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RICHIE KOTZEN

Não é de hoje que Richie Kotzen dispensa apresentações, mas de uns anos para cá o The Winery Dogs certamente ajudou a levar seu nome a quem não o conhecia ou apenas tinha escutado falar do guitarrista virtuoso que um dia tocou no Poison e no Mr. Big. Não à toa o Imperator – que o trio completado por Billy Sheehan e Mike Portnoy lotou em 2016 – recebeu um ótimo público para ver Kotzen em mais um de seus shows solo na cidade. Um público acima da média do próprio artista, diga-se, e obviamente se trata de uma coincidência o fato de que os presentes assistiram a uma apresentação não do guitarrista, mas do músico extraordinário. Pena que o formato por algumas vezes tenha prejudicado a dinâmica do show. Por quê? Vamos lá…

A noite começou com uma das cinco músicas do novo álbum, “Salting Earth”, colocadas no repertório. Ponto para Kotzen, que tem mesmo de divulgar o seu trabalho mais recente, e não é culpa dele se a maioria das pessoas ficou em silêncio na hora de responder se tinham o CD. “End of Earth” mostrou-se um ótimo número de abertura, reforçando ao vivo o seu clima e o refrão muito palatável, mas foi com a primeira faixa da obra-prima “Mother Head’s Family Reunion” (1994) que o show teve início de fato para a plateia. “Socialite” colocou todo mundo para cantar o tema de guitarra criado anos depois, numa viagem ao passado registrado no CD/DVD “Live in São Paulo” (2008). Mais do que isso, a música virou uma grande jam com Dylan Wilson (baixo) e Mike Bennett (bateria) para Kotzen debulhar como se não houvesse amanhã. E não importa quantas vezes você o viu tocar, porque, puta merda, é um absurdo!

Se a nova “Meds” encheu o lugar com aquela pegada funk que o cara faz tão bem e há anos, a já clássica “Go Faster” recolocou o show num caminho mais rock’n’roll que continuou sendo seguido com “Love is Blind” – e perdoem meu francês mais uma vez, mas, puta merda, como canta esse sujeito! – até voltar ao groove com “Your Entertainer”.  O retorno ao material de “Salting Earth” se deu com as dispensáveis “My Rock” e “Cannon Ball”, não apenas porque teria sido mais interessante substituí-las por “Make it Easy” ou “Thunder”, por exemplo, mas porque o teclado virou protagonista. Não que isso seja um problema, porque Kotzen esbanjou talento no instrumento ao emular Wurlitzer, Clavinet e por aí vai, mas foi a abertura de uma sequência não deu liga.

De pé e com um violão nas mãos, o trio mandou “I Would”, belíssima canção do fabuloso “Break it All Down” (1999), e “High”, há muito tempo uma das favoritas dos fãs. No entanto, é difícil não imaginar como o resultado teria sido melhor no formato elétrico. E se Wilson, que teve muito espaço para brilhar e o aproveitou realmente bem, enriqueceu a parte acústica, o solo de Bennett poderia ter ficado no curto tempo em que batucou o Cajon, pela novidade e curiosidade. Mas ao voltar para bateria, estendeu o momento ao nível do cansativo. Apesar de boa música, a calma e introspectiva “Fear” não ajudou muito ao vir logo em seguida.

O ânimo voltou a ficar em alta com “Help Me”, que funcionou como um pedido de perdão pelos longos e exagerados minutos de calmaria anteriores, afinal, as estruturas da casa foram demolidas com uma jam de tirar o fôlego – por um momento até concordei com a estupidez que é a proposta de proibir e criminalizar o funk que rola no Senado, mas essa é a perspectiva de quem nasceu, foi criado e mora no Rio de Janeiro, porque o funk carioca é qualquer coisa, menos música. E Kotzen e Wilson mostraram como se faz. De volta ao teclado, Kotzen puxou a excelente “This is Life”, e permita-me bater na mesma tecla, sem trocadilho: foi a prova de que o problema não é o instrumento ou deixar a guitarra em segundo plano, porque aqui ela foi uma coadjuvante de respeito. Bastou, na verdade, a música certa no momento certo. Claro, cantar uma barbaridade, como Kotzen fez, também ajudou.

E não dá nem para chamar de bis o que veio a seguir, seja porque a volta ao palco foi muito rápida, seja porque deixou um gostinho de quero mais (e quem ficou esperando por “Fooled Again”?). Enfim, “You Can’t Save Me” fez todo mundo soltar a voz para cantar o refrão e a sequência de frases iniciadas com “fuck” que o antecedem. No apagar das luzes, o formato do novo show ficou devendo em dinâmica, vale reforçar, mas mostrou uma coisa: mesmo num espetáculo abaixo do esperado (e do que os fãs estão acostumados), Richie Kotzen ainda coloca muita gente no bolso.

Set list
1. End of Earth
2. Socialite
3. Meds
4. Go Faster
5. Love is Blind
6. Your Entertainer
7. My Rock
8. Cannon Ball
9. I Would
10. High
11. Fear
12. Help Me
13. This is Life
14. You Can’t Save Me

 

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