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DAVID GILMOUR

Dia 14 de dezembro, segunda-feira, ficará marcado para os admiradores do Pink Floyd como o dia histórico em que David Gilmour se apresentou em Curitiba, na Pedreira Paulo Leminski. Pela primeira vez no Brasil, o músico chegou com um novo trabalho solo, “Rattle That Lock”, lançado em setembro desse ano. Este foi o terceiro show da turnê brasileira, que anteriormente passou por São Paulo, nos dias 11 e 12, e se encerrará em Porto Alegre, no dia 16.

O público lotou as dependências da Pedreira, estima-se cerca de 22 mil pessoas, das mais variadas faixas etárias. Antes do espetáculo, rolou várias músicas no som ambiente com uma pegada “light”, como “The Weight” da The Band, “Young Americans” do David Bowie, “Heart of Gold” do Neil Young, possivelmente ajudando a dar “uma tranquilizada” na ansiedade dos presentes. Para se ter uma noção, a cada instrumento e equipamento que os roadies tiravam as lonas de proteção, vinham gritos afoitos da galera. Por volta das 19h 10m, Polly Samson, esposa de Gilmour, escritora, autora de várias letras em diversos trabalhos do Gilmour (por exemplo, das sete faixas com letras do “Rattle That Lock”, ela está creditada em cinco), e Kevin McAlea, um dos tecladistas da banda de Gilmour, apareceram no canto do palco, e assim que foram reconhecidos, parte da plateia iniciou uma nova leva de gritos.

Eis que, pontualmente às 20h, ainda dia, a banda adentra o palco, sem nenhuma “cerimônia”, diga-se de passagem. Gilmour e os demais músicos entraram ao mesmo tempo, todos pelo mesmo lado, cada um chega em seu lugar, e começam a execução da instrumental “5 A.M.”. Desnecessário descrever que bastou ele tocar uma nota para a multidão gritar em uníssono. Conforme a música avançava, o palco era tomado por efeitos de fumaça, que continuariam em praticamente toda a apresentação. Nesse som, Gilmour tocou com uma Gibson Les Paul, e trocaria de instrumento no final de praticamente todas as músicas. As guitarras mais utilizadas por ele na noite foram a clássica Black Strat, e a Fender Esquire.

Uma intro ecoa pela Pedreira, dando início a faixa-título do “Rattle That Lock”. Nesse momento, o veterano baixista Guy Pratt adentra o palco, ele ainda estava no backstage, já que “5 A.M.” não possui linhas de baixo. Vale ressaltar que o principal apelo visual do show estava num telão colocado no meio do palco, em formato circular, semelhante ao usado pelo Pink Floyd na turnê do “The Division Bell”. Em “Rattle That Lock”, era exibida uma animação em preto e branco, na mesma linha da animação usada no videoclipe desta canção, inclusive com alguns trechos iguais, inspirados na obra “Paraíso Perdido” de John Milton.

Seguindo a ordem do “Rattle That Lock”, a melancólica e linda “Faces of Stone”. Nessa, Guy Pratt tocou contrabaixo, o guitarrista Phil Manzanera pega um violão, o tecladista Kevin McAlea toca acordeão, e além disso, essa é a primeira faixa em que o brasileiro (e curitibano!) João Mello participa, tocando clarinete. João Mello atualmente é membro fixo da banda de Gilmour, sendo o integrante mais jovem. Se não bastasse tudo isso, Gilmour ainda faz um belo solo (como tantos outros que ocorreriam durante todo o show), esse na Black Strat.

Depois desse começo focado no trabalho novo, chegou um dos momentos mais esperados da noite, “Wish You Were Here”, numa execução fantástica, comandada pelos violões de Gilmour e Phil Manzanera. Como era de se esperar, essa teve uma das maiores reações da plateia, para cada lado da Pedreira que se olhava eram vistos, literalmente, milhares de celulares levantados registrando essa cena. Não era difícil ver pessoas “indo as lágrimas”, tamanha emoção, afinal, não é sempre que se tem a oportunidade de presenciar um ícone como David Gilmour tocando um dos grandes clássicos de sua carreira, e de modo magistral.

Acalmando os ânimos, por assim dizer, mais uma do trabalho novo, “A Boat Lies Waiting”, merecendo destaque a excelente harmonia vocal feita por todos os músicos, ainda assim com a voz de Gilmour se sobressaindo. A propósito, a qualidade do som, pelo menos na pista premium, estava ótima, realmente impecável, sendo possível ouvir cada instrumento e voz de forma clara, e numa altura boa, o que sem dúvida fez toda a diferença para enriquecer ainda a mais a experiência de quem compareceu.

“The Blue” veio em seguida, e não por acaso, a iluminação do palco ficou totalmente azul. Guy Pratt novamente utilizou contrabaixo, Gilmour realizou um longo solo em sua Black Strat, utilizando a alavanca dela por um longo trecho, que foi inteiramente exibido no telão do palco. Ao final de “The Blue”, Gilmour fala com o público pela primeira vez, dizendo um simples “thank you very much, obrigado”.

Barulhos e imagens de moedas anunciam mais um clássico, “Money”, com sua inconfundível linha de baixo. Até a parte do solo de Gilmour, a iluminação estava num tom dourado, criando uma atmosfera bem interessante, junto das imagens exibidas no telão. Destaque para o solo de saxofone feito por João Mello, que ganhou muitos aplausos do público. Curiosamente, durante esse som, Polly Samson estava no canto esquerdo do palco fotografando os músicos enquanto tocavam.

Sem pausa, seguindo a ordem do icônico “The Dark Side of the Moon”, mandam “Us and Them”. Novamente com grande contribuição de João, com menção ao modo como o refrão ficou “potente”, em parte graças aos backing vocals Bryan Chambers e Lucita Jules, sem falar do marcante som de piano emulado no teclado de Jon Carin. Esse trecho da apresentação ficou no maior clima “Pulse”, pois a estética criada com as imagens nos telões remeteu para aquele registro.

O grupo prossegue com “In Any Tongue”, outra do “Rattle That Lock”, pessoalmente, do trabalho novo, a melhor execução. Faixa linda, cheia de melancolia, comandada pelos graves do baixo de Guy Pratt, atingido o ápice no excelente refrão, com grandes performances de Bryan Chambers e Lucita Jules, e que durante o solo de Gilmour, criaram belas camadas vocais, deixando tudo grandioso. João Mello tocou violão, e a atmosfera de melancolia se intensificou com a animação exibida no telão, mostrando uma área em guerra.

Elevando o nível, encerram a primeira parte do set com “High Hopes”, numa versão sensacional, carregada de emoção. Um sino estava estrategicamente posicionado ao lado da bateria de Steve DiStanislao, sendo tocado por ele nessa música. Gilmour começa com violão, de forma magistral, só para constar, deixando a canção bem diferente da gravação de estúdio do “The Division Bell”. Então que, perto do final, Gilmour larga o violão, senta num banco para tocar uma guitarra lap steel, que “casou” perfeitamente com o resto, após isso, ele se levanta, pega o violão novamente, e realiza um baita solo, com o telão mostrando em detalhes a mão dele, sendo possível perceber, que pelo menos nesse instante, ele tocava sem palheta.

Nesse espírito, ovacionado pela galera, Gilmour agradece, e fala, em inglês, que agora iriam fazer um intervalo, que voltariam em vinte minutos, isso às 21h 05m. Exatos vinte minutos se passam, e retornam com o momento “psicodelia espacial” da noite, com “Astronomy Domine”, faixa do primeiro disco do Pink Floyd, “The Piper at the Gates of Dawn”, época que Gilmour nem fazia parte do grupo. Essa performance ficou ainda mais caótica que a já viajada versão original, com diversas camadas criadas pelos teclados, guitarras e vozes, aliados a efeitos psicodélicos do telão e de iluminação. Enfim, só quem presenciou para entender a vibe do negócio.

Mal encerram “Astronomy Domine”, e prosseguem com a viagem, executando algumas partes de “Shine On You Crazy Diamond”, outra com grande reação do público, fácil ver pessoas emocionadas deixando algumas lágrimas cair, sobretudo no momento do refrão. Os telões exibiam mais imagens “viajadas”, complementando a atmosfera da composição, na qual João Mello veio com dois instrumentos de sopro (não tenho certeza se eram dois tipos de saxofone), encerrando a faixa com grande emoção, que durou “apenas” cerca de dez minutos.
Continuando, Gilmour surpreende a todos, pedindo para que seu técnico de guitarra, Phil Taylor, fosse ao lado dele, para então Gilmour falar que nesse dia Phil estava completando 64 anos, pedindo para todos cantarem parabéns, começando um coro de “happy birthday to you”. Phil Taylor trabalha com Gilmour desde 1974, tendo inclusive escrito um livro sobre a Black Strat, lançado em 2008. Pois é, não são muitas guitarras que ganham um livro…

“Fat Old Sun”, um clássico menor (apesar de Gilmour a tocar constantemente), por assim dizer, é a próxima, na qual ele começa tocando violão, enquanto Phil Manzanera comanda a guitarra. No telão, apenas uma luz amarela forte, simulando um sol, com o restante da iluminação no mesmo tom. Encerrando a faixa, Gilmour pega sua Esquire para realizar outro bom solo.

Surpreendendo um pouco, seguem com “Coming Back to Life”, que não havia sido tocada nos shows de São Paulo, que teve “On an Island” no lugar. Pessoalmente, adorei a troca, “Coming Back to Life” ficou ótima, desde as primeiras notas da introdução, até o solo final. Nessa, Bryan Chambers tocou um pequeno instrumento de percussão, coisa que ele fez também em outras músicas. Durante “Coming Back to Life”, começou a chover, caindo uns “pinguinhos”, e ficando mais forte na medida em que o show avançava. Não chegou a ser algo tão intenso, mas o suficiente para algumas pessoas colocarem capa de chuva, enquanto outras ignoravam. Perto do final ela voltaria a ficar fraca, cessando alguns minutos depois que o show acabou.

Enfim, chega o momento de Gilmour apresentar a banda. Na hora de falar do João Mello, Gilmour o apresenta como “from Curitiba, Paraná, Brasil”, que claro, gerou grande reação do público. Ele pede para João falar em português que ele está feliz com o show, se divertindo muito, com João complementando que também está, agradecendo a plateia pela noite que estavam tendo. Não há muito mais o que ser dito sobre os músicos, se estão acompanhando Gilmour é porque são excelentes. Guy Pratt por exemplo, toca com Gilmour desde os tempos de Pink Floyd, ficou com a missão de assumir o baixo nas turnês pós-Roger Waters. Jon Carin também toca com Gilmour desde a época do Pink Floyd, e o que dizer do Phil Manzanera, o cara simplesmente fez parte do icônico e influente Roxy Music (para os desavisados, vale a pena conhecer), além de ter co-produzido com Gilmour o “Rattle That Lock”. Resumindo, com um time desses, não tem como uma apresentação ser menos que excepcional.

O espetáculo segue com mais duas do “Rattle That Lock”. Primeiro, a excelente “The Girl in the Yellow Dress”, com um clima divertidíssimo de jazz de cabaré, novamente com Guy Pratt tocando contrabaixo, e uma animação semelhante ao do videoclipe exibida no telão, complementando a onda “jazz de fim de noite”. Vários balões foram jogados no público, que entrou na brincadeira e espalhou pela pista. “Today” era a próxima, sendo utilizadas três guitarras, pois além de Gilmour e Manzanera, Jon Carin também utilizou uma. Aliás, ele tocou guitarra algumas vezes durante a noite, inclusive alternando entre teclado e guitarra em alguns sons.

“Sorrow” veio em seguida, beirando os dez minutos de duração, onde Gilmour mostra que em meio a tantos solos limpos, também sabe fazer “barulho” com a Black Strat, que fique claro, no melhor sentido da coisa. Com o show se aproximando do fim, era possível perceber que em alguns instantes Gilmour parecia estar ficando rouco, nos trechos que exigiam mais de sua voz, porém nada que tenha diminuído o brilho da parte final de sua performance.

Finalizando o segundo set, “Run Like Hell”, recebida com muito entusiasmo. O destaque aqui, além dos efeitos na guitarra, é o dueto feito por Gilmour e Guy, cada um cantando um verso da música. Essa foi a canção que mais utilizou recursos visuais, com lasers sendo apontados na direção do público, e diversas e potentes luzes jogadas na direção do palco, tanto que todos os músicos colocaram óculos escuros, ficando um visual um tanto curioso, correndo risco de virar algum “meme” de internet no futuro. Cabe mencionar que uma parcela dos presentes que estavam próximo do palco levantou cartazes escritos “run”, deixando esse momento ainda mais marcante.

Após aproximadamente 1h5m, todos se retiram novamente do palco, sob uma chuva de aplausos e coro de “olê, olê olê olê, Gilmour, Gilmour”. Nessa altura, a chuva já havia enfraquecido. Menos de cinco minutos se passam, ainda com o palco no escuro, são reproduzidos os efeitos dos relógios, anunciando “Time”, como de praxe, emendada com a reprise de “Breathe”. Imagens de relógios no telão, e mais uma performance impecável, apesar de ser notável que a voz de Gilmour se encontrava pouco rouca em algumas passagens. Quanto ao telão, nos trechos dos solos de Gilmour, este os exibia em tempo real, como ocorreu em diversos momentos ao longo do show. Porém, por mais estranho que pareça, as imagens ficaram com um delay em “Time”, se bobear de meio segundo para cima, deixando o som dessincronizado com o telão. Reparei nisso exclusivamente nessa faixa.

Encerrando de vez, “Comfortably Numb”, num clima perfeito de euforia por tudo que foi presenciado, misturado com melancolia por estar chegando ao fim. Gilmour dividiu os vocais com Jon Carin, e obviamente, executou com perfeição os poderosos solos. A iluminação ajudou a deixar tudo com mais força, sendo quase tão bem trabalhada quanto a de “Run Like Hell”. E assim, exatamente às 22h 52m, termina o show de uma autêntica lenda do rock, em plena forma.

Show histórico, simples assim, daqueles que serão lembrados por anos. Quem compareceu com o intuito de ver os grandes clássicos do Pink Floyd, e prestigiar o trabalho que Gilmour tem feito recentemente, acho pouco provável que tenha se arrependido, pois o setlist conseguiu mesclar muito bem material de diversos períodos. Como ressalva, fica que talvez as apresentações da turnê brasileira ocorreram em locais grandes demais para a estrutura e proposta de show do Gilmour, prejudicando quem ficou mais para o fundo, pois seria impossível enxergar o palco. Como comparativo, o Royal Albert Hall, casa de Londres, onde ocorreram alguns shows dessa turnê, comporta como lotação máxima 6 mil pessoas, enquanto a arena König Pilsener Arena, localizado em Oberhausen, Alemanha, comporta pouco menos de 13 mil. Enfim, fica como curiosidade.

Setlist
Set 1
5 A.M.
Rattle That Lock
Faces of Stone
Wish You Were Here
A Boat Lies Waiting
The Blue
Money
Us and Them
In Any Tongue
High HopesSet 2
Astronomy Domine
Shine On You Crazy Diamond (Parts I-V)
Fat Old Sun
Coming Back to Life
The Girl in the Yellow Dress
Today
Sorrow
Run Like HellEncore
Time / Breathe (Reprise)
Comfortably Numb

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