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POSTHUMOUS: A CERIMÔNIA PROFANA CONTINUA…

Quando nasceu em 1993, a catarinense Posthumous muito rapidamente assumiu um papel importante na reafirmação do cenário extremo nacional, que havia fornecido tantos clássicos ao mundo na década anterior. Longe dos grandes ‘centros musicais’ do Brasil, a banda apostou tudo o que tinha em uma sonoridade que mesclava brutalidade com ótimas melodias, fórmula tão bem sucedida que gerou um clássico logo de cara, com o debut My Eyes, They Bleed (1999). As mudanças na formação acabaram frustrando os músicos, que passaram anos em silêncio, mas que retornaram com seu mais novo álbum em 2021: Unholy Ceremony. Nesta entrevista, o guitarrista R. Mutilator nos dá todos os detalhes da história de uma das grandes lendas do metal extremo de Santa Catarina. 

Unholy Ceremony – Hammer Of Damnation – NAC

Pelo que sabemos, a Posthumous nasceu no ano de 1993, em Criciúma (SC). Você ainda lembra como decidiram se unir e quais eram os principais objetivos de vocês como banda naquela época? Quem foram os grandes motivadores daquele início de jornada? 

Ricardo “R. Mutilator” Olivo: Exatamente, começamos em 1993. Claro que lembro, a ideia de montar a banda se deu com os 3 brothers: Alexandre (voz), Marcelo (guitarra) e Jeison (baixo), que moravam na mesma rua e tinha em comum o gosto pelo Metal Extremo. Para completar a formação, Marlon foi chamado para a bateria e eu para a outra guitarra. O objetivo desde o início sempre foi fazer um som próprio, tentando mesclar todas as nossas influências para moldar uma identidade própria. Posso dizer que além do nosso próprio entusiasmo, fomos muito motivados pelos brothers da cena local, que nos acompanhavam nos shows, compareciam nos ensaios… e isso nos dava um gás extra pra continuarmos criando e seguindo firme como banda. 

Ao olharmos para trás, encontramos vários ótimos nomes no cenário do metal catarinense nos anos 90. Mas, existia um cenário real ao qual a Posthumous fazia parte? Existia um circuito de shows, como era a cena catarinense na época dos primeiros anos da banda?

R. Mutilator: Acredito que ali pelos 90 os cenários eram mais regionais e não posso dizer que existia um circuito de shows, porém tínhamos cenas fortes aqui no Sul, na Região Serrana, na Região de Florianópolis, no Norte, de onde saíram grandes bandas com quem pudemos dividir o palco diversas vezes, como Penitence, Fetto, Khrophus, Tempestas, Great Vast Forest, Imperium Tenebrae, Flesh Grinder e tantas outras.

A primeira demo de vocês saiu já no ano seguinte ao surgimento da banda, e a segunda, Lust Upon The Altars Of Blasphemy, apenas em 1997. Conte-nos um pouco sobre como chegaram naquela segunda demo.

R. Mutilator: Sim, a primeira Demo se deu de uma forma muito rápida, ensaiamos durante todo o ano de 1993 e no início de 1994 já estávamos com ela lançada. Era uma época de muita empolgação e tempo de sobra para se dedicar somente à banda. Já o caminho trilhado para a segunda Demo foi um pouco tortuoso pois tivemos mudança na formação, mas os 3 membros novos que chegaram foram perfeitos e se encaixaram tão bem na banda que acredito ter sido a época mais produtiva e de maior criatividade do Posthumous até então, tanto que lançamos a segunda Demo com 4 músicas, mas fizemos uma sessão de gravação de 10 músicas. Essa Demo teve uma grande divulgação e nos abriu muitas portas, inclusive no exterior onde através dela fomos convidados a participar da coletânea Sometimes Death Is Better da gravadora belga Shiver Records.

Dois anos mais tarde, vocês lançaram o seu debut, o hoje clássico My Eyes, They Bleed. Como foi a experiência de gravar e lançar o seu primeiro álbum oficial?

R. Mutilator: Após o lançamento da segunda Demo, nós já começamos a compor e a nos programar para partir para um debut álbum.  Era um desejo que tínhamos mas era também uma época de muitas dificuldades. Tivemos um grande apoio da Evil Horde Records que apostou na gente e fez um excelente trabalho em relação à divulgação e a qualidade do material em si, porém a gravação ficou por nossa conta, e levando em consideração toda a restrição com grana, tempo para gravação e de estarmos numa cidade pequena do interior de SC sem muitas opções de estúdios de gravação, acredito que ficou muito satisfatório para a época. Vale ressaltar aqui também a grande contribuição de Eduardo Martinez (Panic/Hangar) que veio de Porto Alegre/RS para mixar o álbum e nos ajudou bastante com sua experiência.

My Eyes, They Bleed saiu originalmente via Evil Horde, certo? Como dissemos, o passar dos anos transformou esse álbum em um clássico do black metal nacional, mas como foi a recepção na época? E quais são as qualidades que acham ter elevado o álbum ao status atual?

R. Mutilator: Sim, saiu em 1999 pela Evil Horde Records e a recepção foi ótima. Nos surpreendeu realmente a receptividade ao nosso som, até porque o tipo de música que criamos se distanciava um pouco do que vinha sendo criado aqui na época. Talvez esse seja o principal motivo pelo qual o My Eyes, They Bleed seja tão cultuado hoje, mostramos nossa agressividade sem deixar as melodias de lado, tentamos não seguir padrões, simplesmente compomos de acordo com a nossa vontade e isso parece ter agradado a muitos, o que nos deixa muito felizes.

Alguns anos depois de lançar o debut, a Posthumous encerrou atividades. O que aconteceu na época? Vocês se mantiveram conectados ao mundo da música no longo intervalo longe da Posthumous?

R. Mutilator: Foram alguns motivos conectados, a começar pela saída do nosso baterista logo após o lançamento do álbum. Foram 5 anos tentando sem sucesso fixar um baterista, isso me chateou bastante porque ficava aquela coisa: entrava um baterista, ensaiávamos, ensaiávamos, ensaiávamos e quando não dava certo, lá íamos nós começar tudo de novo tentando outro. Essa situação acabou nos levando a ter que negar muitos shows e com um bom álbum lançado, isso realmente foi desanimador. Porém continuamos compondo normalmente porque minha ideia era: se não tínhamos como fazer muitos shows pelo menos poderíamos gravar o 2º álbum. Só que a coisa não fluiu adequadamente e sem a perspectiva de num período breve poder tocar ao vivo ou de gravar o novo álbum, somado aos compromissos profissionais de cada um que tiravam cada vez mais nosso tempo disponível para a banda, resolvemos parar em 2005. Nos mantivemos conectados ao Metal apenas como ouvintes, ninguém se aventurou em algum projeto ou outra banda, nos dedicamos ao trabalho e à família.

Em 2017 a banda retornou, e o primeiro fruto veio com a participação no tributo ao Bathory.  Como rolou essa participação, e o que acharam desse novo primeiro passo?

R. Mutilator: Esse foi realmente nosso primeiro passo para a volta, mas na verdade a gravação de Reaper foi anterior a 2017. Fomos convidados para um tributo ao Bathory que seria lançado na Europa por uma gravadora alemã e como a gente já vinha há anos amadurecendo uma ideia de voltar à ativa, resolvemos aceitar o convite. Reaper foi então gravada pela formação do My Eyes, They Bleed, mas ainda sem baterista, sendo esta programada. Porém, por sei lá qual motivo, a tal gravadora acabou não dando sequência ao projeto e neste momento já tínhamos gravado a música. Foi então que, em contato com o Headhunter DC, descobrimos que eles também já tinham gravado uma música para o mesmo tributo e daí começou a surgir a ideia de fazermos um 7” EP que foi lançado em 2019 pela Misanthropic Records com o título A Brazilian Tribute To BATHORY: Anthems Of Blood, Fire & Death. Foi muito prazeroso poder estarmos juntos de novo em estúdio após tantos anos, e uma honra estar ao lado do grande Headhunter DC numa mídia muito legal que hoje praticamente é item de colecionador, que é o 7” EP.

The Frightening Cold Tomb: Compendium Mortis – Hammer Of Damnation – NAC

Em seguida, a jornada da banda foi reapresentada ao público na forma da luxuosa coletânea The Frightening Cold Tomb – Compendium Mortis, de 2020. De onde veio a ideia, e o quanto vocês se envolveram pessoalmente nesse projeto?

R. Mutilator: Nossa ideia era antes de gravar o novo álbum, relançar o My Eyes, They Bleed, já que ele se tornou um item raro e muitos nos procuravam perguntando se ainda tínhamos alguma cópia. Mas nós não queríamos fazer um simples relançamento, daí surgiu a ideia de fazer um CD Duplo contendo toda a nossa história. A Hammer of Damnation topou o projeto e em 2020 foi lançada a compilação The Frightening Cold Tomb – Compendium Mortis. No Cd 1 você irá encontrar o debut álbum My Eyes, They Bleed, remixado e remasterizado por Trek de Magalhães e Jander Antunes (Estúdio Life Rec – SP), exceto o cover de Christ’s Death, do Sarcófago, que está com o áudio original da época. No CD 2 você encontra nossas duas Demo Tapes, músicas inéditas gravadas em 1996 e todos os covers que gravamos para tributos, sendo que a segunda Demo Tape e as músicas inéditas foram remixadas e remasterizadas por Sebastian Carsin (Estúdio Hurricane – RS). Todo o projeto foi desenvolvido por nós mesmo e a capa ficou a cargo do grande artista Marcelo Vasco.

Em 2021, vocês nos apresentam o seu segundo full-length, Unholy Ceremony. Primeiro, fale-nos sobre o processo de composição, quando começaram a juntar ideias para o álbum, e como trabalharam nessas ideias?

R. Mutilator: As músicas do Unholy Ceremony estavam todas prontas quando paramos em 2005, são todas composições feitas entre 1999 e 2005, tendo músicas inclusive que poderiam até mesmo ter entrado no My Eyes, They Bleed. Portanto, o trabalho da nova formação foi arranjar alguma coisa aqui, outra ali e deixá-las “redondinhas” para gravar.

Pode-se dizer que Unholy Ceremony chega com um atraso de duas décadas, mas compensa o tempo esperado com uma banda definitivamente evoluída e ainda mais precisa em seu ataque black metal. Existia a preocupação de que o álbum fosse comparado ao antigo material? Como trabalharam com a expectativa dos velhos fãs na hora de trabalhar em novas músicas?

R. Mutilator: De forma alguma. Esse tipo de comparação pode até ser feita pelos fãs, pessoal da imprensa/zines, mas não por nós. Esse tipo de coisa limita a criação e a gente não compõe dessa forma. Nossa ideia sempre foi fazer uma música que acima de tudo nos agrade, não vamos fazer música para “parecer isso” ou para “não parecer aquilo”. Pra mim quem compõe dessa forma está fadado ao fracasso. Acredito que os velhos fãs sabem o que esperar de nós, que é uma música agressiva, pesada, por vezes veloz, outras mais cadenciadas, blasfemas, melódicas… Se não for assim, não será Posthumous.

Gostaria de destacar algumas músicas, que gostaria que comentassem. Para começar, gostei muito da maneira como ligam a intro acústica …Still Bleeding… com a intempestiva Unholy Necrometal Artillery. Um belo contraste para iniciar a jornada, certo?

R. Mutilator: Sim, essa foi uma idéia que já tínhamos usado na nossa segunda Demo Tape, uma intro acústica antecipando a tempestade que vem a seguir. Acho que funciona muito bem desde que as composições encaixem e na minha opinião acho que ficaram bem encaixadas em Unholy Ceremony.

Também com uma levada épica, The Crown Belongs To The Bravest Knight. Fale-nos um pouco mais sobre essa canção.

R. Mutilator: Esta é a música que tem a levada mais cadenciada do álbum. Não foi composta assim propositalmente, a inspiração simplesmente vem. Porém, acredito que o clima da música casou perfeitamente com a letra que fala do guerreiro que busca o seu trono, lutando pelo poder dos homens contra as palavras de deus.

Outra das minhas favoritas é Hawkeyes Towards Victory, que além de rápida e agressiva, também traz ótimas melodias nas linhas guitarra. Aliás, vocês parecem ter trabalhado as linhas de base e solo com bastante esmero em todo o álbum. O que podem nos contar sobre isso?

R. Mutilator: Realmente ela tem velocidade, agressividade e melodias. Essa é uma característica nossa ao compor, mesclamos velocidade, agressividade e toda a perversidade das letras com melodias que remetem ao bom e velho Heavy Metal.  Acredito que esse trabalho de base/solo surge naturalmente durante a composição, mas com certeza ele é refinado muitas e muitas vezes e a palavra que você usou na pergunta é perfeita: esmero, que nada mais é do que dar a atenção e toda a dedicação que a música merece.

Também gostaria que falasse um pouco a respeito dos trabalhos nos vocais, que apresentam dinâmicas variadas neste Unholy Ceremony, indo dos tradicionalíssimos vocais ríspidos até narrativas.

R. Mutilator: Penso que são variações que compõem uma boa música. O vocal é como um instrumento, pode ser mais rápido, mais lento, mais agressivo, mais sussurrado. Acredito que o R.Satan, junto aos excelentes backing vocals do Nargoth e do O.Marauder conseguiram dar uma boa dinâmica às músicas, deixando o álbum com um ótimo trabalho de vozes.

Para encerrarmos esta parte, fale-nos sobre a oitentista Glory To The Forthcoming Crystal Age (The Next Millennium Is Ours).

R. Mutilator: Acho que é uma música bem direta. Apesar das melodias ela não tem firula, vai direto ao ponto. A letra é uma exaltação a própria vontade, o seguir nosso próprio caminho, nossos objetivos e toda a aversão pelas ditas “palavras sagradas”.  We are not weak sons of the fool holy light!

Por fim, mesmo nessa época estranha que vivemos, quais são os planos da Posthumous? Muito obrigado pela entrevista, e parabéns pelo ótimo álbum! 

R. Mutilator: Gravar um álbum é muito bom, mas estar em um palco apresentando nossa música é muito melhor. Melhor ainda é o antes e o depois dos shows, é onde o Underground se fortifica, onde acontece uma coisa que nunca será possível via computador e redes sociais, o contato pessoal. Aquele bate papo, aquela troca de materiais, aqueles copos de biritas nas mãos… Agradeço imensamente a você Valtemir e a ROADIE CREW pelo espaço e pelo apoio, sem vocês tudo seria mais difícil. Não posso deixar de agradecer aqui meus parceiros de banda R. Satan, Nargoth, O. Marauder e J.V. Acordi, e todos aqueles que de alguma forma ajudaram a forjar o Unholy Ceremony, Luiz Carlos (Hammer of Damnation Records), Sebastian Carsin (Estúdio Hurricane), Marcelo Vasco (Marcelo Vasco Arts), Luis Lozano (LuciferRising/Vicweb), Lord Moonfog, Fernando Nahtaivel, Orlando Junior e aos eternos Posthumous, Gus e L.Vulcan. Stay On The Wings Of Azazel! 

 

*A formação que gravou Unholy Ceremony, e que aparece na foto de capa desta entrevista, foi alterada com o passar do tempo. A formação atual é a que aparece na foto abaixo: 

Nargoth, Wag, R. Satan, R. Mutilator e O. Marauder, a nova formação dos gigantes do black/death de Santa Catarina
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