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RICHIE KOTZEN

Richie Kotzen é um artista diferenciado. O primeiro disco solo veio quando tinha 19 anos, em 1989, naquela leva de ‘guitar heroes’ da Shrapnel Records.Mas os trabalhos instrumentais foram rapidamente deixados de lados, e o guitarrista tornou-se precocemente um músico completo: toca uma barbaridade, canta absurdamente (ouça com atenção: ‘The Voice Brasil’ é o cacete!) e compõe muito, mas muito bem – até demais, aliás: prolífico, tem 37 álbuns em 26 anos de carreira, incluindo os próprios (nada menos que 24, sendo um ao vivo e quatro coletâneas) e os com Arthur’s Museum, Poison, Greg Howe, Vertú, Mr. Big, Forty Deuce, Wilson Hawk e The Winery Dogs. O sujeito passeia pelo Jazz, Fusion e Blues com tranquilidade, e o forte recai sobre uma forte e para lá de agradável mistura de Rock, Soul e Funk com pitadas de Pop.

Então, por que esse cara continua tocando apenas num Teatro Rival – abarrotado, sim, mas abarrotado com 500 pessoas – e não em casas maiores? Pode ser difícil responder, porque isso acontece em seu próprio quintal. Não à toa Mike Portnoy, surpreso com tamanho talento, tenha declarado que o The Winery Dogs é também um veículo para que mais pessoas conheçam o quão brilhante é Richie Kotzen. Talvez o primeiro efeito tenha sido “The Essential Richie Kotzen” (2 CDs + 1 DVD) que a Loud & Proud Records, mesmo selo do trio com Billy Sheehan e o ex-baterista do Dream Theater, tenha colocado recentemente nas lojas. E talvez a iniciativa mostre que existe muito mais por trás do guitarrista que há duas décadas substituiu C.C.DeVille no Poison – e, com o perdão da sinceridade, foi responsável pela única coisa audível que o grupo já gravou.

Foi exatamente para divulgar a coletânea que o guitarrista e sua banda solo – Dylan Wilson (baixo) e Mike Bennett (bateria) – voltaram ao Brasil para três shows (além do Rio de Janeiro, apresentações em São Paulo e Belo Horizonte). E o que se viu não foi muito diferente do que aconteceu em suas outras quatro passagens solo pela cidade: uma aula de música em 90 minutos, desta vez calcada no material mais recente, basicamente o que ele considerou essencial entrar no triplo cartão de visitas para os desavisados. “War Paint”, uma das duas inéditas, abriu a noite mostrando a força da internet. O fã que não ainda tinha “The Essential Richie Kotzen” em casa já estava habituado à música graças ao vídeo no YouTube, assim o refrão bem construído (nenhuma novidade) foi acompanhado com certa facilidade.

Mas fácil mesmo foi se deixar levar pelas duas seguintes, “Love Is Blind” e “Bad Situation”, e seus refrãos bem construídos (já disse isso antes?) e grudentos (bom, também nenhuma novidade), o groove mais Rock da primeira e mais Funk da segunda. Ao vivo, primorosas. Ao se dirigir ao público pela primeira vez, Kotzen explicou o porquê da turnê – que também passou Chile, Argentina e Colômbia – e falou de seu novo disco solo, previsto para o início de 2015 (nos Estados Unidos, porque no Japão será lançado no próximo dia 26 de novembro). Assim, a palinha veio com “Cannibals”, que dá nome ao trabalho. Falar que a canção é mais do mesmo é até sacanagem, afinal, seria o mesmo que reclamar de o AC/DC lançar sempre o mesmo álbum – e se você reclama disso, por favor, pode ajoelhar no milho e dar início a uma autopenitência com surra de cipó de goiaba. Segunda e última inédita da coletânea, “Walk With Me”, mais um exercício vocal do guitarrista, também ganhou amparo em vídeo, por isso não era nenhuma estranha dos fãs.

Com a plateia aquecida, havia chegado a hora de chutar o balde. As belas “Fear” e “Doin’ What The Devil Says To Do” mostraram mais do que Kotzen numa noite inspiradíssima à frente do microfone, mas desfilaram toda a sua técnica nas seis cordas – técnica que faz uns anos não inclui mais palheta. As duas canções foram estendidas para dez minutos graças aos improvisos guiados pelo guitarrista, que debulhou o instrumento diante de queixos caídos, urros e aplausos acalorados dos presentes. E vale ressaltar: com um ‘feeling’ e um bom gosto gigantescos – de qualquer maneira, nenhuma novidade. O pique foi mantido lá em cima com “Peace Sign” (quaisquer semelhanças com Jimi Hendrix não são mera coincidência), mas…

A atual turnê traz um Richie Kotzen diferente. O setlist desde os primeiros shows na Europa, em setembro, tem sido o mesmo, o que acabou sendo uma surpresa para quem acompanha a carreira do músico. Então, a ‘jam’ de Wilson e Bennett tornou-se relativamente longa (para alguns, cansativa) num repertório não apenas imutável, mas enxuto. Houve quem ficasse decepcionado – ou decepcionada, para ser mais exato – com as ausências de “High”, “Remember” e “Shine”, por exemplo, mas o caso é que haveria espaço para mais duas músicas sem quebrar a dinâmica da apresentação. Para tornar interessante o momento solo de sua banda, Kotzen resolveu dar um molho ao momento sentando no banquinho para tocar bateria antes de “Help Me”, que voltou a colocar o show nos trilhos com todo o seu espetacular ‘groove’.

Kotzen, aliás, nem de longe lembrava a postura introvertida de 2012, na mesma casa. Ligado em 220V, se movimentou mais, interagiu mais e fez da guitarra uma extensão da sua performance (entenda-se que, entre caras e bocas, os trejeitos incluíram tocar com oinstrumento nas costas, de frente para os amplificadores…). Todo mundo saiu ganhando. Se o setlist não apresentou surpresas para quem optou por fazer a lição de casa, trouxe agradavelmente de volta a ótima “What Is”, numa versão sem a cozinha. A calmaria acabou em “Fooled Again”, que já se tornou um clássico para os fãs, mais uma vez brindados com improvisos de tirar o fôlego nos minutos finais – sério mesmo, são poucos os guitarristas cujos exercícios de autoindulgência dão gosto de se ver e ouvir. Há autenticidade de sobra aqui.

Outra favorita, “You Can’t Save Me” fechou a primeira parte em alta, colocando todo mundo para cantar – principalmente a palavra “fuck”, diga-se, mas aí não era bem cantar, mas sim se lembrar daquele vizinho irritante, dos motoristas que só tiram o carro da garagem nos fins de semana, da instabilidade do dólar antes de uma viagem para o exterior et cetera. “Go Faster”, numa versão mais suingada do que Rock, mas ainda assim visceral, encerrou definitivamente a noite com um misto de satisfação e gosto de quero mais. Posso apostar que foi este o sentimento final do casal que perguntou a este que vos escreve, antes da entrada no chiqueirinho para tirar fotos, se o “artista era bom mesmo”, uma vez que estava ali por indicação de um amigo. Respondi que se tratava de um músico não menos que genial. Ao sair – aliás, ‘pit’ para os fotógrafos no Teatro Rival é uma bênção que deveria acontecer sempre -, a mulher virou para mim e disse: “Ele é bom mesmo.” Qualquer um pode perceber o óbvio. E neste caso bastaram apenas três músicas.

Setlist
1. War Paint
2. Love Is Blind
3. Bad Situation
4. Cannibals
5. Walk With Me
6. Fear
7. Doin’ What The Devil Says To Do
8. Peace Sign
9. Help Me
10. What Is
11. Fooled Again
12. You Can’t Save Me
13. Go Faste

 

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