Em plena noite de quarta-feira, o Carioca Club ficou abarrotado de gente que compareceu para conferir o retorno ao Brasil de artistas que representam duas vertentes distintas de um mesmo gênero, o Hard Rock. De um lado, vários jovens fãs exibiam com orgulho o visual característico do Sleaze Glam, ávidos pela quarta passagem do grupo sueco Crashdïet, que ainda segue em turnê do quarto álbum “The Savage Playground”, lançado em janeiro de 2013. De outro, muitos fãs do Hard Rock clássico ansiavam pela apresentação do ex-guitarrista do Poison e do Mr. Big, e atual The Winery Dogs, Richie Kotzen, que também veio um punhado de vezes ao país, sendo que a passagem mais recente foi em julho do ano passado, com o próprio The Winery Dogs.
O Crashdïet seguiu a risca o cronograma divulgado e pontualmente às 20h00, a curta introdução de “Cocaine Cowboys”, música que também abre o álbum “The Savage Playground”, evidenciou a entrada explosiva em cena, sob gritos da mulherada que marcou presença em peso. De imediato o público conferiu o novo visual do vocalista Simon Cruz – que ainda hoje divide opiniões entre os defensores do saudoso Dave Leppard e dos fãs de H. Olliver Twisted -, que deu uma “engrossada” em seu conhecido moicano. Na sequência, mandaram uma dobradinha com “Rebel” e “Native Nature”, ambas do penúltimo álbum de estúdio, “Generation Wild” (2010) que marcou a estreia de Simon na banda.
Apesar do vocalista ter se comunicado bem com a platéia em vários momentos, ele e os seus companheiros Peter London (baixo), Martin Sweet (guitarra) e, principalmente o baterista Eric Young, estavam todos um pouco tímidos em palco, mas com a popularidade que conseguiram no Brasil, o público já estava ganho. Em “So Alive”, Simon pegou uma guitarra e segurou a base, aí sim o competente Martin Sweet se soltou pelo palco. As músicas “XTC Overdrive”, “Queen Obscene / 69 Shots”, “Breakin’ The Chainz”, “Falling Rain” e, principalmente “Riot In Everyone”, certeiras como sempre, foram cantadas em alto e bom som pelos fãs. Isso mostra o quanto o quarteto sueco é respeitado em São Paulo. “Generation Wild” encerrou o show que durou exatamente uma hora e que fez a alegria dos fãs, exceto pela ausência de músicas como “It’s A Miracle” (para muitos a melhor da banda, inclusive para esse que vos escreve), “Alone” e “In The Raw”, que jamais deveriam ficar de fora do ‘set list’ do Crashdïet.
Embora fossem dois shows completamente diferentes, e, ao contrário do que muitos desconfiavam de que alguns fãs do Crashdïet talvez preferissem debandar-se do local após a apresentação da banda, não foi o que aconteceu. Todos permaneceram para conferir o que o guitarrista norte-americano preparara. Com meia hora de atraso em relação ao horário previsto, Richie Kotzen entrou em palco às 21h30, empunhando a sua fiel escudeira, uma Fender modelo Telecaster, e usando tênis cano longo e calça saruel, praticamente o mesmo visual despojado que usou no videoclipe da novíssima “War Paint”, que deu início agradando a todos os presentes. Nessa atual turnê que já passou pela Europa e segue por México, Chile, Argentina, Colômbia, além de outros dois shows no Brasil, um no Rio de Janeiro, outro em Brasília, Kotzen vem sendo acompanhado pelo baterista Mike Bennett e pelo excelente baixista Dylan Wilson.
Já na trinca inicial que foi completada por “Love Is Blind” e “Bad Situation”, a mesma que vem sendo mantida na turnê, Kotzen mostrou o porquê de ser um artista completo, pois, apesar de extremamente técnico como guitarrista, o músico deixou o bom gosto falar mais alto em seu repertório que mostrava outras sonoridades fora o Hard Rock, como Jazz, Fusion, Soul Music e até Disco Music. Além disso, Kotzen é um vocalista muito acima da média e sua voz é um misto de Chris Cornell (Soundgarden, ex-Audioslave) e Sananda Maitreya (antes conhecido como Terence Trent D’Arby). Dias antes de embarcar para o Brasil, Kotzen prometeu uma surpresa aos fãs brasileiros e a cumpriu, apresentando a música “Cannibals”, que fará parte do seu novo disco solo, que será lançado apenas em 2015.
Na sequência, outra novata, “Walk With Me”, já conhecida por causa do seu videoclipe inovador, gravado inteiramente com o uso de um iPhone. O ponto alto foi quando o músico emocionou a todos com a belíssima “Doin’ What The Devil Says To Do”, que teve a participação em uníssono do público. De todos os shows que já fez em São Paulo, esse talvez tenha sido o que Richie mais se empolgou. Improvisou riffs e solos cheios de ‘groove’, deu “canja” na bateria mostrando certa habilidade com as baquetas e, além de tudo, assim como tem feito há algum tempo em seus shows, abriu mão do uso de palheta, mas sem perder a pegada, pois o cara não alivia para os dedos da mão direita, tocando pesado! Seus músicos também ganharam seus momentos particulares, apresentando curtos solos, sendo que o destaque foi Dylan Wilson, que usou e abusou de sua técnica, principalmente nos ‘slaps’.
Finalizando vieram as ótimas “What Is”, “Fooled Again” e “You Can’t Save Me”, mas o trio retornou ao palco e mandou “Go Faster”. Assim como o Crashdïet, Kotzen deixou alguns clássicos de fora, como as sempre bem vindas “Mother´s Head Family Reunion”, “I’ll Be There” e as repaginadas “Stand” e “Shine”, ambas de seus tempos de Poison e Mr. Big, respectivamente. Mesmo assim, o público que compareceu e lotou o Carioca Club saiu completamente feliz e satisfeito após conferir duas apresentações muito boas, dando indícios de que ainda vale a pena investir em shows de Hard Rock, pois adeptos do gênero existem aos montes.
Set List – RICHIE KOTZEN:
War Paint
Love Is Blind
Bad Situation
Cannibals
Walk With Me
Fear
Doin’ What The Devil Says To Do
Peace Sign
Help Me
What Is
Fooled Again
You Can’t Save Me
Go Faster
Set List – CRASHDÏET:
Cocaine Cowboys
Rebel
Native Nature
XTC Overdrive
So Alive
Queen Obscene / 69 Shots
Breakin’ The Chainz
Falling Rain
Riot In Everyone
Generation Wild