A banda toma o palco de assalto com sangue nos olhos e com o jogo ganho de antemão como provava a recepção calorosa do público. O batera conta até quatro e… nada de o baixo funcionar! O tempo além do aceitável para músico e equipe técnica descobrirem que era preciso apenas trocar o cabo do instrumento e a sensação de “coito interrompido” que a situação como um todo gerou foram os únicos inconvenientes no show que o Vintage Caravan fez num sábado quente e convidativo a se assistir a um show de Rock. Isso porque o que se seguiu na hora e meia após o baixo de Alexander Númason resolve funcionar foi uma verdadeira celebração ao Rock tocado com garra, talento e sem frescuras.
Com dois discos lançados por aqui, os irretocáveis Voyage, de 2012, e Arrival, de 2015 (antes disso, o grupo havia lançado The Vintage Caravan de forma independente em 2011), Óskar Ágústsson (vocal e guitarra), Stefán Stefánsson (bateria e backing vocals) e Alexander (que também faz alguns backings) fizeram uma espécie de ‘best of’ desses trabalhos, começando com a instigante e completamente “zeppelineana” Craving – e foi inevitável lembrar da entrevista que este repórter fez com Óskar na qual o guitarrista citou em primeiro lugar dentre suas influências o Metallica (!). Tudo bem que, instado a respeito, se confessou grande fã de Led, também, mas é evidente que o trabalho de Jimmy Page tem muito mais espaço do que o de Hetfield e Hammett na música do Vintage Caravan.
Alheio a isso tudo, o público que lotou as dependências do SESC Belenzinho (lá pelas tantas, Óskar informou que o show estava ‘sold out’) se esbaldava ao som do trio. Para surpresa até dos próprios músicos, boa parte da galera cantava todas as letras junto com a banda, numa empolgação digna de registro. Mesmo quem não estava “na grade” e curtia o som de uma forma mais comedida estava claramente surpreso com a entrega da banda em cena. E aí você começa a fazer aquelas constatações: Stéfan é um batera que não economiza em peso, mas é relativamente “durão”, ao passo em que Alexander é mais seguro do que técnico. Só que os dois juntos funcionam à perfeição e proporcionam a base perfeita para que a estrela da companhia brilhe. E o nome dessa estrela é Óskar Ágústsson. O cara não só canta muitíssimo bem como tem uma movimentação de palco expressiva – e quando não está andando ou pulando, não economiza nas caretas e nos sorrisos. Mas na hora em que ele bota as mãos na guitarra é que o negócio fica sério de verdade. Dono de técnica precisa – quando necessário, lançou mão de vários recursos que normalmente não vemos em bandas desse estilo – e de imensa criatividade, o guitarrista mostrou, além de tudo, uma enorme capacidade de escolher e utilizar os efeitos que cada tema pedia – seu delay, por exemplo, foi sempre certeiro e preciso.
O repertório continuava desfilando temas instigantes, como a pesada Babylon, a mais introspectiva Innerverse, Crazy Horses, com seu riff simples mas contagiante, e a cheia de groove Cocaine Sally, e, à medida em que o show avançava dava pra ver uma banda cada vez mais sorridente e à vontade em cena.
Após Expand Your Mind, aquela saída de cena pra inglês ver e a volta com a sensacional Midnight Meditation e seu refrão feito pra cantar junto no encerramento de verdade do show, era possível identificar a essência do Vintage Caravan ali na nossa frente: Óskar, Stefán e Alexander têm prazer em tocar. O sorriso na cara de cada um deles e o brilho nos olhos denunciavam isso. Certamente, não há o menor plano da parte dos caras em se tornarem uma “superbanda”. A sensação é que eles se reúnem para “fazer um som” – o que fazem muito bem, tanto que levam uma multidão para vê-los tocar. E enquanto os três mantiverem o sorriso na cara e o brilho nos olhos o Vintage Caravan só tende a se tornar cada vez melhor.
