Por Nelson Souza Lima
Fotos: Vinicius Martins
Poucas semanas após a passagem de Marky Ramone pelo Brasil, outro ex-integrante da icônica banda punk aportou por aqui. Desta vez, foi Richie Ramone quem veio dar um rolê pela América do Sul com a “Open The Road Tour”, realizando oito shows no Brasil, um no Uruguai e dois na Argentina. Richie foi baterista do Ramones entre 1983 e 1987, gravando os álbuns “Too Tough to Die” (1984), “Animal Boy” (1986) e “Halfway to Sanity” (1987), e além de detonar nas baquetas, dividia os vocais com Joey Ramone em “Freak Of Nature”, “Chasing The Night”, entre outras.
Se em São Paulo Marky Ramone tocou no Carioca Club, casa de médio porte (https://roadiecrew.com/marky-ramones-blitzkrieg-sao-paulo-sp/), o show de Richie rolou no tradicional Manifesto Bar, casa que está prestes a completar 30 anos e que já abrigou diversos ex-Ramones, incluindo Marky e CJ Ramone. Em um final de semana recheado com Roger Waters, Red Hot Chili Peppers e Glenn Hughes passando por São Paulo, os fãs do bom e velho punk não se decepcionaram com um setlist que privilegiou os Ramones, mas que também trouxe músicas dos álbuns de Richie, inclusive do recente “Live To Tell”, lançado em abril deste ano.
Antes do show, a baixista da banda Claire Mistake circulava pela casa, conversando com fãs e cuidando do merchandising, vendendo camisetas e CDs. Enquanto isso, no palco, o guitarrista Txory Goni e o baterista Chris Moye acertavam os detalhes de afinação e equalização dos instrumentos. Coisas que espaços pequenos propiciam.
Por volta das 17h30, a avalanche sonora começou com Richie Ramone na bateria. Acompanhado por Goni e Mistake, mandou “Durango 95”, do “Tough To Die”, e “Teenage Lobotomy”, clássico do Ramones do discaço “Rocket To Russia”, de 1978. O cara mostrou que canta e toca bateria com maestria. Em seguida, Richie cedeu as baquetas para Chris Moay para assumir os vocais e, em 60 minutos, desfilou algumas das mais emblemáticas músicas do punk rock. E se o público queria muito “Hey, Ho! Let’s Go”, receberam em doses generosas. O também tradicional “1, 2, 3, 4” ficou a cargo da baixista Claire, que agita, curte com a galera e segura muito bem a base para os solos de Txory Goni.
Foram 25 músicas, sem deixar o público respirar, que, à medida que o show rolava, se soltou, aclamando a banda no final. O set equilibrou canções de várias fases dos Ramones, lembrando que 2023 marca os 50 anos de fundação do grupo, sendo atemporal. Ramones integra o Olimpo das grandes bandas, isso é fato. E apesar de Tommy, Joey, Johnny e Dee Dee, os integrantes originais, já terem falecido, o legado dos Ramones permanece.
Richie Ramone mandou porradas dos três discos gravados com a banda como “Somebody Put Something in My Drink”, do “Animal Boy”, “Smash You” e “Wart Hog” do “Too Tough to Die” e “I Know Better”, do “Halfway to Sanity”.
Do álbum solo “Cellophane”, 2016, mandou “Pretty Poison”, “I’m Not Ready” e “Enjoy the Silence”, cover do Depeche Mode. “Live To Tell”, mais recente trabalho do cara, constaram “Who stole My Wig”, “Suffocate”, “Last Time”, além da faixa-título. Richie não conversa muito no palco e disse que em português aprendeu a falar “cachaça” para risos gerais. O clima era tão amistoso que até alguém pediu “Menina Veneno”, para risos gerais. Neste caso, estamos falando do outro Ritchie.
Mas a coisa pegou fogo mesmo com os clássicos dos Ramones. “Blitzkrieg Bop”, “I Believe In Miracles”, “Sheena Punk rocker” e “Rockway Beach”, que fechou o set, levaram os fãs ao delírio. Pontualmente às 18h36, a banda encerrou a apresentação sem encore. Depois foi a troca de ideias entre fãs e banda. Deu até pra trocar uma ideia rápida com o baterista Chris Moay, que muito atencioso, disse que toca com Richie desde 2020 e que já integrou outros grupos de punk rock em Houston, sua cidade natal. Para ele, os demais remanescentes da banda como Mark e CJ, além do Richie, têm grande papel para manter o legado do Ramones para as novas gerações.