Como tantos músicos, o guitarrista Rod Rodrigues concluiu que a melhor saída para impulsionar sua carreira seria o aeroporto: radicou-se no Canadá, onde continua sua trajetória. Mais que isso, transformou essa experiência em música através do EP Tales of a Changing Life Part 1, no qual, através de cinco faixas instrumentais, relata as emoções e agruras que uma mudança como essa traz. Nesta entrevista, Rod, que recentemente esteve no Brasil, fala sobre sua trajetória, o desafio de fazer um disco conceitual instrumental e os planos para uma segunda parte do trabalho.
Seu disco Tales of a Changing Life Part 1 tem uma relação direta com sua mudança do Brasil para o Canadá. Assim, a primeira pergunta é inevitável: o que você foi fazer no Canadá? Pergunto porque, via de regra, o pessoal que quer dar um upgrade na carreira musical opta pelos EUA ou pela Europa.
Rod Rodrigues: Na verdade, minha primeira intenção era mudar para a Europa, mas como eu não tinha como conseguir uma cidadania, isso dificultaria muito minha legalização em qualquer país europeu. Em 2014, tive a oportunidade de dar aulas de música na Bélgica e desde então eu tentei de todas as formas mudar para a Europa. Porém, como o Canadá tem processos de imigração muito mais fáceis, acabei decidindo mudar para o cá. Minha decisão de deixar o Brasil não foi somente profissional, mas também pessoal, já que eu queria dar um upgrade em todos os sentidos da minha vida. Aqui acabei constituindo família e aos poucos conquistando mais espaço no mercado musical canadense.
Você lançou seu primeiro disco, o EP The First Step: Introduction, em 2010. Depois, só veio a lançar algo novo em 2019, com o single T.A.G. Por que houve um intervalo tão grande entre os dois lançamentos?
Rod: Eu também me faço a mesma pergunta… Na verdade, sempre trabalhei como músico profissional, lecionando e também tocando na noite com bandas de cover, bandas de baile e acompanhando artistas. Entre 2010 e 2019, aconteceram muitas coisas na minha vida pessoal e profissional: gravei vários trabalhos com artistas de outros estilos, quase abri uma escola de música na minha cidade, gravei e lancei um EP com minha antiga banda de metal Enemies of Reality e na mesma época rolou o Dream Theater tribute. Só que cheguei em um ponto na minha vida em que me perguntei: ‘O que falta para me sentir completo e realizado?’ Cheguei à conclusão que era voltar a fazer música instrumental e focar mais no meu lado artista e compositor ao invés de somente professor e sideman. E aqui estou, focado e a cada dia mais feliz com tudo isso.
Um ponto que considero uma complicação a mais para quem se dispõe a fazer música instrumental é que a ausência da voz acaba tendo que ser compensada de alguma outra forma – Satriani, por exemplo, é um mestre em criar linhas melódicas que compensam a falta do vocal. Como você resolve essa questão?
Rod: É difícil, realmente, e Satriani é um mestre nisso. O grande lance é que eu não ouço somente música instrumental, porém, como minha limitação vocal me impede de cantar da forma que eu gostaria, prefiro focar no instrumental. Normalmente, quando eu estou compondo as melodias principais surgem nos momentos em que não tenho o instrumento em mãos. Woodbine Sunset, por exemplo, que acredito ser uma das melodias mais marcantes que eu já escrevi, surgiu quando eu estava caminhando. Quando acontecem esses momentos de inspiração, canto a melodia e gravo no celular. Por isso ela é uma melodia tão ‘cantável’: quando a compus eu nem tinha a guitarra em mãos. Tanto que muita gente fala que essa música poderia facilmente tem um cantor e eu concordo com isso.
Um detalhe chama a atenção no seu trabalho: normalmente, discos solo de guitarristas pecam pelo excesso de virtuosismo e de autoindulgência. Já você vai por um caminho diferente, privilegiando a melodia e até dando espaço para outros instrumentos brilharem (como o teclado na primeira faixa, D257). Como fazer para escapar da tentação de fazer um disco repleto de virtuosismo? Ou você nem passou por essa tentação?
Rod: Na verdade, acho que já passei da idade da tentação… (risos) Eu adoro muitos dos grandes guitarristas virtuosos, mas o lado melódico e rítmico deles é o que sempre me chama mais a atenção. Minhas músicas ainda são cheias de notas e têm muitas passagens rápidas, mas minha concepção de composição vai muito além disso, por isso também gosto de dar espaço para os outros instrumentos. Gosto muito de trilhas sonoras de filmes, em que a música tem que fazer parte do que acontece na cena e a sensação que ela passa para quem está assistindo. É mais ou menos isso que quero transmitir na minha música. Posso tocar rápido? Sim, e tem várias partes em que dá pra ver isso, mas para mim essas passagens rápidas têm que ser um meio de expressão, não um fim. É tudo a favor da música.
Como já comentamos, Tales of a Changing Life Part 1 é um disco conceitual. Como fazer para contar uma história em temas instrumentais, sem o apoio de uma letra para explicar do que cada canção trata?
Rod: É uma questão muito mais pessoal do que qualquer outra, porque cada música foi escrita em diversas ocasiões da mudança que a minha vida teve. Por exemplo, La Premiere Experience eu comecei a compor logo depois da minha primeira experiência fora do Brasil, que foi em Paris, e por isso a influência de música francesa nela. Foi ali que tudo começou. Concordo que seja muito mais difícil de fazer um disco conceitual instrumental, mas tem um conceito de unidade por trás e acredito que com a segunda parte vou conseguir dar uma sequência melhor e uma conclusão ao conceito do trabalho todo.
Você optou por gravar um EP em vez de um disco completo. Algum motivo especial para essa escolha?
Rod: Na verdade, minha intenção era lançar um álbum completo, mas isso levaria mais tempo e também a realidade do mercado para artistas independentes hoje em dia me fez dividi-lo em dois. Não queria lançar um álbum agora e outro só daqui três anos e também não queria que as pessoas ouvissem apenas uma ou duas músicas de um álbum com dez faixas. A geração de hoje não tem muita paciência para ouvir um álbum completo, ou seja, o oposto de mim, que se pudesse lançaria um álbum duplo. Porém, a probabilidade de a segunda parte ser um álbum completo com oito músicas é muito grande. Ainda estou trabalhando nisso, vamos ver…
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Rod Rodrigues
Graduado pelo IG&T e Centro Universitário Claretiano, Rod Rodrigues tem lecionado desde 1997 no Brasil, Canadá e Europa. Seu E-book “Guitar Shred” (2016) foi lançado em português e inglês e, em 2018, o guitarrista e professor lançou seu online training Extreme Guitar Workout, que conta com centenas de alunos de diversas partes do mundo. Além de seus workshops, participou de outros ao lado de nomes como Kiko Loureiro (Megadeth), Edu Ardanuy (Sinistra, ex-Dr. Sin), Rafael Bittencourt (Angra) e outros.
O guitarrista integrou bandas de estilos variados, incluindo Enemies Of Reality, Falling Into a Dream (Dream Theater Tribute), Electra, entre outras. Como artista solo lançou seu primeiro EP, “The First Step: Introduction” em 2010. O material foi aclamado pelas revistas Guitar Player, Cover Guitarra, Guitarload e websites. Em 2019, retomando seu projeto solo instrumental, lançou o single “T.A.G”. Além disso, a música “Changing Plans” integrou a coletânea “Volasophy”, com todos os artistas latinos da Vola Guitars.