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ROCK NA VIRADA CULTURAL 2012

Pscicodelia, nostagia e histeria. Três palavras definem o que foi a programação Rock da Virada Cultural 2012. E nesta saga, a cobertura da ROADIE CREW esteve presente em treze shows. Em três palcos diferentes vimos cinco bandas gringas e oito nacionais em 22 das 24 horas da programação.

Tudo começou com uma novidade nesta edição: a Roda de Rock localizada no largo Santa Ifigênia. No início das atividades, a primeira hora foi basicamente de ajustes de som e luz. A roda acústica com violões e percussão foi composta pela banda Houdinis, que tocou, entre outras, “Dancing With Myself” (Billy Idol) e agitou com outros sons clássicos do Rock ao longo da Virada. Com pique total, de hora em hora, o quarteto ficou por lá na disposição (e sem olheiras) entretendo o público que preferiu um ‘rockinho’ mais sossegado.

Perto dali, no palco Baratos Afins (Largo do Paiçandu), quem abriu os trabalhos foi a banda Baranga, que segue na turnê de “O Céu é o Hell”. Desde o início, com “Whyskey Do Diabo”, “O Céu É O Hell”, “Tudo Que Eu Tenho Na Vida” e “Na Madrugada”, o Rock desbocado e escrachado em português animou os rockers que começavam a chegar ou que já circulavam pelo Centro. “Graças ao guerreiro Luiz Calanca, mais uma vez pioneiro, tocamos na Virada! O público durante a apresentação foi crescendo… Fizemos um show com 13 músicas no melhor estilo porrada Rock’n’Roll, com direito a mulherada no palco e o escambau”, comentou o baterista Paulão Thomaz que, ao lado de Xande (guitarra e vocal), Deca (guitarra) e Ricardo ‘Soneca’ (baixo), seguiu detonando até o final do show, com “Pirata Do Tietê”, “Shake A Litlle Pussy” e “Meu Mal”. “O show foi sensacional, uma baita galera foi prestigiar e, para nós, foi motivo de orgulho estar no palco da Baratos Afins. Luis Calanca, mais uma vez sendo pioneiro, saiu da mesmice e convocou bandas independentes até o osso pra tocar. Bandas que estão produzindo, gravando discos e fazendo shows, e não somente bandas que vivem do passado”, analisou o baixista Soneca.

Enquanto isso, no palco São João, o dinossauro do Rock nacional, Made in Brazil, reluzia com um palco gigante, muita luz e convidados. A plateia, composta de muitos fãs da velha guarda, familiares e integrantes de outras bandas, além de novos admiradores, tocou o clássico disco “Jack Estripador” (1976) na íntegra e alternou músicos que participaram de todas as fases e formações da banda. Destaques para Johnny Boy (tecladista que tocou muitos anos com o Ira!) e o Rick Vecchione, filho do Osvaldo, principal vocalista. “Vou Te Virar De Ponta Cabeça”, “Banheiro”, “Os Bons Tempos Voltaram” foram algumas do repertório. A clássica “Jack o Estripador” fecharia o extenso set, mas mesmo com o tempo estourado foi solicitado pela organização mais um som. Sem serem comunicados do extra, a mesa técnica deixou a banda tocar sem luz. Tocaram “Minha vida é o Rock’n’Roll” e dedicaram o show ao produtor Ezequiel Neves e a banda Velhas Virgens que, por um acaso, tinha o vocalista Paulão de Carvalho na plateia.

Primeira atração internacional da noite foi a americana Tito y Tarantula. Famosa por integrar o filme a trilha de “Um Drink No Inferno” (1996), escrito pelo diretor Quentin Tarantino, a banda atrasou o horário para passar o som e entrou sem animar muito o público. Alguns chamam de Stoner, mas outros preferem chamar de ‘Chicano Rock’ devido ao clima dos sons e o vocal com sotaque do mexicano Tito Larriva. Os destaques foram mesmo a baixista e a baterista pelas tattoos, beleza e figurino dark justo. Talvez dada a sonoridade menos pegada e mais soturna, ambas tocavam sem muita empolgação. Estiveram no set hits como “After Dark”, “Angry Cockroaches” e a versão quase Punk de “La Bamba”.

De volta ao palco Baratos, agora quem dominava era o Carro Bomba. Mesmo com problemas e oscilação constante de som, o show foi um dos melhores desta programação. Luiz Calanca, dono da Baratos Afins e responsável pela escalação das bandas, estava na frente do palco (e permaneceu durante todos os shows) registrando tudo com uma câmera de vídeo. “Bala Perdida”, “Válvula”, “Carcaça” e “Sangue de Barata” foram as primeiras.

O vocal Rogério Fernandes, com a camiseta do Baranga, criticou atual cena Rock e elogiou a iniciativa do palco com uma programação privilegiando as bandas nacionais. Continuando as críticas, agora contra a estética e banalização da beleza, tocaram “Mondo Plástico”, seguida de “Blueshit”, dedicada à banda Cracker Blues que tocou antes deles no mesmo palco e “Queimando a Largada”, outra faixa do disco mais recente, “Carcaça” (2011). Desde o início da apresentação Rogério anunciava um convidado especial. Após “Ritmo de Fúria”, “Intravenosa”, “Overdrive Rock’n’Roll” e “O Foda-se”, o vocalista pedia gritos “para acordar o Dio” e anunciou “Tortura (Pau Mandado)”, com a participação do agora ex-vocalista do Torture Squad, Vitor Rodrigues. “Eu Sei Mas Não Me Lembro” e “Punhos de Aço” encerraram a apresentação com o vocal dando “mosh” na galera, que agitou e cantou o show inteiro. “Foi um puta show, a galera enlouqueceu, cantou junto e abriu várias rodas! Além disso, estávamos todos em família, já que houve uma puta confraternização entre bandas, amigos e fãs mais próximos”, comentou o baixista Fabrizio Micheloni. “Foi um dos melhores momentos da banda. Puta galera curtindo e conhecendo nosso som. Estamos na área provando que a cena está bem. Valeu Sampa!”, acrescentou Rogério Fernandes.

Com alguns minutos de atraso, no palco São João um dos primeiros de muitos ótimos e inéditos desta Virada: a apresentação do Iron Butterfly. Para uma banda que tem 44 anos de estrada e apenas dois dos integrantes originais, apesar de toda a história que carregam, ninguém sabia ou esperava que fariam o que se chama de verdadeiro espetáculo. Muita luz, músicos técnicos e tirando o melhor de seus instrumentos. Sonoridade e sincronia impecáveis!

O lendário baixista Lee Dorman, o mais velho dos integrantes, estava sentado mas tocando numa perfeição de dar inveja a qualquer baixista. Além dele, outro original é o baterista Ron Bushy. Hoje são acompanhados atualmente pelo tecladista Martin Gerschwitz, que faz os vocais principais, e pelo sensacional guitarrista Charlie Marinkovich, um verdadeiro showman que encantou a todos com sua simpatia e virtuosismo. Com uma voz fraquinha, mas contando uma história antes de cada som, Lee disse que o amor pela música e pela história é o que os mantém unidos. Disse também que para eles foi um choque e uma grande perda ter ficado sem Larry “Rhino” Reinhardt, guitarrista falecido no início deste ano. Ao tempo que passaram juntos e pela união da banda, dedicou “In The Time Of Our Lives”. Com o público indo ao delírio, o guitarrista quebra a alça da guitarra, reposta na sequência. Lee falou que a banda tinha certa inocência, tocavam em pubs e estavam poucos acostumados as loucuras dos anos 60. Mas disse que aquela foi uma época de muitas flores e garotas. Por isso, dedicou “Flowers and Beads” a todas as mulheres presentes.

Enquanto todos esperavam pelo clássico máximo, o guitarrista fez um solo de 4 minutos, desceu no vão que dividia o palco da plateia, tocou na grade e voltou ao palco sem parar de tocar, deixando muitos boquiabertos com sua técnica. No retorno, Lee disse que a banda ficou muito feliz e não esperava encontrar um público tão grande nessa primeira passagem pelo Brasil. Finalizou dizendo que este é um novo tempo, tocando para uma nova geração e que, apesar da perda, estavam dispostos a continuar e aprender a lidar e se adaptar a essa nova realidade. E enfim “In a Gadda-Da-Vida” é iniciada com gritaria geral. A dúvida era se tocariam na íntegra os seus 17 minutos de duração. Com 15 minutos executados, um a um foi saindo do palco (Lee precisando de ajuda para sair do banco e ir até atrás do palco), o batera fez seu solo e dois minutos depois todos estavam de volta e terminaram com exatos 21 minutos e 30 segundos ininterruptos de som e debaixo de muitos aplausos.

A nossa única passagem nossa pelo palco da Barão de Limeira, foi para ver outro momento inédito. Esse palco foi um dos poucos em que os alternativos puderam por em prática toda a diversidade de sons e esquisitices de suas músicas. Uma liderada por um dos mestres da excentricidade foi a australiana Daevid Allen And The Global Family. Daevid é uma lenda que já dividiu o palco com Jimi Hendrix Experience e Pink Floyd no famoso UFO Club nos anos 60. Esse senhor velhinho, magrelo e de cabelos brancos, estava vestido com um macacão branco cheio de assinaturas e dizeres feitos com canetinha colorida e nas costas um junção das palavras árvore e poesia em inglês, resultando num enorme ‘poetree’. Com músicos de idades diferentes o público foi convidado por eles a entrar numa viagem musical.

Nós pulamos fora dessa nave e fomos direto ver a apresentação do Golpe de Estado no palco Baratos Afins. A banda atualmente conta somente com o guitarrista Hélcio Aguirra e o baixista Nelson Brito da formação original. Acompanhados do baterista Roby Pontes, é fato que perdeu um pouco da sua força com a saída de Paulo Zinner e Catalau e mesmo outros que vieram depois no vocal, hoje ocupado por Dino Rocker. Apesar de bom, ele é muito afetado, tem excesso de brilhos, mostra pouca animação e copia descadarmente alguns dos trejeitos do Catalau sem cerimônia: dancinhas e até mesmo os “valeu” que o ex-vocal costumava encaixar entre um som e outro. Mesmo assim, anunciando para o fim deste mês ou começo de junho o lançamento de um novo disco, tocaram clássicos como “Moondog”, “Noite de Balada”, “Paixão”, “Sem elas”, “Olhos de Guerra”, “Caso Sério” e a nova “Rock Star’. Fecharam a mais de uma hora de show com, entre outras, “Nem polícia nem Bandido” e “Quantas Vão”.

Na sequência, também no palco da Baratos Afins, com o dia clareando e dando início às últimas doze horas da Virada, era a vez do Salário Mínimo, que abriu o set com “Eu Não Quero Querer Mais” e “Beijo Fatal”. Além da animação do ‘frontman’ China Lee e as coreografias à la Kiss do baixista Diego Lessa, destaque para o instrumental e técnica do baterista Marcelo Campos (Trayce), além da dupla de guitarristas Junior Muzilli e o virtuoso Daniel Beretta. Misturando sons mais recentes do álbum “Simplesmente Rock” (2010) e outros mais antigos do álbum “Beijo Fatal” (1987), seguiram agitando a galera com “Delírio Estelar”, que combinou com a escalação no palco Baratos Afins, pois remeteu à histórica coletânea “SP Metal”, lançada pelo selo em 1984. O show seguiu com “Sofrer”, “Anjos Da Escuridão”, “Noite de Rock”, “Anjo”, “Dama da Noite”, “Sociedade Alternativa” (Raul Seixas) e “Jogos de Guerra”. “Foi um belíssimo evento, uma boa organização e com muito Rock’n’Roll! Posso afirmar que este foi um dos melhores shows do Salário Mínimo, com o público ‘incendiando’ o centro de São Paulo. Ter mais de 3 mil pessoas cantando em coro os clássicos da banda no primeiro show de muitos que virão em 2012 só nos dá mais ânimo”, destacou o baixista Diego Lessa.

Atravessando o Centro, bem afastado das atrações principais e espremido no meio de viciados que montaram na Rua Gusmões uma nova Cracolândia, estava o palco do Hardcore. Apesar desse cenário, o público estava em bom número e às sete da manhã, depois de shows do Pin Ups e Não Religião, quem fazia tremer o asfalto era o Oitão. Com impecável presença de palco, este é mais um dos shows poderosos na sua extensa lista de méritos inéditos. Tocaram sons próprios, como “4º Mundo”, “Trevas”, “Fome”, agitando o bate cabeça no público. Além da participação do vocalista Badauí (CPM22 e Medellin) em uma das músicas, tocaram covers de “Quanto Vale A Liberdade?” (Cólera) e “Refuse/Resist” (Sepultura). Fazendo menção aos viciados do entorno, o vocalista Henrique Fogaça anunciou outro som deles, “Solidão”, e fecharam com outro próprio, “Imagem da Besta”.

Ainda no início da manhã de domingo, no palco da São João viria o Suicidal Tendencies, uma das mais esperadas e principais atrações desta Virada. Muitos convidados e jornalistas já estavam no vão que dividia platéia e palco e tudo parecia estar bem apesar da impaciência que tomava conta de todos. A ansiedade triplicou com o atraso de quase uma hora e os ajustes para o show realmente foram muitos.

Com um público a perder de vista e no palco alguns dos integrantes já a postos, faltava o vocalista Mike Muir. Quando os primeiros acordes começaram e o público agitava no famoso bordão “ST”, em referência as iniciais do nome da banda, aconteceu o previsto mas não esperado: o público conseguiu derrubar a grade que veio abaixo e em cima  de cadeirantes, de quem estava ali trabalhando ou simplesmente assistindo. Foi uma loucura insana de empurra-empurra misturado com bate cabeça e muita confusão. Isso tudo durante o primeiro som, “You Can’t Bring Me Down”. Seguranças e organização não estavam preparados para esse caos, que foi controlado na medida do possível.

No palco, a banda delirava com o agito, com o “mosh” constante e fez questão de tocar um set extenso, mesclando sons mais conhecidos com outros que somente os mais fãs conhecem. Entre eles, “Institutionalized” e “War Inside My Head”. Adorada por skatistas e muitos com um skate na mão entre os presentes, Mike fez um discurso a favor da prática nas grandes cidades e declarou que a banda é eterna defensora do esporte e por isso é, há tanto tempo, “Possessed To Skate” – música clássica do segundo disco lançado em 1987. Com Mike suando bicas e escorrendo pela tradicional bandana azul, agitava como um dançarino psyco do Thriller. Outro destaque foi Steve Brunner que, além do cabelo loiro espetado, mostra que assume com maestria o lugar de Robert Trujillo fazendo do ST uma fábrica formadora de (bons) baixistas. “I Would’t Mind” antecedeu o solo do batera e um pedido ainda mais insano para um cenário caótico: a formação de um ‘wall of death’ ao longo da avenida. Surreal! Com palhetas e bandanas voando do palco, encerraram “Join The Army” e “Pledge Your Allegiance”.

Com a banda sorridente com o resultado, apesar do susto, no público nenhum ferido grave. Muitos permaneciam aglomerados em frente ao palco tentando recuperar objetos perdidos. Saldo de celulares e carteiras nas mãos dos organizadores e pares de tênis e chinelos espalhados pelo chão. A medida tomada foi esvaziar por completo a área em frente ao palco, reforçar as travas da grade e deixar mais seguranças a postos. Mesmo com uma diferença de quase duas horas entre um show e outro, o atraso de quase 40 minutos colocou público, no chão e nas janelas dos prédios vizinhos, para ver a íntegra do “Cabeça Dinossauro” tocado pelos Titãs. Dos quase vinte sons do show, treze eram do clássico disco que foi tocado na sequência original.

Logo que a debandada de público aconteceu, outros fãs tomaram conta do espaço, estendendo faixas com as cores do país e menção a banda argentina La Renga. Um clássico do Hard Rock e com inúmeros fãs locais e muitos outros vindos da Argentina especialmente para vê-los. Todos fizeram questão de os fazer sentir em casa. Apesar daquele intervalo entre um show e outro, o  maior atraso foi deles – ultrapassou os 50 minutos . E enfim, no palco, surpreso com a presença e feliz pela galera presente, o vocal e guitarrista Chizzo, acompanhado de Tanque (bateria), Manu (saxofone e backing vocal) e de Tete, versão magra e latina do Lemmy, tocou um set enorme e repleto de novos e antigos sons da banda como “Destino Ciudad Futura”, “Yo soy el Léon” e “A tu lado”, do disco “Detonador de sueños” de 2003. Muitos fãs aproveitavam para pular a grade e agitar na frente do palco já cheio de outros que tinham furado o bloqueio e registravam ou cantavam por ali. Faixas tremulavam na plateia como se fosse uma torcida de futebol que, inclusive, tem um hino próprio cantado em todo show da banda. Não decepcionando e agradecendo novamente pelo público presente, tocaram a esperada “Balada Del diablo y La muerte”, um dos sons mais conhecidos. Com uma bandeira enorme, mais fãs pulando a grade e chuva de papel picado, encerraram a festa com “El final es en donde parti”.

Com atrações em sua maioria, mais focados no Blues na sequência, encerramos nesta banda a cobertura que fez o possível pra cobrir a maioria dos vários shows disponíveis. Perdemos Man Or Astroman?, Serguei, Mutantes, Tomada e alguns outros, mas no geral o saldo no fim das contas foi muito positivo com o que conseguimos assistir. Apesar da enorme estrutura, policiamento e limpeza constantes, impossível controlar ânimos alterados, excessos, arrastões, excentricidades e agradar tanta gente em tão curto espaço de tempo. Bom é que tirou a frustração de quem investe seu tempo, dinheiro e disposição mostrando e ensinando que eventos gigantes são possíveis de serem executados por aqui com planejamento e competência. E o melhor, valorizando o Rock brasileiro. O público agitou e resistiu assim como nós que sobrevivemos a esta maratona. Até 2013!
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