirty Women
15. Children of the Grave
Bis
16. Paranoid

Set list Megadeth
1. Hangar 18
2. Wake Up Dead
3. In My Darkest Hour
4. Sweating Bullets
5. Kingmaker
6. Tornado of Souls
7. She-Wolf
8. Symphony of Destruction
9. Peace Sells
Bis
10. Holy Wars… The Punishment Due

 

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