Comparada a outras cidades, não é comum uma turnê internacional de metal passar pela capital catarinense, mas felizmente desta vez aconteceu e o que se viu às margens da belíssima Lagoa da Conceição prova que a cidade deveria ser ponto obrigatório de bandas do estilo que visitam o nosso país.
Este foi o menor, mas seguramente o mais quente, vibrante e épico de todos os shows, afinal eram pouco mais de seiscentos fãs espremidos dentro do local – que aliás, é uma ótima casa para shows deste porte. Durante todo o repertório a expressão de satisfação do público em ver o Rhapsody era impressionante. Banda e fãs pareciam adolescentes descobrindo e se entregando à música. Isto só foi possível graças à proximidade da banda com o público – este detalhe fez toda a diferença. Além disso, o som estava excelente e o painel de led deu uma boa agregada de valor na apresentação.
Falando em apresentação, esta foi uma ocasião de sentimentos mistos. Havia a comemoração dos vinte anos de estrada da banda e ao mesmo tempo a despedida do time Luca Turilli (guitarra) e Fabio Lione (vocal). Para a ocasião o grupo trouxe para o palco o disco Symphony of Enchanted Lands (1998) e mais algumas faixas escolhidas a dedo, além de solos de bateria e baixo. Grande parte do show foi de pura empolgação, com o público cantando tão alto que ficou difícil ouvir os carregados backingtracks de coral e vários momentos. Até mesmos os soberbos vocais de Fabio Lione foram abafados pelo público durante alguns hinos da banda. O vocalista, que atualmente se encontra compondo com o Angra, entregou o seu melhor e definitivamente rouba a cena em momentos mais dramáticos como os de “Lamento Eroico” ou os épicos como em “Land Of Immortals”. O seu domínio foi completo, inclusive na hora de fazer algumas brincadeiras e se comunicar com os presentes em português.
A principal impressão que ficou foi a de uma banda realmente se divertindo em cima do palco. Luca Turilli (guitarra) foi o que mais agitou e transpareceu estar realmente curtindo tocar aquelas músicas. A começar por “Emerald Sword”, onde só faltou ele pular do palco. Tanto ele quanto o seu parceiro de guitarra, Dominique Leurquin, deixaram as músicas mais ardidas ao vivo, dado o volume dos seus instrumentos. Bases, solos e arpejos foram muito bem ouvidos.
Se o papo de que lá no início da banda as baterias e baixos eram programados for verdade, as performances de Alex Holzwarth e Patrice Guers não ficaram devendo nada para o computador. Além de literalmente tocar na cara dos fãs, ambos fizeram os seus solos, nada absurdos, mas bem empolgantes – principalmente o de Guers que foi esperto e não ficou masturbando o baixo, ao invés disso, soube mandar uns slaps e groove, sem deixar o lado metal de lado.
A apresentação deixou claro que a música do Rhapsody funciona muito bem ao vivo, desde que todos os elementos sejam devidamente apresentados e isso exige uma boa equipe comandando o som. O tecladista Alex Staropoli fez falta? Sim e não. Musicalmente, nem um pouco. Agora, para quem admira o músico, a sua ausência certamente faz falta no que concerne a performance.
A despedida com “Holy Thunderforce” fechando o set foi digna de uma banda que definiu um estilo, construiu uma sólida base de fãs e influenciou muitos outros grupos. Agora será Turilli para um lado e Lione para outro. Deixarão saudades.