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RAVEN / LEATHER LEONE – 07 de junho de 2019, São Paulo/SP

Já era hora mesmo de o Raven, um dos nomes mais emblemáticos da New Wave of British Heavy Metal, voltar à São Paulo. Os fãs precisavam ser compensados com um show em que pudessem ouvir claramente o som do grupo inglês. Em 2014, foi sofrível assistir a apresentação no lotado estádio Cícero Pompeu de Toledo, o popular Morumbi, quando da abertura do Raven para o Metallica, que promovia a turnê “Metallica by Request”. Aquela turnê em questão foi um gesto de retribuição e agradecimento do Metallica que, entre julho e setembro de 1983, rodou os Estados Unidos divulgando Kill ‘Em All, seu álbum de estreia, abrindo para o Raven, que, por sua vez, divulgava All For One na turnê conjunta “Kill ‘Em All For One”. Aquele foi um encontro especial – diria histórico –, mas, naquela noite gelada e chuvosa, ao menos para o público paulistano a “qualidade” de som no Raven foi pífia. Em termos técnicos, uma das coisas mais vexatórias que se teve notícia em um show internacional na capital. Praticamente não se ouvia nada do que era gerado do palco. Desde então, houve duas tentativas de se trazer o Raven ao Brasil. Ambas frustradas. Em 2015, a turnê em companhia do Heathen foi cancelada. Com a desistência do veterano grupo americano de thrash metal, a produtora da época não aceitou investir num pacote incompleto. No ano seguinte, a baixa venda de ingressos (apenas 20% da cota) gerou outro cancelamento. Assim sendo, Raven e os americanos do Riot V ficaram impossibilitados de dividir palco em nosso país. Dessa vez, porém, tudo deu certo e o Raven, enfim, desembarcou em São Paulo.

Quem compareceu ao The House Music Club no último dia 07 de junho teve a oportunidade de também conferir a experiente Leather Leone fazendo o ‘opening act’ para o Raven. Tendo marcado o seu nome no heavy metal como frontwoman da banda Chastain, do guitarrista David T. Chastain (CJSS), a americana também retornava à São Paulo após o ótimo show que realizou por aqui em 2016 pelo projeto “Metal Voices”. Na ocasião, Leather tocou com o renomado Tim “Ripper” Owens (Judas Priest, Iced Earth, Yngwie Malmsteen, Hail!, Charred Walls of the Damned, Beyond Fear, Winter’s Bane) e com a desconhecida banda italiana Siska. Dessa vez, ela veio divulgar seu novo álbum solo, batizado simplesmente como II. Lançado em abril de 2018, II é mais uma amostra da aliança entre Leone e o Brasil. Nas gravações desse álbum ela contou apenas com músicos brasileiros, sendo quase todos eles os mesmos que a acompanharam no país em 2016. Aliás, a parte instrumental foi toda gravada no Brasil. Em sua recente passagem por São Paulo, novamente os laços com nosso país foram estreitados e Leone mais uma vez teve a companhia de músicos daqui: Thiago Velasquez (baixo, Painside, Statik Majik, Rob Rock, Paul Di’Anno, Lionheart) e Vinnie Tex (guitarra, Viking Throne, Unearthly), que participaram de seu novo álbum, e também Marcus Dotta (bateria, Warrel Dane, Addicted to Pain, Thram) e Kiko Shred (Hellway Patrol, Michael Vescera), guitarrista que, curiosamente, integrava a banda de “Ripper” Owens quando o mesmo dividiu palco com Leone na turnê anterior aqui na Terra da Garoa.

Leather Leone assumiu o palco faltando poucos minutos para o horário marcado, que era 20h30. Devido a isso, algumas pessoas que queriam assisti-la perderam o começo do show. Ela e banda entraram em ação tocando Juggernaut, The Outsider e Lost at Midnight, que formam a mesma trinca matadora que abre II. Apesar da presença em número modesto, o público, formado por headbangers apaixonados pelo heavy metal oitentista, agitou com Leone do começo ao fim. Esbanjando simpatia, ela demonstrava que também estava curtindo o momento, bangeando e sorrindo a cada música executada. A próxima do set foi a visceral We Bleed Metal, presente no homônimo décimo álbum do Chastain, de 2015. A seguir, Black Smoke, outra de II, fisgou o público com sua pegada cadenciada e pesada. Um momento marcante do show aconteceu com a sinistra e ao mesmo tempo emocionante Angel of Mercy, que, ao final, garantiu a ovação do público. Presente em Ruler of the Wasteland (1986), segundo álbum do Chastain, essa música foi dedicada à Ronnie James Dio (no show de 2016, Leone o homenageou com We Bleed Metal). Ele, que foi uma das grandes inspirações para Leather, assim como ela, sendo também baixinho compensava o corpo franzino com sua voz potente.

Outro petardo que trouxe riscos aos pescoços dos headbangers foi Hidden in the Dark, um heavy metal cortante em que os riffs afiados despejados pela dupla Tex e Shred, a levada marteladora executada por Velasquez e Dotta e o solo principal escancararam a influência de Judas Priest. E por falar nos quatro músicos, eles foram devidamente apresentados por Leone ao final dessa que também integra seu atual material solo. Encerrando a amostragem de II, tivemos a acelerada Let Me Kneel. Depois dessa, rolou outra do Chastain: a homônima For Those Who Dare, do quinto álbum, lançado em 1990. Foi especial para os fãs ‘die-hard’ quando Leone voltou 30 anos no tempo e revisitou seu debut, Shock Waves, tocando a música de mesmo nome, composta por Mark ‘The Shark’ Shelton, vocalista e guitarrista do Manilla Road. Antes da próxima, o eufórico público bradou o nome de Leone em coro. Na verdade, o caro leitor compreenderá se eu me valer de licença poética para dizer “em couro”, tendo em vista que ‘Leather’ Leone proporciona apresentações que são a síntese do que é um genuíno show de heavy metal! Dando continuidade, foi a vez da conhecida Voices of the Cult, outra de um álbum homônimo do Chastain, de 1988, aumentar a empolgação do pequeno público. E foi com ela que, após ‘performar’ por exata uma hora, Leather Leone finalizou seu set – por sinal, bem diferente do tocado na visita anterior. Sem delongas, a simpática cantora se despediu dos paulistanos e deixou o palco.

A espera pela atração principal levou redondos quarenta minutos. Nesse ínterim, os irmãos Gallagher (tá, sabemos que, inevitavelmente, sempre que ouvimos essa junção, você e eu nos lembramos dos malas-sem-alça dos também irmãos do conterrâneo Oasis), John e Mark, e o novo baterista Mike Heller (Fear Factory, Malignancy e Wretched Pain) já podiam ser vistos no palco, fazendo ajustes em seus respectivos equipamentos. Com tudo nos conformes e um público um pouco maior, o Raven começou a abalar as estruturas da casa com Take Control, do mencionado All for One (1983). Considerado a obra prima definitiva do Raven, tal álbum foi produzido pelo renomado Michael Wagener e pelo então vocalista do Accept Udo Dirkschneider, além de ter sido o primeiro da banda a ser lançado por uma major, no caso, a Megaforce Records. Logo nessa primeira música, minha sensação foi de alívio: o grupo de Newcastle, que hoje reside em Nova York, estava sendo beneficiado por uma ótima qualidade de som. Em destaque, a guitarra do sempre animado e divertido Mark Gallagher soava brutal: devidamente suja, pesada e inteligível. Era de arrepiar sentir a eletricidade e o ‘punch’ cavalar advindos desse que, como guitarrista, deveria ser muito mais reconhecido no cenário metálico. Outro ponto que merece elogios é a performance da linha de frente do Raven. Os dois irmãos não paravam de agitar um instante sequer. Mark estava alucinado, e seu irmão John ia de um lado ao outro do palco o tempo todo, graças à liberdade que seu tradicional microfone headset lhe proporcionava para cantar e se movimentar ao mesmo tempo.

Formado no longínquo ano de 1974, o Raven acaba de lançar mais um material ao vivo em sua carreira: Screaming Murder Death From Above: Live in Aalborg, sucessor de ExtermiNation (2015), seu mais recente álbum de estúdio. Screaming Murder… marcou a estreia de Heller, que entrou no lugar do ex-Pentagram Joe Hasselvander, que, por sua vez, 30 anos antes de deixar o Raven assumia o posto que pertencia ao figuraça Rob “Wacko” Hunter, que curtia música pop e tinha o costume de tocar trajado com uniforme completo de futebol americano. Inclusive capacete! O show prosseguiu com a pesada Destroy All Monsters, música de abertura de ExtermiNation. Na primeira pausa, o simpático Mark mandou um “buenas noches, São Paulo!” e informou que era hora de voltar ao debut Rock Until You Drop (primeiro lançamento da história da gravadora Neat Records), de 1981. Então, ele soltou o agudo e anunciou a veloz Hell Patrol. Falando em velocidade, o Raven foi preponderante na moldagem do que se convencionou chamar de speed metal, sendo influente para muitas bandas em início de carreira, entre elas Metallica, Megadeth, Slayer, Kreator, Sodom e outras. Entretanto, seus integrantes se autodenominavam “athletic rock”, devido ao visual esportivo e performances explosivas, que culminavam na destruição de seus equipamentos.

Voltando a falar do show, no setlist, o trio priorizou tanto ExtermiNation, quanto seus três primeiros e mais respeitados álbuns, os citados Rock Until You Drop e All For One, e também Wiped Out (1982). Todos eles iam sendo representados por músicas avassaladoras, tais como All For One, Hung, Drawn & Quartered, Rock Until Your Drop, Faster than the Speed of Light, Tank Treads (The Blood Runs Red), Fire Power, Mind Over Metal, Break the Chain, Crash Bang Wallop e Wiped Out. Intercaladas a elas estavam algumas surpresas. Primeiro o trio apresentou uma música nova chamada Top of the Mountain. De pegada similar aos primeiros materiais do Raven, ela deverá estar no próximo álbum, que deve sair ainda este ano. A propósito, em setembro do ano passado John Gallagher comentou com Mark Taylor, da revista Record Collector, sobre o futuro álbum: “Há músicas muito rápidas, mas muito peculiares e melódicas ao mesmo tempo, então há uma dicotomia real nisso, algo que está sempre presente nas melhores músicas do Raven”. Rolou também um solo de guitarra de Mark, que durante as quase duas horas de show divertiu os fãs com suas impagáveis e habituais caretas. Mais pra frente foi John quem teve seu momento solo, com direito até a trecho de Garota de Ipanema executado no baixo. Para seu solo, ele utilizou-se do velho contrabaixo modelo Red Explorer, com ponte trêmulo. Mesmo estando surrado pelo tempo, foi emocionante ver de perto esse baixo que é o mesmo que está eternizado na capa do ao vivo Destroy All Monsters – Live in Japan (1996). Por fim, teve ainda o tradicional medley com covers de Symptom of the Universe, It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll) e Rock Bottom, clássicos do Black Sabbath, AC/DC e UFO, respectivamente.

Fugindo um pouco dos álbuns mencionados, o Raven não ignorou o comedido Stay Hard, de 1985. Aliás, nem daria mesmo pra deixar de fora o hino On and On, que, na época, teve seu clipe bastante exibido. E não teve quem não o cantasse em alto e bom som, principalmente o contagiante e comercial refrão. O espírito desse hit do Raven pode ser melhor compreendido nas palavras do próprio John Gallagher, que certa vez declarou: “Nos divertimos muito tocando essa música, que foi a única que saiu com um videoclipe ‘estilo MTV’, o que é hilário. A gravação em estúdio deu trabalho, especialmente nas partes de voz”, revelou. Pra encerrar essa noite, em que o heavy metal reinou, o Raven executou o single Don’t Need Your Money, de Rock Until You Drop. Falando por mim, desanimava pensar que na única vez que tinha visto o grupo tocando ao vivo, saí frustrado, afinal, eu praticamente o vi, mas não o ouvi. Dessa vez, porém, posso comemorar, pois estou de alma lavada.

Ao final do show, os irmãos Gallagher atenderam a ROADIE CREW e falaram da sofrível qualidade de som no show de 2014. “O mais engraçado, é que vi um vídeo gravado da lateral do palco e o som estava perfeito. Mas vi também um feito de outro ponto, em que não havia nada de vocal. Não sei, alguns técnicos de som são cuzões!”, brincou John. “Os caras do Metallica foram muito legais e, de qualquer maneira, claramente, não tinham nenhum controle sobre aquilo. O que posso lhe dizer? Eu estava no espírito de tocar para uma grande multidão e acabou sendo bastante divertido”, afirmou. Mark mostrou-se surpreso: “Sério? Nossa, me desculpe. Eu nem sabia disso. Sabe, foi uma grande oportunidade de tocarmos para muitas pessoas. Estar de volta é sempre como se fosse aquela primeira vez, em 2010, que foi a minha favorita, para ser honesto. As pessoas no Brasil são muito legais, e os fãs são verdadeiros metalheads, que apoiam a música e não besteiras ou escândalos como os fãs de Guns N’ Roses”, ironizou. O guitarrista também comentou sobre essa nova visita ao Brasil: “É bom ver o Raven num clube pequeno. Penso que locais assim são sempre as melhores experiências, eles realmente nos conectam com as pessoas”. Perguntando sobre seu álbum favorito do Raven, Mark citou: “Gosto do Architect of Fear (1991), que é bem pesado, do All for One e, sinceramente, de nosso último, ExtermiNation”. Sobre o próximo, revelou: “Será melhor do que ExtermiNation, porque é realmente rápido. Ouvimos hoje uma nova música, e todas elas têm o velho estilo do Raven. As pessoas irão amá-lo”, afirmou.

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