Por Nelson Souza Lima
Fotos: Paula (@eyeofodin.photo)
Roland Grapow está de volta. Poucos meses após sua última passagem por terras paulistas, quando tocou em Santo André, Limeira e na capital, o ex-guitarrista do Helloween e líder do Masterplan realiza nova tour pelo estado. Mais uma vez ladeado pelo timaço formado por João Luiz (vocal, Golpe de Estado), Fábio Carito (baixo, Warrel Dane, Metalium), Affonso Junior (guitarra, Revenge, solo) e Marcus Dotta (bateria, Warrel Dane, Metalium), o alemão encerra a série de seis shows em terras bandeirantes no dia 21 de julho no Festival Franco do Rock, em Franco da Rocha.
Fábio Carito, inclusive, me disse que essa tem sido a banda de apoio de Grapow desde 2020 , o que resulta num entrosamento absurdo e a apresentação no Manifesto, zona sul da capital, deixou isso claro com clássicos do Helloween e Masterplan. O baixista trocou ideia comigo pouco antes do show, pois o Manifesto permite a integração entre músicos e fãs. A tour foi realizada pela TC7 Produções e se mostrou mais um tiro certeiro do produtor e guitarrista Tiago Claro.
O “esquenta” ficou por conta da Allen Key, banda paulista que, apesar de estar na estrada há apenas seis anos, já tem na bagagem apresentações marcantes, a abertura do show de Tarja Turunen e Marko Hietala. Liderado pela vocalista Karina Menascé, o grupo tem instrumental e sonoridade sólidos, embasados nas guitarras de Pedro Fornari e Victor Anselmo e na cozinha competente de William Moura (baixo) e Felipe Bonomo (bateria). O quinteto cria arranjos matadores que vão do hard ao heavy sem medo de ser feliz.
Numa apresentação envolvente de pouco mais de 40 minutos, Karina e companheiros mandaram o setlist com faixas do primeiro álbum, The Last Rhino, lançado em 2021, além de singles que vêm sendo disponibilizados ao longo dos meses. Canções matadoras como Granted, Illusionism e Straw House evidenciam uma banda com potencial para galgar degraus altos. As guitarras de Fornari e Anselmo são como facas afiadas que penetram na mente, não permitindo ficar impassível a tamanha harmonia demonstrada pela dupla. Já Karina tem um vocal impressionante. Ao se comunicar com o público, mostra uma voz doce e calma. Porém, seus guturais e segurança nos timbres dão a certeza que estamos vendo uma das melhores vocalistas da atual cena metal brasileira.
Diante de um público ainda pequeno, ela conduziu o público junto com a banda numa bela performance que também contou com versão porrada para Judas, hit de Lady Gaga. Dois destaques do set foram os mais recentes singles: Sleepless, lançado em dezembro de 2023, e Death from Above, disponibilizado nas plataformas digitais em maio deste ano. Era por volta das 22 horas quando The Last Rhino encerrou o set, sucedido pela tradicional foto para as redes sociais.
O corre dos roadies para preparar o equipo para Roland Grapow não demorou muito. Vinte minutos após a Allen Key, o alemão e demais integrantes tomaram o palco, para êxtase dos fãs que, a essa altura, já lotavam o Manifesto.
Como se sabe, o guitarrista integrou o Helloween entre 1988 e 2000, sendo autor de alguns dos grandes hits do bólido alemão. Nesta tour, Grapow tem equilibrado o set entre clássicos do Masterplan e de sua ex-banda. Ou seja, o cara já entra com a partida ganha, pois o quinteto toca o que os fãs querem ouvir. Não tem como dar errado.
O entrosamento do quinteto é evidente e Mr. Torture, de The Dark Ride, lançado pelo Helloween em 2000, foi um ótimo cartão de visitas. João Luis tem um vocal endiabrado e já entrou chamando a galera para cantar junto. Saudou o público e passou a palavra para Grapow que mandou apenas um ”boa noite”, em português – no restante do show falou muito de como é estar no Brasil e ver caras conhecidas.
Alternando músicas das duas bandas, o resultado foi o esperado: público e banda em sintonia. O primeiro disco do Masterplan, lançado em 2003, foi o que mais contribuiu com porradas como Spirit Never Dies e Kind Hearted Light. Aeronautics, outro trabalho emblemático do Masterplan, lançado em 2005, contribuiu com Back from My Life e After this War. Em 2017, Grapow lançou PumpKings, disco com músicas de sua fase no Helloween, o qual contribui apenas com The Chance, que integrou Pink Bubbles Go Ape (1988).
Affonso Junior se encaixou bem dobrando guitarra com Grapow, o baixo martelado de Carito e a batera bate-estaca de Marcus Dotta não deixaram a peteca cair, numa performance incendiária do começo ao fim.
Após After this War, João Luis chamou o primeiro convidado da noite para uma sequência infernal do Helloween. Como divulgado previamente, o vocalista Ricardo Peres, ex-Seven7h Seal, mandou as infernais Push, lançada em 1998 no disco Better than Raw, e A Tale that Wasn’t Right, de Keeper of the Seven Keys Part 1 (1987). A grande surpresa da noite foi a participação de Victor Emeka, vocalista do Hibria. Com uma goela afiadíssima o cara mandou Eagle Fly Free e a alucinante I Want Out, ambas de Keeper of the Seven Keys Part 2 (1988). Essas canções contaram também com a guita nervosa de Samyr Fatah e com a galera mandando “hey, hey, hey!” sem moderação.
E quando parecia que não haveria mais nada a demolir, João Luis voltou ao palco para uma trinca vocal absurda com Ricardo Peres e Emeka para o gran finale, mandando Heroes e Crawling from Hell, do já mencionado primeiro álbum do Masterplan. Um final apocalíptico para reverenciar Roland Grapow, que figura entre os maiores nomes do metal.
Setlist Roland Grapow
Mr. Torture
Spirit Never Dies
The Chance
Back from My Life
The Time of the Oath
Escalation 666
Kind Hearted Light
The Dark Ride
The Departure (Sun Is Going Down)
After this War
Push (com Ricardo Peres)
A Tale that Wasn’t Right (com Ricardo Peres)
Eagle Fly Free (com Victor Emeka e Samyr Fatah)
I Want Out (com Victor Emeka e Samyr Fatah)
Heroes (com Ricardo Peres e Victor Emeka)
Crawling from Hell (com Ricardo Peres e Victor Emeka)