Por Écio Souza Diniz
Fotos: Écio Souza Diniz, Lukas Urbanik e Pragokoncert
Em sua segunda edição em 2022, o Open Air Rock Castle é o mais novo festival tcheco que traz grandes nomes do rock e metal mundial. Ocorrido na cidade de Moravský Krumlov, na região da Morávia do Sul, na República Tcheca, o festival também proporciona uma ótima experiência cultural devido à localização ideal no parque de um castelo com seus prados adjacentes e dos belos arredores. Além disso, o festival oferece uma ótima estrutura com área para camping, estacionamento, pubs, restaurantes e cafés, permitindo ao participante ter uma estadia tranquila e agradável. Aliás, a atmosfera tranquila do festival e sua área agradável com parte do terreno inclinado onde algumas pessoas estendiam suas toalhas ao chão e num clima de bastante cômodo apreciavam os shows, comiam, bebiam e conversavam com seus amigos. Ainda, como tem crescentemente sendo utilizado nos festivais tchecos, os pagamentos por consumos de comidas e bebidas no festival foi adaptado ao uso de tecnologia NFC e trouxe bastante comodidade, visto que são utilizados os chips atrelados aos braceletes que os participantes do festival recebem e os vendedores apenas usam um leitor em celular posicionado sob o chip e desconta os créditos contidos nele. Embora o festival tenha sido distribuído em três dias (18 a 20 de agosto), a ROADIE CREW pode acompanhar o principal dia (19 de agosto) do evento, que destacou as bandas Firewind, Sirenia, The Unity, Septicflesh e Avantasia, e traz em primeira mão aos nossos leitores detalhes e destaques dos shows.
Após entrar na arena do festival, estava já pela metade o show da banda da cantora e compositora espanhola Barbara Black. Foi uma surpresa interessante descobrir e assistir ao show dessa talentosa cantora, que agradou também a uma parte considerável do público. Barbara Já conta com um EP (“Spiritual Rock”, 2016) e dois álbuns de estúdio (“Ad Libitum”, 2017; “Love, Death & Flies”, 2020) na bagagem, ela tem se destacado por sua postura com atitude e um excelente alcance vocal que pode transitar sem grandes dificuldades indo de notas mais acentuadas num estilo Myles Kennedy até algo mais pesado com uma alusiva influência de Phil Anselmo. Basicamente sua sonoridade une raízes do rock com vertentes pesadas e atuais do metal agregando elementos do groove. Enquanto o primeiro “Ad Libitum” trazia algo com fortes referências ao southern e hard rock e power metal, “Love, Death & Flies” traz a mencionada vertente mais pesada e densa até então de sua carreira. Vale a pena conferir melhor o trabalho da Barbara Black para quem ainda não conhece.
Na sequência teve também a banda russa de heavy metal Amalgama, já conhecida do público tcheco visto que já tocou em outros grandes eventos como o conhecido e conceituado festival Masters of Rock. Formada em 2001 na cidade de São Petersburgo, a banda conta com três EPs (“Piece of Mind”, 2004; “Мираж (Mirage)”, 2014; “Кино (Cinema)”, 2015), três álbuns de estúdio (“Last Hero”, 2009; “Мечта (Dream)”, 2012; “Brothers in Rock”, 2022) e dois álbuns ao vivo (“Blood of My Enemies”, 2010; “Steel Live”, 2021). Com sonoridade remetente a forte onda do metal melódico do início dos anos 2000 e influências do metal tradicional, o novo álbum traz momentos com melodias e riffs interessantes como, por exemplo, em faixas como “Fight for Freedom” e “Dark Night”. O vocalista Vladislav Ivoylov tem uma forte presença de palco e conseguiu manter a atenção participativa do público que assistia a banda.
Já se aproximando o fim da tarde, era hora de um dos nomes esperados naquele dia, a banda grega Firewind. A banda foi formada em 1998 na cidade portuária de Tessalônica pelo talentoso guitarrista e compositor Kostas Karamitroudis, conhecido pelo nome artístico de Gus G. Gus integrou diversas bandas, dentre elas a banda sueca de power metal Dream Evil, o grupo alemão de power/speed Mystic Prophecy e a banda grega de melodic death metal Nightrage. Mas foi em seu período (2009-2017) na banda do “madman” Ozzy Osbourne que Gus ficou amplamente conhecido. O Firewind possui nove álbuns de estúdio lançados, sendo o mais recente até então o autointitulado “Firewind” (2020), que teve parte de sua divulgação retardada pela pandemia. Gus acompanhado por ótimos músicos na formação atual, que traz Petros Christo (baixo; Breaking Silence), Jo Nunez (bateria; Dragonland, ex-Kamelot) e o excelente e carismático Herbie Langhans (vocal; Beyond the Bridge, Avantasia (live)), nos apresentaram um show sólido, técnico e de personalidade. A banda de forma geral soava bastante coesa e ajudava a ressaltar os riffs de Gus e o forte timbre vocal forte de Herbie, especialmente nas marcantes faixas “Rise Fire”, “Break Away” e “Welcome to the Empire” do album “Firewind”. Herbie também mostrou seu talento na música “Ode to Leonidas” (de “Immortals”, 2017), originalmente cantada pelo ex-vocalista Henning Basse. Um show técnico, mas com bastante feeling.
Para os fãs de Symphonic Gothic Metal o entardecer com sol discretamente descortinado em meio ao céu nublado preparou o palco para os noruegueses da Sirenia. A Sirenia surgiu do desligamento do guitarrista e compositor Morten Veland da popular banda Tristania, que ele ajudou a fundar. Desde o primeiro álbum (“At Sixes and Sevens”, 2002) até o mais recente (“Riddles, Ruins and Revelations”, 2021), a Sirenia coleciona 10 álbuns de estúdio e alcançou considerável notoriedade no estilo. A vocalista Emmanuelle Zoldan, na banda desde “Dim Days of Dolor” (2016) destacou sua performance e presença de palco, tanto em músicas de destaque mais recentes como “Addiction No. 1” e “This Curse of Mine” (ambas “Riddles, Ruins and Revelations”), como também em faixas conhecidas de álbuns mais antigos que contavam com outras vocalistas como, por exemplo, “The Last Call” (de “Nine Destinies and a Downfall”, 2007). As bases firmes da bateria de Michael Brush também chamaram a atenção nesse show.
Dando espaço a uma sonoridade mais direta, em seguida entrava no palco o ótimo grupo alemão The Unity com seu power metal com elementos de hard rock e AOR, três álbuns de estúdio e uma base significativa de fãs na República Tcheca. Faz todo sentido estarem conquistando cada vez mais fãs mundo afora, afinal trata-se de uma banda que teve entre seus principais fundadores nos idos de 2016 o grande guitarrista e compositor Henjo Richter (Gamma Ray, Primal Fear, ex-Metalium, ex-Firewind). Completa esse competente e habilidoso time o vocalista Jan Manenti (Odd Dimension), o guitarrista Stefan Ellerhorst (ex-Crossroads, ex-Diamond Breaker), o baixista Jogi Sweers (ex-Love.Might.Kill), o baterista Michael Ehré (Gamma Ray, Primal Fear, ex-Metalium, ex-Firewind) e o tecladista Sascha Onnen (ex-Mob Rules). E que show bacana de assistir, com riffs, melodias e vocais inspirados e bem encaixados. O The Unity recebeu uma das respostas mais amplamente participativas do público naquela noite e até aquele momento havia sido o melhor show juntamente com o Firewind. Além disso, o vocal de Manenti não só tem um admirável alcance como também é contagiante, o que ficou escancarado em músicas viciantes como “No More Lies” (do debut “The Unity”, 2017), “Welcome Home” (de “Rise”, 2018) e “Hands of Time” (de “Pride”, 2020). Quando a banda fechava o show com a semi-balada “Never Forget” (de “The Unity”), o público massivo estava rendido e com toda razão.
A vibe power e symphonic metal dos shows anteriores agora daria lugar a uma atmosfera mais densa e brutal, com a chegada dos gregos veteranos do Septicflesh. Com o conhecido symphonic death metal da banda, eles trouxeram a baixo o palco do Rock Castle num setlist que abrangeu álbuns do período entre 2008 a partir de “Communion” e o atual momento com o novo álbum “Modern Primitive” (2022). O foco maior foi sobre o excelente “Codex Omega” (2017), do qual tocaram suas músicas mais poderosas como “Dark Art”, “Enemy of Truth”, “Martyr” e “Portrait of a Headless Man”. Do novo álbum, o público do festival pode conferir ao vivo a brutalidade de “A Desert Throne”, “Hierophant” e “Neuromancer”. Outros pontos altos da atuação conjunta da banda foi com “Prometheus” (de “Titan” 2014) e “Pyramid God” (de “The Great Mass”, 2011). Embora, os músicos tiveram desempenho bastante equitativo, se destacou a postura, técnica e presença do vocalista e baixista Spiros Antoniou e o baterista Kerim “Krimh” Lechner (Act of Denial, ex-Decapitated, ex-Behemoth (live)). Garantido seu lugar de destaque entre os shows daquela noite, o Septicflesh preparou bem o terreno para a última e principal atração dessa edição do festival.
Finalmente, o ‘headliner’ da edição 2022 do festival entrava em cena, o Avantasia do vocalista e compositor Tobias Sammet (Edguy). Sammet trouxe um grande espetáculo em forma de heavy metal para o público, acompanhado por grandes vocalistas que participaram do show: Ralf Scheepers (Primal Fear, ex-Gamma Ray), Jørn Lande (Jorn, Allen-Lande, ex-Masterplan, ex-Ark), Bob Catley (Magnum), Ronnie Atkins (Pretty Maids), Adrienne Cowan (Seven Spires, Sascha Paeth’s Masters of Ceremony), Ina Morgan e Herbie Langhans (Firewind, Beyond the Bridge). O restante dos músicos que formam o time fixo atual da banda trazia o companheiro de sempre Oliver Hartmann (guitarra e backing vocals; Hartmann, ex-At Vance), Felix Bohnke (bateria; Edguy), Andre Neygenfind (baixo; Groove Galaxi) e os renomados produtores Sascha Paeth (guitarra e backing vocals; ex-Heaven’s Gate, ex-Luca Turilli, ex-Virgo) e Miro (teclados e orquestrações; ex-Luca Turilli, ex-Virgo). Por aí, você já pode imaginar que dificilmente um time dessa categoria faz feio no palco.
Num show de pouco mais de duas horas e uma chuva moderada durante metade de sua duração, Sammet e esse elenco de talentosos músicos percorreram toda a discografia do Avantasia ressaltando as melhores músicas dos álbuns. Um setlist muito bem selecionado diga-se. A abertura com a excelente “Twisted Mind” de “The Scarecrow” (2008) trazendo dueto entre Sammet e Scheepers já instigou a todos para o restante desse espetáculo.
Inclusive, de “The Scarecrow” ainda tocaram músicas que entraram entre os destaques: faixa-título com a participação de Jørn Lande, “Shelter from the Rain” que trouxe uma ótima tríade composta por Herbie Langhans, Ralf Scheepers e Bob Catley e uma atuação profunda de Sammet em “Lost in Space”.
Outro destaque também foi a tríade de músicas de “The Metal Opera” (2001) composta por “Reach Out for the Light”, cujo atuação de Scheepers se encaixou muito bem nessa faixa que e originalmente interpretada por Michael Kiske (Helloween), “Avantasia” com uma ótima performance de Eric Martin e “Farewell” com Adrienne Cowan.
Outro álbum que recebeu foco foi “Ghostlights” (2016), do qual foram incluídos “Lucifer”, “Let the Storm Descend Upon You” que trouxe uma performance conjunta bem legal Ronnie Atkins e Jørn Lande num momento que a coincidentemente a chuva se identificava na arena do festival, e o vocal certeiro de Bob Catley em “Mystery of a Blood Red Rose”. “What’s Left of Me” e “Invoke the Machine”, duas faixas do álbum “The Mystery of Time” (2013) pouco usuais no setlist dos shows foram muito executadas. Os vocais de Eric Martin e Jørn Lande se combinaram muitissimo bem em “Promised Land” de “Angel of Babylon” (2010). A balada “Dying for an Angel” de “The Wicked Symphony” (2010) e “Book of Shallows” de “Moonglow” (2019) levantou uma participação massiva do público.
Ainda foram apresentadas ao vivo “The Wicked Rule the Night” e “The Moonflower Society”, duas ótimas faixas do novo álbum “A Paranormal Evening with the Moonflower Society” (2022). O fechamento em grande estilo com o medley de “Sign of the Cross / The Seven Angels”, respectivamente de, “The Metal Opera part. I (2001) e II (2002)” apresentou a participação de todos os vocalistas e ainda elevou as energias dos presentes mesmo naquele horário passado da meia noite, mais frio e com chuva, começando já a reduzir. Não somente em termos desse setlist variado e interesse e sua ótima qualidade técnica de execução, esse show do Avantasia trouxe uma atmosfera bastante descontraída, com bastante comunicação bem humorada de Sammet com o público e com os demais vocalistas, demonstrando de forma clara e sincera sua satisfação em estar de volta a turnês e shows frequentes.
Com base nos aspectos gerais como a estrutura em geral e o cast de bandas dessa segunda edição do Rock Castle, a conclusão é que é um festival que vale a pena ir e tem grande potencial para crescer consideravelmente mais nos próximos anos, alcançando lugar de destaque perante outros grandes festivais no verão da República Tcheca.
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