Prestes a desembarcar no Brasil para uma turnê ao lado do Narnia em setembro, passando por Belo Horizonte (22), São Paulo (23), Rio de Janeiro (24), Curitiba (26), Goiânia (27), Fortaleza (29) e Recife (30), Rob Rock conversou com a ROADIE CREW sobre as expectativas em relação a sua segunda passagem pelo país – desta vez, o vocalista terá o suporte dos integrantes da banda sueca: CJ Grimmark (guitarra), Jonatan Samuelsson (baixo), Martin Härenstam (teclados) e Andreas Johansson (bateria). Mas a conversa abrangeu, também, seu trabalho ao lado de Chris Impellitteri, o breve passado com o M.A.R.S., a questão do rótulo do cristianismo no heavy metal… Confira e se prepare para os shows!
Os piores momentos da pandemia ficaram para trás, então como você está depois do que aconteceu?
Rob Rock: Estou bem, obrigado por perguntar! Peguei Covid e tive alguns problemas pulmonares, mas superei tudo. E tenho fé de que todos ficaremos bem de agora em diante.
Ótimo, porque tem a turnê com o Narnia no Brasil…
Rob: … E eu espero me divertir! Sair em turnê com um monte de caras que você conhece, ama e se dá bem só pode ser divertido! E sem muito estresse, espero (risos).
E você esteve no Brasil em 2016, numa turnê com a Leather Leone. Quais são suas lembranças?
Rob: Lembro-me de que as pessoas eram ótimas e que os shows foram muito divertidos. Tivemos uma resposta muito boa, mas também lembro que a parte da viagem até o seu país foi um pesadelo! (risos) Lembro-me de retornar ao hotel pouco antes da meia-noite e ter de acordar às 6h do dia seguinte para estar no aeroporto, só que apenas para ficar o dia inteiro esperando no saguão! Vocal e fisicamente, foi muito cansativo para mim, então expressei minhas dificuldades com viagens quando conversei com o promotor desta vez, e ele está fazendo o possível para melhorar os horários dos voos, de modo que eu possa dormir um pouco entre os shows, porque a única coisa que realmente cura a voz é dormir.
Naquela época, você apresentou um ótimo setlist, com músicas da sua carreira solo, do Impellitteri e do M.A.R.S.? O que você está preparando para os fãs brasileiros dessa vez?
Rob: A mesma coisa, basicamente, embora com músicas diferentes, canções de cada um dos meus discos solo, talvez uma do Joshua, provavelmente alguma coisa do Impellitteri. Como eu tocarei com o Narnia, apresentaremos músicas que soem bem nesse formato, porque normalmente eu uso duas guitarras nos meus álbuns solo, E na turnê temos teclados e o CJ na guitarra, então será um pouco diferente. E tem sido interessante tocar as músicas com essa configuração nos ensaios! Acredito que ficará bom ao vivo porque não será exatamente igual, e essa diferença é que será interessante. Além disso, toquei em bandas com teclados antes, então estou familiarizado com esse som. E gosto dele.
Devo dizer que alguns fãs esperavam por algo do “Nasty Reputation” (1991), único álbum que você gravou com Axel Rudi Pell. Alguma chance dessa vez?
Rob: Bem, eu não sei… Qual música você gostaria de ouvir?
“I Will Survive”, “Wanted Man” ou a faixa-título, mas ficaria feliz se fosse apenas a sua interpretação de “When a Blind Man Cries”, do Deep Purple…
Rob: Boa ideia, e eu amo essa música! Não estou ciente de tudo o que foi lançado no Brasil e na América do Sul, mas soube recentemente que o catálogo completo do Impellitteri será lançado no seu país, e isso é uma ótima notícia. Sei que os discos do Avantasia foram lançados, mas não tenho certeza se o “Nasty Reputation” saiu aí, mas parece que foi, certo?
Honestamente, só lembro de cópias importadas. E quanto aos discos do Impellitteri, serão apenas os oito primeiros álbuns, ou seja, sem contar os EPs…
Rob: Mas já é um começo, né? (risos)
A propósito, perguntei a Christian Liljegren (N.R.: vocalista do Narnia) sobre a possibilidade de uma jam, como a que vocês fizeram em 2005, quando cantaram juntos “Eagle” (N.R.: no Metal Fest, na Alemanha). Vai rolar, certo?
Rob: Sim, e nós vamos pensar numa música para tocarmos juntos, porque é uma boa ideia. Só não posso falar mais nada sobre isso (risos).
A turnê no Brasil está sendo chamada por alguns de “Icons of Christian metal”. Qual é a sua opinião sobre isso?
Rob: Eu nunca fui rotulado como cantor cristão, mas é lisonjeiro ser chamado de “ícone do metal cristão”. Fico feliz com isso, porque minha fé em Jesus Cristo é prioridade na minha vida, então é importante para mim cantar sobre isso. Consigo fazer isso com o Impellitteri, mas a banda também não é rotulada como white metal, não é uma banda assumidamente cristã. Nos anos 1980 e 1990, tentaram encaixotar qualquer banda que cantasse sobre cristianismo marcando-as como “bandas cristãs”, e nós não queríamos ser rotulados dessa forma, para sermos deixados num canto. Queríamos deixar que a música falasse por ela mesma, porque vem do coração, e é assim que deveria ser. Não gosto quando me rotulam do ponto de vista do marketing, mas se você é cristão e quer falar ‘dá uma olhada nessa banda’ para outros cristãos e não cristãos, também, por causa do conteúdo cristão das letras, eu fico feliz com isso, afinal, eu quero agradar a Deus, quero que minhas letras reflitam uma mensagem positiva e desejo que as pessoas se sintam elevadas com a minha música. O heavy rock e o rock melódico me elevam, me energizam, são a trilha sonora da minha vida, por isso quero que sejam a trilha sonora das vidas de outras pessoas. Deus me deu esse talento, e quero dividi-lo.
E perguntei sobre isso porque o rótulo da turnê pode ser interpretado como algo para determinado público, quando deveria ser para todos. É um show de música, um show de heavy metal, e mensagens positivas não machucam…
Rob: Sim, é exatamente isso! Eu não quero ser prejulgado sem que a minha música seja ouvida. Ouça a música, curta o momento e depois decida se gosta ou não do que ouviu, mas ao menos dê uma chance às canções, às melodias, às mensagens. Além disso, como você bem disse, não vai doer! (risos) Só vai lhe fazer bem!
Vamos falar um pouco da sua carreira, a começar pelo Impellitteri. A quantas anda o novo álbum?
Rob: As músicas estão compostas, e agora estou trabalhando nos vocais, colocando as melodias e as letras. Entraremos em estúdio em breve para gravar as baterias, e gravarei os vocais depois dessa turnê.
Tem algo que eu gostaria de compartilhar, que é o nível de composição depois de todos esses anos. Por exemplo: “Venom” (2015) é um dos meus discos favoritos do Impellitteri…
Rob: É ótimo ouvir isso. Obrigado! O novo álbum tem músicas muito boas, também, e com a mesma vibração. Acho que você realmente vai gostar!
E quem sabe a sua segunda vinda ao Brasil não abre a porta para o Impellitteri tocar por aqui…
Rob: Sim, e já falei com o Chris sobre isso! Vamos ver o que acontece depois do novo disco, e talvez possamos fazer isso porque agora, com um público formado até mesmo ao fim da turnê Rob Rock-Narnia, fará sentido ir com o Impellitteri enquanto os shows estão frescos na memória de todos. Especialmente agora, mesmo, também porque os discos estão sendo lançados no Brasil, então faz todo sentido!
Embora Graham Bonnet e Curtis Skelton tenham gravado com o Impellitteri, você começou com a banda em 1985, e eu costumo dizer que a sua voz é tão importante quanto a guitarra do Chris. Você se sente assim?
Rob: Sem dúvida! Não vou mentir para você dizendo que não (risos), mas sou um grande fã do Graham. Cresci ouvindo a voz dele, e o “Down to Earth” (N.R.: quarto álbum de estúdio do Rainbow, de 1979) é um dos meus discos favoritos de todos os tempos. É um prazer ser listado ao lado do Graham, que é uma lenda! E o disco gravado com o Curtis, o “Pedal to the Metal” (2004) é um grande trabalho. Sabe, Chris tem o próprio nicho quando toca suas músicas, e essa é a parte principal do Impellitteri, claro, mas a química se torna a original da banda quando a minha voz é adicionada.
De fato, há uma química inegável entre você e o Chris…
Rob: Porque o que nós temos é mais uma relação como a de irmãos. Podemos sair juntos e falar o que quisermos. Passamos por muita coisa juntos nos lugares onde tocamos no início do Impellitteri, em New England, e nos conhecemos há tanto tempo que nos entendemos perfeitamente. Na verdade, às vezes nem precisamos falar muito para que isso aconteça. Na atual fase do novo álbum, por exemplo, ele já fala ‘Rob, faça o que tiver que fazer’. A relação durante gravações, vídeos e todas essas coisas é muito confortável.
Voltando um pouco mais no tempo, eu gostaria de falar sobre M.A.R.S., uma verdadeira definição de supergrupo, e o álbum “Project: Driver” (1986), que é incrível. Quais são suas lembranças daquela época?
Rob: Eu tocava em pequenas casas de shows naquela época, mas recebi um convite para participar da audição, então voei para Los Angeles, fiz o teste e fiquei com a vaga. Na hora, pensei: ‘Meu Deus, eu finalmente consegui! Depois de tanto trabalho, eu consegui!’, porque estava muito animado. Tony (MacAlpine), Rudy (Sarzo), Tommy (Aldridge) e eu gravamos as músicas, e Mike Varney negociou o disco, mas as gravadoras falavam ‘é pesado demais’, ‘é progressivo demais’, ‘não é isso que toca nas rádios’, e ficamos nessa. Enquanto ninguém tomava decisão alguma, Rudy e Tommy tentavam organizar uma turnê mesmo sem o álbum ter sido lançado, e foi aí que tudo começou a acabar, porque David Coverdale fez uma proposta que eles não podiam recusar. Tommy e Rudy conversam comigo e com o Tony, e falaram: ‘Vamos entrar no Whitesnake para gravar os videoclipes e fazer a turnê do ’87 (N.R.: o multiplatinado “Whitesnake”)’. Naquele momento, todos os meus sonhos, todos os que acreditei que iriam se realizar, sumiram! Puf! Eu havia me mudado para Los Angeles e reorganizado toda a minha vida, mas teria que começar tudo de novo. Embora muito boa, foi uma época traumática para mim, porque desacelerou de 100 a 0 em pouco tempo.
Quase 40 anos depois, seria interessante uma reunião para completar essa lacuna e, quem sabe, até um novo álbum…
Rob: Durante todo esse tempo, nós quatro nunca falamos sobre isso, até porque ficamos todos ocupados, felizmente (risos). Mas, olha, eu adoraria! Seria bem insano!
Uma pergunta que sempre quis fazer a você: em 2000, você conseguiu ter Jake E. Lee como convidado em seu primeiro álbum solo, “Rage of Creation” (N.R.: Lee gravou os solos em “All I Need” e “Media Machine”). Era uma época em que ele estava basicamente desaparecido, então como foi entrar em contato com o Jake?
Rob: Um cara com quem eu estava trabalhando à época, um grande amigo meu chamado Chris (risos), foi quem sugeriu o Jake. Ele disse que o conhecia e que o Jake não estava fazendo nada na época, mas que deveria voltar a tocar. Eu e Roy Z tínhamos duas músicas que seriam… Bom, nós pensamos que seria muito foda se Jake E. Lee pudesse gravar os solos nelas (risos). Assim, Chris falou com Jake, que foi ao estúdio num dia, sentou-se na sala de controle, arregaçou uns solos e saiu, e essa foi a última vez que eu o vi, porque ele desapareceu de novo! (risos) Foi ótimo tê-lo no disco, ótimo poder ressuscitá-lo por um momento, e fico feliz de ver o Jake novamente na ativa, gravando novos álbuns, porque ele é incrível!
Ainda sobre a sua carreira solo, você já lançou quatro ótimos discos, mas já se passaram 16 anos desde o último, “Garden of Chaos”. Quando os fãs poderão ouvir um novo trabalho?
Rob: Ah, já estou trabalhando nisso. Na verdade, falei recentemente sobre isso com o Roy Z, então agora é só acertar nossas agendas. Também conversei com o CJ, porque compusemos umas músicas juntos. Por enquanto, só tenho demos, por isso o próximo passo é juntar as músicas. Isso é algo que demanda tempo, mas haverá outro álbum solo.
Como já estamos chegando ao fim, tenho mais uma pergunta que sempre quis fazer a você: a música tem “The Voice of Rock”, Glenn Hughes; tem “The Voice”, Steve Perry; e tem “The Voice of Melodic Metal”, você. Qual o sentimento?
Rob: É ótimo! A imprensa europeia me chamava assim nos anos 2000, e por isso é usado como apelido, mas, verdade seja dita, eu jamais diria isso sobre mim mesmo. Sou um grande fã de melodic metal, e há tantos grandes vocalistas no estilo! O termo se tornou uma boa ferramenta de marketing, porque a imprensa europeia pegou firme nisso quando lancei meu primeiro disco solo, e eu obviamente fiquei muito feliz quando li e ouvi, feliz por dizerem isso de mim. Acontece que sou um cara tímido, e você deve ter percebido isso (risos), então uso essa termo como apelido nas ações de marketing, para promover os shows e discos. Pessoalmente, e difícil para mim aceitar ser a voz do melodic metal, porque acredito que há muitos vocalistas excelentes por aí.
Para terminar, Rob: já são 40 anos de música, com mais de 20 álbuns lançados e mais por vir. Se você tivesse que escolher cinco desses discos para representar o Rob Rock cantor e artista, quais você escolheria? E por quê?
Rob: Caramba! Você deveria ter me avisado antes que faria essa pergunta antes! (risos) Bom, o primeiro é o “Rage of Creation”, porque tem um time básico de composição, eu e Roy Z, que é mágico. É coisa boa, mesmo. Com o Impellitteri, gosto de “Screaming Symphony” (1996) e “Answer to the Master” (1994). Claro, “Project: Driver”, do M.A.R.S., sempre terá um lugar especial, porque foi o primeiro disco que fiz e que me trouxe para o lado do hard rock. Para completar, acredito que o “Holy Hell” (N.R.: terceiro trabalho solo, de 2005) é outro disco que me representa bem.
Obrigado pelo papo, Rob, e nos vemos em breve.
Rob: Sim, espero poder encontrar você para lhe dar um abraço! E vejo todos vocês em breve!