Credibilidade musical não se consegue da noite para o dia e esse grupo tcheco constrói uma reputação sólida no underground desde 1987. Fundado pelo vocalista Big Boss, o Root é daquelas formações cultuadas não pelo nome, mas pela obra. Com oito álbuns oficiais lançados e ainda assim longe do estrelado, eles não se preocupam com isso, pois querem apenas mostrar sua música ao mundo. Hoje com Jiří “Big Boss” Valter (vocal), Hanz e Marek “Ashok” Šmerda (guitarras), Igor “Golem” Hubík (baixo) e Pavel “Paul Dred” Kubát (bateria), o Root acaba de soltar o nono álbum da carreira, Heritage Of Satan. O baixista Igor fala sobre a banda pela primeira vez na ROADIE CREW.
O último álbum de estúdio, Daemon Viam Invenient, foi lançado em 2007. Por que esse longo período sem lançar um novo trabalho?
Igor: O Root estava muito ocupado com a promoção deste álbum e, principalmente, com shows. Fomos para a uma turnê européia logo após o lançamento Daemon Viam Invenient, juntamente com Moonspell, Napalm Death e Behemoth (‘No Mercy Festivals 2007’). Essa turnê foi seguida por muitos shows em nosso país e também na Alemanha, Finlândia, Noruega e Portugal. Outras razões foram as reedições dos álbuns mais antigos em 2008 e 2009, pelo selo sueco I Hate Records, e lançamento de versões em LP pela Dark Symphonies Productions e Monsternation Records.
Vocês assinaram com a gravadora Agonia Records para o lançamento do novo álbum, Heritage Of Satan. O que pode falar sobre este trabalho?
Igor: O nono álbum do Root, Heritage Of Satan, foi lançado em CD e LP em setembro. Há músicas rápidas e cativantes, entre elas algumas composições mais lentas e atmosféricas. Musicalmente, é como voltar às raízes. É um material matador e com humor negro. Temos uma incrível capa pintada por Erik Danielsson do Watain, que também participou do disco junto com outros convidados – Rune Blasphemer Eriksen (ex-Mayhem, Ava Inferi, Aura Noir) e Adam Nergal Darski (Behemoth).
Desde o primeiro disco, Zjeveni, até Daemon Viam Invenient é possível verificar mudanças significativas na música do Root. Em Hell Symphony as características Death Metal são latentes; no The Book, a musicalidade explora melodias góticas e elementos de Heavy Metal, Kargeras é épico; e Daemon Viam Invenient é mais direto. Essas variações nas composições será frequente na carreira da banda?
Igor: Cada álbum do Root é diferente porque a banda concebe o conceito lírico primeiro e depois criamos as músicas. É por isso que Kargeras é mais épico e conceitual, e totalmente diferente de Hell Symphony, que é totalmente Black Metal satânico. Já o Daemon Viam Invenient possui um estilo mais quebrado. Se o ouvinte ler as letras cuidadosamente durante a música, vai compreender essas nuances. E, claro, temos fãs que gostam de todos os álbuns do Root, bem como os que gostam apenas de alguns. O Root é uma banda variada e nossos fãs gostam disso. Eles nunca ficaram aborrecidos com a nossa música por ela ser diferente a cada álbum.
Em Zjeveni as letras foram escritas na língua materna do grupo. A partir de Hell Symphony começaram a escrever em inglês. Por que essa mudança?
Igor: O idioma inglês é melhor para a voz e para o estilo de cantar de Big Boss e, principalmente, para os fãs entenderem as letras. Mas o novo álbum irá conter uma música em língua tcheca novamente – depois de mais de 20 anos! O álbum de estreia, Zjeveni, foi reeditado pela Nuclear War Now Productions (EUA), em inglês, nos formatos CD e LP.
Big Boss é referência em satanismo na República Tcheca, e pelo YouTube é possível verificar a participação dele em debates e matérias jornalísticas em programas de TV. E como as letras do Root versam sobre temas sobre ocultismo, essa temática foi escolhida pela identificação do vocalista Big Boss com o satanismo?
Igor: Pode ser. Essa temática nos acompanha desde a primeira fita demo de 1987. Root é uma banda satânica e o fundador, Big Boss, é um satanista de verdade. Muitas emissoras de TV o convidam para os debates sobre satanismo porque ele entende muito bem. Ele também foi o fundador da primeira igreja de Satanás aqui na Tchecoslováquia nos anos 90. Nossas principais canções são puramente satânicas, como Pisen pro Satana, Festival Of Destruction, 666, entre outras.
Igor: Você sabe, como em todo o mundo, há muitas crianças com cruz invertida no pescoço e aquelas que dizem ‘nós somos satanistas!’. Mas, claro, há também muitas pessoas que leem livros sobre satanismo e sabem muito bem sobre o tema. Satanismo é filosofia e estilo de vida. Esses satanistas verdadeiros são, em sua maioria, qualificados e com experiências individuais com quem eu gosto de conversar.Em 2010, o Root tocou no Canadá. A banda pretende buscar apresentações em outros locais da América, especificamente no Brasil? O que conhecem da cena metálica brasileira?
Igor: Nós realmente gostamos do nosso show e toda a estadia no Canadá. Noctis Festival é um evento totalmente profissional. Foi bom dividir o palco com os veteranos do Sodom e outros artistas. Passamos um bom tempo em Calgary e essa viagem vai ficar em nossas memórias e corações para sempre. Se houver interesse podemos chegar ao Brasil, também. Do Brasil, eu conheço as bandas Sepultura, Krisiun e Ratos de Porão, mas na verdade a melhor banda ‘do Brasil’ é o Cavalera Conspiracy. Em minha visão, esta banda é muito melhor do que o Sepultura ou Soulfly.
O Root pode ser considerado uma banda cult na cena de música extrema mundial, pois possui um trabalho bem peculiar em relação a outras bandas de Black Metal do mundo. Querem continuar como um grupo longe do estrelato da cena Black Metal mundial?
Igor: Nós não nos importamos com isso. Nós queremos simplesmente tocar a nossa música e apresentá-la aos fãs. Claro que estamos em contato com muitos outros artistas e amigos de algumas bandas. Para ser honesto, nós tocamos Metal e isso é tudo o que fazemos…
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